ENTREVISTA » Livro O Nome da Morte descreve biografia do homem que matou 492 pessoas
Samartony Martins Publicação: 02/07/2012.
O Maranhão é um dos estados brasileiros onde os crimes de pistolagem ainda são uma prática comum. Muitos dos 'problemas' são resolvidos à base da bala.
Parte dessa faceta pode ser comprovada no livro o Nome da Morte, do jornalista Klester Cavalcanti que narra à biografia real do maranhense, Júlio Santana que matou exatamente 492 pessoas em mais de 35 anos de trabalho como matador de aluguel.
Na obra, Cavalcanti conta que pistoleiro começou o ofício aos 17 anos e que 'pendurou a chuteiras' somente no ano passado.
O Nome da Morte é um livro/denúncia traz os nomes dos mandantes dos crimes, das vítimas e também o nome verdadeiro do matador.
Um dos casos que mais chama a atenção é a execução de um menino de 13 anos feita por Santana, a mando de um fazendeiro. Como os pais do garoto haviam fugido da fazenda, a morte do menino foi um recado para que voltasse ao trabalho.
Para escrever o livro, Klester Cavalcanti, conversou com o Júlio Santana durante sete anos até conhecê-lo pessoalmente. Em entrevista, por e-mail, a O Imparcial o jornalista revela como conheceu a história do matador; como foi o primeiro encontro depois de dezenas de telefonemas e os motivos que levaram Julio Santana a matar.
O Imparcial - Como você tomou conhecimento da história do matador Júlio Santana?
Klester Cavalcanti - "Eu soube do Júlio em 1999. Eu era correspondente da Revista Veja e estava na Amazônia fazendo uma reportagem sobre trabalho escravo. Estava acompanhando uma operação federal em uma cidade chamada Tomé-Açu que fica no Pará. Durante essa reportagem fiquei sabendo por meio de um policial militar que me disse que era muito comum os fazendeiros da região contratarem pistoleiros para matar escravos que fugiam das fazendas. Eu falei a ele que gostaria muito de entrevistar um desses pistoleiros.
Depois de três dias ele me procurou e passou o telefone de um matador de aluguel. Fiquei pensando que aquele telefone seria de uma delegacia ou presídio. Tal foi minha surpresa ao saber que o telefone do pistoleiro era da cidade de Porto Franco, interior do Maranhão. Na primeira conversa com ele me identifiquei como repórter da Veja e disse que gostaria de fazer uma matéria com ele. De cara o Júlio Santana concordou. Mas ele disse que eu não revelasse o seu nome real e também não queria foto".
E como você fez para driblar este obstáculo?
"Eu não faço livro ou reportagem sem nome real das pessoas até porque você perde a veracidade da história. Jornalista faz reportagem. Este é livro-denuncia com um pistoleiro que matou quase 500 pessoas. Sem o nome real viraria ficção. Qualquer um pode inventar o que quiser. Já com os nomes reais você pode checar a informação. E foi isso que eu fiz. No livro eu mostro um caso onde o mandante do crime era prefeito da cidade de Carmo do Rio Verde, em Goiás. Conto com detalhes como tudo aconteceu. Qualquer pessoa pode investigar o caso que vai confirmar que de fato naquele dia a pessoa foi assassinada e o prefeito da cidade chegou a ser julgado em processo judicial como mandante do crime e absolvido por falta de provas. As histórias que eu conto são assim, com os nomes das pessoas reais envolvidas. Quando Julio Santana me disse que não queria nem o seu nome real e nem a foto, coloquei na minha cabeça que ia falar com ele até ele autorizar o nome real na matéria. A ideia inicial era fazer só uma matéria, mas esse processo demorou sete anos. De 1999 até 2006, eu falava com ele uma vez por mês por telefone. Até que, em 2006, ele concordou que eu fosse a Porto Franco conhecê-lo pessoalmente. Depois disso ele me autorizou escrever sobre seus crimes e revelar o seu nome real.
