A
Conferência da Organização da Unidade Africana reuniu-se em Addis Abbeba,
Etiópia, nos últimos dias daquele julho de muito calor.
E lá estava ele. No
uniforme caqui, com seu invencível bom humor, Thomas
Sankara,
presidente revolucionário de Burkina Faso, o Che Guevara da África.
“Não
podemos pagar essa dívida, primeiro porque, se não pagarmos, os credores não
morrem. Isso é garantido. Mas se pagarmos, morremos nós. Isso também é
garantido” – disse ele.
E continuou: “Os que nos empurraram para que nos endividássemos, jogaram como se estivessem num cassino.
Enquanto ganharam, ninguém discutiu coisa alguma. Mas agora, que estão perdendo muito, exigem pagamento. E nós só falamos de crise. Não, Sr. Presidente. Eles jogaram e perderam. É a regra do jogo. Não pagaremos. E a vida continua”.
E continuou: “Os que nos empurraram para que nos endividássemos, jogaram como se estivessem num cassino.
Enquanto ganharam, ninguém discutiu coisa alguma. Mas agora, que estão perdendo muito, exigem pagamento. E nós só falamos de crise. Não, Sr. Presidente. Eles jogaram e perderam. É a regra do jogo. Não pagaremos. E a vida continua”.
Mas
Sankara também sabia muito bem que não poderia estar sozinho na resistência.
E portanto conclamou os demais chefes de Estado africanos a seguir seu exemplo: “Se Burkina Faso for o único Estado que se recusa a pagar a dívida, eu não estarei aqui, na nossa próxima Conferência”, disse ele, profético. E todos riram. Hoje, está acontecendo outra vez.
E portanto conclamou os demais chefes de Estado africanos a seguir seu exemplo: “Se Burkina Faso for o único Estado que se recusa a pagar a dívida, eu não estarei aqui, na nossa próxima Conferência”, disse ele, profético. E todos riram. Hoje, está acontecendo outra vez.
O
Parlamento Grego reuniu-se no domingo à noite (na madrugada da 2ª-feria, para
ser bem preciso) para votar um novo memorando que imporá ainda mais restrições à
classe média e aos mais pobres naquele país, que já enfrentam terríveis
dificuldades. E, isso, para obter mais um empréstimo, 70% do qual será gasto
para pagar o serviço da dívida anterior. A sessão foi orquestrada por um governo
preposto (não eleito) – comandado por um primeiro-ministro banqueiro (também
preposto, não eleito) – formado, dentre outros, de gente da extrema
direita.
Na
rua, à frente do Parlamento, centenas de milhares de pessoas (entre as quais
Manolis Glezos e Mikis Theodorakis, heróis da resistência grega) reuniram-se
para manifestar sua oposição ao memorando, à “Troika”, ao modelo econômico
dominante e àqueles políticos gregos que votavam, no Parlamento. No que
gritavam, ouvia-se um eco que chegava de Addis Abbeba e do fundo dos tempos:
“Não
podemos pagar essa dívida, primeiro porque, se não pagarmos, os credores não
morrem. Isso é garantido. Mas se pagarmos, morremos nós. Isso também é
garantido”.
À
primeira vista, parece que não fez diferença alguma. O memorando foi aprovado
pelo Parlamento. Mas, agora, a “Troika” está em pânico, com medo de ser
derrubada pelo poder do povo, nas eleições de abril. Então, os credores tentam
pateticamente adiar o pagamento do “resgate” para depois das eleições, quando o
novo governo grego, depois de eleito, tiver sido obrigado a jurar que também
cumprirá os termos do memorando.
Temam
o povo! Vivemos grandes tempos para a democracia!
Thomas Sankara, o homem que acreditava que revolucionários podem ser assassinados, mas não suas ideias, não chegou à Conferência da Organização da Unidade Africana do ano seguinte. Foi assassinado três meses depois daquele famoso discurso em Addis Abbeba, por seu ex-amigo e companheiro em armas, Blaise Compaoré, que continua lá, presidente de Bukina Faso, até hoje.
*Leonidas Oikonomakis é um ativista, membro
do grupo de hip hop Social Waste.
Bacharel em Estudos Internacionais e Europeus da Universidade de Piraeus (2005)
e mestrado em Desenvolvimento Internacional: Pobreza, Conflitos e Reconstrução
pela Universidade de Manchester (2006). Foi professor associado para Pesquisas
na Universidade de Creta, bem como no Centro de Estudos Europeus da Middle East Technical University, em
Ankara, na Turquia. Atualmente é pesquisador do Instituto Universitário Europeu,
Florença. Seus principais interesses de investigação incluem teorias e práticas
de desenvolvimento internacional, mudança social, pobreza, sustentabilidade e
os movimentos sociais. Seus artigos têm sido traduzidas para o francês, o urdu,
hindi, árabe, bahasa da Indonésia e italiano
Fonte: http://redecastorphoto.blogspot.com/
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