Morre idoso hospitalizado após ação no Pinheirinho; polícia investiga agressão de PMs.
Guilherme Balza
O aposentado e ex-morador do Pinheirinho, Ivo Teles dos Santos, 70,
que ficou dois meses hospitalizado após a ação de reintegração de posse
da comunidade de São José dos Campos (97 km de São Paulo), morreu no
último dia 9, vítima de falência múltipla de órgãos.
Ele deu entrada no hospital municipal Dr. José Carvalho de Florence
no dia 22 de janeiro, em São José, horas depois do despejo. Lá, ficou
internado em coma até 22 de março, quando sua filha Ivanilda Jesus dos
Santos, 34, chegou da Bahia para retirá-lo. Até a morte, diz Ivanilda, o
aposentado permaneceu em estado vegetativo, sem se movimentar, nem
responder a qualquer estímulo.
A causa da morte do aposentado está sendo investigada pela delegacia
seccional de São José e é motivo de controvérsia: segundo o Condepe
(Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), testemunhas
afirmaram a conselheiros do órgão que Santos foi hospitalizado após
ser agredido por policiais militares, com golpes de cassetetes na
cabeça.
O defensor público Jairo Salvador diz que outras testemunhas
relataram a mesma versão em depoimento à Polícia Civil. Já segundo a
administração do hospital, Santos deu entrada na unidade com “quadro
confusional” e “crise hipertensiva” após sofrer um AVC hemorrágico,
diagnosticado após a realização de uma tomografia do crânio.
No dia da ação no Pinheirinho, o aposentado foi entrevistado por uma
repórter do jornal “O Vale”, de São José dos Campos, e afirmou: “Eles
vieram com muita violência para tirar a gente de casa. Eu reagi e eles
partiram para cima. Caí no chão e os três policiais continuaram a bater
com o cassetete em mim. Olha só como estou agora? Não consigo nem
andar.”
Santos morava sozinho em uma das áreas mais pobres do Pinheirinho,
conhecida como Cracolândia. A única pessoa próxima do aposentado no
município era a ex-mulher, Osorina Ferreira de Souza, também moradora da
comunidade, com quem Santos viveu por 20 anos.
Depois da reintegração, Osorina saiu à procura do ex-marido.
Encontrou-o apenas dias depois. Em 4 de fevereiro, acompanhada de
deputados estaduais e conselheiros do Condepe, solicitou ao hospital o
Boletim de Atendimento de Urgência (BAU), documento médico que atesta as
condições em que o paciente deu entrada no hospital.
A direção da unidade negou o documento, alegando que informações
sobre o paciente são sigilosas e só podem ser repassadas a familiares.
De acordo com o relatório do Condepe, integrantes do corpo de
enfermagem do hospital teriam informado à Osorina que a causa primária
de internação de seu ex-marido seriam as agressões que ele teria
sofrido, e não o AVC.
A filha do aposentado afirma que, quando o retirou do hospital, ele
estava com vários hematomas, cicatrizes e escoriações pelo corpo, além
de pontos na cabeça. A ela o hospital entregou a tomografia do crânio de
Santos e outros documentos, mas não forneceu o BAU. “Não me
entregaram, mas estou disposta a viajar para retirar. Esse documento é
fundamental”, afirma Ivanilda.
No dia 6 de fevereiro, segundo o Condepe, a versão do hospital e da
Secretaria Municipal de Saúde sobre o motivo da entrada do aposentado na
unidade foi registrada em boletim de ocorrência lavrado no 5º DP de
São José.
A PM nega que tenham ocorrido as agressões. A filha de Santos diz que
entregará todos os documentos médicos que recebeu para a defensoria.
O defensor público Jairo Salvador afirmou que, em posse dos
documentos, irá pedir um laudo do Instituto de Medicina de São Paulo. A
defensoria recebeu 586 ações individuais de moradores que sofreram
violência física e psicológicas ou perderam bens na ação. “É incrível a
simetria dos relatos. Ou houve uma histeria coletiva ou o que eles
dizem realmente aconteceu”, afirma o defensor.
A reportagem do UOL não conseguiu localizar na seccional os responsáveis pela investigação.
História de Ivo Teles dos Santos
Após retirar o pai do hospital, Ivanilda ficou por uma semana na casa
de uma irmã no Itaim Paulista, no extremo leste da capital paulista.
De lá, foram para Ilhéus, no litoral sul baiano, onde ela trabalha como
camareira e vive com dois filhos. Ela conta que teve de abandonar o
emprego para cuidar do pai.
“Abandonei o trabalho para ficar em casa cuidando dele. Meu pai ficou
sem uma peça de roupa sequer, só com o roupão do hospital. Tive que
comprar. Ele usava fraldas, medicamentos… E não consegui retirar a
aposentadoria dele. Foi tudo com o meu dinheiro.”
Segundo Ivanilda, seu pai deixou Ilhéus no início da década de 80,
quando ela tinha apenas sete anos, para procurar emprego em São Paulo.
Antes de se aposentar, Santos fez vários bicos, trabalhou em uma empresa
que produzia antenas parabólicas e foi carpinteiro. Além de Ivanilda, o
aposentado têm outro filho, de 49 anos, que não foi registrado como
seu filho e mora no Rio de Janeiro.
A mãe de Santos ainda é viva. Ela tem 87 anos e também mora em
Ilhéus. A família tentou esconder dela o estado de saúde do aposentado,
mas foi inevitável. “Ela viu a situação que o filho ficou. Foi muito
dolorido para ela e para a família toda.”
FONTE:http://www.viomundo.com.br/denuncias/morre-idoso-hospitalizado-apos-acao-no-pinheirinho.html
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