quarta-feira, 15 de maio de 2013

Proximidades e distâncias da Sociologia com Público em geral.

Por Roniel Sampaio Silva

Muitos dos assuntos de interesse da Sociologia são do interesse do publico em geral, seja letrado ou não. Os temas da Sociologia não são exclusividade dela. Em muitos momentos a população em geral tenta dar uma explicação para os fenômenos sociais. Isso é bom ou ruim para a Sociologia? Pretendo fazer uma breve análise sobre essa questão.

Antes de mais nada, vale fazer uma consideração inicial: talvez a Sociologia seja a ciência mais próxima do cotidiano das pessoas, as quais, mesmo sem ter domínio dos métodos e imaginação sociológica, apresentam interesse por temas comuns a sociologia. Por outro lado, a Sociologia busca seus objetos de estudo no cotidiano, o que faz da com que essa Ciência Social tenha uma relação bem aproximada com o popular.

Em muitas situações, as pessoas comuns tentam dar explicações para problemáticas que a Sociologia se interessa. Embora em muitas situações as abordagens sejam superficiais, ainda assim, é possível encontrar pessoas pouco letradas que fazem associações que dão inveja a alguns sociólogos, ainda que seja em relação a um assunto pontual. Isso ocorre por que muitos conceitos da Sociologia foi incorporado pelo jornalismo da grande mídia.
 
A Sociologia, diferentemente de outras ciências não requer laboratório ou instrumentos mais sofisticados para fazer análises, embora precise de ferramentas mentais apuradas. Bauman exemplifica esse caso apontando que a astronomia não é tão discutida popularmente justamente pela necessidade do uso ferramentas que facilitem a observação dos astros.

A vinculação da Sociologia com a experiência social cotidiana poderia ser uma forma de aproximar o cidadão de uma perspectiva social mais crítica se não houvesse tanta dificuldade em penetrar em discursos que são socialmente legitimados, reforçados pelo senso comum e por outras estratégias de comunicação, tais como os veículos de comunicação em massa; o que acaba sendo um problema. Nesse caso há uma aproximação quanto aos temas e um distanciamento quanto à abordagem.

Como se não bastasse, há uma tendência que afasta a Sociologia das pessoas em geral. O fato de seus conceitos, métodos de controle e estratégias de atuação criam barreiras impossíveis de serem totalmente conciliadas com o público em geral, uma vez que, para manter seu status ciência, a Sociologia precisa reavaliar seus próprios métodos sociológicos e criar novas estratégias de apreensão da realidade social. 
 
A Sociologia não pode abrir mão disso, pois na medida em que ela deixa de fazer certas análises complexas para aproximar-se do público em geral, ela tende a reduzir aspectos importantes da realidade social o que a faz passíveis de equívocos.

Se a Sociologia não pode ser totalmente popular. Isso é uma conseqüência do rigor cientifico, uma vez que, como ciência é preciso definir métodos e conceitos que sejam passiveis de refutação pela comunidade científica, principalmente. A Sociologia não pode aproximar-se ainda mais do povo por questões epistemológicas. Para isso ela se tornaria uma ciência reducionista, equivalente ao senso comum. 
 
A implicação disso é que a Sociologia, como tantas outras ciências, acaba criando uma linguagem própria, uma espécie de “sociologiquês” que poucos entendem. Esse último ponto, ao meu ver, em excesso acaba distanciando a abordagem sociológica da população em geral. Ainda que alguns conceitos e categorias não possam ser “traduzidos” diretamente para “o popular”, o sociólogo deve evitar o uso excesso de linguagem técnica; deve buscar ser simples no uso das palavras sem ser simplista na análise.

A Sociologia não pode distanciar-se completamente a população em geral porque ela perde sua intenção de problematizar uma sociedade para, a partir, disso evidenciar futuros caminhos a serem percorridos. Sem o entendimento, ainda que mínimo, dos “não-especialistas” e quando seu conhecimento não sensibiliza as autoridades e um segmento crítico da população, ela vira mero ornamento intelectual. Nesse sentido concordamos com o sociólogo francês Pierre Bourdieu, para quem “a Sociologia não valeria nem uma hora de esforço se fosse um saber de especialista reservado aos especialistas”. 
 
Ao contrário de que muitos pensam, a Sociologia não é um mero devaneio intelectual. Existe um discurso ideológico – principalmente - que coloca o sociólogo no patamar de utópico (em um sentido pejorativo), isso quando os acusadores querem se manter o status quo. É mais fácil taxar o sociólogo de maluco do que debatê-lo no campo da racionalização.

Mas a final, como conciliar o conhecimento sociológico do entendimento geral das pessoas? Em primeiro lugar é preciso mudar a representação em torno da figura do sociólogo, que muitas vezes é rotulado pejorativamente, em especial quando sua pessoa é atacada e não seu discurso. Nesses casos há momentos em que se diz: “Sociólogos viajam demais”. 
 
Tais rotulações ajudam fortalecer o discurso de que a análise sociológica é incoerente com a realidade ou é tida como mera abstração. Tudo isso dificulta a recepção do público em geral em relação aos discursos sociológicos. Em segundo lugar é preciso que as pessoas tenham conhecimento dos alcances e limites da Sociologia para que boa parte do conhecimento seja dialogado entre sociólogos e população em geral e outra parte seja reservado a estes profissionais quando atingir um nível de complexidade necessária. 

Por fim, cabe ao sociólogo ter a sensibilidade de transmitir o conhecimento de forma mais acessível possível.

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