quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Silêncio, desalento e falta de políticas alimentam suicídios entre jovens no Brasil.

O silêncio, o isolamento, a falta de perspectivas e a ausência de políticas públicas consistentes estão entre os fatores que têm provocado o aumento dos casos de suicídios, segundo especialistas.
Entre 2010 e 2016, a taxa de suicídios no Brasil cresceu 7% – subindo de 5,7 para 6,1 casos para cada 100 mil habitantes –, enquanto a média mundial decresceu quase 10%.
O psiquiatra Roberto Tykanori acredita que preciso falar mais sobre o assunto, quebrar o individualismo, para que haja uma queda dos registros. Em entrevista à Rádio Brasil de Fato, ele cita o exemplo do Japão, onde a taxa era de 30 mortes por 100 mil habitantes e caiu para 18.
“Os profissionais [no Japão] identificaram que socialmente, culturalmente, as pessoas não tinham canais para falar sobre o fenômeno. Acontecia um suicídio, a família, os amigos não falavam, o que tornava um fenômeno meio abafado. À medida que houve um estímulo para as famílias, amigos, pessoas sobreviventes falar sobre, o tema deixou de ser um tabu na sociedade, começou a se ter uma redução de casos. Passou da ordem dos 30 [registros] para um nível de 18 [por 100 mil habitantes]”.
O problema tem se mostrado mais preocupante na população jovem. No mundo, na faixa de 15 a 29 anos, o suicídio já é a segunda principal causa de mortes entre mulheres (após condições maternas) e a terceira entre os homens (após acidentes de trânsito e violência interpessoal).
“Os dados já indicam que em 2020 o suicídio será disparado a segunda causa de morte entre os jovens, e aí faixa de 15 a 29 anos é uma faixa etária extremamente preocupante”, alerta Ana Sandra Fernandes Arcoverde Nóbrega, psicóloga e professora da Unipê (Centro Universitário de João Pessoa).
Campanha é insuficiente
Desde 2015 o Brasil participa da campanha Setembro Amarelo por meio do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Este ano, a campanha enfatiza a necessidade de atenção especial com o bem-estar e a saúde mental de crianças e adolescentes.
Na avaliação de Sandra, recém-indicada em consulta pública para se tornar a nova presidenta do Conselho Federal de Psicologia (CFP) – que será homologada em dezembro –, a campanha é importante, mas insuficiente.
“Precisamos falar sobre esse tema todos os dias e meses do ano. Temos vivido um processo de muito adoecimento mental. Ainda ontem, na aula, uma aluna teve uma crise de pânico e precisamos parar tudo para socorrer essa pessoa. Uma garota de 17 anos… A discussão sobre o suicídio é ampla e envolve uma decisão dos órgãos governamentais em investir prioritariamente em políticas públicas que deem conta do processo de saúde mental da população”.
Sozinhos e com pressa
Segundo ela, o ápice de um processo de sofrimento mental, emocional, é o suicídio, mas é preciso se debruçar sobre as estatísticas para entender as razões que levam jovens a tirarem suas vidas.
“Vivemos um momento bem contraditório. Nunca como agora tivemos tanto acesso à informação, mas talvez nunca tenhamos nos sentido tão sozinhos, tão reclusos, tão isolados. Parece que fomos substituindo essas relações que se dão pessoa a pessoa por aquelas medidas pelo computador”.
A psicóloga comenta que muitos de seus alunos, sem que a família preste atenção, estão se mutilando.
“Encontro vários de meus alunos cortados. Para mim isso é um grito de socorro. [Como se dissessem] Eu produzo uma dor aqui [na pele] para mascarar uma dor muito maior, porque não sei como dar conta dela”, compara.
O problema seria ainda mais grave entre populações indígenas, LGBTI e em situação de rua, pelas condições de vulnerabilidade. A quantificação desses casos, porém, esbarra na questão das subnotificações.
A depressão, como outros transtornos mentais, é considerado por organismos de saúde como fator de risco para o suicídio. Mas não há uma relação de causa e efeito. Os indícios de que uma pessoa não está bem são vários e demandam atenção de quem está em volta e um canal de comunicação para oferecer ajuda a quem está em sofrimento.
“Vivemos num movimento tão acelerado que não nos damos conta do que está acontecendo em casa com nosso filho, por exemplo”, cita a estudiosa.
A conjuntura recessiva e de perdas de direitos, em sua opinião, afeta de forma mais profunda quem já se encontra em situação menos favorecida.
“Os números também indicam que embora o suicídio seja um fenômeno que aconteça em todas as camadas da população, os índices maiores estão naquelas com mais vulnerabilidade social”.
Direito à cidadania
Sandra diz que a ajuda profissional é tão importante para quem está em sofrimento quanto a das pessoas mais próximas. E que é necessária uma rede bem estruturada de atendimento público, envolvendo serviços de saúde primárias (UBS), centros de Atenção Psicossocial (Caps) e serviços comunitários.
“É importante que haja uma rede organizada para assistir às pessoas em sofrimento. Precisa ser definida como prioridade governamental nos municípios, estados e na instância federal. É direito de cidadania que não pode ser negado”.
Hoje o que acontece é justamente o contrário, segundo Nóbrega.
“[A falta de políticas] tem produzido, me parece, um sentimento de desalento. Isso é preocupante, porque talvez as pessoas criaram uma expectativa muito grande de que o governo pudesse trazer uma melhoria significativa em nível social e essas expectativas estão sendo, dia após dia, frustradas”.