Você ficou assustado quando ele revelou a você que tinha matado 492 pessoas?
"Na verdade, ele não revelou que tinha matado 492 pessoas. Ela não sabia quantas pessoas tinha matado na vida. Em abril de 2006, eu estava na casa dele, em Porto Franco , quando perguntei se ele sabia quantas pessoas já tinha assassinado. Ele disse que não sabia. Mas eu lembrei que ele tinha um caderno no qual anotava todos os trabalhos que fazia. Daí, eu falei para ele pegar o caderno, para que nós pudéssemos fazer a contagem juntos. E foi assim que fizemos. Sentados no sofá da casa dele, eu e o matador pegamos o caderno dele e contamos quantas pessoas ele já tinha assassinado. No caderno, havia 487 mortes. Mas, além dessas, ele matou mais 5 pessoas, o que dá um total de 492 assassinatos que ele cometeu em todo o Brasil, em 35 anos trabalhando como pistoleiro".
Somente após sete anos de contato que Santana autorizou você a conversar pessoalmente com ele. Como foi este encontro? Quais foram suas impressões ao estar diante, possivelmente, do maior matador de aluguel do país?
"Eu estava bem tranquilo, porque já conversava com o Julio Santana havia sete anos. Eu o conhecia bem, apesar de nunca termos nos encontrado pessoalmente. Tínhamos uma relação de muita confiança, de ambas as partes. Por isso, eu estava totalmente tranquilo em encontrar com ele. Eu fui falar com o Julio como vou falar com qualquer fonte minha, seja um padre, um arquiteto, um advogado ou um assassino de aluguel. Trato todas as minhas fontes com o mesmo respeito".
De que forma você conseguiu trabalhar a imagem deste homem que matou quase 500 pessoas e despertar o interesse do leitor. Houve alguma dificuldade?
"Minha intenção sempre foi contar a história da vida desse fantástico personagem, sem julgamentos nem opiniões. O Julio nasceu em Porto Franco , há quase 60 anos. Naquela época, só havia vilas ribeirinhas na região. Ele tinha tudo para crescer e virar um pescador, como o pai dele. Mas, por circunstâncias da vida, acabou se tornando o maior matador de aluguel de que se tem notícia no mundo. Acho que qualquer pessoa teria interesse em saber como um garoto pacato e religioso acabou se tornando um assassino profissional. E também conhecer o lado humano desse personagem, que também tem seus dramas, seus medos, seus amores, sua fé".
No livro você detalha 32 das 492 mortes contabilizadas pelo matador, pois foram as que você conseguiu checar por outras fontes. Quantas dessas ocorreram no Maranhão? Conte-nos um caso.
"Não sei o número exato de quantas pessoas ele matou no Maranhão. Mas há o caso do primeiro crime do qual ele participou, ajudando o tio dele, que também era matador. Esse caso aconteceu em Imperatriz. O tio dele precisava matar um homem e pediu para o Julio distrair a vítima, conversando com ele na rua. Muito nervoso, o Julio parou o homem na rua e fez uma pergunta qualquer. Ele estava tão nervoso que nem conseguia olhar para o homem. Só ficava olhando para o chão. Quando ele menos esperava, ouviu um tipo e viu o corpo da vítima cair a seus pés".
No relato sobre sua vida de matador você conta que o maranhense tinha de anotar, em um caderno com capa do Pato Donald, o nome de cada uma das vítimas e de cada um dos mandantes. Como você descobriu essa curiosidade tão importante para o seu relato. O caderno ainda existe?
"O Julio me falou do caderno naturalmente, como se fosse uma agenda de trabalho. Eu só fiquei sabendo que o caderno tinha a figura do Pato Donald na capa em abril de 2006, quando fui à casa dele, em Porto Franco. Depois que nós fizemos a contagem das mortes, o Julio ficou muito mal. Ele disse que não imaginava que tinha matado tanta gente na vida. Quando ele resolveu parar de matar e sair do Maranhão, ele colocou o caderno e o revólver dele dentro de uma mochila, encheu a mochila de pedras, e jogou no rio, para se livrar de tudo aquilo para sempre".
