domingo, 30 de julho de 2017

60 organizações pedem ao Procurador Geral Janot ação contra Lei N° 13.465 (Lei da Grilagem).

30.07.2017 | Fonte de informações: 

Pravda.ru

 
60 organizações pedem a Janot ação contra Lei da Grilagem. 27031.jpeg

Para grupo da sociedade civil, Lei N° 13.465, sancionada por Michel Temer em julho, promove "liquidação dos bens comuns", estimula desmatamento e violência e precisa ser barrada por ação de inconstitucionalidade

Brasília, 28 de julho de 2017 - Um conjunto de 60 organizações e redes da sociedade civil pediu nesta sexta-feira (28) ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que proponha uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a chamada Lei da Grilagem, sancionada no último dia 11 por Michel Temer.

Segundo carta entregue à PGR pelas organizações, a Lei no 13.465 (resultado da conversão da Medida Provisória 759) "promove a privatização em massa e uma verdadeira liquidação dos bens comuns, impactando terras públicas, florestas, águas, e ilhas federais na Amazônia e Zona Costeira Brasileira".

O texto, assinado pelo presidente diante de uma plateia de parlamentares da bancada ruralista, concede anistia à grilagem de terras ao permitir a regularização de ocupações feitas até 2011. Não satisfeito, ainda premia os grileiros, ao fixar valores para a regularização que podem ser inferiores a 10% do valor de mercado das terras. Segundo cálculos do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), apenas na Amazônia esse subsídio ao crime fundiário pode chegar a R$ 19 bilhões.

Mas o prejuízo ao país não se limita a isso. Também ganham possibilidade de regularização grandes propriedades, de até 2.500 hectares, que hoje só podem ser regularizadas por licitação. "Esta combinação de preços baixos, extensão da área passível de regularização, mudança de marco temporal e anistia para grandes invasores vem historicamente estimulando a grilagem e fomentando novas invasões, com a expectativa de que no futuro uma nova alteração legal será feita para regularizar ocupações mais recentes", afirmam as organizações na carta a Janot. Com um agravante: pela nova lei, o cumprimento da legislação ambiental não é condicionante para a titulação, e há novas regras dificultando a retomada do imóvel pelo poder público em caso de descumprimento.

A lei também faz estragos na zona urbana:  além de dispensar de licenciamento ambiental os processos de regulação fundiária em cidades - o que pode consolidar ocupações de zonas de manancial em cidades que já foram atingidas por crises hídricas, como Brasília e São Paulo, também permite que governos locais legalizem com uma canetada invasões de grandes especuladores urbanos feitas até 2016.

Xeque-mate contra Israel nas Colinas do Golan.


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27/7/2017, MK Bhadrakumar, Indian Punchline

Traduzido por Vila Vudu.

Israel sofreu duro revés no conflito sírio, com a implantação da polícia militar russa na ‘zona protegida’ que está sendo estabelecida no sudoeste da Síria perto das Colinas do Golan. O Ministério da Defesa da Rússia anunciou a implantação na 2ª-feira. O general-coronel Sergei Rudskoy, chefe do Principal Diretorado Operacional do Estado-maior da Rússia, disse em Moscou que as forças russas instalaram pontos de trânsito e postos de observação na área sudoeste de desescalada. O general russo disse que EUA, Israel e Jordânia foram informados da implantação policial.


As áreas limítrofes da zona de desescalada foram definidas entre Rússia e EUA na véspera da reunião dos presidentes Donald Trump e Vladimir Putin em reunião paralela à cúpula do G20 em Hamburgo. Segundo o ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergey Lavrov, para a definição da zona de desescalada foram consideradas as preocupações de segurança de Israel. Mas o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu tem manifestado insistentemente sua rejeição contra o acordo EUA-Rússia, sob o argumento de que o acordo não levou na devida conta a percepção de Israel, que vê ameaça na presença do Irã e do Hezbollah nas regiões do sudoeste da Síria.

O ministro da Defesa de Israel Avigdor Liberman disse à mídia que Jerusalém fixou algumas linhas vermelhas: “Não toleraremos nenhuma presença iraniana na fronteira e continuaremos a agir contra isso.”

Bem obviamente, Israel não confia na Rússia. Israel suspeita que seja questão de tempo até que milícias xiitas e o Hezbollah comecem a infiltrar-se silenciosamente no sudoeste da Síria, ajudando o regime de Assad e seus amigos iranianos a consolidar o controle sobre as áreas de fronteira perto de Israel e Líbano.

Mas na realidade, tudo isso é uma grande jogada estratégica. Israel há muito tempo paga, fornece suprimentos de todos os tipos e apoia os grupos extremistas (incluindo grupos de al-Qaeda e ISIS) que operam na área na qual a zona de desescalada está sendo implantada. Israel até forneceu apoio de fogo para esses grupos terroristas sempre que foram atacados por forças do governo sírio.