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Suicídio causou mais mortes em policiais do que confronto com crime.


Em 2018, 104 policiais cometeram suicídio e 87 morreram em confronto.


A 13ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública registra exposição à violência fatal a que os policiais brasileiros estão sujeitos. Em 2018, 343 policiais civis e militares foram assassinados, 75% dos casos ocorreram quando estavam fora de serviço e não durante operações de combate à criminalidade.


A violência a que os policiais estão permanentemente expostos tem efeitos psicológicos graves. Em 2018, 104 policiais cometeram suicídio – número maior do que o de policias mortos durante o horário de trabalho (87 casos) em confronto com o crime.


“No senso comum, o grande temor é o risco da violência praticada por terceiros, mas na verdade o suicídio está atingido gravemente os policiais e não está sendo discutido e enfrentado de forma global”, aponta Cristina Neme, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública que edita o anuário.


“É um problema muito maior que muitas vezes é silenciado. São os fatores de risco da profissão que levam ao estresse ocupacional. Eles passam por dificuldades que outras pessoas podem ter, mas que no caso do policial esses problemas, quando associados ao estresse psicológico da profissão e do acesso à arma, pode facilitar esse tipo de ocorrência”, lamenta a pesquisadora.

Letalidade

Anuário Brasileiro de Segurança Pública registra que houve queda de 10,43% de mortes violentas intencionais em 2018. Mas apesar da queda verificou-se que ao mesmo tempo cresceu em 19,6% o número de mortes decorrentes de intervenções policiais.


A ação da polícia é responsável por 11 de cada 100 mortes violentas intencionais no ano passado, quando 6.220 pessoas morreram após intervenção policial, uma média de 17 pessoas mortas por dia.


O perfil das vítimas repete a situação encontrada em outros anuários: 99,3% eram homens, quase 78% tinham entre 15 e 29 anos, e 75,4% eram negros.

Para a pesquisadora Cristina, os números correspondem a uma decisão superior de ação policial. “A atitude da liderança política é fundamental para reverter o quadro de letalidade e promover políticas de segurança mais eficazes", assinala a especialista que reclama de “discursos demagógicos e falaciosos que legitimam a prática da violência”.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Setembro amarelo, mês de prevenção ao suicídio.


Bem vindos ao setembro amarelo, durante este mês faremos uma maratona de eventos visando dar visibilidade ao enfrentamento a esta doença, uma verdadeira epidemia chamado de suicídio. Os trabalhos estarão focados na identificação das causas e como preveni-las, e também abordaremos a pósvenção.  

Não se abordará apenas o suicido, mas a depressão, a automutilação e o bullying, fazendo  uma abordagem, clara, direta e abrangente, serão dezenas de profissionais e centenas de voluntários mobilizados, focados na defesa da vida.  

Como surgiu o setembro amarelo?



Segue abaixo Texto Escrito pela Promotora Cristiane Lago.






Falando sobre...


O Fórum Estadual de Prevenção da Automutilação e do Suicídio foi criado em 2016, a partir de um Protocolo de Intenções firmado por muitos órgãos públicos preocupados com o suicídio enquanto fenômeno social complexo, mas passível de prevenção.

