segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Os Estados Unidos e a apropriação militar da antropologia.



Entrevista com o antropólogo mexicano Gilberto López y Rivas, realizada pela jornalista venezuelana María Fernando Barreto. Tradução e apresentação: Ricardo Cavalcanti-Schiel.
Em fevereiro de 2013, o reconhecido antropólogo Marshall Sahlins renunciou à sua cadeira na Academia Nacional de Ciências (NAS) dos Estados Unidos, e um dos motivos era seu protesto contra a instrumentalização, pelos interesses das Forças Armadas norte-americanas, das pesquisas em ciências sociais fomentadas por aquela eminente instituição.
Esse contexto vinha sendo produzido nos Estados Unidos, com mais intensidade e sistematicidade, há alguns anos. Seus precedentes distantes remontam à colaboração de um grupo de profissionais, liderado pelas antropólogas Margaret Mead e Ruth Benedict, no esforço de guerra do Pacífico, durante o segundo grande conflito mundial, para “conhecer o inimigo”. Um dos clássicos da antropologia, o livro O crisântemo e a espada (daquela última autora), uma análise sobre a sociedade japonesa, foi produzido nesse contexto. E há quem repute a manutenção do imperador Hirohito no trono do Japão após a guerra aos conselhos desses assessores.
Os “area studies” (estudos regionais) na academia norte-americana, marcadamente a partir da Segunda Grande Guerra, acompanharam os movimentos e inflexões da política externa e da geopolítica dos Estados Unidos, recebendo financiamentos diretos, ora do Departamento de Estado ora do Departamento de Defesa. Foi com o patrocínio direto do Departamento de Estado norte-americano, por exemplo, que se publicaram, após a guerra, os volumes de um portentoso balanço analítico sobre os índios da América do Sul, o Handbook of South American Indians, que lançou um novo paradigma interpretativo sobre a paisagem etnológica do continente, que, como visão de conjunto, persiste até hoje, eclipsando a agenda intelectual anterior dos pesquisadores europeus, que vinha, até então, conquistando espaço entre os estudiosos locais. Quando, no Brasil, a Companhia Editora Nacional publica em 1942, pela coleção Brasiliana, a tradução de Sérgio Buarque de Holanda da suma etnológica alemã sobre o subcontinente (Ethnologia Sul-Americana), estava já dando à luz um natimorto.
No entanto, o vínculo direto e aplicado entre conhecimento sociológico (ou antropológico) sobre outras sociedades e táticas militares vinha sendo, até recentemente, objeto de escrúpulos severos por parte do meio acadêmico norte-americano, como o demonstrara, na metade dos anos 60, o escândalo produzido pelo Projeto Camelot, patrocinado pelo Exército dos Estados Unidos e voltado particularmente para o cenário social da América Latina.
O Projeto Camelot iniciou-se no Chile e, tal como hoje ocorre com a agenda do “neoliberalismo progressista” (como o chamou Nancy Fraser) ― qual seja, a da política de identidades, que caracteriza o multiculturalismo ―, ele se valeu de fundações norte-americanas para arregimentar cerca de 140 sociólogos chilenos, a maioria deles de esquerda, sem que soubessem quais eram os verdadeiros fins do programa.
E é exatamente nesse ambiente ideológico e sobre os rastros dos objetivos desse último projeto que se chega à atual conformação dos interesses militares norte-americanos pela instrumentalização das ciências sociais, consumando um percurso que o historiador argentino Juan Alberto Bozza sintetizou na expressão “do anticomunismo à contrainsurgência”.
O veterano antropólogo mexicano Gilberto López y Rivas durante uma década investigou o ambiente institucional da Minerva Research Iniciative, do Pentágono, a partir da produção do Manual de Contrainsurgência do Exército e do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, lançado em dezembro de 2006. Sobre esse manual, o general de brigada brasileiro da reserva Álvaro de Souza Pinheiro ― que, como capitão, participou da repressão militar à guerrilha do Araguaia e, mais recentemente, se recusou a colaborar com a Comissão Nacional da Verdade ― afirmou ser “o documento doutrinário de contra-insurreição mais bem elaborado que o mundo ocidental já viu até os dias de hoje”.
Há dez anos, os esforços das forças armadas dos Estados Unidos para cooptar acadêmicos, em especial antropólogos, para pesquisa e ação sob a rubrica da contrainsurgência, produziu, como reflexo, o que alguns analistas (não se sabe se por ironia ou a sério) chamam de “cultural turn” (“giro cultural”) no âmbito da doutrina militar norte-americana. (Ricardo Cavalcanti-Schiel)
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Eu gostaria de lhe pedir que nos explicasse, em termos gerais, o que é a Iniciativa Minerva, que perigo representa para a resistência latino-americana neste momento geopolítico e se você acredita que ela possa lançar seus tentáculos sobre a Venezuela a partir de outros países.
Bom, ao longo de todos esses anos como articulista do jornal La Jornada, pus-me a ler uma série documentos dos militares norte-americanos, e acabei esbarrando, em particular, com os manuais de contrainsurgência disponíveis desde os anos 2006-2007. Meu interesse se centrava de forma especial no uso das ciências sociais nas operações de contrainsurgência. É daí que vem o interesse por ver o envolvimento, não só das ciências sociais como também das universidades dos Estados Unidos e da América Latina, a cumplicidade com esse envolvimento da academia norte-americana, nos esforços contrainsurgentes. Isso me levou a estudar a fundo um programa que desenvolve uma antropóloga chamada Montgomery McFate.
É a “antropologia militar”, que você menciona nos seus artigos?
Correto, a “antropologia militar”, que é denunciada pelos seus pares na “triple A” (American Anthropological Association)… por conta da qual começo a ler diretamente os manuais de contrainsurgência. Montgomery McFate vende ao Secretário de Defesa [Robert] Gates a ideia de que a antropologia poderia ser tão efetiva quanto a artilharia [uma ideia que ela propagandeara no artigo “The military utility of understanding adversary culture” (“A utilidade militar de se entender a cultura adversária”), para a revista de divulgação Joint Force Quarterly, da National Defense University]. Estou lhe falando do ano de 2006. E então inicia-se o programa em que se dá esse envolvimento direto na guerra, no Iraque e, logo em seguida, no Afeganistão. Assim, Montgomery McFate prepara as “equipes humanas no terreno” (uma tradução direta do inglês [human terrain teams, veja-se também seu handbookvazado pelo Wikileaks]), onde a ideia é dotar os militares de olhos e ouvidos culturais, que ajudem as operações no terreno. Isso faz com que as 26 brigadas de combate no Iraque e as brigadas de combate no Afeganistão contem com essas equipes de “operadores culturais” a serviço dos militares e seus comandantes no próprio terreno. Então, o que há é um envolvimento direto e isso tudo se estabelece como nova doutrina militar, que passa rapidamente às demais escolas militares na América Latina.
Isso me levou a pesquisar de que maneira as universidades dos Estados Unidos estariam envolvidas nesse “esforço”. O mais famoso dos manuais foi coordenado por [David] Petraeus (esse general que foi defenestrado por conta de um caso extraconjugal com a sua biógrafa, mas não por crimes de guerra). Foi ele que escreveu o prólogo do Manual de Contrainsurgência. Esse manual tornou-se muito famoso, a ponto de que ―cito no livro― um general brasileiro afirmou que é o melhor que já existiu, no que se refere a contrainsurgência. E isso me levou à Iniciativa Minerva, que é diferente do Plano Minerva [de formação de pessoal], que foi implementado pelo exército da Colômbia.
A Iniciativa Minerva é um consórcio dos militares para premiar, digamos assim, 12 ou 15 projetos anualmente, com fundos que vêm diretamente do Pentágono. São apoiados projetos de interesse dos militares, e, entre eles, se outorgou uma bolsa, por exemplo, a Montgomery McFate para que escrevesse um livro sobre “antropologia militar” [com lançamento anunciado para este ano pela Editora da Universidade de Oxford]. A Minerva Iniciative tem uma página web que pode ser consultada, e na qual se oferecem apoios financeiros de até 3 milhões de dólares para a pesquisa de temas que os militares demandam em seus esforços de domínio mundial. Então, depois de alguns anos publicando artigos no La Jornada, decidi juntar todo o material para fazer meu livro Estudiando la contrainsurgencia de Estados Unidos. Manuales, mentalidades y uso de la antropología.
Você é antropólogo de profissão?
Sim, sou antropólogo. No decorrer dos quase 11 anos que venho estudando isso, me deparei com o fato de que não somente os antropólogos estavam envolvidos na guerra de contrainsurgência, como também que, paralelamente ao uso de antropólogos na guerra direta no Iraque, se financiou também, através da Iniciativa Minerva, a pesquisa de um grupo de geógrafos da Universidade do Kansas. Esses geógrafos jogaram um papel muito importante no que se chamou de Expedições Bowman [no México, Colômbia e América Central ― elas visavam recopilar informações para a base de dados do Sistema de Terreno Humanoou, em inglês, Human Terrain System (HTS) (para uma versão em espanhol do verbete deste último link veja-se: aqui)]. É importante lembrar delas, porque elas surgem paralelamente ao uso dos antropólogos nas guerras do Iraque e do Afeganistão. As Expedições Bowman partem daquilo que os geógrafos chamam de cartografia participativa, e assim se introduzem diretamente nos territórios indígenas. É o estudo geográfico-antropológico-político das regiões que o Pentágono crê que possam se constituir como um inimigo à segurança nacional dos Estados Unidos.
