sábado, 22 de outubro de 2016

Estados Unidos está em busca de um bode expiatório para a crise Síria.

por Thierry Meyssan.

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Alemanha, França, Rússia e Ucrânia em Berlim tentaram desbloquear os conflitos que ocorrem na Ucrânia e na Síria. No entanto, do ponto de vista russo, estes blocos só existem porque o objetivo da América do norte  não é a defesa da democracia que tanto é proclamado por Washington, mas para prevenir o desenvolvimento da Rússia e da China fechando suas "rotas da seda". 

Por ter superioridade já evidente em termos de guerra convencional, Moscou fez todo o possível para conectar o Médio Oriente com a Europa Oriental. E Moscou consedeu a extensão da trégua na Síria em troca da suspensão do bloqueio na aplicação dos acordos de Minsk. Enquanto isso, Washington está tentando transferir sua própria culpa para qualquer um dos seus aliados. Por não ter mais a cumplicidade da Turquia, a CIA agora se volta para a Arábia Saudita.

O Conflito dos Estados Unidos, contra a Rússia e a China é em duas frentes: por um lado, Washington procura um bode expiatório para torná-lo responsável para a guerra contra a Síria, enquanto Moscou que já ligou a questão síria com a questão do yemen - tema que deve-se acrescentar a questão da Ucrânia.

Washington procura um bode expiatório.

Para sair dessa situação com a testa alta, os EUA têm de atribuir a responsabilidade por seus crimes a qualquer um dos seus aliados. E joga com 3 possibilidades: impingir a culpa sobre a Turquia, a Arábia Saudita ou os dois juntos. A Turquia está presente na Síria e na Ucrânia, mas não no Iêmen; enquanto a Arábia Saudita está presente na Síria e Iêmen, mas não na Ucrânia.

Turquia

Vamos agora verificar o que realmente aconteceu na Turquia no último dia 15 de julho, diante de novas informações, e que estas informações nos obriga a rever o nosso julgamento inicial.

Em primeiro lugar, era óbvio que colocar o endereço das hordas jihadistas nas mãos da Turquia após o ataque que levou o jogo para o príncipe saudita Bandar ben Sultan não poderia trazer nada além de problemas. Na verdade, Bandar era um intermediário obediente, mas Erdogan seguiu a sua própria estratégia, que visa criar um 17° Império Turco-Mongol, o que o levaria a usar os jihadistas em diferentes missões, como previsto, em Washington.

Além disso, os Estados Unidos não poderia deixar de punir o Presidente Turco Erdogan por ter se aproximado tanto da Rússia em termos econômicos, apesar de a Turquia ser um membro do ativo da OTAN.

Finalmente, com a crise em torno do poder mundial, o presidente turco, Erdogan se tornou um bode expiatório ideal para sair da crise síria.

Do ponto de vista norte-americano, o problema não é a Turquia, indispensável como aliado regional, nem o MIT (os serviços secretos turcos) Fidan Hakan, que organizou o movimento jihadista mundial, mas Recep Taryip Erdogan.

Portanto, o National Endowment for Democracy (NED) tentou primeiro, em agosto de 2013, para realizar uma revolução colorida organizando manifestações em Istambul Gezi Park. Essa operação falhou ou Washington mudou de idéia.

Foi então que decidiu derrubar o AKP islâmico através das urnas. A CIA organizou uma transformação no HDP em um verdadeiro partido das minorias e preparou tanto uma aliança entre o CHP formação política turca e socialista. O HDP adotou um programa de defesa muito aberto as minorias étnicas (curdos) e minorias sociais (feministas e homossexuais) e incluiu o tema ecológico. 

O CHP foi reorganizado, tanto para disfarçar o fato de que os alevitas [1] foram sobre-representados dentro do partido como para promover a candidatura do ex-presidente do Supremo Tribunal. Mas, embora o AKP tenha perdido as eleições em Julho de 2004, não foi possível realizar a aliança entre o CHP e o HDP. Por isso, tivemos de fazer novas eleições legislativas em novembro de 2014, eleições que Recep Tayyip Erdogan "manipulou" descaradamente.