Israel esperava que a área pudesse, de algum modo, ser mantida como uma zona de ‘conflito congelado’, a qual, com o tempo, poderia ser anexada por Israel. Israel portanto preferia que a zona de desescalada próxima das Colinas de Golan fosse implantada pelos EUA – não pela Rússia. Mas Washington não dá sinais de querer envolver-se. Como se lê num comentário publicado essa semana na revista Atlantic:
  • “O Pentágono está focado em operações em Mosul e Raqqa, a centenas de quilômetros de distância – comandantes em campo com certeza considerariam qualquer presença militar dos EUA no sudoeste da Síria como cara e desnecessária dispersão de força humana na luta contra o Estado Islâmico. Dados os limitados recursos de inteligência-vigilância-reconhecimento na região, é também improvável que o Comando Central dos EUA aceitasse desviar as já escassas plataformas ISR para monitorar o cessar-fogo (…). Tudo isso (…) significa que o cessar-fogo Trump-Putin provavelmente está entregando à Rússia as chaves do sudoeste da Síria.”
É mais ou menos o que se desenrola em campo. O acordo EUA-Rússia declara que a supervisão da área de desescalada será feita pela polícia militar russa.

É xeque-mate contra a política intervencionista de Israel na Síria. Os monitores russos reagirão firmemente, se Israel se comportar como criança mimada.

Dito claramente, o sonho israelense de expansão territorial para o sudoeste da Síria, como parte de uma ‘Israel Expandida’ (que iria além até das Colinas do Golan ocupadas) espatifou-se na aterrissagem. O plano B de Israel era que, como parte de qualquer acordo na Síria, a ‘comunidade internacional’ teria de, no mínimo, legitimar a ocupação das Colinas do Golan. Também não acontecerá.

Mais uma vez a credibilidade de Netanyahu sofre duro golpe. Há dois anos, sua ‘linha vermelha’ contra o programa nuclear iraniano – que Israel agiria militarmente e autonomamente contra o Irã, etc. – acabou também completamente desmoralizada. Agora, Netanyahu vem com nova ‘linha vermelha’ no front setentrional de Israel, contra a presença iraniana na Síria… mas não tem capacidade para fazê-la valer. Mais uma vez, a comunidade internacional simplesmente ignora os maus modos de Israel.

Muito significativamente, os EUA nada fizeram para se opor a uma massiva operação do Hezbollah que começou semana passada para tomar o controle das colinas na fronteira Líbano-Síria que estavam sob ocupação de vários grupos terroristas como Ahrar, al-Qaeda, ISIS (alguns dos quais companheiros de cama e mesa de Israel). A mídia iraniana noticiou hoje que os combatentes do Hezbollah alcançaram ali uma vitória retumbante. Claro: é imensamente importante para o Hezbollah (e o Irã) garantir que a fronteira Líbano-Síria permaneça aberta.

sábado, 29 de julho de 2017

Em 48 horas, filha, pai e mãe cometem suicídio em Rio Branco no Acre.


Uma tragédia ainda sem explicação se abateu sobre uma família de classe média em Rio Branco no Acre, inicialmente a jovem Bruna Andressa Borges, de 19 anos, que cursava o 3º período de ciências sociais na universidade federal do acre (ufac) cometeu suicídio, e aparentemente em menos de 48 horas, foi seguida em seu gesto por seus genitores. Vide notícias abaixo.

Notícia 1 - Jovem de 19 anos transmite suicídio ao vivo pelo Instagram“O ser humano é a pior arma que o mundo criou. eu quero viver, mas simplesmente não consigo”. amigos que acompanhavam a transmissão telefonaram para bruna e tentaram impedir o suicídio, mas a jovem estudante acabou tirando a própria vida.

Uma jovem de 19 anos transmitiu a sua própria morte nesta quarta-feira (26) através do instagram para cerca de 280 seguidores. Bruna Andressa Borges morava em Rio Branco, capital acreana, e cursava o 3º período de ciências sociais na universidade federal do acre (ufac).
Antes do ato, Bruna também postou mensagens no facebook em que se dizia machucada. “já fui abandonada e julgada pela pessoa que achei que seria minha melhor amiga, a pessoa que amei me humilhou e riu da minha cara, me chamou de ridícula. talvez eu seja, mas não pretendo continuar perguntando para saber”, escreveu.
“O ser humano é a pior arma que o mundo criou […] Eu quero viver, mas quero ser livre e feliz, porém, parece que não dá pra ser feliz tendo que agradar a todos e a si mesmo. Peço desculpas aos poucos que me restaram e que tanto me aconselharam, simplesmente não consigo”, continuou.

Em seguida, Bruna perguntou: “Já viram alguém morrer ao vivo?”.

Endereço errado. Alguns amigos que acompanhavam a transmissão de Bruna ligaram para o Corpo de Bombeiros, mas os oficiais foram encaminhados para o endereço errado. “A princípio, os amigos ligaram para que nós pudéssemos contê-la, mas passaram o endereço errado, que era onde ela morava antes de ter se mudado para a vila. E nesse local, ninguém sabia informar onde ela estava morando agora. Infelizmente, não chegamos a tempo de conter devido a esse desencontro”, afirmou o major do Corpo de Bombeiros, Cláudio Falcão.

Bruna foi encontrada morta por parentes dentro do próprio quarto do apartamento onde morava com a família. Ela se enforcou. [Esta tragédia aconteceu na ultima quarta-feira dia 26 de julho de 2017].


Notícia 2 - Curiosos se aglomeram em frente à casa de casal que foi encontrado enforcado. Ao que tudo indica os pais de Bruna Andressa Borges, o subtenente do exército Marcio Brito,e a esposa Claudineia Borges, teriam cometido suicídio. Eles foram encontrados mortos na tarde desta sexta-feira, dia 28, dentro da casa deles, localizada na Vila Militar da Rua Dom Bosco, em Rio Branco (AC).