Em várias reuniões dos grupos de inteligência, como as que produzem documentos denominados “Tendências globais”, que podem ser consultados, assegurou-se que os movimentos “indigenistas” são um inimigo a se combater. Em um hotel muito luxuoso, reúnem-se especialistas em inteligência, que publicam periodicamente as “tendências globais”, ou, traduzindo, ameaças ao sistema capitalista norte-americano, tomadas em termos de segurança nacional. E eles formulam as tais tendências globais para 2005, 2010, 2015, 2020, etc. Numa dessas reuniões se concluiu que os povos indígenas eram uma ameaça para a segurança dos Estados Unidos.
Por que consideram que os povos indígenas são uma ameaça à sua segurança?
Porque segundo os militares e os especialistas, as tendências coletivizantes dos povos indígenas os fazem lutar contra as corporações de origem diversa, como também as de origem norte-americana ou transnacional e, portanto, se convertem em uma ameaça, por meio de seus movimentos considerados “nativistas”.
Você vem denunciando essas coisas e, se bem me lembro, você mencionou intelectuais norte-americanos que também o denunciaram. É isso?
Sim. Os geógrafos Joe Bryan e Denis Wood publicaram Weaponizing maps. Indigenous Peoples and Counterinsurgency in the Americas, obra que está sendo traduzida para o espanhol para ser editada. Também há outro livro, Weaponizing anthropology, de um antropólogo chamado David Price, que denunciou esse uso mercenário da antropologia. Não enveredei no campo da psicologia, mas também existe a acusação ― e a aceitação tácita pela American Psychological Association ― de participação profissional na “assessoria” de efetivas sessões de tortura da CIA para a obtenção de confissões rápidas.
Entre as denúncias que você faz sobre a Iniciativa Minerva está o programa México Indígena. Em que consistiu esse programa?
México é o primeiro lugar onde os geógrafos das Expedições Bowman fizeram trabalho de campo, e esse projeto foi denominado México Indígena.
Essas expedições vão depois a Costa Rica e Colômbia?
Na Colômbia quem esteve foi Geoffrey Demarest, que é o intelectual militar e recentemente titulado doutor em geografia, obviamente, pela Universidade do Kansas (UK). Essa cidade é o lugar estratégico para estudar aqueles que nos estudam, porque aí está situado o Instituto de Estudos Estratégicos Estrangeiros, ou seja, o instituto de inteligência militar que o Pentágono possui para nos estudar. Então, a UK e esse Instituto são irmãos siameses, ajudam-se mutuamente. Kansas é também o centro de uma grande atividade econômica e origem de uma linha férrea que supre a rota para o Canal do Panamá e para o eventual canal da Nicarágua, como também comunica diretamente com o porto de Lázaro Cárdenas [costa do Pacífico do Estado de Michoacán, México], que é um porto de 80 metros de profundidade, de onde saem as mercadorias do leste e do oeste dos Estados Unidos pela rota que chamam de “Kansas-Xangai”. Esse entroncamento é também a causa da guerra entre cartéis de droga pelo controle de Michoacán, porque é o lugar das saídas estratégicas de aço, madeira fina e demais produtos para a China, e por onde chegam da China os produtos para fabricação de drogas sintéticas nos Estados Unidos. Há, portanto, uma conexão aí ― pode-se dizer ― com o espaço geográfico da UK e, em especial, com esses geógrafos. Um se chama Jerome Dobson; o outro, Peter Herlihy; além de Geoffrey Demarest: os três cavaleiros do apocalipse…
Algum desses diretores de pesquisa da Iniciativa Minerva é militar de profissão?
Demarest. É um tenente-coronel que escreveu um livro sobre contrainsurgência na Colômbia.
Quando escreveu esse manual de contrainsurgência?
Há algum tempo, depois de ter feito trabalho de campo na Colômbia. Sua hipótese é bastante singela e, até certo ponto, estúpida, mas é a que ele esgrime como sua “grande contribuição” aos estudos de contrainsurgência. E é a de que “a propriedade coletiva da terra é a matriz da criminalidade e da insurgência”. Ele vendeu isso para os militares e, em paralelo, os militares descobriram que os indígenas são uma ameaça, porque além de defender seu território, podem se unir a outros “subversivos” como os Sem Terra (MST) e os zapatistas, criando uma situação adversa para os interesses estratégicos dos Estados Unidos.
Também se dizem coisas ao revés, como por exemplo, de que há planos dos Estados Unidos para apoiar certas lutas para que as terras de nações latino-americanas, particularmente na Amazônia, uma vez entregues às comunidades indígenas, sejam por elas entregues à administração por organismos internacionais.
Sim, isso se diz, mas isso não é essa necessariamente a posição dos militares norte-americanos. Há algumas manifestações nesse sentido, mas isso não chega a constituir doutrina militar, tal como a que analisamos nos manuais de contrainsurgência ou nos documentos da Minerva ou mesmo no papel desempenhado pelas Expedições Bowman, que se acreditam… salvadores dos indígenas.
Mesmo porque, essas metodologias participativas estão na moda, soam amigáveis…
Completamente. E aí colocam anúncios em jornais de Honduras chamando jovens indígenas que conheçam a língua nativa, para que trabalhem com eles. Ensinam-lhes a usar equipamentos como GPS, para fazer os mapas participativos, lhes oferecem viagens a Kansas, naturalmente, e assim vão cooptando setores de variados povos indígenas, e vão penetrando nas comunidades.
A quais outros países da América Latina foram essas expedições?
Estabeleceram-se no México em 2007. Os dirigentes de povos indígenas de Oaxaca os denunciaram e eu reverberei isso no La Jornada. Saíram do México e um professor da Universidade Nacional Pedagógica Francisco Morazán, de Honduras, escreveu-me dizendo que haviam chegado a Honduras. Depois que denunciei sua entrada em Honduras, estudantes da Universidade da Costa Rica me escreveram dizendo que lá estava Peter Herlihy, como relações públicas das Expedições Bowman. Há uma distribuição de tarefas. Dobson ocupou a presidência da sociedade de geógrafos dos Estados Unidos, é um cara influente nas relações públicas do âmbito acadêmico. Peter Herlihy é como que o secretário executivo das Expedições Bowman, e se encarrega de estabelecer relações com as universidades locais. E Demarest é o militar contrainsurgente e ideólogo do grupo, o contato com o Instituto de Estudos Estrangeiros sediado em Kansas. Assim, forma-se uma relação estreita entre a academia, contrainsurgência, geógrafos e antropólogos. Para ter uma ideia do alcance e do peso desses entroncamentos, a editora de uma universidade prestigiosa como a Universidade de Chicago publicou uma edição especial do Manual de Contrainsurgência, para que os soldados pudessem carregá-lo para o terreno em uma jaqueta como a que estou vestindo agora.
Que manual de contrainsurgência é esse?
É o Manual 3-24 do Exército dos Estados Unidos, que pode ser lido na Internet. É um tijolo. A novidade desse manual, em particular, é sua ideia sobre o papel da antropologia. Trata-se de um documento institucional, numerado. No meu livro eu transcrevi as críticas do colega David Price a ele. Também repasso outros três ou quatro manuais e documentos a que tive acesso pelo Wikileaks. Quando comecei a escrever sobre o tema, colegas meus, cujo nome não revelo, começaram a me mandar documentos a que eles, como americanos, tinham acesso.
Qual a imagem transmitida por esses manuais? Pragmáticos e simplificadores?
Exatamente. E não se pode dizer que funcionem. São um péssimo exemplo de antropologia simplificada.
No meu livro, busco introduzir o conceito de “terrorismo global de Estado”. Creio que no estado atual da globalização capitalista, no que respeita a sua dimensão estritamente militar, o que se põe em prática é um terrorismo global de Estado, que é reapropriado pelos países subalternos, como Colômbia e México, que aplicam esse mesmo terrorismo de Estado no âmbito interno. Só que o grande hegemon dessa nova aplicação cultural da contrainsurgência, da sua aplicação à geografia e à psicologia são os Estados Unidos, que a conduzem sobre as nações hospedeiras.
O que são essas nações hospedeiras?
Pode ser a Colômbia, por exemplo, ao pedir aos Estados Unidos que controle sua insurgência interna. E então, “fraternalmente”, essa nação permite que as forças especiais intervenham.
Colocando sete ou mais bases militares, por exemplo?
Exato. Colocando bases militares, instrutores militares, doutrinas militares… aumentando a simbiose entre forças militares e de inteligência entre países subalternos e os Estados Unidos. E aqui entram as outras onze agências de inteligência, porque é hábito falar da CIA; mas o Exército tem uma; a Marinha tem outra; a Força Aérea, outra; além da DEA [Drug Enforcement Administration]… ao total são doze agências de inteligência, congregadas no Conselho Nacional de Inteligência dos Estados Unidos.