Entre as instituições que assinaram o mencionado Protocolo estava o Ministério Público Estadual, que atualmente coordena o Fórum que é formado por representantes de órgãos de todos os entes da Federação, como por exemplo, do Ministério da Saúde, do Tribunal de Justiça, da Assembleia Legislativa, do Tribunal de Contas Estadual, das Secretarias Estaduais de Saúde, Educação, Cultura, Direitos Humanos e Participação Popular, Desenvolvimento Social, Meio Ambiente e Segurança Pública; Secretarias Municipais de Saúde, Educação, da Criança e Assistência Social e pelo Instituto Municipal de Paisagem Urbana, bem como por representantes da sociedade civil e de instituições privadas, como igrejas e partidos políticos, além de empresas de comunicação.

Caminhada realizada na manhã do dia 1° de setembro na Lagoa em São Luís.
A campanha em 2019.
Este ano, o Fórum realizará uma campanha denominada Rede do Bem: estamos aqui para ajudar, visando informar e sensibilizar a sociedade maranhense sobre a importância e a relevância das lesões autoprovocadas como problemas de saúde pública, mostrando para a população os locais públicos e privados disponíveis para o atendimento de pessoas em sofrimento psíquico agudo ou crônico, além de apresentar atividades e serviços que podem ser instrumentos eficazes de prevenção.

Segundo estudiosos do tema, os dois principais fatores de risco são: tentativa prévia de suicídio e doença mental. Destacam, ainda, outros fatores como desesperança, desespero, desamparo e impulsividade. A Idade também deve ser levada em consideração, pois o suicídio em jovens aumentou em todo o mundo, inclusive no Brasil, e as motivações são complexas, envolvendo uso indevido de drogas, problemas familiares, emocionais e sociais, abuso físico e sexual na infância.

São Luís/MA. Dia 1° de setembro durante a tarde na Av. Litorânea, caminhada de conscientização com distribuição de abraços e panfletos. 
Considerando essas informações, a Campanha Rede do Bem: estamos aqui para ajudar tem como principal público alvo os estudantes de escolas públicas, Municipal e Estadual, entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade e, durante todo o Dia 10 de Setembro, Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, desenvolverá, a partir das 8h, na Praça Nauro Machado, no Centro de Criatividade Odylo Costa Filho e na Casa Huguenote Daniel de La Touche, no Centro, em São Luís, atividades culturais gratuitas, como apresentações teatrais, de músicas, exposições de livros, de arte, contação de histórias, além de prestação de serviços de saúde e de orientação sobre alimentação saudável e atividades físicas.

São Luís/MA. Dia 1° de setembro durante a tarde na Av. Litorânea, caminhada de conscientização com distribuição de abraços e panfletos. 
Serão realizadas, também, Rodas de Conversas sob o comando de profissionais experientes na área de saúde emocional e mental da Polícia Militar, do Centro de Valorização da Vida – CVV, do Tribunal de Justiça, das Secretarias Estaduais de Saúde e Educação e do Instituto Ruy Palhano. 

Nesse evento gratuito e aberto ao público, a abertura, às 8h, contará com a apresentação do Coral do Ministério Público Estadual e, no encerramento, às 17h, com o show do cantor maranhense Marquinho Leite.

Fórum Estadual de Prevenção da Automutilação e do Suicídio e a Campanha Rede do Bem: estamos aqui para ajudar.


Cristiane Gomes Coelho Maia Lago é Promotora de Justiça do Ministério Público do Estado do Maranhão, Coordenadora do Centro Operacional de Direitos Humanos do Ministério Público Estadual – CAOp-DH. Professora da Faculdade SVT. 


Texto originalmente publicado no Jornal do Maranhão da Igreja Católica.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Setembro amarelo terá foco em prevenção do suicídio entre os jovens.

Em coletiva, ministro ressaltou aumento de casos entre o público. 

Publicado em 29/08/2019 - Por Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil.