Ainda nesta sexta, às 15 horas, o comandante do 4o BIS, Cel. Wellington Vallone, deve conversar com a imprensa na sede do batalhão. Nenhuma informação preliminar foi repassada à imprensa. Equipes da Polícia Técnica estão no local, para fazer a retirada dos corpos.

Informações extraoficiais dão conta que o casal foi encontrado no mesmo lugar em que Bruna Borges, a filha deles, cometeu suicídio na última quarta-feira. naquele dia, Bruna transmitiu toda a cena ao vivo, pelo Instagram. Ele foram encontrados enforcados com cordas no pescoço.[Eles foram encontrados mortos na tarde desta sexta-feira, dia 28 de julho de 2019.]



Advogado Rodrigo Tacla Durán diz que “a Odebrecht me ofereceu 15 anos de salários para eu fazer delação".

Rodrigo Tacla odebrecht ofereceu salário anos fazer delação lava jato


Advogado da Odebrecht que escapou da Lava Jato fala pela primeira vez. Rodrigo Tacla Durán diz que empresa ofereceu pagar a ele 15 anos de salário para ele aceitar delação.
A edição impressa do jornal espanhol El País desta sexta-feira (28) traz uma entrevista exclusiva com Rodrigo Tacla, o advogado da Odebrecht que escapou da Lava Jato. O periódico diz que Tacla se transformou em uma bomba-relógio, sendo considerado um dos homens mais temidos pelos presidentes e altos funcionários da América Latina. Aos 44 anos, conhece bem os segredos da Odebrecht, a gigante brasileira da construção que abalou as estruturas políticas do continente depois de confirmar o pagamento de subornos milionários a governos de 12 países.
El País afirma que até 2016, Tacla trabalhou como advogado do Departamento de Operações Estruturadas da empresa, a hermética unidade de negócios especializada em comprar vontades. Campanhas eleitorais, presentes, festas, prostitutas… Tudo valia para afagar os políticos. Como contrapartida, presidentes e chefes de Estado correspondiam com contratos de obras públicas, principal fonte de receita da maior construtora da América Latina. Um colosso com 168.000 empregados e tentáculos em 28 países.

El País localizou em Madri esse advogado de nacionalidade hispano-brasileira que foi preso em novembro por ordem do juiz de Curitiba, estrela da Operação Lava JatoSérgio Moro. Depois de passar 72 dias na prisão de Soto del Real –acusado de suborno e lavagem de dinheiro–, encontra-se em liberdade provisória. Tacla será julgado na Espanha depois que um tribunal superior do país rejeitou o pedido de extradição feito para que voltasse a seu país natal, Brasil. O advogado só tem nacionalidade espanhola desde 1994, porque seu pai e avô eram galegos.

A Justiça brasileira pede sua extradição por supostamente lavar mais de 50 milhões de reais a pedido da empresa. E a Odebrecht afirma que o contratou para lavar as comissões ilegais. Tacla nega. Argumenta que só prestou serviços. E que conheceu os esgotos da empresa porque “avaliou riscos” como advogado naqueles países onde a construtora comprou dezenas de políticos.

O advogado, que está colaborando com o Departamento de Justiça dos EUA e a Procuradoria anticorrupção espanhola, revela em sua primeira entrevista os pontos-chave do maior escândalo da América. Uma bomba política carregada de metralha que já afeta os presidentes Michel Temer (Brasil), Juan Manuel Santos (Colômbia) e Danilo Medina (República Dominicana), e os ex-mandatários Ollanta Humala (Peru) e Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil).

Leia na íntegra a entrevista.

Pergunta. Você foi preso em um hotel em Madri em 18 de novembro de 2016, dois dias após desembarcar na Espanha. Foi detido por ordem do juiz Sérgio Moro que o acusa de suposto delito de suborno, lavagem de dinheiro e de integrar uma organização criminosa, por que veio para Madri?

Resposta. Não fugi do Brasil. Cheguei a Madri para participar da inspeção do Ministério da Fazenda nas minhas duas empresas espanholas. Depois da explosão do caso Odebrecht, as autoridades brasileiras e a construtora tentaram me pressionar para ser parte do acordo, um documento que assinaram 78 diretores da empresa e que significou reconhecer crimes em troca de uma redução da sentença e uma multa. No meu caso: seis meses de prisão domiciliar com tornozeleira, serviços comunitários e uma multa de até 44 milhões de reais. Odebrecht se ofereceu para me pagar 15 anos de folha de pagamento, se eu aceitasse o acordo. Neguei por uma questão de princípios. Enquanto falava com o Departamento de Justiça em Washington, o Brasil exigiu minha prisão em julho e setembro de 2016. Os EUA, no entanto, não me prenderam. Não quero trair ninguém.

P. A Audiência Nacional (tribunal espanhol para crimes especiais) decidiu não extraditá-lo ao Brasil, por que quer ficar na Espanha?

R. Os promotores do Brasil querem que eu reconheça crimes que não cometi. Não respeitaram meus direitos como advogado. Além disso, também querem atribuir crimes por informações que obtive na minha condição de advogado. Estão me atribuindo delitos sem provas, com base em declarações. Não houve nenhuma investigação policial.