Voltando a Minerva, de que temas trata o programa? Por exemplo, a linguística faz parte?
Não, a linguística não. Houve uma reunião nos dias 11 e 12 de setembro de 2013 na Universidade da Califórnia, com o Comitê Diretor da Iniciativa Minerva, que incluiu o Subsecretário para Estratégia do Departamento de Defesa, Daniel Chiu, e o Coordenador do Conselho Nacional de Inteligência (que congrega todas as agências), e os temas que eles trataram foram: dinâmica estrutural das organizações violentas; liderança e sucessão em regimes autocráticos; insurgências e espaços ingovernáveis na África Ocidental ― aproveito para notar que 90% das nações africanas têm forças especiais dos Estados Unidos―; tecnologia, poder e segurança na China; mobilização para a mudança; quem se torna terrorista; energia e estabilidade; mudança climática e acesso aos recursos de segurança; e projeção de poder no mundo globalizado.
A Iniciativa Minerva é um programa do Pentágono fundado por Robert Gates em 2008, que administra um consórcio que recebeu, para começar, 50 milhões de dólares, fundo que, com o passar dos anos, foi sendo incrementando, e cujo destino são os acadêmicos das universidades norte-americanas, além dos especialistas de outros centros, para que trabalhem como analistas de temas que tenham incidência sobre as políticas de Estado e segurança nacional.
Existem denuncias de que, por exemplo, o Facebook teria colaborado com pesquisas no âmbito da Iniciativa Minerva [o pesquisador da Universidade de Cornell, Jeffrey T. Hancock, que participou do famoso experimento do Facebook sobre “contágio emocional”, foi um dos favorecidos com recursos da Iniciativa Minerva]. Isso é possível?
Pode ser que Minerva tenha dado dinheiro para essa pesquisa. Pelas denúncias feitas sobre o Programa Pegasus, a respeito das redes manipuladas pelos governos para fins de vigilância, eu poderia até lhe assegurar que a espionagem em nossos computadores e celulares é permanente.
E isso está em sintonia com o que Minerva se propõe, não?
Exato. É bastante provável. Mas sempre se deve fazer o que os jornalistas do caso Watergate recomendaram: “follow the money!”. O que aconteceu comigo é que, quando segui o dinheiro, cheguei a Minerva. No que diz respeito a questões de inteligência, não há casualidades. Nesse caso, há um projeto geoestratégico de controle do mundo através das academias. E aqui é preciso denunciar a cumplicidade das universidades latino-americanas. Há casos como o de intelectuais destacados que assinaram manifestações contundentes contra a Venezuela, encabeçados por Boaventura de Sousa Santos, que achou por bem se retratar mais recentemente em um artigo intitulado “Em defesa da Venezuela”. Todo mundo pode cometer um erro. Mas o problema, e disso trata [Néstor] Kohan no seu livro Marx y la Teoría Crítica Latinoamericana, é que a academia norte-americana tem consideráveis ramificações nas universidades da América Latina. Assim, as publicações, as bolsas, os congressos… se alguém da academia se põe a investigar certas coisas, seguramente não vai mais receber bolsas, vistos para viajar ao paraíso, nada disso.
O Projeto Camelot foi denunciado no seu devido momento por [Roberto] Fernández Retamar. O rastreio que Kohan fez sobre esse projeto o situa na Argentina, Chile…
México.
E também na Venezuela. Você acredita numa continuidade entre projetos como esse e a Iniciativa Minerva?
Veja bem, o envolvimento mais sistemático dos cientistas sociais surge na Segunda Guerra Mundial. A primeira agência de inteligência contemporânea se chamava Escritório de Serviços Estratégicos, e nela se envolvem duas renomadas antropólogas chamadas Margaret Mead e Ruth Benedict. Era época da luta contra o fascismo e, assim, foi uma entrada politicamente bem vista. Mas esse não deixa de ser o primeiro envolvimento do período contemporâneo. A Agência Central de Inteligência surge em 1947, e arrola toda a doutrina da guerra fria. Minha hipótese é que a ligação com a academia, na verdade, jamais se rompeu, da Segunda Guerra até hoje.
Além disso tem a Fundação Ford e a Rockefeller, não?
Evidentemente, a Ford e a Rockefeller, mas também há outras corporações que nomeio no meu livro, e que recrutam agentes nas universidades para os serviços de inteligência. Eu dei aulas nos Estados Unidos por dois anos e era comum que chegasse ao campus a Agência Central de Inteligência para recrutar estudantes. Ela se interessava por aqueles que falavam outros idiomas, por exemplo, e uma das primeiras tarefas que lhes dava a CIA ou o FBI ao recrutá-los era investigar seus próprios professores e colegas de classe. Tornavam-se, ou melhor, tornam-se ―porque isso não é passado― informantes no campus, e assim delatam professores que ensinam a partir de uma perspectiva marxista, por exemplo.
Você acredita possível que a Iniciativa Minerva esteja diretamente envolvida com o que está acontecendo na Venezuela agora?
Não acredito. Eu estou completamente seguro disso. Veja bem, Bush conseguiu que em 75 países do mundo operassem forças especiais. Obama duplicou esse número. [Tudo isso sob a lógica da contrainsurgência]. A imagem da CIA como única agência de ingerência acabou nos fazendo esquecer do resto das agências de inteligência e das que operam sobre o terreno, que são aquelas das forças armadas. A estrutura militar e de inteligência norte-americana é muito mais ampla que a CIA. Ela é não mais que uma parte ― e eu diria até minúscula ― da grande máquina que atua sobre nossos países.
No meu último artigo, considero a hipótese de que uma intervenção militar norte-americana na Venezuela não será direta, mas faria uso da Colômbia. Qual a sua opinião sobre isso?
Veja bem, há dois traumas que parecem presentes na doutrina militar norte-americana e que podem ser vislumbrados nos manuais. Um é a derrota no Vietnam, e o outro é a derrota relativa no Iraque. A única coisa que a invasão desse último país, que não tinha armas de destruição em massa, conseguiu foi sua completa destruição e a imposição de um governo fantoche, a troco das mortes americanas, mais os feridos e os afetados mentalmente. Então, a tendência dos manuais é a de propugnar pela ação de exércitos por procuração, para buscar alguém que se encarregue das tarefas que os garotos americanos não podem fazer ― mesmo que quase sempre estejam aí os pobres, latinos e negros. Então há uma tendência a buscar não envolver tropas americanas, e assim eles parecem apostar nas forças locais e seus sucedâneos, como no caso do paramilitarismo colombiano. No meu livro sustento a hipótese de que há duas maneiras de intervir militarmente em um país. Uma é por meio da intervenção direta, colonial, como no Iraque ou Afeganistão; e a outra é por meio da intervenção indireta, neocolonial, através da “guerra contra o narcotráfico e o terrorismo”. O México e a Colômbia são exemplos desse segundo caso. Os Estados Unidos não precisam de tropas no México porque já têm dois braços convenientemente armados: o crime organizado, por um lado, e as forças armadas mexicanas, cada vez mais a seu serviço e a serviço do mundo corporativo.
O mesmo poderia acontecer com o uso das forças militares colombianas agindo na Venezuela?
Exatamente. De fato, acontecimentos como o de Sucumbíos e vários outros incidentes fronteiriços, que Chávez resolveu de maneira bastante inteligente, têm a ver com a ideia de usar a Colômbia como força de intervenção. Essa, para mim, é a possibilidade mais próxima: a do não emprego de forças dos Estados Unidos e do não envolvimento direto. A doutrina militar norte-americana, que seus manuais fazem transparecer, se baseia antes de tudo nas nações hospedeiras, que levam a efeito o trabalho sujo.
A partir da sua perspectiva geopolítica, o que está realmente em jogo na Venezuela hoje? É tão apenas o seu destino ou de algo maior para a América Latina?
Guardando as devidas distâncias e os resultados do que já aconteceu, a Venezuela é para nós hoje como a Espanha de 1936. Quer dizer, mesmo que a Espanha tenha sido derrotada, demonstrou que a luta contra o fascismo era possível. A resistência antifascista e o Exército Vermelho finalmente derrotaram o fascismo. Não foi o desembarque da Normandia ou alguma das outras histórias que Hollywood conta. A derrota dos fascistas se deveu à experiência espanhola. A Espanha acabou legando ao mundo a ideia de que a luta antifascista era possível. Hoje estamos diante do fascismo do século XXI, esse terrorismo global de Estado, essa Iniciativa Minerva, esses intelectuais a serviço do império. Venezuela é a Espanha de 36. Por isso, não se trata de apoiar a Venezuela por ela mesma, mas por todos os povos da Nossa América. É isso sobre o quê uma certa esquerda, sobretudo venezuelana, intelectualizada, acadêmica, extrativista, está confusa e não entendeu.
Confusa? Ou se poderia buscar algo mais na atitude de alguns intelectuais?
Follow the money!… e o dinheiro não é só dinheiro, são bolsas, viagens… Follow the money!


