terça-feira, 24 de julho de 2012

Filosofo Vladimir Safatle pede o fim da PM em São Paulo.

Vladimir Safatle pede o fim da PM em São Paulo
Foto: Lia de Paula/Agência Senado 

Em artigo publicado na Folha de S.Paulo, filósofo e professor da USP alerta para o fato de termos uma polícia que mata de maneira assustadora e, mesmo assim (ou melhor, por isso mesmo), não é capaz de dar sensação de segurança.

24 de Julho de 2012 às 08:57.
 
247 - Em artigo publicado na edição desta terça-feira da Folha de S.Paulo, o filósofo e professor da USP Vladimir Safatle coloca em debate a extinção da Polícia Militar em São Paulo, logo após a morte de um publicitário por três agentes da corporação. Em seu argumentos, Safatle alerta para o fato de não adiantar pedir melhor "formação" da PM, pois dentro da lógica militar, as ações são plenamente justificadas. Leia abaixo o artigo na íntegra:

Pela extinção da PM
No final do mês de maio, o Conselho de Direitos Humanos da ONU sugeriu a pura e simples extinção da Polícia Militar no Brasil. Para vários membros do conselho (como Dinamarca, Espanha e Coreia do Sul), estava claro que a própria existência de uma polícia militar era uma aberração só explicável pela dificuldade crônica do Brasil de livrar-se das amarras institucionais produzidas pela ditadura.

No resto do mundo, uma polícia militar é, normalmente, a corporação que exerce a função de polícia no interior das Forças Armadas. Nesse sentido, seu espaço de ação costuma restringir-se às instalações militares, aos prédios públicos e aos seus membros.

Apenas em situações de guerra e exceção, a Polícia Militar pode ampliar o escopo de sua atuação para fora dos quartéis e da segurança de prédios públicos.

No Brasil, principalmente depois da ditadura militar, a Polícia Militar paulatinamente consolidou sua posição de responsável pela completa extensão do policiamento urbano. Com isso, as portas estavam abertas para impor, à política de segurança interna, uma lógica militar.

Assim, quando a sociedade acorda periodicamente e se descobre vítima de violência da polícia em ações de mediação de conflitos sociais (como em Pinheirinho, na cracolândia ou na USP) e em ações triviais de policiamento, de nada adianta pedir melhor "formação" da Polícia Militar.

Dentro da lógica militar, as ações são plenamente justificadas. O único detalhe é que a população não equivale a um inimigo externo.

Isto talvez explique por que, segundo pesquisa divulgada pelo Ipea, 62% dos entrevistados afirmaram não confiar ou confiar pouco na Polícia Militar. Da mesma forma, 51,5% dos entrevistados afirmaram que as abordagens de PMs são desrespeitosas e inadequadas.

Como se não bastasse, essa Folha mostrou no domingo que, em cinco anos, a Polícia Militar de São Paulo matou nove vezes mais do que toda a polícia norte-americana ("PM de SP mata mais que a polícia dos EUA", "Cotidiano").

Ou seja, temos uma polícia que mata de maneira assustadora, que age de maneira truculenta e, mesmo assim (ou melhor, por isso mesmo), não é capaz de dar sensação de segurança à maioria da população.

É fato que há aqueles que não querem ouvir falar de extinção da PM por acreditar que a insegurança social pode ser diminuída com manifestações teatrais de força.

São pessoas que não se sentem tocadas com o fato de nossa polícia torturar mais do que se torturava na ditadura militar. Tais pessoas continuarão a aplaudir todas as vezes em que a polícia brandir histericamente seu porrete. Até o dia em que o porrete acertar seus filhos.

Vladimir Safatle é professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP (Universidade de São Paulo).

Fonte: http://brasil247.com/pt/247/midiatech/71344/Vladimir-Safatle-pede-o-fim-da-PM-em-S%C3%A3o-Paulo.htm

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