P. Como a Odebrecht atuava?

R. A construtora arranjava tudo pagando. Distribuía comissões ao funcionário mais baixo da Administração e ao chefe de Estado. O primeiro contato era estabelecido na campanha eleitoral. A Odebrecht arcava com os gastos do marketing político dos candidatos. Tinha um acordo com o publicitário João Santana [responsável pelas bem-sucedidas campanhas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff]. A construtora sugeria depois as obras que seriam incluídas nos planos do Governo.

P. O político devolvia o favor quando chegava ao poder…

R. Sim. O dirigente incluía em seu plano de Governo as obras que interessavam à Odebrecht. A construtora, em alguns casos, assessorava os países sobre como conseguir financiamento por meio de órgãos como o Banco Mundial ou o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

P. Quantos funcionários, candidatos e presidentes a Odebrecht subornou?

R. Mais de 1.000. Através da empresa, receberam desde gerentes de empresas públicas a chefes de Estado. Somente no Brasil há 500 pessoas afetadas. E existem políticos e altos funcionários brasileiros cujos nomes ainda não apareceram.

P. A Odebrecht pagou em 2016 a maior multa da história –-8,25 bilhões de reais– aos Governos do Brasil, Suíça e EUA para poder voltar a se candidatar a licitações públicas. A construtora reconheceu com este acordo que desde 2001 distribuiu subornos em 12 países. Consta a existência de mais Estados implicados?

R. Sim. Por exemplo, a empresa desembolsou 11 milhões de reais em janeiro de 2016 ao primeiro-ministro de Antígua e Barbuda, Gaston Browne. [O EL PAÍS tentou sem êxito contactar Browne. O primeiro-ministro de Antigua e Barbuda negou a meios locais ter recebido propina da Odebrecht]. O pagamento foi feito por intermédio do diplomata desse país Casroy James. E contou com o aval do vice-presidente jurídico da Odebrecht, Maurício Ferro. O dinheiro tinha por objetivo evitar que Antígua e Barbuda comunicasse às autoridades judiciais do Brasil as movimentações no Meinl Bank, uma instituição local adquirida pela Odebrecht e que foi utilizada para a lavagem de recursos dos subornos. Embora Browne tenha recebido 11 milhões, a operação custou à Odebrecht 39 milhões. A maior parte desse dinheiro acabou no bolso de vários diretores da construtora e do Meinl Bank. A decisão [do suborno de Browne] foi adotada em setembro de 2015 durante uma reunião no Hotel InterContinental de Madri da qual eu mesmo participei.

P. Pode explicar qual era a missão desse pequeno banco de Antígua e Barbuda comprado pela construtora?

R. O Meinl Bank era uma fachada nesse paraíso fiscal do Caribe, tinha só três empregados em um pequeno escritório. Sua sede em São Paulo estava no Consulado. Era o centro nevrálgico de onde se faziam os pagamentos irregulares. Daí se transferia dinheiro a outros bancos, como a Banca Privada de Andorra (BPA), uma instituição fechada em 2015 por corrupção. Mediante pagamentos internos se evitava deixar rastro e escapar das digitais dos fundos quando se inclui o Swift (código de transferência internacional).

P. Que papel desempenharam na estrutura de lavagem a Banca Privada de Andorra (BPA) e sua filial na Espanha, o Banco Madrid?

R. A BPA era o banco encarregado dos pagamentos finais. A Odebrecht abria contas nessa instituição em nome de Pessoas Politicamente Expostas (PEPs), que é como se denominam os cargos públicos suscetíveis de lavar dinheiro. A construtora ordenava transferências ao BPA de seu banco em Antígua e Barbuda. Depois, o dinheiro no BPA era transferido através de movimentações internas –alheias aos registros– até as contas dos beneficiários.

P. Quanto a empresa gastava por ano em propina?

R. Cerca de 960 milhões de reais. Era movimentado em dinheiro por meio de contas em paraísos fiscais e transferências internacionais. A construtora, por segurança, nunca pagava nos países de origem do beneficiário. E usava o Meinl Bank para enviar fundos a Pessoas Politicamente Expostas (PEP). Assim se fez chegar dinheiro a Michelle Lasso, uma pessoa próxima ao presidente do Panamá, Juan Carlos Varela.

P. Quem idealizou o esquema de lavagem de dinheiro? Quem era o cérebro?

R. Não há um cérebro. Há um banco como cérebro: o Meinl Bank de Antígua e Barbuda. O funcionário do Departamento de Operações Estruturadas (o escritório que distribuía os subornos), Luiz Eduardo da Rocha Soares, idealizou o sistema. Ele foi também o responsável pela compra do Meinl Bank. Havia dois diretores da construtora que eram acionistas dessa entidade em Antígua e Barbuda sem que a empresa soubesse, o próprio Rocha Soares e Fernando Migliaccio.

P. Quantas empresas a Odebrecht manejava em paraísos fiscais?

R. Mais de uma centena. Eu cheguei à construtora em 2011. Mas a estrutura já existia desde 2006.

P. O presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, foi condenado a 19 anos de prisão. Junto com ele, 77 executivos da empresa colaboraram com o Ministério Público do Brasil em troca da redução de suas penas. A Odebrecht admitiu o pagamento de 2,5 bilhões de reais em subornos. Esse número está correto?