domingo, 3 de setembro de 2017

São Paulo. Após nova prisão, abusador sexual é enquadrado por estupro e ficará preso.

Diego Ferreira de Novais - Foto: Polícia Civil de SP.
 Bruno Bocchini.                   Da Agência Brasil.
A Justiça de São Paulo decidiu neste domingo (3) manter preso Diego Ferreira de Novais, acusado de ter cometido abuso sexual e estupro dentro de um ônibus do transporte coletivo na cidade de São Paulo. 
Em audiência de custódia realizada hoje, o juiz Rodrigo Marzola Colombini entendeu que houve estupro na ação do acusado que, ontem (2), encostou o pênis em uma passageira e a forçou permanecer no lugar. 
O juiz transformou a prisão flagrante de Novais em prisão preventiva, sem prazo de duração. 
Ele deve continuar preso até o final do processo criminal.“Os fatos amoldam, em tese, a figura típica do estupro, tal qual entendeu a autoridade policial. O indiciado obrigou a vítima que com ele praticasse ato libidinoso ao esfregar seu pênis na perna dela, usando de violência para que a ofendida não conseguisse se esquivar, na medida em que lhe segurou a perna forçando o contato com o pênis ereto”, disse o juiz no termo de audiência de custódia.
Na última terça-feira, Novais já havia sido preso após ter ejaculado em uma passageira. No entanto, na ocasião, ao juiz José Eugênio Amaral Souza o liberou aplicando uma pena de multa, por considerar o fato uma contravenção penal. Para o magistrado, não havia elementos para enquadrar Novais no crime de estupro por não ter havido violência.

Em defesa da Amazônia e do Cerrado.


LUIZ MARQUES*

Em 2014, a FAO lançou um manifesto intitulado “Não podemos viver sem florestas” [I]

Seu primeiro parágrafo reitera o que todos sabemos: “As florestas são imprescindíveis para sustentar a vida no planeta (…) e são o lar de 80% da biodiversidade terrestre”. 

Em 22 de agosto último, Michel Temer deu mais um passo para a inviabilização da vida na Terra, ao extinguir por decreto a Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (Renca) na Amazônia, com uma área de 46.450 km², maior que a do estado do Rio de Janeiro [II]

Situada na divisa entre Pará e Amapá, a região abrange o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, o maior parque de florestas tropicais do mundo, além de outras florestas, quatro reservas ecológicas e duas reservas indígenas, uma delas a da comunidade Wajãpi, contatada apenas em 1973. Já em março, em Toronto, Fernando Coelho Filho, ministro de Minas e Energia, havia anunciado às mineradoras canadenses o fim da Renca como reserva mineral num evento intitulado Prospectors and Developers Association of Canada (PDAC). Hoje, aproximadamente 30 empresas canadenses já exploram minérios em território brasileiro, especialmente o ouro [III]

O decreto abre a possibilidade de licenciamentos para projetos de mineração na região, considerada rica em ouro, cobre, ferro, níquel, manganês e tântalo [IV], um elemento empregado em equipamentos eletrônicos, bastante raro na crosta terrestre (1 a 2 ppm) e com expectativa de esgotamento nos próximos 50 anos. Como afirma com singelo ufanismo o diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Victor Hugo Froner Bicca, a região é a “última fronteira de potencial geológico ainda considerável disponível no mundo. É um dia histórico para o setor” [V]

Trata-se certamente de um dia histórico, pois o decreto de Temer é um ataque frontal aos povos indígenas, à segurança de todos os brasileiros, à biosfera e ao sistema climático planetário, dos quais dependemos existencialmente como sociedade e como espécie [VI].

Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque | Foto: Reprodução | Greenpeace.
O decreto é parte do Programa de Revitalização da Indústria Mineral Brasileira, lançado em 25 de julho, que inclui a alteração de 23 pontos no Código de Mineração, “com a finalidade de destravar e estimular a atividade mineradora”, nas palavras do site do Ministério das Minas e Energia [VII]

Michel Temer e o grupo que o gere fazem o que se previa que fariam uma vez no poder: o assalto final às últimas salvaguardas socioambientais não derrubadas por Dilma Rousseff. Dentre elas se contam [VIII]

