Pela extinção da PM.
Vladimir Safatle.
Vladimir Safatle.
No
final do mês de maio, o Conselho de Direitos Humanos da ONU sugeriu a
pura e simples extinção da Polícia Militar no Brasil.
Para vários
membros do conselho (como Dinamarca, Espanha e Coreia do Sul), estava
claro que a própria existência de uma polícia militar era uma aberração
só explicável pela dificuldade crônica do Brasil de livrar-se das
amarras institucionais produzidas pela ditadura.
No
resto do mundo, uma polícia militar é, normalmente, a corporação que
exerce a função de polícia no interior das Forças Armadas. Nesse
sentido, seu espaço de ação costuma restringir-se às instalações
militares, aos prédios públicos e aos seus membros.
Apenas
em situações de guerra e exceção, a Polícia Militar pode ampliar o
escopo de sua atuação para fora dos quartéis e da segurança de prédios
públicos.
No
Brasil, principalmente depois da ditadura militar, a Polícia Militar
paulatinamente consolidou sua posição de responsável pela completa
extensão do policiamento urbano. Com isso, as portas estavam abertas
para impor, à política de segurança interna, uma lógica militar.
Assim,
quando a sociedade acorda periodicamente e se descobre vítima de
violência da polícia em ações de mediação de conflitos sociais (como em
Pinheirinho, na cracolândia ou na USP) e em ações triviais de
policiamento, de nada adianta pedir melhor "formação" da Polícia
Militar.
Dentro
da lógica militar, as ações são plenamente justificadas. O único
detalhe é que a população não equivale a um inimigo externo.
Isto
talvez explique por que, segundo pesquisa divulgada pelo Ipea, 62% dos
entrevistados afirmaram não confiar ou confiar pouco na Polícia Militar.
Da mesma forma, 51,5% dos entrevistados afirmaram que as abordagens de
PMs são desrespeitosas e inadequadas.
Como
se não bastasse, essa Folha mostrou no domingo que, em cinco anos, a
Polícia Militar de São Paulo matou nove vezes mais do que toda a polícia
norte-americana ("PM de SP mata mais que a polícia dos EUA",
"Cotidiano").
Ou
seja, temos uma polícia que mata de maneira assustadora, que age de
maneira truculenta e, mesmo assim (ou melhor, por isso mesmo), não é
capaz de dar sensação de segurança à maioria da população.
É
fato que há aqueles que não querem ouvir falar de extinção da PM por
acreditar que a insegurança social pode ser diminuída com manifestações
teatrais de força.
São
pessoas que não se sentem tocadas com o fato de nossa polícia torturar
mais do que se torturava na ditadura militar. Tais pessoas continuarão a
aplaudir todas as vezes em que a polícia brandir histericamente seu
porrete. Até o dia em que o porrete acertar seus filhos.
Fonte:http://www.exercito.gov.br/web/imprensa/resenha
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