Parceria com a FAO vai estimular agricultura familiar em cinco
países africanos. Modelo do programa, que também ajuda pequenos
produtores a vender cultivo através das Nações Unidas, é inspirado em
receita brasileira.
Sob comando de um brasileiro, a Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e Alimentação (FAO) acaba de receber um grande financiamento
do governo do Brasil. Mais de 2,3 milhões de dólares irão custear o
novo programa de estímulo à agricultura familiar em cinco países
africanos. O acordo foi assinado nesta terça-feira (21/02) em Roma, sede
da FAO.
Antes de ser eleito presidente da organização, José Graziano da Silva
havia dito em conversa com a DW Brasil que pretendia levar à FAO a
experiência brasileira de política alimentar. Oito meses depois de
chegar ao cargo, o Brasil se transformou no primeiro doador da nova
iniciativa na África.
Segundo a parceria, o dinheiro vai ajudar pequenos produtores
rurais na Etiópia, Malauí, Moçambique, Níger e Senegal a aumentarem a
capacidade de produção. O que for colhido no campo será então comprado
pelo Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas (WFP) e
distribuído em seus programa sociais.
"Iremos simultaneamente apoiar a pequena produção familiar em zonas
onde esses agricultores são apenas autossuficientes para que aumentem
sua produção e comecem a produzir excedentes e levem ao mercado com
maior valor comercial" explicou Cristina Amaral, chefe do serviço de
operações de emergência da FAO, em entrevista para a DW Brasil.
A atuação do WFP viria em seguida: "Depois, o Programa Mundial da
Alimentação compraria os cereais e leguminosas para utilizá-los nos
programas sociais, nas cantinas escolares e onde mais o órgao atua",
completou Amaral.
Dos 2,3 milhões de dólares doados pelo Brasil, 1,55 milhão irá para a
FAO: a organização financiará a compra de sementes e fertilizantes e
trabalhará "o mais próximo possível" dos pequenos agricultores e
associações. O restante será gerenciado pela WFP, que vai organizar a
compra dos alimentos e entregá-los nas escolas e aos grupos mais
vulneráveis.
Primeiro impulso
O programa começará a ser implantado já em março e terá duração de 18
meses. "O Brasil é a ponta de lança. Vamos continuar trabalhando com os
países para ver se outros doadores se juntam a nós", disse Amaral sobre a
continuidade da iniciativa.
Os cinco países africanos escolhidos manifestaram já em 2009 interesse
em adaptar a experiência brasileira. Segundo a FAO, de nada adiantaria
importar um modelo estrangeiro caso não houvesse motivação interna. A
ideia é estimular os países da região a adotarem a estratégia como uma
política nacional.
"Sabemos que, durante anos e anos, as ajudas alimentares, embora sejam
extremamente necessárias quando há situações de emergência, acabam por
criar dependência e prejudicam o mercado local", revelou Amaral. Segundo
ela, quando o pequeno agricultor se depara com uma abundância de ajuda
alimentar no mercado, ele perde o incentivo de continuar produzindo "O que há de inovador nessa iniciativa é que os pequenos produtores,
que também são pobres, serão beneficiados desse fluxo de ajuda
alimentar, sendo eles os fornecedores desse programa de ajuda social",
defendeu.
Modelo brasileiro
Não só o dinheiro que financia esse projeto vem do Brasil. Todo a
estratégia por traz da ação dos dois órgãos da ONU foi buscar inspiração
num dos pilares do brasileiro Fome Zero, o Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA).
A ferramenta foi criada em 2003 com objetivo de apoiar a
comercialização dos produtos alimentícios da agricultura familiar.
Segundo a lógica do PAA, o governo adquire alimentos dos agricultores
familiares e doa parte para pessoas em risco alimentar.
"No Brasil, verificou-se que esse programa tem um impacto imediato na
luta contra a pobreza. Porque muitos dos pobres nas zonas rurais são
produtores que, se forem ajudados, podem dar um salto e sair da
pobreza", disse Amaral, ao justificar a escolha do modelo.
Em 2011, as operações do PAA no Brasil chegaram a 451 milhões de reais:
mais de 106 mil famílias foram beneficiadas, com destaque para compra
de carnes, castanhas, grãos, pescados e sementes. Para o governo
federal, essa é uma das estratégias que ajudaram 28 milhões de
brasileiros a sair da pobreza absoluta e 36 milhões a entrar na classe
média nos últimos anos.
Revisão: Francis França
FONTE:http://www.dw.de/dw/article/0,,15755951,00.html
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