R. Não. Um ex-diretor do Meinl Bank declarou que essa instituição movimentou 8,15 bilhões de reais. E esse banco trabalhava exclusivamente para a Odebrecht. Não tinha clientes normais.

P. Por que a Odebrecht aceitou um acordo que implicava a admissão de culpa?

R. Porque havia muita pressão por parte dos funcionários. Se os diretores não tivessem feito o acordo, os trabalhadores o teriam feito individualmente. E a empresa não teria controlado o processo.

P. Foram pagos subornos em espécie?

R. Sim. Em 2014 a Odebrecht tentou dar um avião ao ex-presidente Panamá, Ricardo Martinelli. O político recusou. A empreiteira queria agradar Martinelli e o candidato do seu partido (o governista Mudança Democrática), que disputava as eleições gerais de 2014, José Domingo Arias, o Mimito. A Odebrecht também organizava festas. E mandava mulheres do Brasil para festas com políticos no Panamá e na República Dominicana. Era a maneira de a empreiteira manifestar sua gratidão. Mas isso também se tornou uma chantagem…

P. Eram feitas fotos nessas festas?

R. Sim. E eram guardadas. O executivo da Odebrecht no Panamá, André Rabello, sabia como usar essas fotos. Rabello também lidava com informações sobre as esposas e as relações extraconjugais dos políticos panamenhos. A empreiteira dava presentes às esposas destes. Participei de uma reunião na qual Rabello disse que tinha a confirmação do presidente do Panamá, Juan Carlos Varela, de que o país não iria responder às solicitações da Justiça do Brasil [sobre o caso Odebrecht].

P. A Odebrecht sabia que as esposas e as amantes dos políticos recebiam subornos?

R. Sim. A empreiteira resolvia a vida financeira das esposas dos políticos. Especialmente a das ex-mulheres.

P. No Brasil, a Odebrecht admitiu o pagamento de 1,12 bilhões de reais em subornos para obter contratos de obras no valor de 1,6 bilhões durante as presidências de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff…

R. O montante foi muito maior. A empresa gastava 481 milhões de reais por ano em propina. O pagamento era feito em espécie ou por meio de transferências. Até o porteiro recebia. Os subornos respingaram em todos os partidos. De direita, de esquerda… Do Governo, da oposição… E não há somente políticos entre os beneficiários… A empresa apostava. Por exemplo, na disputa entre Lula e Dilma, a Odebrecht preferiu Lula.

P. A empresa confirmou que na Colômbia pagou 37 milhões de reais em subornos para conseguir contratos no valor de 159 milhões entre 2009 e 2014. O montante está correto?

R. Não conheço em profundidade o caso da Colômbia, como tampouco tenho detalhes da situação na Argentina, Peru, Venezuela ou Guatemala. Mas os números da Colômbia reconhecidos pela empresa são muito baixos. Não acredito que a Odebrecht tivesse uma estrutura no país por causa de apenas 159 milhões de reais.

P. E no Equador, a empreiteira admitiu ter destinado 107 milhões de reais para propina ilegais para obter contratos no valor de 370 milhões durante o mandato do presidente Rafael Correa (2007-2017). Quais políticos equatorianos estão envolvidos?

R. Acabo de responder na Espanha a uma comissão rogatória –pedido de auxílio judicial entre Estados– do Equador. Informei que o ex-ministro de Eletricidade do Governo de Rafael Correa, Alecksey Mosquera, que foi preso pelo caso Odebrecht, recebeu uma comissão de 3,22 milhões de reais por meio da Banca Privada de Andorra (BPA), onde teve uma conta. Desconheço porque Mosquera recebeu essa comissão.

P. O que nos pode dizer sobre o México?

R. Que a Odebrecht acreditava que o presidente do México seria o ex-diretor geral da companhia petrolífera estatal Petróleos Mexicanos (Pemex), Emilio Lozoya Austin. E gostava da ideia. A empreiteira tinha muito interesse em Lozoya.

P. A Odebrecht admitiu que pagou 189 milhões de reais em subornos a funcionários do Governo no Panamá entre 2010 e 2014, o número está correto?

R. A quantia é maior. A empresa arcou com as despesas dos principais candidatos às eleições gerais panamenhas de 2014: o situacionista José Domingo Arias e seu adversário, o atual presidente Juan Carlos Varela. Apostou nos dois. A empreiteira também pagou 3,7 milhões de reais a dois fornecedores de uma empresa de rum de propriedade de Varela. O pagamento foi feito através de uma conta no HSBC em Hong Kong. Quando Varela era vice-presidente (2009-2014), foi enviado dinheiro a Michelle Lasso, uma pessoa ligada ao político que tinha uma conta no banco da Odebrecht em Antígua e Barbuda. A empreiteira ficou assustada porque Lasso teve um problema de negócios nos EUA e temia que fosse investigada.

P. A empreiteira reconheceu o pagamento de 296 milhões de reais em comissões ilegais na República Dominicana, onde conseguiu contratos no valor de 526 milhões. Quem se beneficiou desses subornos?

R. A Odebrecht tinha uma relação muito próxima com o presidente da República Dominicana, Danilo Medina. E recomendou a Medina o publicitário João Santana. Além disso, Marcelo Odebrecht, presidente da empreiteira, decidiu mudar o departamento de Operações Estruturadas (o escritório que pagava os subornos) de São Paulo para Santo Domingo em 2015. O objetivo era ter maior controle contra possíveis operações policiais e investigações.