Santana contou a você que matou por vários motivos e que pelo menos 100 pessoas por conflitos de terra a mando de fazendeiros, madeireiros e políticos. Conte-nos alguma situação que lhe chamou a atenção.
"Há um caso muito triste de um garoto de 13 anos, que ele matou no Pará. Esse garoto era filho de um casal de trabalhadores escravos que haviam fugido de uma fazendo no interior do Pará. Para forçar o casal a voltar para a fazenda e continuar trabalhando como escravos, o dono dessa fazenda contratou o Julio para matar o filho mais velho do casal, um menino de 13 anos. O Julio foi até a cidade e matou o garoto com um tiro na cabeça, a queima-roupa. Depois do crime, o fazendeiro mandou um recado para os pais da criança: 'Ou vocês voltam para a fazendo ou eu mando matar seu outro filho".
Você conversou de 1999 a 2006 com o Júlio Santana uma vez por mês. Você lembra qual foi a ligação que mais durou? Qual foi tema/caso da conversa?
"Não lembro qual foi a ligação que mais demorou. Mas lembro de uma ligação que me marcou muito. Foi justamente em relação ao assassinato desse garoto de 13 anos. No dia seguinte a esse crime, o Julio me ligou para falar sobre esse episódio. Ele estava muito triste. Mal conseguia falar. Mas acabou me contando tudo e até chorou durante a conversa. Essa ligação foi marcante para mim porque, até então, era sempre eu quem ligava para ele, no dia e no horário que ele marcava. Essa foi a primeira vez que ele ligou para mim, o que demonstrava confiança total dele em mim. Eu senti que havia conquistado a confiança total dele".
Na sua opinião Júlio Santana matava por acreditar na impunidade, por prazer ou por dinheiro?
"O Julio nunca demonstrou prazer em matar as pessoas. Pelo contrário, ele sempre ficava mal, se sentindo culpado depois dos crimes. O Julio matava por dinheiro. Ele sempre encarou a pistolagem como uma profissão. Foi assim que o tio ensinou a ele. Foi assim que ele aprendeu. E foi assim que eu tentei retratá-lo no livro: um assassino profissional. Um cara que mata por profissão, não por prazer ou por ser louco".
Alguma vez ele revelou a você que se sentiu culpado ou arrependido por alguma dessas mortes?
"O Julio sempre se mostrava arrependido depois de todos os crimes. Ele é católico, crê em Deus, sabe que o que ele fazia era errado. Ele tem muito medo de ir para o inferno. Por isso, sempre que ele matava alguém ele rezava pedindo perdão a Deus".
Com tantas mortes nas costas Santana revelou a você se foi preso alguma vez?
"O Julio foi preso uma vez em toda a vida. Foi na cidade de Tocantinópolis, no Tocantins. Ele tinha acabado de matar uma mulher, a mando do marido. Quando estava saindo da casa da vítima, ele foi apanhado pelos vizinhos (que tinham ouvido gritos e tiros) e acabou preso na delegacia. Mas ele deu a moto que ele tinha ao delegado e o delegado deixou o Julio ir embora".
Como você avalia o Julio Santana dentro desse sistema de perpetuação de poder. Vítima ou culpado?
"Não acho que o Julio seja culpado nem inocente. Acho que ele, como muitos de nós, fez escolhas erradas na vida, que o levaram a ter a vida que teve e a se tornar um criminoso. Mas não o vejo como culpado ou vítima. Por outro lado, do ponto de vista legal e criminal, o Julio Santana é culpado pela morte de quase 500 pessoas no Brasil".
