sábado, 25 de maio de 2013

O jornalismo está sobre uma mina de ouro e não percebe.

Por Carlos Castilho em 23/05/2013. 

Não sabe ou não quer saber. Esta é a dúvida, porque informação não é o que deveria estar faltando na mesa de um repórter ou editor. A internet é um dos assuntos onipresentes na agenda de uma redação, mas por incrível que pareça uma das mais rentáveis áreas do jornalismo está sendo explorada, com muito sucesso, por não jornalistas.
 
A matéria-prima do jornalismo são os dados, fatos, eventos e processos que depois de contextualizados e publicados se transformam em informação, um bem que está sendo disputada a tapa por algumas das mais poderosas empresas do mundo financeiro, industrial, agrícola e comercial. 

E é justamente essa matéria-prima informativa que jaz inerte nos arquivos digitais ou físicos de empresas jornalísticas cuja sobrevivência está ameaçada por conta da crise no seu modelo de negócios.

O imenso volume de informações acumuladas pelas empresas jornalísticas é tratado como arquivo morto e não como insumo para sistemas de processamento baseados na teoria dos Grandes Dados (tradução literal do jargão Big Data), um dos mais revolucionários subprodutos da inovação tecnológica contemporânea. 

Grandes Dados é um conceito genérico para conjuntos de dados em volumes tão grandes que os números já não são mais capazes de representá-los de forma significativa. Trata-se de uma realidade nova criada pela avalanche informativa e que inexistia até o surgimento da internet e da digitalização. Uma realidade que está mudando nossos conceitos tradicionais de medição e avaliação.

Foi movido pela ideia dos Grandes Dados que um jovem empreendedor norte-americano, Bradford Cross, e o PhD linguagem computacional Aria Haghighi criaram o projeto Prismatic para garimpar informações jornalísticas, que já está no terceiro ano de funcionamento. 

Os dois chegaram ao Prismatic, acredite quem quiser, a partir do sucesso de um programa gratuito que prevê atrasos de voos comerciais nos Estados Unidos e que foi vendido, em 2011, por várias dezenas de milhões de dólares. Todo o desenvolvimento do programa custou 800 mil dólares.

Cross e Haghighi simplesmente pegaram dados públicos de vários milhões de voos domésticos e internacionais de companhias aéreas americanas durante os últimos 40 anos, e misturaram com outros milhões de informações meteorológicas e registros de centenas de aeroportos para criar uma megabase de dados de onde saíram previsões que deixaram boquiabertas as autoridades aeronáuticas, companhias de aviação, agentes de turismo e, principalmente, os passageiros. Foi um sucesso instantâneo de acessos pelo público.

Essa intuição ou faro por oportunidades alimentadas pelos Grandes Dados normalmente é aproveitada por quem não é do ramo, como afirmam os autores do livro Big Data, Revolution that Wil Transform How We Live, Work and Think, o professor Viktor Mayer-Schonberger e o jornalista Kenneth Cukier.  

Trata-se de uma questão cultural, porque os donos de grandes arquivos geralmente os acumularam com outros objetivos, aos quais se agarraram sem perceber que o entorno de seus negócios mudou.

É o caso, por exemplo, das empresas de cartões de crédito, que acumularam durante anos dados valiosíssimos sobre os hábitos de consumo de seus usuários mas estavam apenas preocupadas em administrar rápida e eficientemente o pagamento das contas. 

Há dois anos elas se deram conta da mina de ouro que haviam acumulado e hoje ganham tanto dinheiro comercializando as informações que já poderiam deixar de cobrar anuidades dos usuários, sem que seus orçamentos sofressem o mínimo baque.

As empresas jornalísticas possuem um registro de fatos, dados, eventos e processos nos mais variados campos da atividade social, econômica, política, cultural e esportiva em nível internacional, nacional, regional e local. Algo que ninguém tem e cujo valor é incomensurável. 

Só para citar um exemplo: caso um investidor desejasse iniciar um mega empreendimento no entorno de uma grande cidade ele poderia comprar de um jornal um informe com dados processados sobre a região escolhida num lapso de tempo de várias décadas, com um grau de certeza infinitamente maior do que um levantamento pontual. 

O investidor pagaria algumas centenas de milhares de reais pelo estudo e ainda sairia no lucro porque estaria evitando prejuízos de milhões caso o investimento esbarrasse em questões ambientais de longo prazo, por exemplo.

O problema está na cultura empresarial predominante entre os nossos executivos de empresas jornalísticas, em sua maioria herdeiros de tradições analógicas

Na luta pela manutenção de seu negócio acabaram inteiramente absorvidos pela dinâmica financeira, perdendo oportunidades óbvias que acabam sendo detectadas, em geral, por quem não tem nada a ver com o jornalismo.

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