(1) a conversão em lei (13.465) da medida provisória 759, sancionada em 11 de julho de 2017, a chamada lei da anistia à grilagem feita entre 2004 e 2011, contra a qual 61 organizações e redes da sociedade civil pleiteiam uma ação de inconstitucionalidade [IX];
(2) flexibilização da licença ambiental e transferência de sua outorga aos estados e municípios;
(3) isenção de licença ambiental para agropecuária extensiva e para qualquer propriedade rural “em regularização ambiental” (terras invadidas ou roubadas, via de regra registradas como “propriedade em regularização”);
(4) assinatura presidencial da portaria da Advocacia-Geral da União (ADI 3239 [X]), estendendo a validade para as terras indígenas da tese do “marco temporal”. 
Por essa tese, deixa-se de se reconhecer como terras indígenas todas as terras das quais os índios foram expulsos antes da promulgação da Constituição em outubro de 1988 (inclusive em casos de “renitente esbulho”), tal como, por exemplo, os guaranis de Mato Grosso do Sul e agora os da reserva do Pico do Jaraguá em São Paulo [XI];
(5) projeto de lei, tramitando em regime de urgência (PL no 8.107/2017), que entrega a invasores 350 mil hectares ou 26,5% da Floresta Nacional (Flona) de Jamanxim, no SO do Pará, em um município ironicamente chamado Novo Progresso, onde uma carreta com dez veículos destinados à fiscalização do Ibama foi incendiada em plena BR163 a mando dos desmatadores. O novo estatuto dessa floresta (APA) permitirá atividades de agropecuária, mineração, ocupação urbana e rural [XII]
A reação da sociedade a essa política de terra arrasada começa a se esboçar, como disso dá mostras uma petição da Avaaz que já conta com muitos milhares de assinaturas e cujas adesões avançam a passos largos. Para quem ainda não a assinou, eis o link: https://secure.avaaz.org/po/ nao ao_deserto_amazonico/?zihIulb  
Além disso, várias ONGs e os povos indígenas do Pará e Amapá devem impetrar uma medida judicial contra o decreto de Temer. Há que se mencionar ainda uma reação do Senador do Amapá, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que apresentou um Projeto de Decreto Legislativo (SF) no 160/2017, coassinado por outros senadores [XIII], no objetivo de sustar o decreto de Temer.
Um plácido consenso - Mas são diminutas as chances de sua aprovação. Diminutas, porque, é forçoso admiti-lo, sob os antagonismos que agitam a superfície do espectro partidário brasileiro, há um plácido consenso: a natureza é ainda percebida como um subsistema da economia. Florestas, por exemplo, são mercadoria em potencial ou um empecilho para o acesso ao solo e ao subsolo, isto é, a outras mercadorias. 
O corolário imediato dessa subordinação da ecologia à economia é que as florestas, isto é, os povos, a flora e a fauna que nelas habitam e as conservam, são uma externalidade e mesmo um entrave ao processo de produção de mercadorias. 
Com exceção do PSOL de Luiza Erundina, para quem “os modelos que defendíamos se esgotaram” [XIV], e talvez de algumas personalidades isoladas da REDE, todos os partidos brasileiros comungam dessa concepção de mundo. 
Há, naturalmente, os que advogam formas de converter a floresta em mercadoria de modo “sustentável”, isto é, sem as destruir além de sua suposta capacidade de regeneração. Mas ilusão, ignorância e má-fé aqui se tangenciam porque, em decorrência do rápido agravamento das mudanças climáticas, das secas, dos incêndios e do extermínio da biodiversidade, o limiar de resiliência das florestas está cada vez mais próximo, tal como sugere, mais uma vez, um experimento realizado em árvores pertencentes a 115 genera na floresta amazônica [XV]
Outros experimentos com resultados análogos mostram que essa percepção de um perigo iminente de dieback das florestas tropicais é hoje mainstream science. Ninguém mais pode afirmar, respeitado o princípio de precaução, qual é o limite “sustentável” de extração de madeira na Amazônia, de onde a importância da campanha “Desmatamento Zero” do Greenpeace.
Prova desse tácito consenso partidário é o fato de que os dirigentes do PT e do PCdoB compartilham com o PMDB, o PSDB e o chamado “Centrão” a responsabilidade pelo extermínio da biosfera no país. Aldo Rebelo, quando líder do PCdoB, foi o relator do projeto do novo Código Florestal (Lei 12.651/2012), a partir de cuja implantação em 2012 o desmatamento na Amazônia aumentou 75%. Rebelo contratou Samanta Pineda, Consultora jurídica para assuntos ambientais da Frente Parlamentar da Agropecuária, para formatar sua proposta [XVI]
Agradecidos, o agronegócio e os grupos empresariais de papel e celulose doaram R$ 6,5 milhões à sua campanha eleitoral e às de outros deputados integrantes da comissão especial do Código Florestal, segundo as declarações disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral [XVII].
As alianças da cúpula do PT com o latifúndio “moderno” (tricampeão mundial de agrotóxicos, de maquinária de última geração na arte de devastar e de trabalho análogo à escravidão) formam um longo dossiê de traições a seus eleitores. 
Seu apoio recente à candidatura de Kátia Abreu [XVIII] ao governo de Tocantins em 2018 abole as últimas nuances que ainda diferenciavam sua ação da predação socioambiental da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). O PT tornou-se, de fato, uma força auxiliar dos 240 deputados da FPA, o maior grupo do Congresso brasileiro, cuja agenda é coesa e bem definida: a remoção da legislação de proteção ambiental, o assalto às reservas indígenas e dos quilombolas, a regressão dos direitos dos trabalhadores rurais e a desregulamentação do mercado de terras. Se as forças sociais que ainda apoiam a cúpula do PT não derem um basta, a sigla passará definitivamente a significar Partido dos Terratenentes. 
A destruição da Amazônia e do Cerrado entre 2001 e 2014, tal como mostram as zonas em vermelho na figura 1, fornece o retrato fidedigno e brutal do legado das direções do PT e do PCdoB aos trabalhadores. 
Figura 1: Regiões de intensificação de desmatamento (em vermelho) entre 2001 e 2014 | Fonte: Global Forest Watch.
Mais de 50% da cobertura primária do Cerrado, que originalmente se estendia por cerca de 23% do território nacional (2 milhões de km2), foi perdida para a agricultura e a pecuária nos últimos 50 anos. Entre 1994 e 2008, o Cerrado perdeu em média 15.700 km2 por ano. Em 2005, Lula criou uma Comissão Nacional do Cerrado que permaneceu letra morta. 
A Política Nacional de Mudança do Clima por ele instituída em 2009 (Lei n° 12187) fixou uma meta até 2020 de redução de 40% dessa perda média anual. Essa meta é absurda porque significa considerar como aceitável perder 1% ao ano de sua vegetação remanescente, ou seja, quase 10 mil km2. Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, havia vetado a proposta inicial de uma redução de 50%. Entre 2013 e 2015, nada menos que 30 mil km2 de sua vegetação nativa foram completamente removidos [XIX]