P. O senhor já recebeu ameaças nos EUA ou na Espanha?

R. Sim, por telefone e pelas redes sociais. Exigiam que me calasse. Minha mãe também foi ameaçada. Denunciei essa situação às autoridades da Espanha e dos EUA. [Tacla mostra uma mensagem de WhatsApp da mãe com o seguinte: texto: “Filho, estou sendo ameaçada por telefone. Eles dizem que te amarraram. Que é um assalto. Que querem joias, dinheiro para te libertar… São três horas da manhã…”].

P. O senhor acredita que altos funcionários e governantes da América Latina temem sua confissão?

R. Sem dúvida. Meu depoimento pode afetar muita gente poderosa no mundo.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Rússia reage após sanções anunciadas por Washington.


Vladimir Putin rússia reage sanções washington
Vladimir Putin (reprodução)
Rússia ordenou nesta sexta-feira (28/07) o corte do número de diplomatas norte-americanos na embaixada dos Estados Unidos em Moscou e nos seus consulados em resposta às últimas sanções impostas por Washington.


Solicitamos à parte norte-americana que, a partir do dia 1º de setembro, reduza o número de diplomatas e colaboradores que trabalham na embaixada dos EUA em Moscou e nos consulados de São Petersburgo e outras cidades, até o mesmo número do pessoal diplomático russo nos EUA“, afirma um comunicado publicado no site da chancelaria russa.
Isto significa que o número total do pessoal nas representações diplomáticas e consulares americanas na Rússia se reduz para 455 pessoas“, acrescenta o texto.
De acordo com informação divulgada por um correspondente da agência Reuters, os EUA têm 1.100 funcionários, entre norte-americanos e russos, na embaixada e em consulados na Rússia.
Além disso, o Ministério de Relações Exteriores russo anunciou que, a partir de 1º agosto, a embaixada dos EUA não poderá utilizar armazéns na capital russa nem tampouco a mansão que dispõe em Serebryany Bor, uma área elitista de Moscou.
Nós nos reservamos o direito a adotar, com base no princípio de reciprocidade, novas medidas que podem afetar os direitos dos EUA“, adverte a declaração.
O presidente russo, Vladimir Putin, aprovou a medida, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
O anúncio da pasta de Exteriores acontece no dia seguinte ao que o Congresso norte-americano concluiu o processo de votação de uma lei que endurece as sanções contra a Rússia.
Isto, uma vez mais, confirma a extrema agressividade dos Estados Unidos nos assuntos internacionais. Esgrimindo sua ‘exclusividade’, os EUA fazem pouco caso dos interesses e das posições de outros países“, destaca a declaração.
A chancelaria ressaltou que a Rússia “fez e faz todo o possível” para normalizar as relações bilaterais e desenvolver a cooperação com os EUA nos assuntos mais importantes da agenda internacional, como a luta contra o terrorismo, a proliferação das armas de extermínio em massa e a ciberdelinquência.
No entanto, os Estados Unidos – segundo o texto – “empreendem com insistência, uma após outra, grosseiras ações anti-Rússia com o pretexto, completamente inventado, de uma ingerência russa nos seus assuntos internos“.
A pasta de Exteriores indicou ainda que nos Estados Unidos se adotam “sanções ilegais” contra a Federação Russa, se expropriam propriedades diplomáticas russas registradas devidamente em documentos bilaterais juridicamente vinculativos e se expulsa diplomatas russos.
A adoção da nova lei de sanções demonstrou com clareza meridiana que as relações com a Rússia se transformaram em refém da luta política interna nos Estados Unidos“, completa.
Segundo Moscou, a lei de sanções procura criar uma posição vantajosa para os EUA na economia global, e “semelhante chantagem” representa uma ameaça para muitos países e o comércio internacional.
O embaixador dos EUA na Rússia, John Tefft, manifestou “sua forte decepção e seu protesto” contra a decisão de Moscou e encaminhou a notificação russa a Washington, disse a porta-voz da embaixada norte-americana na Rússia, Maria Olson, segundo a agência de notícias norte-americana AP. Olson disse também que ainda não se sabe que tipo de cortes serão feitos na equipe.

São Paulo numero de mortos pela policia de Alckmin é o maior desde 2003.


