Quando começam os campeonatos estaduais e os times grandes começam a
jogar – e suar – para vencer as agremiações menores, é comum a gente
ouvir dizer que “não existe mais time bobo” no futebol.
Se no futebol não existe, imagine em mercados mundiais milionários como o de minério de ferro.
E, lógico, se não tem bobo, quem meter-se a esperto corre o risco de acabar fazendo este papel.
Depois de se desfazer, a preço de banana, da frota de navios
mineraleiros da Docenave, no início da década passada, quando o frete
marítimo estava barato e barato também estava o minério, o ex-presidente
da vale, Roger Agnelli, diante dos preços altos que o transporte do
minério de ferro – agora também caríssimo – resolveu ser esperto e
comprar, a toque de caixa, uma superfrota de navios gigantes para
acelerar as exportações da Vale e não perder, com o rebaixamento do
custo do frete próprio, cargas para seus concorrentes australianos e
indianos.
Ora, todos sabem que a gula é a soma do apetite com a pressa e, neste
caso, o apetite de lucros e a pressa de fazer negócios de ocasião,
ditados exclusivamente pelas flutuações de mercado.
O resultado, que já foi antecipado em vários episódios, agora toma
forma com a decisão anunciada ontem governo chinês, de proibir a
atracação de navios com mais de 300 mil toneladas de porte bruto – os da
Vale têm 400 mil – em seus portos, alegando razões operacionais e de
segurança.
Mesmo que seja estranho que um país proíba a atracação de
navios que ele próprio fabrica – uma dúzia dos gigantes da Vale foi ou
será feita lá – o acidente com o Vale Beijing (que ironia…) no porto de
Itaqui no Maranhão, não há dúvidas que ficou “coberta” nesta decisão.
E é claro que, no fundo, todos sabem que a razão é outra, a de
preservar o problemático mercado de frete naval chinês, atingido pela
retração do mercado internacional provocada pela crise.
Agnelli, o voraz, não consegue entender que o mundo multilateral é
feito de parcerias estratégicas. A rapidez com que quis os navios
impediu-o de ver que eles poderiam ser o centro de uma parceria que
envolvesse a vinda de estaleiros chineses, contratos firmes de
fornecimento de aço naval e de exportação de minério de ferro.
Como, aliás, fez JK com os japoneses, quando o “boom” daquele país,
no final dos anos 50, passou a demandar quantidades enormes, para a
época, de minério de ferro. Muitos dos navios que o transportaram, ao
longo dos anos 60 e 70, saíram do estaleiro Ishikawagima, montado pelos
japoneses aqui na Ponta do caju, no Rio de Janeiro.
Agora, “micada” em três dúzias de navios gigantes – prontos ou
contratados – que não podem aportar em seu principal destino, a Vale
terá de se virar para desvia-los a outros países e a montar centros de
distribuição na África e na Arábia, para transferir a carga a navios
menores, muitos deles chineses.
O nosso “grande empresário”, tão cantado em prosa e verso por uma
imprensa tão ruim de visão a longo prazo quanto ele, deixou uma herança
que vai custar muito, não apenas aos acionistas da Vale, mas ao Brasil, a
quem ela pertence, por história e importância econômica.
Por: Fernando Brito em 01.02.2012.
Fonte: http://blogprojetonacional.com.br/nao-tem-bobo-mas-os-espertos-fazem-seu-papel/
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