segunda-feira, 25 de abril de 2016

Escalada nuclear na Europa.

Foto - Voltaire.org
A Casa Branca está «preocupada» porque caças russos sobrevoaram de perto um navio estadunidense no Mar Báltico. Assim informam as agências noticiosas. Sem dizer, entretanto, de que navio se trata e por que estava no Mar Báltico.
Trata-se do USS Donald Cook, um dos navios dentre as quatro unidades lança-míseis deslocados pela Marinha dos EUA para a «defesa de mísseis da Otan à Europa». Essas unidades, que serão aumentadas, são dotadas de radar Aegis e de mísseis interceptadores SM-3, mas ao mesmo tempo de mísseis de cruzeiro Tomahawk de dupla capacidade convencional e nuclear. Em outros termos, são unidades de ataque nuclear, dotadas de um « escudo » destinado a neutralizar a resposta inimiga.
Donald Cook, partindo em 11 de abril do porto polonês de Gdynia, cruzou por dois dias a apenas 70 quilômetros da base naval russa de Kaliningrado, e por essa razão foi sobrevoado pelos caças e helicópteros russos. Além dos navios lança-mísseis, o «escudo» EUA/Otan na Europa inclui, na sua conformação atual, um radar «na base avançada» da Turquia, uma bateria de mísseis terrestres estadunidenses na Romênia, composta de 24 mísseis SM-3, e uma outra análoga que será instalada na Polônia.
Moscou adverte: essas baterias terrestres, tendo capacidade de lançar também mísseis nucleares Tomahawk, constituem uma evidente violação do Tratado INF, que proíbe o deslocamento para a Europa de mísseis nucleares de médio porte.
Que fariam os Estados Unidos – que acusam a Rússia de provocar com os sobrevoos «uma escalada inútil de tensões» – se a Rússia enviasse unidades lança-mísseis ao longo das costas estadunidenses e instalasse baterias de mísseis em Cuba e no México?
Ninguém pergunta sobre isso na grande mídia, que continua a mistificar a realidade. Última novidade escondida: a transferência de F-22 Raptors, os mais avançados dos caças bombardeiros estadunidenses de ataque nuclear, da base de Tyndall na Flórida à de Lakenheath na Inglaterra, anunciada em 11 de abril pelo Comando europeu dos Estados Unidos. Da Inglaterra os F-22 Raptors serão «deslocados para outras bases da Otan, em posição avançada para maximizar as possibilidades de treinamento e exercer uma dissuasão em face de qualquer ação que desestabilize a segurança europeia».
Trata-se da preparação para o iminente deslocamento para a Europa, incluindo a Itália, das novas bombas nucleares estadunidenses B61-12 que, lançadas a cerca de 100 quilômetros de distância, atingem o objetivo com uma ogiva «de quatro opções de potência selecionáveis».
Esta nova arma entra no programa de potencialização das forças nucleares, lançado pela administração Obama, que prevê entre outras coisas a construção de 12 submarinos de ataque suplementares (7 bilhões de dólares a unidade, estando o primeiro já em canteiro de obras), cada um armado com 200 ogivas nucleares.

O New York Times informa [1] que está em curso o desenvolvimento de um novo tipo de ogiva nuclear, o «veículo flutuante hipersônico» que, ao retornar à atmosfera, manobra para evitar os mísseis interceptadores, dirigindo-se para o objetivo a mais de 27 mil quilômetros por hora. A Rússia e a China seguem, desenvolvendo armas análogas.
Durante esse tempo, Washington colhe os frutos. Transformando a Europa em primeira linha do confronto nuclear, sabota (com a ajuda dos próprios governos europeus) as relações econômicas entre a União Europeia (UE) e a Rússia, com o objetivo de ligar indissoluvelmente a UE aos EUA por intermédio do TIP. Impulsiona ao mesmo tempo os aliados europeus a aumentar a despesa militar, para lucro das indústrias bélicas estadunidenses cujas exportações aumentaram 60% nos últimos cinco anos, tornando-se o mais forte setor das exportações estadunidenses.
Quem disse que a guerra não paga?

Tradução - José Reinaldo Carvalho 
Editor do site Resistência
Manlio Dinucci
Manlio DinucciGeógrafo e geopolítico. publicações :Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 

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