(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Policiais militares e civis de São Paulo, Estado governado pelo PSDB há 23 anos, mataram mais pessoas nos primeiros seis meses de 2017 do que nos últimos 14 anos, de acordo com dados oficiais da Secretaria da Segurança Pública compilados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Entre janeiro e junho, foram 459 os assassinados pela polícia do tucano Geraldo Alckmin, número inferior apenas a 2003, quando 487 pessoas foram mortas e o governador era o mesmo Alckmin. Levantamentos mostram que dois em cada três mortos em supostos “confrontos” com a polícia em São Paulo são negros.
Mas a polícia paulista não mata apenas em serviço: o número de mortos por policiais de folga também bateu recorde e é o maior para o semestre em toda a série histórica, desde 2001. No total, 127 pessoas foram mortas por policiais militares e civis fora de serviço no Estado apenas neste semestre.
Em 2016, 403 pessoas morreram em ações policiais no período analisado e 115 pessoas foram mortas por policiais militares e civis fora de serviço. Em nota, a Secretaria de Segurança de Alckmin disse que “desenvolve ações para reduzir a letalidade policial” e que, na maioria das vezes, as mortes decorrem em ações de repressão aos crimes contra o patrimônio.
São recorrentes, porém, as denúncias de mortes de inocentes pela polícia de São Paulo. No mês passado, o jovem Leandro de Souza Santos, de 18 anos, foi morto a marteladas e recebeu cinco tiros em ação policial na Favela do Moinho. O “crime” de Leandro foi correr. Os policiais da Rota perseguiram-no até um barraco, aumentaram o som e de lá Leandro saiu carregado. Só voltou à comunidade morto. A versão da polícia é de que o rapaz estava armado, embora várias testemunhas digam o contrário.
Leia a íntegra da nota da Secretaria de Segurança abaixo:
“A SSP desenvolve ações para reduzir a letalidade policial que, na maioria das vezes, ocorre a partir da ação de agentes de segurança para frustrar crimes contra o patrimônio. Em 2015, 60,2% das ocorrências de morte decorrente de oposição à intervenção policial tiveram como origem o crime de roubo, fato que se repete em 2016, com 54,4%. As intervenções realizadas por policiais militares que resultam em confronto são, em sua grande maioria, ações de repressão aos crimes contra o patrimônio. Na opção do criminoso pelo confronto, o resultado morte ocorre com excludente de ilicitude.
Todos os casos de Mortes Decorrentes de Oposição à Intervenção Policial (MDIP) são investigados por meio de inquérito para apurar se a atuação do policial foi realmente legítima e só são arquivados após manifestação do Ministério Público e do Judiciário. Em 2015, foi implementada a Resolução SSP 40/15, medida que garante maior eficácia nas investigações de mortes, pois determina o inédito comparecimento das Corregedorias e dos Comandantes da região, além de equipe específica do IML e IC.
A PM também adotou medidas importantes, como o Estudo de Caso de Ocorrência de Alto Risco (ECOAR), que tem como principal objetivo a análise da ocorrência com resultado morte e o estudo de alternativas de intervenção, que poderão evitar o mesmo resultado em episódios futuros.”
(Com informações da Radioagência Nacional)

Mundo multipolar versus ‘comunicação’ unipolar.

Do ponto de vista econômico, o mundo já é multipolar, e a parte dos EUA no PIB mundial estava (em 2013) em torno de 18%, e em declínio constante. Assim sendo, como é possível que os EUA ainda dominem globalmente? A razão não está no orçamento militar gigantesco, porque não é realísticamente possível bombardear o mundo inteiro.

17/7/2015, Roberto QuagliaKatheon, Moscou.

Traduzido por Vila Vudu.

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O principal instrumento mágico que os EUA estão ainda usando para dominar o mundo é sua moeda, o dólar. A palavra “mágico” não aparece aqui como licença poética; o dólar é realmente criatura de magia, dado que o banco Federal Reserve pode criá-lo em quantidades ilimitadas em computadores, e mesmo assim o mundo o toma como algo de valor, ainda com o petrodólar em mente. Assim se facilita muito a tarefa dos EUA, de financiar “revoluções coloridas”, com bilhões de dólares, além de outras subversões em todo o mundo. Esse ‘financiamento’ praticamente nada custa aos EUA. E aí está um grave problema que quem trabalhe para mundo multipolar terá de enfrentar.

Outra das super-armas dos EUA é a insana dominação que exerce sobre todo o universo informacional e suas mídias, hegemonia que se pode considerar absoluta – cuja dimensão ainda escapa à imaginação da maioria dos analistas.

Hollywood é a mais impressionante máquina de propaganda algum dia vista no mundo. Hollywood exporta para dentro de bilhões de cérebros em todo o mundo os padrões hollywoodianos para compreender a realidade, os quais incluem, mas não se esgotam nisso, padrões para pensar, para agir, para se comportar, para vestir, para comer, beber e – muito importante – padrões pelos quais manifestar discordância e oposição política. Ah, sim, Hollywood consegue ‘ensinar’ o mundo até como manifestar a discordância que haja contra o American Way of Life

Só para citar um exemplo (e há muitos!), os dissidentes ‘ocidentais’ frequentemente têm citado o filme Matrix para se referir à rede invisível que controla nossa vida, mas até Matrix é parte da matriz – se se pode dizer assim.
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E aí está a embalagem hollywoodiana do processo pelo qual compreendemos que vivemos num mundo em que nada é o que parece ser. E o problema está ‘resolvido’. Usando alegorias, símbolos e metáforas produzidas nos EUA, você continua a ser parte inseparável do sistema deles, e assim ajuda a tornar real o que não passa de fantasia.

Os EUA também controlam as redes de notícia e informação que interligam todo o planeta – a CIA já está ativa em praticamente todas as redes de notícia e informação que contam.

O jornalista alemão Udo Ulfkotte que trabalhou para o Frankfurter Allgemeine Zeitung, um dos principais jornais da Alemanha, confessou em seu livro best-seller Gekaufte Journalisten [al. no orig., “jornalistas comprados”], que recebeu dinheiro da CIA durante vários anos para manipular notícias, e que o procedimento é muito comum nas mídia-empresas da Alemanha. Pode-se dizer com segurança que é procedimento também muito comum em outros países.

Esse feroz controle sobre as mídia-empresas globais permite que os EUA predominem na guerra de ideias, na disputa pelo modo de perceber o mundo, a ponto de ainda serem capazes de converter em branco o que é preto, no pensamento da opinião pública.