O Ministério da Saúde vai aproveitar setembro, mês de conscientização sobre a importância da prevenção do suicídio, para enfatizar a necessidade de atenção especial com o bem-estar e a saúde mental de crianças e adolescentes.
Segundo o ministro Luiz Henrique Mandetta, o foco das ações desenvolvidas pela pasta durante o Setembro Amarelo será o público jovem, no qual vem aumentando o número de casos e de tentativas de suicídio. "Vamos focar nesta questão dos jovens, tanto na questão do suicídio quanto das tentativas, procurando alternativas de políticas públicas indutórias", disse o ministro durante a 7ª Reunião Ordinária da Comissão Intergestores Tripartite, realizada na manhã desta quinta-feira (29), em Brasília.
Rio de Janeiro - Parte da campanha Setembro Amarelo, ato na orla de Copacabana marca o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Presente em quase todo o mundo, campanha busca chamar a atenção para casos de suicídio - Arquivo/Agência Brasil

Para Mandetta, a questão do suicídio e outros temas de saúde mental devem ser tratados, entre todas as faixas etárias,  com informações claras e com o máximo de naturalidade possível. "Assuntos como depressão, ansiedade e os cuidados com a saúde mental têm que ser incluídos na agenda. Temos que dizer que a depressão existe e que não se trata apenas de um estado de melancolia. Precisamos desmistificá-los, abordá-los como outros assuntos de saúde, como a hipertensão ou a diabete e valorizar a vida", exemplificou o ministro ao defender a ação conjunta de profissionais das áreas de e educação.
"Acho que a saúde vai ter que ir para as escolas e organizar esta interface junto à educação. E acho que são os próprios adolescentes, dialogando entre si, que [com orientação] vão achar as necessárias válvulas de escape. Porque eles não vão achar com quem falar dentro de casa. Não acham na familia. O meio está hostil, os amigos estão vivendo no mundo virtual e, no mundo real, esses jovens se deparam com [as exigências e frustrações do] dia a dia", concluiu o ministro.
Realizada em quase todo o mundo, a campanha Setembro Amarelo ocorre anualmente em setembro e tem o objetivo de sensibilizar e conscientizar a população sobre a questão e informar sobre os sinais que precisam ser observados com atenção, bem como os locais onde procurar ajuda.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

MPF pede ação urgente da Polícia Federal para evitar ataque de pistoleiros aos indígenas Xikrin em Altamira (PA).

