O domingo
foi também o dia do jornalista, que, neste ano, chegou no momento em
que a imprensa escrita enfrenta uma crise sem precedentes e, talvez,
irreversível; em São Paulo, o Estado de S. Paulo, diminui seus cadernos e
inicia o processo de demissão de 50 funcionários; em Belo Horizonte, o
Estado de Minas coloca sua sede à venda; barões da imprensa, como
Francisco Mesquita, João Roberto Marinho, Roberto Civita ou Otávio
Frias, não reinventarão o setor; cabe aos jornalistas identificar
oportunidades e buscar novos caminhos.
247 - Com ou sem Lei de Meios, os
impérios tradicionais de mídia desmoronarão. Aliás, o verbo não deveria
ser mais conjugado no futuro, uma vez que a queda já começou a acontecer
e deve se acelerar nos próximos meses e anos.
Na última sexta-feira, o
centenário Estado de S. Paulo anunciou uma reestruturação editorial que
reduz seu conteúdo e seu número de cadernos, dando início também à
demissão de 50 profissionais. Em Belo Horizonte, o tradicional Estado de
Minas colocou à venda sua sede – assim como ocorre, nos Estados Unidos,
com o Washington Post.
É nesse ambiente de transição acelerada para um novo
modelo de produção e distribuição da informação que, neste domingo, foi
"comemorado" o Dia do Jornalista. Uma data que, para muitos, ocorre num
momento de luto para a profissão. Em meio à crise, poucos têm sido
capazes de enxergar novas oportunidades.
Na entanto, a renovação profissional e a busca de novos
espaços cabe aos próprios jornalistas. Os que ainda esperam que os
barões da mídia tradicional, como Francisco Mesquita Neto, do Estadão,
João Roberto Marinho, do Globo, Otávio Frias, da Folha, ou Roberto
Civita, da Abril, apontem os caminhos ficarão a reboque de uma indústria
que vive sua morte lenta e inevitável.
Há, no mundo, e também no Brasil, diversos fatores que
conspiram para uma crise ainda mais aguda da mídia impressa. Eis alguns
pontos:
1) Revolução industrial - Os veículos
tradicionais são reféns de um modelo industrial inviável. Produção e
distribuição da informação representam dois terços do custo de um
jornal. E, para piorar, a informação chega velha à casa do leitor ou à
banca de jornal. Na era digital, desaparecem os custos de impressão e
distribuição – que, aliás, torna-se muito mais ampla. Jornais que se
dizem nacionais vivem limitados ao raio de grandes capitais. Jornais
digitais alcançam o mundo.
2) Revolução cultural - Os veículos
tradicionais também foram concebidos para a era da informação
transmitida verticalmente, de cima para baixo, possibilitando a
existência de "formadores de opinião". Na internet, o modelo é
horizontal, onde o leitor/comentarista é parte do processo de construção
da informação. Nesta nova era, a palavra chave é compartilhamento – o
que pressupõe abertura. E os jornais tradicionais erram ao tentar fechar
e cobrar por seu conteúdo.
3) Revolução política - Os jornais
tradicionais foram também concebidos como uma espécie de poder
aristocrático ou como pequenos canhões apontados para os palácios,
capazes de, com o monopólio da influência, extrair grandes vantagens
econômicas. Com a internet, no entanto, a ação política dos meios de
comunicação pode ser, cada vez mais, questionada e desmascarada. E as
novas vozes que surgem confrontam o monopólio midiático.
4) Copyright versus copyleft -
Especialmente no Brasil, avança a passos largos o conceito de
comunicação pública, em que agências de governo, como a Agência Brasil,
fornecem conteúdo gratuito, e em grande quantidade, para os veículos de
comunicação, agindo sob os mais estritos princípios éticos e de
qualidade. Ou seja: há conteúdo de sobra para a criação de novos
veículos de comunicação.
É nesse ambiente que os jornais estão morrendo e que a
internet floresce. No governo Dilma, prevalece a posição de que a
democratização da comunicação deve vir pela expansão da banda larga e
pela redução do preço de equipamentos como tablets e smartphones.
No PT,
a Executiva Nacional defende a Lei de Meios para que se discutam
questões como a propriedade privada e a proibição para que políticos
detenham concessões de rádio e televisão.
O debate é saudável, mas o fato é que a transformação
provocada pela internet ultrapassa essa própria discussão. Por um lado,
os monopólios midiáticos exibem musculatura, quando se mostram capazes
de ditar os rumos até do Poder Judiciário no Brasil, como ocorreu na
Ação Penal 470.
Ocorre que essa ação foi concentrada em 11 ministros do
Supremo Tribunal Federal, suscetíveis a pressões. Quando se trata de
influenciar a própria opinião pública, ampla e difusa, o poder de
manipulação dos barões da mídia se torna minúsculo (mesmo com 18 minutos
no Jornal Nacional) – e uma prova recente disso foi a eleição municipal
em São Paulo.
Dos patrões da imprensa, não virão mudanças capazes de
clarear o cenário para os jornalistas. Aliás, eles só contratam
jornalistas porque não são capazes de produzir informação por conta
própria. São capazes, apenas, de comercializá-la. A boa notícia é que
nunca houve tanto espaço para que os jornalistas se tornem donos do
próprio destino e dos seus próprios veículos de comunicação.
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