Washington, em seguida, decidiu prosseguir com a eliminação física de Erdogan. 

Entre novembro de 2014 e julho 2016 houve três tentativas de assassinato contra Erdogan. Ao contrário do que foi dito, a operação de 15 de Julho, 2016, não era uma tentativa de golpe, mas uma operação para limpar apenas o presidente turco

A CIA tinha usado industriais e os laços militares turcos e nos Estados Unidos para recrutar dentro da força aérea turca uma pequena equipe que seria responsável pela remoção do presidente durante suas férias. 

Mas essa equipe foi traída por vários oficiais islâmicos (os últimos constituem quase 25% das forças armadas turcas) e o presidente foi avisado uma hora antes da chegada do comando que iria "acabar" com ele. 

Erdogan foi transferido para Istambul, sob a proteção de Militares Fieis a seu regime. Conscientes das consequências previsíveis de um eventual fracasso, os conspiradores começaram um golpe sem preparação prévia e numa altura em que ainda havia um intenso movimento de pessoas em Istambul. 

É claro, que falhou. O objetivo da repressão subsequente não só foi a deter os autores da tentativa de assassinato, nem os militares que se juntaram ao golpe de Estado improvisado, mas sim a todos os pró-americanos: em primeiro lugar, o kemalista laico e, em seguida, seguidores islâmicos de Fethullah Gulen. No total, mais de 70.000 pessoas foram colocadas sob investigação e ainda teve de libertar prisioneiros comuns, para poderem aprisionarem os pró-americanos.

A megalomania do presidente Erdogan e sua ostentação no Palacio Blanco, a manipulação das eleições e a repressão desencadeada contra qualquer um que não está totalmente de acordo com ele, o torna o bode expiatório ideal para os erros cometidos na Síria. No entanto, o fato de que conseguiu sobreviver a uma revolução, e a quatro tentativas de assassinatos, sugere que não seja possível tirá-lo fora do jogo tão rapidamente

Arábia Saudita

Para os Estados Unidos, a Arábia Saudita é tão indispensável como a Turquia, por 3 razões: em primeiro lugar, por causa de suas reservas de petróleo, volume e qualidade excepcional embora o que interessa a Washington já não é consumir este óleo, mas apenas controlar suas janelas; pelos grandes volumes de dinheiro que lida com o reino (mas seus lucros sofreram uma queda de 70%) e o financiamento das operações secretas de forma não controlada pelo Congresso dos EUA; e, finalmente, pelo seu controle sobre as fontes de jihadismo. De fato, desde 1962, com a criação da Liga Mundial islâmica, os fundos de Riad, em nome da CIA, a Irmandade Muçulmana e da Irmandade de Naqchbandis, as duas irmandades de onde vêm todos os "jihadistas" do mundo.

Mas a natureza anacrônica da Arábia Saudita, um país que é propriedade privada de uma família de príncipes que não tem nada a ver com a liberdade comumente reconhecida de expressão e os princípios de liberdade religiosa, exige mudanças radicais.

Como resultado, a CIA organizou em janeiro de 2015, a sucessão do rei Abdullah. A noite da morte do soberano, a maioria foi incapaz de ser afastado de seus cargos e o País foi totalmente reorganizado na sequência de um plano anterior. Neste momento, o poder é dividido entre três clãs principais: Rei Salman (e seu filho amado príncipe Mohamed), o filho do príncipe Nayef (o outro príncipe Mohamed) e filho do falecido rei (príncipe Mutaib, comandante da Guarda nacional).

Na prática, o rei Salman, com 81 anos permite que o seu filho, o príncipe Mohamed de 31 anos, de a dinâmica governamental do País. E este príncipe saudita Mohamed aumentou a interferência na Síria, em seguida, travou uma guerra contra o Iêmen. Internamente, ele iniciou um programa abrangente de reformas econômicas e de caráter social enquadrado na chamada "Visão 2030".

Mas os resultados são imediatos. O reino saudita está mergulhado na Síria e no Iêmen e a última guerra está custando ainda mais caro do que o esperado devido às incursões dos houthis em território saudita e conseguiram infligir derrotas ao exército de Riyadh. 