Segundo um estudo prospectivo de Bernardo Strassburg e colegas, de 2017, “mantidas as tendências atuais, 31% a 34% da área restante da cobertura vegetal do Cerrado deve ser suprimida até 2050 (…), levando à extinção ~480 espécies de plantas endêmicas – três vezes mais que todas as extinções documentadas desde 1500” [XX]
Em junho de 2015, o Brasil assumiu o compromisso internacional de restaurar 12 milhões de hectares de cobertura vegetal nativa até 2030. O texto desse compromisso (INDC) sequer menciona qualquer objetivo de preservação do Cerrado. Como bem ironiza Mercedes Bustamante, “dado o avanço do desmatamento, em breve, realmente se tornará desnecessário mencioná-lo” [XXI].
A caixa d’água do Brasil - A imagem e os dados contidos na figura 2 permitem entender porque o Cerrado é chamado o berço e o grande distribuidor dos recursos hídricos para grande parte do território nacional. 
Figura 2 – O estresse hídrico do Cerrado, fonte de recursos hídricos do país | Fonte: Embrapa Cerrados, ANA e Ministério do Meio Ambiente – Arte L. Pacífico/CB/DA Press.
Enganam-se, portanto, os que pensam que a destruição do Cerrado não terá consequências catastróficas para o país. Nesse bioma encontram-se três grandes aquíferos (Guarani, Bambuí e Urucuia) e nele nascem três grandes bacias hidrográficas (Tocantins-Araguaia, Paraná-Prata e São Francisco), dos quais dependemos crucialmente, e não menos que milhares de outras espécies. Como lembra Tiago Reis, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), “a perda de vegetação nativa do Cerrado compromete a formação de chuvas por evapotranspiração e a infiltração das águas no solo para recarregar aquíferos e rios da região” [XXII]
A isso se acrescentam a poluição dos aquíferos por agrotóxicos e uma demanda crescente da agricultura de irrigação intensiva, típica do agronegócio que exporta água na forma de soja, carne bovina e outros produtos, o que tem levado a retiradas de água completamente insustentáveis. Uma das primeiras consequências, mas certamente não a última, da destruição do Cerrado é o racionamento de água no Distrito Federal, imposto desde finais de 2016 e sem data para acabar.
Notas
[I] Cf. FAO, We can’t live without forests. “Forests are key to supporting life on Earth.” (em rede).
[II] Veja-se Decreto no 9.142, de 22/VIII/2017: Extingue a Reserva Nacional de Cobre e seus associados, constituída pelo Decreto nº 89.404, de 24 de fevereiro de 1984, localizada nos Estados do Pará e do Amapá. Diário Oficial (em rede).
[III] Cf. Ricardo Senra, “Mineradoras canadenses souberam da extinção de reserva na Amazônia 5 meses antes do anúncio oficial”. BBC Brasil 26/VIII/2017.
[IV] Cf. Jonathan Watts, “Brazil abolishes huge Amazon reserve in ‘biggest attack’ in 50 years”. The Guardian, 24/VIII/2017.
[V] Citado por Helena Martins, “Governo extingue Reserva Nacional do Cobre e Associados”. Agência Brasil, 23/VIII/2017.
[VI] Cf. Marina Rossi, “Governo Temer convoca mineradoras à nova caça ao ouro na Amazônia”. El País, 25/VIII/2017; Philippe Watanabe, Fernando Tadeu Moraes, “Temer extingue reserva na Amazônia para ampliar exploração mineral”. Folha de São Paulo, 23/VIII/2017; Bernardo de Mello Franco, “Ataque à Amazônia”. Folha de São Paulo, 24/VIII/2017.
[VII] Cf. “Governo Federal anuncia Programa de Revitalização da Indústria Mineral Brasileira”. Ministério das Minas e Energia, 25/VII/2017 (em rede).
[VIII] Para uma análise dessas medidas, vejam-se os artigos de Claudio Angelo e Luciana Vicária, “Sem acordo, licenciamento ambiental deve ser votado amanhã”. Observatório do Clima, 23/VIII/2017 e Claudio Angelo, “Por que não dá para celebrar a queda no desmatamento”. Observatório do Clima, 24/VIII/2017.
[IX] Cf. Carlos Rittl, “O preço do trator”, Valor econômico, 21/VIII/2017; Moacir Rodrigues, “Entidades pedem ação contra a “Lei da Grilagem”. Safra, 31/VII/2017.
[X] Trata-se da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3239 proposta pelo DEM, questionando os direitos dos quilombolas, reconhecidos pelo Decreto nº 4.887/2003. Cf. “ADI 3239 – Comunidades Quilombolas”, Conectas – Direitos Humanos (em rede).
[XI] Essa reserva de 512 hectares foi revogada pelo Ministério da Justiça em 21 de agosto último. Cf. Felipe Mascari, “Revogação da reserva indígena do Pico do Jaraguá será o fim da comunidade”. Rede Brasil Atual, 22/VIII/2017.
[XII] Cf. Fábio Maisonnave, “Após vetar medida, Temer propõe novo corte de floresta no PA”. Folha de São Paulo, 14/VII/2017.
[XIII] Jorge Viana, João Capiberibe, Cristovão Buarque, Vanessa Grazziotin, Otto Alencar e Lindbergh Farias
[XIV] Em entrevista concedida à CartaCapital (19/V/2016), Erundina afirmava: “Precisamos rever, inclusive, a nossa relação com a natureza, não dá mais para manter um modelo de desenvolvimento predatório”.
[XV] Cf. Adriane Esquivel-Muelbert et al., “Biogeographical distributions of neotropical trees reflect their directly measured drought tolerances”. Scientific Reports, 7, 21/VIII/2017; Vandré Fonseca, “Quanto mais seco, pior”. ((o)) eco, 21/VIII/2017.
[XVI] Cf. Marta Salomon, “Consultora do agronegócio ajudou a elaborar relatório do Código Florestal”. Estado de São Paulo, 8/VI/2010.
[XVII] “Deputados a favor de mudanças no Código Florestal receberam doação de desmatadoras”. Viomundo, 4/IV/2011.
[XVIII] Cf. “Em reunião, PT decide apoiar Kátia Abreu nas eleições ao governo de Tocantins”. Norte do Tocantins, 21/VIII/2017. Sobre os vínculos de Kátia Abreu com o desmatamento, a grilagem de terras, a invasão de terras indígenas e o trabalho análogo à escravidão, há informações profusas. Veja-se, por exemplo, Marcio Zontas, “As faces de Kátia Abreu”. Brasil de fato, 13/IV/2013 e “Senadora Kátia Abreu. PMDB/Tocantins”. República dos Ruralistas.
[XIX] Cf. “Desmatamento do Cerrado supera o da Amazônia, indica dado oficial”. Observatório do Clima, 25/VII/2017.
[XX] Cf. Bernardo B.N. Strassburg et al., “Moment of truth for the Cerrado hotspot”. Nature Ecology & Evolution, 23/III/2017.
[XXI] Cf. Mercedes Bustamante, “Política de clima negligencia o Cerrado – mais uma vez”. Observatório do Clima, 23/XI/2015.
[XXII] Citado em “Desmatamento do Cerrado supera o da Amazônia, indica dado oficial”. Observatório do Clima, 25/VII/2017.
* LUIZ MARQUES é professor livre-docente do Departamento de História do IFCH /Unicamp. Pela editora da Unicamp, publicou Giorgio Vasari, Vida de Michelangelo (1568), 2011 e Capitalismo e Colapso ambiental, 2015, 2a edição, 2016. Coordena a coleção Palavra da Arte, dedicada às fontes da historiografia artística, e participa com outros colegas do coletivo Crisálida, Crises SocioAmbientais Labor Interdisciplinar Debate & Atualização (crisalida.eco.br).