O seu livro relata uma série de denúncias que devem ser apuradas pela polícia e pela justiça desses estados onde ocorreram essas mortes. Como você analisa essa falta de interesse?
"Eu não escrevo livros esperando que a polícia e a justiça façam alguma coisa. Infelizmente, nós sabemos que a Polícia e a Justiça no Brasil fazem um trabalho muito aquém do que deveriam. Eu faço livros porque acho importante mostrar ao Brasil histórias e personagens que a maioria das pessoas não sabem que existem".
Depois do livro lançado você manteve algum contato com Julio Santana?
"Sim. Até hoje, eu e o Julio nos falamos de vez em quando. A última vez que falei com ele foi no sábado, dia 23 [junho], quando ele fez aniversário".
Você sabe qual o atual paradeiro de Julio Santana?
"Sei. Mas não falo para ninguém. Nem para os meus pais".
E como você fez para driblar este obstáculo?
"Eu não faço livro ou reportagem sem nome real das pessoas até porque você perde a veracidade da história. Jornalista faz reportagem. Este é livro-denuncia com um pistoleiro que matou quase 500 pessoas. Sem o nome real viraria ficção. Qualquer um pode inventar o que quiser. Já com os nomes reais você pode checar a informação. E foi isso que eu fiz. No livro eu mostro um caso onde o mandante do crime era prefeito da cidade de Carmo do Rio Verde, em Goiás. Conto com detalhes como tudo aconteceu. Qualquer pessoa pode investigar o caso que vai confirmar que de fato naquele dia a pessoa foi assassinada e o prefeito da cidade chegou a ser julgado em processo judicial como mandante do crime e absolvido por falta de provas. As histórias que eu conto são assim, com os nomes das pessoas reais envolvidas. Quando Julio Santana me disse que não queria nem o seu nome real e nem a foto, coloquei na minha cabeça que ia falar com ele até ele autorizar o nome real na matéria. A ideia inicial era fazer só uma matéria, mas esse processo demorou sete anos. De 1999 até 2006, eu falava com ele uma vez por mês por telefone. Até que, em 2006, ele concordou que eu fosse a Porto Franco conhecê-lo pessoalmente. Depois disso ele me autorizou escrever sobre seus crimes e revelar o seu nome real.
Você ficou assustado quando ele revelou a você que tinha matado 492 pessoas?
"Na verdade, ele não revelou que tinha matado 492 pessoas. Ela não sabia quantas pessoas tinha matado na vida. Em abril de 2006, eu estava na casa dele, em Porto Franco , quando perguntei se ele sabia quantas pessoas já tinha assassinado. Ele disse que não sabia. Mas eu lembrei que ele tinha um caderno no qual anotava todos os trabalhos que fazia. Daí, eu falei para ele pegar o caderno, para que nós pudéssemos fazer a contagem juntos. E foi assim que fizemos. Sentados no sofá da casa dele, eu e o matador pegamos o caderno dele e contamos quantas pessoas ele já tinha assassinado. No caderno, havia 487 mortes. Mas, além dessas, ele matou mais 5 pessoas, o que dá um total de 492 assassinatos que ele cometeu em todo o Brasil, em 35 anos trabalhando como pistoleiro".
Somente após sete anos de contato que Santana autorizou você a conversar pessoalmente com ele. Como foi este encontro? Quais foram suas impressões ao estar diante, possivelmente, do maior matador de aluguel do país?
"Eu estava bem tranquilo, porque já conversava com o Julio Santana havia sete anos. Eu o conhecia bem, apesar de nunca termos nos encontrado pessoalmente. Tínhamos uma relação de muita confiança, de ambas as partes. Por isso, eu estava totalmente tranquilo em encontrar com ele. Eu fui falar com o Julio como vou falar com qualquer fonte minha, seja um padre, um arquiteto, um advogado ou um assassino de aluguel. Trato todas as minhas fontes com o mesmo respeito".
