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O pedagogo Paulo Freire, em sua casa, em São Paulo, em foto de 1994. Foto de Bel Pedrosa/Folhapress
Em um ato público marcado por manifestações emocionadas, a viúva de
Paulo Freire, Ana Maria Freire, recebeu o certificado que declara o
educador pernambucano como patrono da educação brasileira. A cerimônia
ocorreu nesta quarta-feira (27) à noite, no auditório da TV Câmara, na
Câmara dos Deputados.
Ana Maria recebeu a homenagem ao marido, falecido
em 1997, das mãos da deputada Luiza Erundina (PSB-SP), autora do projeto
de lei que instituiu o título, aprovado por unanimidade na Câmara dos
Deputados e no Senado e transformado na lei 12.612, em abril passado,
após sanção da presidenta Dilma Rousseff.
Durante a homenagem, a importância da obra de Paulo Freire foi
enfatizada em todos os discursos, mas houve espaço também para
repercutir um dos assuntos políticos mais polêmicos da semana passada.
Luiza Erundina recusou ser candidata a vice-prefeita na chapa liderada
por Fernando Haddad (PT) na capital paulista, após encontro entre o
candidato, o presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e o
deputado federal Paulo Maluf. O encontro selou o apoio do PP paulista,
presidido por Maluf, a Haddad.
“Paulo teria abençoado sua decisão, pela coerência e pela ética”,
afirmou o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), o primeiro a mencionar o
assunto eleitoral no evento. Ele arrancou risadas dos presentes quando
disse que precisava confessar a Erundina que recentemente cumprimentou
Maluf no avião. “É que sempre cumprimento as pessoas, mesmo discordando
delas, como é o meu caso em relação ao Maluf. De toda forma, apesar de
entristecido por sua saída da chapa, elogio sua decisão”, acrescentou.
A
viúva de Paulo Freire também comentou o tema. “Nesse momento tão
difícil, quero dizer que você mostrou quem realmente é”, enfatizou Ana
Maria, dirigindo-se a Erundina. “Paulo gostava muito do seu lado
valente, da sua ética, do seu compromisso com o povo brasileiro e
certamente estaria feliz com sua decisão”, acrescentou.
Durante o ato público, Luiza Erundina disse que seu primeiro contato
com Paulo Freire foi por meio de seu método de alfabetização, o qual
aplicou junto a camponeses da Paraíba, seu Estado natal. “Foi um
sucesso, não só pela rapidez da aprendizagem, mas também pelos efeitos,
já que se tornaram cidadãos plenos, capazes de interpretar o mundo com
suas próprias mentes”. Em 1980, eles se conheceram pessoalmente. Ambos
foram paraninfos de uma turma de assistentes sociais da FMU (Faculdades
Metropolitanas Unidas.) “Ele havia acabado de retornar do exílio. Havia
uma expectativa de como seria o discurso dele, se seria raivoso,
ressentido, mas não foi nada disso. Foi um discurso de amor e de alegria
por ter voltado ao Brasil. Ele amava muito o nosso povo”.
Secretário de Educação
Quando foi eleita prefeita de São Paulo, em 1988, Erundina contou que
Paulo Freire foi o primeiro nome que escolheu para sua equipe. “Quando o
convidei para assumir a Secretaria da Educação, achei que não
aceitaria, mas ele disse que não poderia recusar participar no primeiro
governo democrático popular na principal cidade do País. Com o Paulo
Freire na Secretaria, a educação pública da cidade passou por uma
verdadeira revolução, reconhecida pelos educadores”, relatou.
Ela exaltou ainda a atuação do senador Cristovam Buarque (PDT-DF),
relator no Senado do projeto de lei que oficializa Freire como patrono
de educação. “Não é fácil aprovar projetos nas duas Casas, ainda mais
quando é uma proposição minha”, disse a deputada, sorrindo. Cristovam
não compareceu ao ato público por estar em viagem oficial.
O ministro da
Educação, Aluizio Mercadante, era esperado na cerimônia, mas também não
pôde comparecer, e a ausência foi lamentada pela viúva de Freire. Em
entrevista à UnB Agência, a deputada Luiza Erundina falou sobre a greve
que atinge as universidades federais. Leia aqui.
Reconhecimento
O ato público contou com a presença e pronunciamentos de diversos
representantes da política e da educação. O reitor da UnB (Universidade
de Brasília) ressaltou os vínculos da Universidade com Freire, que
integrou o Comitê Diretor da Universidade no início da história da
instituição. “Ele foi um educador notável, reconhecido em todo o mundo,
tendo recebido 40 títulos de Doutor Honoris Causa em universidades como
Oxford, Harvard e Cambridge”, afirmou.
José Geraldo citou a Semana
Universitária em homenagem a Freire no ano passado, quando o educador
pernambucano teria completado 90 anos. Por ocasião da Semana
Universitária 2011, a UnB concedeu a Freire o título póstumo de Doutor
Honoris Causa. A homenagem foi recebida pela viúva do educador.
Saiba mais sobre Paulo Freire
Considerado um dos principais pensadores da história da pedagogia
mundial, Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) foi educador e filósofo e
influenciou o movimento chamado pedagogia crítica. Sua prática didática
fundamentava-se na crença de que o estudante assimilaria o objeto de
análise fazendo ele próprio o caminho, e não seguindo um já previamente
construído. Nascido no Recife, Freire formou-se em Direito, mas nunca
exerceu a profissão, preferindo dar aulas de língua portuguesa numa
escola de segundo grau.
Nos anos 60 trabalhou com movimentos de educação popular e, no governo
de João Goulart, coordenou o Plano Nacional de Alfabetização, com
objetivo de tirar cinco milhões de pessoas do analfabetismo. Seu método,
conhecido como “pedagogia da libertação”, tinha como proposta uma
educação crítica a serviço da transformação social.
Em 1964, depois da ascensão dos militares ao poder, Paulo Freire foi
preso e exilado. Morou na Bolívia, Chile, Estados Unidos e Suíça. No
Chile, em 1968, escreveu sua obra mais conhecida, A pedagogia do
oprimido. Ao longo da década de 70, desenvolveu atividades políticas e
educacionais em diversos países da África, Ásia e Oceania. Ele só
retornou ao Brasil em 1980, após a Lei da Anistia.
Filiado ao PT, atuou em programa de alfabetização de adultos do
partido. Em 1989, com a posse de Erundina na Prefeitura de São Paulo,
foi nomeado secretário de Educação, cargo em que permaneceu até 1991.
Freire morreu em maio de 1997, em São Paulo.
FONTE:http://educacao.uol.com.br/noticias/2012/06/28/congresso-da-a-paulo-freire-titulo-de-patrono-da-educacao-brasileira.htm
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