foto de aldeia indígena com oca, rodeada pela floresta.
Terra Indígena Trincheira- Bacajá, do povo Xikrin, enfrenta invasões de madeireiros e grileiros.
 Foto: Helena Palmquist/Ascom/MPF-PA
Invasores estão fortemente armados e ameaçam atacar a aldeia Rap-Ko, na Terra Indígena Trincheira-Bacajá, um dos territórios atingidos por Belo Monte.
O Ministério Público Federal (MPF) enviou à Polícia Federal em Altamira um ofício relatando grave risco de ataques aos indígenas Xikrin, na Terra Indígena Trincheira-Bacajá, entre os municípios de Altamira, Anapu e São Félix do Xingu, no Pará. O território é um dos atingidos pela usina hidrelétrica de Belo Monte e já enfrenta problemas com invasores há algum tempo, mas de um ano para cá, a situação se agravou muito.
Ontem, lideranças Xikrin foram até a cidade de Altamira e fizeram denúncia ao MPF de que um grupo de cerca de 300 invasores que havia construído várias casas dentro da terra indígena estão agora ameaçando de morte os líderes da etnia. Fortemente armados, eles estão escondidos na floresta na região do Igarapé Prazer, nas proximidades da aldeia Rap-ko e dizem que vão atacar a aldeia.
No último fim de semana, cansados de esperar por uma atitude do governo federal, que sabe do problema das invasões há pelo menos um ano, um grupo de caciques e guerreiros Xikrin foi até os lotes abertos pelos invasores, exigiram a retirada pacífica deles e apreenderam motosserras. Em vez de sair, os grileiros se esconderam e passaram a ameaçar o povo Xikrin, dizendo que vão invadir a aldeia nesta quarta-feira (28).
“O grupo que compareceu ao MPF, explicou que a decisão dos indígenas de ir pessoalmente exigir a saída dos ocupantes decorreu das imagens de fumaça que chegaram às aldeias. Não suportando assistir a sua terra incendiada, e tendo em vista a demora de ação policial por parte do Estado, tomaram a medida de apresentar-se ao local. Relataram que está se consolidando uma ocupação dentro da Terra Indígena, com desmatamento, abertura de pastagens e construção de moradias com roças”, relata a procuradora da República Thais Santi no ofício enviado a delegacia da PF em Altamira ontem (26).
A procuradora requisitou medidas urgentes, com o envio de policiais para o local no prazo máximo de 24 horas, “para verificação da situação dos indígenas na aldeia Rap-ko e posterior deslocamento até a localidade da invasão”. No documento, o MPF lembra que todas as informações sobre a situação de tensão na Trincheira-Bacajá são de conhecimento da Fundação Nacional do Índio, que possui mapas detalhados com as coordenadas de onde estão localizados os invasores e, por isso, é necessário que a Funai acompanhe toda a ação policial.
Em Altamira, problemas como desmatamento, queimadas e invasões são crônicos e estão relacionados à instalação da usina de Belo Monte. A procuradora Thais Santi registrou denúncias de invasões de quase todas as terras indígenas na região do médio Xingu, por quadrilhas de grileiros, madeireiros e garimpeiros, para roubo de terras, madeira e minerais preciosos. Enquanto os conflitos se alastravam na esteira da intensa migração promovida pelo governo brasileiro para a região das obras da hidrelétrica, a partir de 2010, a fiscalização ambiental foi ficando cada vez mais reduzida, o que tem se agravado em 2019.
As quadrilhas ficaram livres para agir, apesar de a proteção das terras indígenas ser uma condicionante específica de Belo Monte e, no escritório do Ibama na cidade, restam hoje apenas três servidores, sem verbas ou equipamentos para realizar qualquer trabalho. O MPF entende que o cenário atual do colapso ambiental em Altamira está diretamente relacionado à não implementação do plano de proteção dos territórios indígenas, previsto como uma das principais medidas condicionantes, que deveriam ter antecedido a instalação da usina. “Toda a pressão sobre os territórios foi prevista, assim como a ação mitigatória que era necessária. O impacto realmente ocorreu. E a proteção dos territórios não ocorreu”, resume a procuradora Thais Santi que acompanha desde 2012 a instalação da usina de Belo Monte.
Mesmo com ordem judicial, a usina começou a operar em 2015 sem o sistema de proteção às terras indígenas, que deveria tê-la antecedido. Quando o sistema finalmente foi instalado, em 2017, as bases de vigilância se limitam a emitir relatórios de uma tragédia ambiental, sem nenhuma interferência na realidade, porque não existe articulação com os órgãos ambientais, que não tem pessoal nem estrutura para combater o que está ocorrendo lá. “Ou seja, o que está acontecendo em Altamira é resultado da soma de uma ação e de uma omissão do governo brasileiro, que trouxe o impacto ao Xingu e depois se retirou daqui”, conclui Santi.


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segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Indígenas pedem apoio do MPF em investigações do massacre contra a comunidade Akroá-Gamela.

Foto mostra lideranças indígenas, representantes do Cimi e do MPF sentados à mesa durante reunião
Foto: Leonardo Prado/Secom/PGR