De que forma você conseguiu trabalhar a imagem deste homem que matou quase 500 pessoas e despertar o interesse do leitor. Houve alguma dificuldade?
"Minha intenção sempre foi contar a história da vida desse fantástico personagem, sem julgamentos nem opiniões. O Julio nasceu em Porto Franco , há quase 60 anos. Naquela época, só havia vilas ribeirinhas na região. Ele tinha tudo para crescer e virar um pescador, como o pai dele. Mas, por circunstâncias da vida, acabou se tornando o maior matador de aluguel de que se tem notícia no mundo. Acho que qualquer pessoa teria interesse em saber como um garoto pacato e religioso acabou se tornando um assassino profissional. E também conhecer o lado humano desse personagem, que também tem seus dramas, seus medos, seus amores, sua fé".
No livro você detalha 32 das 492 mortes contabilizadas pelo matador, pois foram as que você conseguiu checar por outras fontes. Quantas dessas ocorreram no Maranhão? Conte-nos um caso.
"Não sei o número exato de quantas pessoas ele matou no Maranhão. Mas há o caso do primeiro crime do qual ele participou, ajudando o tio dele, que também era matador. Esse caso aconteceu em Imperatriz. O tio dele precisava matar um homem e pediu para o Julio distrair a vítima, conversando com ele na rua. Muito nervoso, o Julio parou o homem na rua e fez uma pergunta qualquer. Ele estava tão nervoso que nem conseguia olhar para o homem. Só ficava olhando para o chão. Quando ele menos esperava, ouviu um tipo e viu o corpo da vítima cair a seus pés".
No relato sobre sua vida de matador você conta que o maranhense tinha de anotar, em um caderno com capa do Pato Donald, o nome de cada uma das vítimas e de cada um dos mandantes. Como você descobriu essa curiosidade tão importante para o seu relato. O caderno ainda existe?
"O Julio me falou do caderno naturalmente, como se fosse uma agenda de trabalho. Eu só fiquei sabendo que o caderno tinha a figura do Pato Donald na capa em abril de 2006, quando fui à casa dele, em Porto Franco. Depois que nós fizemos a contagem das mortes, o Julio ficou muito mal. Ele disse que não imaginava que tinha matado tanta gente na vida. Quando ele resolveu parar de matar e sair do Maranhão, ele colocou o caderno e o revólver dele dentro de uma mochila, encheu a mochila de pedras, e jogou no rio, para se livrar de tudo aquilo para sempre".
Santana contou a você que matou por vários motivos e que pelo menos 100 pessoas por conflitos de terra a mando de fazendeiros, madeireiros e políticos. Conte-nos alguma situação que lhe chamou a atenção.
"Há um caso muito triste de um garoto de 13 anos, que ele matou no Pará. Esse garoto era filho de um casal de trabalhadores escravos que haviam fugido de uma fazendo no interior do Pará. Para forçar o casal a voltar para a fazenda e continuar trabalhando como escravos, o dono dessa fazenda contratou o Julio para matar o filho mais velho do casal, um menino de 13 anos. O Julio foi até a cidade e matou o garoto com um tiro na cabeça, a queima-roupa. Depois do crime, o fazendeiro mandou um recado para os pais da criança: 'Ou vocês voltam para a fazendo ou eu mando matar seu outro filho".
Você conversou de 1999 a 2006 com o Júlio Santana uma vez por mês. Você lembra qual foi a ligação que mais durou? Qual foi tema/caso da conversa?
"Não lembro qual foi a ligação que mais demorou. Mas lembro de uma ligação que me marcou muito. Foi justamente em relação ao assassinato desse garoto de 13 anos. No dia seguinte a esse crime, o Julio me ligou para falar sobre esse episódio. Ele estava muito triste. Mal conseguia falar. Mas acabou me contando tudo e até chorou durante a conversa. Essa ligação foi marcante para mim porque, até então, era sempre eu quem ligava para ele, no dia e no horário que ele marcava. Essa foi a primeira vez que ele ligou para mim, o que demonstrava confiança total dele em mim. Eu senti que havia conquistado a confiança total dele".