Impressionante, para dar um exemplo, é o quanto as mídia-empresas europeias controladas pelos EUA conseguiram torcer os fatos durante a recente crise na Ucrânia. A junta de Kiev infestada de neonazistas, que chegou ao poder mediante um golpe de Estado, passou meses a bombardear e matar os próprios ucranianos, sem que as mídia-empresas ‘ocidentais’ jamais parassem de apresentar aquela junta golpista como ‘o lado certo’ naquela disputa. E Putin, correspondentemente, foi pintado durante meses como um novo Hitler – sem qualquer realidade ou fato que justificasse essas ‘informações’.

Para compreender em que vasta medida o domínio sobre a informação é, só ele, suficiente para modelar qualquer realidade efetiva, lembremos o que disse Karl Rove em 2004, naquele momento principal assessor de George W. Bush: “Agora somos um império e, quando atuamos, criamos nossa própria realidade. E enquanto vocês estudam essa realidade – sempre muito judiciosamente, como queiram – agiremos novamente criando novas realidades, que vocês também podem estudar, e é assim que as coisas são. Somos atores da história (…) e vocês, todos vocês, podem no máximo estudar o que fazemos” (citado em coluna na revista do NYT, por Ron Suskind, em 17/10/2004).

Como se tudo isso não bastasse, a maior parte da informação que circula no mundo hoje é processada por computadores que rodam sistemas operacionais com base nos EUA (Microsoft e Apple) e as pessoas – inclusive os que se opõem ao império norte-americano – também se comunicam mediante Facebook, Gmail e coisa-e-tal controlados pelos EUA.

E o que efetivamente faz diferença é esse monopólio hoje já quase total sobre a informação. Assim – e paradoxalmente? –, apesar de a relevância econômica dos EUA já estar em colapso nas últimas décadas, sua relevância no universo da informação distribuída às massas tem aumentado.

Assim sendo, países que hoje trabalhem a favor de um mundo realmente multipolar têm de revisar suas prioridades e começar a preparar-se para disputar seriamente a luta de ideias no campo informacional, em vez de só pensar e cuidar de questões econômicas. O poder hoje é disputa de percepções e discursos, e os EUA mantêm-se como mestres absolutos e ainda não derrotados nesse campo. Jamais haverá muito multipolar, se não houver atores igualmente competentes (ou mais competentes) para realmente disputar o jogo da informação de massa.


Já há alguns poucos casos de serviços de notícias não alinhados aos EUA, com excelente qualidade e que chegam para disputar públicos globais, o mais importante dos quais são Russia Today e Iranian Press TV. Mas ainda é quase nada, se se comparam com o tsunami de informação audiovisual alinhada com os EUA, que enchem os ouvidos e o cérebro dos públicos audientes e telespectadores em todo o mundo, 24h/dia. Russia Today planeja desenvolver canais em francês [já existe: https://francais.rt.com/] e alemão [já existe:https://deutsch.rt.com/]. É avanço notável, mas longe de ser suficiente.

Os EUA não se incomodam realmente com ser ultrapassados comercialmente, mas começam a dar sinais de nervosismo se outras das moedas com que operam, além do dólar, para promover seus empresários. E ficam realmente possessos quando redes de noticiário e informação não alinhadas começar a aparecer sobre o tabuleiro da informação.

É esquisito, dado que a liberdade de imprensa é item central da moderna mitologia norte-americana. Mas é fato que qualquer fonte de informação não alinhada aos EUA criam riscos contra o monopólio dos EUA sobre o pensamento das grandes populações sobre a realidade. Eis por que sempre terão de demonizar os competidores como antiamericanos, ou pior.

Fato é que muitos jornalistas e editores de notícias não alinhados aos EUA não são necessariamente antiamericanos: são não-enviesados-pró-EUA. Mas aos olhos dos hegemonistas norte-americanos, qualquer informação que não seja pró-EUA é, por definição antiamericana, porque a consistência e o futuro do império norte-americano dependem muito mais essencialmente do monopólio sobre a concepção da realidade. Releiam Karl Rove acima.

Assim, países não alinhados aos EUA e que realmente visem a mundo multipolar não tem escolha, exceto aprender com o sucesso do inimigo e agir adequadamente. Além de criarem redes estatais próprias de distribuição de notícias, esses países ‘contra-hegemônicos’ têm de começar a assegurar apoio substancial à produção e distribuição de informação independente em países nos quais toda a ‘informação’ de massa seja dominada pelos EUA.

Jornalistas independentes, escritores e pesquisadores em países ocidentais hoje continuam a fazer seu trabalho movidos a paixão cívica democrática, frequentemente sem qualquer pagamento e expostos ao escárnio, à marginalização social e à luta econômica. Vilificados na própria terra e sem auxílio algum dos países que supostamente tentam escapar da dominação pelos EUA. Teremos de fazer melhor que isso, se a meta é pôr fim à Dominação de Pleno Espectro, pelos EUA.

Não há nem jamais haverá mundo verdadeiramente multipolar se não houver sobre o palco da informação pública um espectro realmente multipolar de pontos de vista. Um império pós-moderno é, mais que qualquer outra coisa, um estado mental. Se esse estado mental permanecer unipolar, assim permanecerá o mundo.*****