Brasil. Um ano depois, há provas: foi golpe! (por Elvino Bohn Gass).

Beto Barata / Agência Senado.
Em 31 de agosto de 2016, a maioria do Senado aprovou uma das maiores vergonhas da história brasileira: o impeachment sem crime de Dilma Rousseff, presidenta eleita legitimamente com 54 milhões de votos. Oficialmente, o fato usado para justificar a abertura do processo de impedimento foi a acusação de que Dilma havia praticado “pedaladas fiscais”. Nem a evidência de que, em todos os níveis, poderes Executivos executavam, há anos, o mesmo procedimento, foi capaz de encerrar o processo. E como forma de ampliar as suspeitas sobre Dilma, o Ministério Público Federal (MPF) foi chamado a investigar as pedaladas. A conclusão não poderia ser outra: não houve, por parte da presidenta, qualquer dolo. Ou seja, o argumento oficial do não sobreviveu à análise de quem tinha por obrigação denunciá-la, caso houvesse ali um crime.

A maioria dos que votaram favoravelmente ao impeachment, sempre soube que pedalada não era razão para impeachment. Então, para justificar o movimento de tomada do poder, recorria a um discurso retórico que foi sintetizado na expressão “conjunto da obra”. Tentava-se, assim, consolidar na opinião pública a ideia de que os problemas do governo Dilma não se resumiam às questões fiscais, mas eram tantos e tão graves que sua interrupção seria um imperativo “pelo bem do Brasil”. Registre-se: a mídia oligopolizada do Brasil cumpriu um penal essencial na fixação desse discurso.
O tal “conjunto da obra” reunia acusações contra Dilma que incluíam a compra da refinaria de Pasadena, a tentativa de obstrução da Operação Lava Jato e o abuso de poder econômico na eleição presidencial. E os adversários mais cínicos e menos responsáveis tratavam de ampliar, com opiniões tendenciosas e/ou dados falsos, cada uma dessas acusações.
Mas tudo foi investigado. A compra de Pasadena, por exemplo, foi alvo de profundo trabalho no Tribunal de Contas da União. Contudo, o mesmo tribunal de quem tantas vezes os inimigos políticos de Dilma se serviram, há poucos dias bateu martelo concluindo que não houve crime na compra da refinaria.
E a acusação de que ela teria tentado obstruir a Lava Jato? Bem, quem se encarregou de apurar isso foi a própria Polícia Federal. Foi uma longa investigação até a conclusão inevitável de que Dilma não tentou obstruir a operação.
Restava, ainda, a denúncia de que a presidenta, para obter a reeleição, teria abusado do poder econômico na campanha. A cargo do Tribunal Superior Eleitoral, o caso chegou ao julgamento e a sentença, mais uma vez, foi pela absolvição de Dilma.
Mas como? Ela não é corrupta? Veio do insuspeito (nesse caso) Ministério Público Federal a pá de cal nessa acusação. Procuradores vasculharam a vida de Dilma. Investigaram tudo, dentro e fora do Brasil. E não encontraram um centavo sequer de dinheiro irregular ou escondido no estrangeiro. Nenhuma conta no exterior, nada, nada, nada.
Passado um ano daquela lamentável sessão do Senado, tudo o que se conseguiu comprovar, oficialmente, é o que todo mundo já sabia: que Dilma é uma mulher íntegra e honesta. E que seu impeachment foi uma grande farsa, uma baixeza, uma canalhice política. Um golpe!
.oOo.
Elvino Bohn Gass é Deputado Federal (RS) e Secretário Nacional Agrário do PT.
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Ricardo Stuckert e as fotos da viagem de Lula: um espetáculo.