Na sua opinião Júlio Santana matava por acreditar na impunidade, por prazer ou por dinheiro?
"O Julio nunca demonstrou prazer em matar as pessoas. Pelo contrário, ele sempre ficava mal, se sentindo culpado depois dos crimes. O Julio matava por dinheiro. Ele sempre encarou a pistolagem como uma profissão. Foi assim que o tio ensinou a ele. Foi assim que ele aprendeu. E foi assim que eu tentei retratá-lo no livro: um assassino profissional. Um cara que mata por profissão, não por prazer ou por ser louco".
Alguma vez ele revelou a você que se sentiu culpado ou arrependido por alguma dessas mortes?
"O Julio sempre se mostrava arrependido depois de todos os crimes. Ele é católico, crê em Deus, sabe que o que ele fazia era errado. Ele tem muito medo de ir para o inferno. Por isso, sempre que ele matava alguém ele rezava pedindo perdão a Deus".
Com tantas mortes nas costas Santana revelou a você se foi preso alguma vez?
"O Julio foi preso uma vez em toda a vida. Foi na cidade de Tocantinópolis, no Tocantins. Ele tinha acabado de matar uma mulher, a mando do marido. Quando estava saindo da casa da vítima, ele foi apanhado pelos vizinhos (que tinham ouvido gritos e tiros) e acabou preso na delegacia. Mas ele deu a moto que ele tinha ao delegado e o delegado deixou o Julio ir embora".
Como você avalia o Julio Santana dentro desse sistema de perpetuação de poder. Vítima ou culpado?
"Não acho que o Julio seja culpado nem inocente. Acho que ele, como muitos de nós, fez escolhas erradas na vida, que o levaram a ter a vida que teve e a se tornar um criminoso. Mas não o vejo como culpado ou vítima. Por outro lado, do ponto de vista legal e criminal, o Julio Santana é culpado pela morte de quase 500 pessoas no Brasil".
O seu livro relata uma série de denúncias que devem ser apuradas pela polícia e pela justiça desses estados onde ocorreram essas mortes. Como você analisa essa falta de interesse?
"Eu não escrevo livros esperando que a polícia e a justiça façam alguma coisa. Infelizmente, nós sabemos que a Polícia e a Justiça no Brasil fazem um trabalho muito aquém do que deveriam. Eu faço livros porque acho importante mostrar ao Brasil histórias e personagens que a maioria das pessoas não sabem que existem".
Depois do livro lançado você manteve algum contato com Julio Santana?
"Sim. Até hoje, eu e o Julio nos falamos de vez em quando. A última vez que falei com ele foi no sábado, dia 23 [junho], quando ele fez aniversário".
Você sabe qual o atual paradeiro de Julio Santana?
"Sei. Mas não falo para ninguém. Nem para os meus pais".
Relatismo moral torpe e doentio do autor do livro. Ou o autor está com medo de dizer o que pensa deste assassino, ou é tão psicopata quanto ele.
ResponderExcluirE você que escreve como anônimo, também está com medo ou é tão psicopata como eles?? você não sabe oque é ser jornalista!
ResponderExcluirVão para o Inferno o matador e seu "biógrafo".
ResponderExcluirPode você saber o autor de um crime e ficar quieto? Isso não transforma você em obstrutor da justiça? Se os crimes no livro revelados são reais e comprováveis, não deveriam ser investigados para punir os culpados?
ResponderExcluirPor que o jornalista pode se colocar numa posição de eu sei mas não vou falar? Será que faria o mesmo se tivessem matado a filha dele, "só para preservar minha fonte?"
A gente não quer generalizar, mas a datenização do jornalismo é uma praga que dá nojo e faz o cidadão mentalmente equilibrado ter cada vez mais asco de noticiários deste tipo.