Em termos econômicos, as reservas de petróleo estão chegando ao fim e a derrota no Iêmen impede os sauditas de explorarem o que tem sido chamado de "Part Four Empty", que é a região que inclui parte dos dois países. É verdade que a queda dos preços do petróleo permitiu a Arábia Saudita eliminar alguns dos seus concorrentes, mas também esgotou o tesouro do reino, que agora é forçado a recorrer a empréstimos nos mercados internacionais.

A Arábia Saudita nunca foi tão poderosa e ao mesmo tempo tão frágil. A repressão política atingiu o seu apogeu com a decapitação do líder da oposição, Sheikh Al-Nimr. A rebelião vai além da minoria xiita e se estende até as províncias sunitas a oeste. 

A nível internacional, a coalizão árabe é certamente impressionante, mas faz água por toda parte desde que o Egito se retirou dela. A abordagem pública da Arábia Saudita para Israel contra o Irã chocou o mundo árabe e muçulmano. Ao invés de ser uma parceria, a aproximação entre Riad e Tel Aviv mostra o pânico que engolfa a família real, objeto hoje de ódio de todos.

O governo de Washington, Vê que é hora de escolher os itens que seriam apropriados, salvar a Arábia Saudita e livrar-se dos outros? A lógica simples indicaria um retorno à distribuição prévia de poder entre o clã dos Sudairis mas sem o príncipe Mohamed ben Salman, que já demonstrou a sua incapacidade de aliar-se a tribo do falecido rei Abdallah.

Washington na questão saudita, acredita que com a morte do rei Salman, seu filho Mohamed será removido do poder, passando o governo para as mãos de outro príncipe Mohamed (filho de Nayef), enquanto o príncipe Mutaib permaneceria na presente posição à frente da Guarda Nacional.

Na Arábia Saudita, como na Turquia e outros países aliados com os Estados Unidos, a CIA tenta manter as coisas como elas são. E é limitada a organizar a tabela abaixo das tentativas de mudanças de liderança, mas não tocar nas estruturas. A natureza puramente cosmética dessas mudanças facilita o seu trabalho é mantendo-a nas sombras.

Moscou tenta negociar junto do Oriente Médio e da Ucrânia

A Rússia conseguiu estabelecer uma ligação entre os campos de batalha da Síria e do Iêmen. Sua presença militar no Levante é público por um ano, mas também está presente durante 3 meses, tão não oficialmente no Iêmen, que está ativamente envolvido na luta. Ao negociar o cessar-fogo simultaneamente em Aleppo e outro cessar-fogo no Iêmen.

A Rússia forçou os Estados Unidos a ligar os dois teatros de operações. Nestes dois países, as forças russas mostram sua superioridade em termos de guerra convencional contra os aliados de Washington, evitando o confronto direto com o Pentágono. Com essa finta, Moscou evitou ter de se envolver no Iraque, apesar de seu vínculo histórico nesse país terceiro.

No entanto, a disputa entre os "Big Two" foi principalmente no corte das duas rotas da seda, primeiro para a Síria e, em seguida, na Ucrânia. Naturalmente, Moscou é por ligar as duas questões em suas negociações com Washington. Isto é muito lógico, especialmente considerando que a própria CIA criou uma ligação entre os dois campos de batalha em toda a Turquia.

Ao viajar para Berlim em 19 de outubro, o presidente russo, Vladimir Putin, e o chanceler Sergei Lavrov tinham intenções de convencerem a Alemanha e a França, sem a presença dos Estados Unidos, para ligar estas questões. Então, eles estenderam a trégua na Síria em troca da suspensão do bloqueio dos acordos de Minsk pela Ucrânia, um negócio que não deixará de irritar Washington, que fará tudo ao seu alcance para sabotá-la.

Claro, Berlim e Londres no final acabam fazendo fila atrás de seu "mestre otaniano". Mas, do ponto de vista de Moscou aceitar procrastinar um conflito, e um otimo negocio tanto na Ucrânia como na Transnístria, por exemplo. Além disso, todos afetando a unidade da OTAN sobre o fim da supremacia americana.

Thierry Meyssan

[1] A religião Alevi é a versão turca do Alawism sírio.

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