Em 2017, ataque contra os índios de Viana, no Maranhão, deixou 20 feridos. Para o Conselho Indigenista, o inquérito da Polícia Federal trata os indígenas como criminosos, não como vítimas.
Indígenas da etnia Akroá-Gamela, do município de Viana, no Maranhão, pediram apoio à Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do Ministério Público Federal (6CCR/MPF) para verificar a regularidade das investigações sobre o massacre contra a comunidade, ocorrido há mais de dois anos. Segundo as lideranças do grupo, o inquérito instaurado pela Polícia Federal apresenta graves irregularidades. O encontro, que também contou com representantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), aconteceu nesta sexta-feira (23), na sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília.
O conflito aconteceu em maio de 2017, após a retomada de terras pelos indígenas, quando 250 moradores da região atacaram um grupo Gamela com facões, pedaços de madeira e armas de fogo. Cerca de 20 índios foram feridos e dois deles tiveram as mãos amputadas. Segundo o Cimi, desde o início houve resistência por parte da polícia. “Foi muito difícil fazer o delegado escutar os indígenas. Ele afirmou que, no contato visual, não existia semelhança física com índios, e que não existe comunidade indígena constituída naquele território”, relatou representante do órgão.
O Conselho Indigenista ressaltou que os indígenas que tiveram as mãos amputadas no ataque não foram ouvidos no inquérito e que não houve perícia no local do crime. A partir daí, as peças que constituem o inquérito foram feitas de modo a criminalizar os indígenas, tratados como “supostos índios”. Por acreditar que a investigação está sendo conduzida de forma errada, o Cimi pediu à Justiça o trancamento do Inquérito Policial 0495/2017, que ainda não foi finalizado. O processo tramita na 1ª Vara Federal do Estado de Maranhão.
Para Antonio Bigonha, coordenador da 6CCR, o caso é gravíssimo, uma vez que, aparentemente, “existiu omissão e má condução por parte da Polícia Federal”. O subprocurador-geral da República informou que irá “realizar ação conjunta com a Câmara de Controle Externo da Atividade Policial para investigar a conduta dos policiais envolvidos no inquérito”.
Os indígenas afirmaram que o massacre foi arquitetado pelos moradores da cidade de Viana, que não reconhecem os direitos da comunidade indígena. Segundo eles, horas antes do ataque, houve um ato público no município, com a participação de um deputado federal maranhense. A chamada “Marcha da Paz”, anunciada inclusive por uma rádio local, incitou o ódio dos moradores. Em seu discurso, o parlamentar teria afirmado que o evento era para “gente ordeira, que nunca tinha visto um índio ali”.
Reconhecimento e segurança – Os indígenas relataram que, desde o início da retomada de suas terras tradicionais, em 2015, os Akroá-Gamela são alvo de ameaças de moradores, políticos e lideranças religiosas da região. Após o massacre, a violência e hostilidade contra os indígenas de Viana aumentaram. De acordo com o Cimi, o Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos do Maranhão previu uma série de medidas protetivas e elaborou um plano de segurança, mas as medidas ainda não foram implementadas pelos órgãos envolvidos: Funai, Polícia Federal eSecretaria de Segurança Pública do Estado.
Os indígenas também demonstraram apreensão quanto ao reconhecimento das terras dos Akroá-Gamela por parte da Fundação Nacional do Índio (Funai), solicitado em 2015, mas sem previsão de concretização. Em 2016, a Procuradoria Regional do Maranhão ajuizou ação civil em que requereu à Funai a adoção das providências necessárias para apresentação do Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação (RCID) e das medidas para inserir os indígenas nos programas de serviços públicos específicos, especialmente de saúde. O coordenador da 6ª Câmara se comprometeu a acompanhar o cumprimento da decisão, favorável aos pedidos. “Enviaremos ofício para a Funai e para o Ministério da Justiça para que sejam vinculados os recursos necessários ao cumprimento da decisão nos autos da ação”, disse.
Bigonha asseverou ainda que a 6ª Câmara adotará medidas em relação à investigação do massacre e suas possíveis irregularidades, inclusive o envolvimento de agentes públicos. Além disso, afirmou que atuará junto aos órgãos responsáveis para garantir a segurança da população indígena na região.

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segunda-feira, 29 de julho de 2019

Chacina no Pará. Pelo menos 52 detentos são mortos em rebelião em Altamira.

Ver imagem no Twitter
Informações ainda não confirmadas indicam que as duas facções envolvidas no confronto em Altamira, que resultou na morte de mais de 50 detentos, seriam o Comando Vermelho (CV) e e o Comando Classe A (CCA). http://
bit.ly/2GyAAWi.
Ao menos 52 detentos foram mortos nesta segunda-feira durante uma rebelião no Centro de Recuperação Regional de Altamira, no sudoeste do Pará, segundo informaram autoridades locais.
Nesta manhã, um grande tumulto tomou conta da instituição penitenciária devido a um confronto entre organizações criminosas, que teve início quando presos de um determinado grupo decidiram invadir a área de uma organização rival. Informações da Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe) dão conta de que 16 vítimas teriam sido decapitadas. Outras morreram em razão de um incêndio iniciado pelos detentos.
O balanço atual não faz referência a nenhuma baixa entre agentes da segurança. Dois agentes penitenciários até chegaram a ser feitos de reféns, mas foram liberados. 
O massacre de hoje é o segundo maior do tipo neste ano de 2019, só perdendo para uma rebelião ocorrida há dois meses no estado do Amazonas, que resultou na morte de 55 pessoas.