Foto de Ricardo Stuckert. Viagem de Luls pelo Nordeste.
Trabalhei com Ricardo Stuckert, fotógrafo do Instituto Lula, na revista Veja, em uma reportagem no sertão da Bahia, na cidade que então tinha proporcionalmente o maior número de analfabetos do Brasil – algo como 70%.
Foto de Ricardo Stuckert. Viagem de Luls pelo Nordeste.
Já naquela época, final da década de 1990, ele capturava com sua máquina a alma da história, a essência da notícia. É apaixonado pelo Brasil e pela profissão – tem talento no DNA. Mais uma vez ele enche os olhos de milhões de pessoas com as fotos que tem publicado nas redes sociais sobre a viagem de Lula pelo Nordeste.
Foto de Ricardo Stuckert. Viagem de Luls pelo Nordeste.
É um espetáculo que chamou a atenção do analista argentino Juan Manuel Karg, que o definiu como o melhor fotógrafo de política do continente. O experiente jornalista Flávio Gomes, rodado no circuito de Fórmula 1 (seara fértil de imagens espetaculares) escreveu: “Para além da importância da caravana, fico besta com a qualidade das fotos do Stuckert. Épicas”. Há muitas fotos que poderiam ser colocadas aqui, mas escolhi cinco, as primeiras que encontrei no Twitter.
Foto de Ricardo Stuckert. Viagem de Luls pelo Nordeste.
Texto de Joaquim de Carvalho, via DCM em 28/8/2017.

Argentina, província de Río Negro proíbe energia nuclear.

https://350.org/pt/rio-negro-proibe-energia-nuclear/
Província argentina é a primeira do país a aprovar uma lei que impede a construção de centrais nucleares em seu território. 
Em feito histórico, a província de Río Negro, na Patagônia Argentina, acaba de aprovar, na noite desta sexta-feira (01), a primeira lei provincial proibindo a instalação de centrais nucleares em seu território. Vencendo por 44 votos a favor e apenas um contra, o projeto de lei foi apresentado pelo governador Alberto Alberto Weretilneck após intensa manifestação de ambientalistas, cidadãos e organizações da sociedade civil rionegrina, como a Assembléia Patagônia Não Nuclear, a 350.org Argentina e a COESUS Latino-americana contra o fracking.
As mobilizações tiveram início quando o governo federal anunciou que seria construída na região a quinta usina nuclear do país, prevista para 2020, e que demandaria a contratação de cerca de 4 mil pessoas, das quais 800 viriam de fora da Argentina. O plano do governo era implantar o projeto na localidade de Sierra Grande, o que poderia comprometer todo o território de Río Negro. Segundo o governador Alberto Weretilneck, a posição da província foi, desde sempre, “indeclinável”.
Em 25 de julho, centenas de ativistas saíram às ruas de Viedma, capital da província, em protesto contra a visita de um grupo de trinta técnicos – metade argentina, da Comissão Nacional de Energia Atômica (CNEA), da estatal Nucleoeléctrica Argentina (NASA) e da empresa INVAP; e a outra metade da estatal chinesa China National Nuclear Corporation (CNNC), que veio para pesquisar a localização da planta. Os membros da Assembléia Não Nuclear os receberam com bandeiras que mostravam o número quatro em chinês – um símbolo sombrio para os orientais, tal qual a sua intenção para com os patagônios.
Em 9 de agosto foi convocada uma marcha nacional, lembrando a data do bombardeio nuclear de Nagasaki e tendo em mente também o de Hiroshima (06/08), e a origem bélica, que é o leitmotiv principal da energia nuclear. Milhares de patagônios se mobilizaram em Viedma e se juntaram a marchas e atividades em outras 43 cidades argentinas. Enquanto isso, foram realizadas palestras de formação e informação, atividades artísticas, assembléias, exibição de documentários, uma apresentação à ONU e mais de vinte mil assinaturas foram coletadas, que foram posteriormente apresentadas à mesma legislatura que aprovou a lei hoje.
Depois disso, nas eleições primárias, o partido da posição ficou em terceiro lugar, e decidiu descartar o projeto de instalação da usina nuclear em Río Negro. Foram apresentados dois projetos durante a semana, proibindo a instalação de usinas nucleares no território provincial: um pela oposição, outro pelo partido no poder. Somente este último foi votado, aprovado pela maioria após seis horas de debate, com a presença de vários ativistas.
“Sentimos que a lei tenha sido aprovada por completo, já que o artigo 1 proíbe a instalação de usinas nucleares de alta potência na província de Río Negro, mas seu artigo 2 exclui usinas menores fabricadas pela INVAP. O que foi aprovado hoje é um começo, mas a luta continua porque nós argentinos queremos uma Argentina Não Nuclear”, disse a ativista Fabiana Vega, representante da Assembléia Patagônia Não Nuclear.
A energia nuclear gera desconfiança e desaprovação por parte da sociedade, pois traz consigo questões fundamentais como a falta de segurança, o destino incerto do lixo radioativo, a poluição gerada pela liberação de material radioativo e a contaminação, além da possibilidade de graves impactos à saúde humana e à biodiversidade em caso de acidentes nas usinas. É considerada uma fonte suja, cara e perigosa. Após os desastres causados ​​por Fukushima e Chernobyl, vários países da Europa e da Ásia tentam impedir a expansão da energia nuclear.

sábado, 2 de setembro de 2017

Polícia Militar do Maranhão lançará a campanha SETEMBRO AMARELO de Prevenção do Suicídio.


A Polícia Militar do Maranhão convida a sociedade em geral para participar da solenidade de abertura ao SETEMBRO AMARELO, mês escolhido pela Associação Internacional de Prevenção do Suicídio para alertar sobre a importância de ações de prevenção a esta temática.


Sabe-se que a atividade policial é considerada uma das profissões de mais elevado nível de estresse, onde esses profissionais da Segurança Pública lidam de forma direta com o combate da criminalidade e manutenção da ordem pública, portanto, ficam frequentemente expostos às situações estressoras e com risco de suicídio.


Pesquisas recentes do Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção, foram revelados em agosto de 2015 e trouxeram dados preocupantes: de 224 policiais militares entrevistados, 10% disseram ter tentado suicídio e 22% afirmaram ter pensado em suicídio em algum momento, e esta categoria profissional é a que mais recorre à morte por suicídio no mundo.

Agradecemos antecipadamente e contamos com sua presença.

Data: 05/09/2017 (TERÇA-FEIRA)

Horário: 08h

Local: Auditório do Palácio Henrique de La Roque.