Autor(es): Por Caio Junqueira | De Brasília
Valor Econômico - 30/10/2012 .
A eleição de Fernando Haddad para prefeito de São Paulo abriu no
PT um debate sobre até onde a ideia do "homem novo para um tempo novo" é
apenas um slogan do marketing de sua campanha ou servirá para
influenciar as escolhas do partido para os próximos embates eleitorais.
Em geral, a avaliação é a de que a estratégia conduzida com sucesso pelo
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi muito mais um caso
específico para disputar a capital paulista, tendo em vista as
circunstâncias locais, do que uma tendência que ganha força daqui em
diante.
"Não sou adepto da ideia de que o PT vai viver uma grande renovação
com a vitória do Haddad porque o PT já tem na sua origem uma política
constante de renovação. Houve uma estratégia eleitoral para a disputa de
São Paulo e que deu certo. Mas se for ver na base, há manutenção de
poder de antigas lideranças", diz o presidente da Câmara dos Deputados,
Marco Maia (PT-RS).
Na mesma linha vai o deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP): "A
renovação foi mal entendida. Ela ocorreria de fato se tivesse sido
ampla, se tivesse ocorrido em todos os lugares ou pelo menos na maioria,
mas não foi assim. Cada eleição é uma eleição. O discurso da novidade
serviu a São Paulo mas não quer dizer que vale a todo o PT."
Partido dos Trabalhadores |
Para chegar a essas conclusões, é preciso antes de mais nada dar um
critério à avaliação. É certo que o "novo" nunca disputou uma eleição
majoritária e, assim, coloca-se como diferente dos que vinham sendo
testados anteriormente.
No caso de Haddad, por exemplo, isso é bem evidente. Desde a fundação do PT, só três nomes se alternavam nas eleições municipais: Luiza Erundina (1988 e 1996), Eduardo Suplicy (1992) e Marta Suplicy (2000, 2004 e 2008). O Haddad, embora um nome indicado e sustentado pela velha liderança, estava fora desse circuito.
No caso de Haddad, por exemplo, isso é bem evidente. Desde a fundação do PT, só três nomes se alternavam nas eleições municipais: Luiza Erundina (1988 e 1996), Eduardo Suplicy (1992) e Marta Suplicy (2000, 2004 e 2008). O Haddad, embora um nome indicado e sustentado pela velha liderança, estava fora desse circuito.
Nessa linha, apenas dois casos se igualam em novidade. Márcio
Pochmann em Campinas (SP) e Elmano de Freitas em Fortaleza (CE),
derrotados, e Marcus Alexandre, vitorioso em Rio Branco (AC), todos fora
do grupo que se revezava em candidaturas.
Esse critério, porém, pode ser ampliado para incluir aqueles que,
apesar de neófitos em majoritárias, tenham já apresentado seu nome ao
eleitorado em eleições proporcionais. É o caso de Luciano Cartaxo em
João Pessoa (PB), eleito após quatro vitórias para vereador e uma para
deputado estadual. Ou de Ludio Cabral em Cuiabá (MT), derrotado após ter
sido eleito duas vezes vereador, e de Adão Villaverde em Porto Alegre
(RS), que no terceiro mandato parlamentar perdeu a disputa no primeiro
turno neste ano. Houve, portanto, perdedores da nova geração.
Nesse sentido, há dados para todos os gostos quando se avalia o grau
de "novidade" que as eleições deste ano levaram ao partido. Os que
ganham com essa ideia se entusiasmam com ela. "Vamos viver um momento de
renovação, de novas caras, está em gestação uma nova geração de
lideranças", afirma o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), provável
candidato do PT a governador do Rio em 2014, no critério novidade em
majoritária.
Segundo ele, há uma preocupação de Lula, fiador da candidatura
Haddad, com o "PT do futuro". "Lula está muito preocupado com a
renovação de quadros. Haddad já é um nome para o futuro do PT. Tem ainda
a Gleisi [Hoffmann, ministra da Casa Civil e cotada ao governo do
Paraná em 2014] e o [Alexandre] Padilha [ministro da Saúde e cotado para
o governo de São Paulo em 2014]. Ele já mira o pós-Dilma". Ressalta,
contudo, que "o apoio eleitoral de Lula é fundamental nesse processo",
ou seja, a força do velho poder.
Assim, abre-se outra questão contrária à tese da novidade. Para
prevalecer no processo de escolha do nome que irá disputar a eleição,
muito mais do que entrar na onda da novidade é ter o apoio interno de
Lula. A questão que se coloca é se a vitória foi do novo ou do poder de
Lula. O ex-presidente perdeu disputas para as quais indicou o novo.
Em São Paulo, o ex-presidente deslocou quatro pré-candidatos bem
votados na cidade para fazer Haddad candidato. Por outro lado, foi
contrário à novidade em Porto Alegre. Defendia a adesão à reeleição de
José Fortunati (PDT), bem como em Diadema, onde fez o discurso antinovo.
"A disputa interna continua existindo, mas algumas lideranças têm
grande influência. A liderança do Lula é mais do povo que do PT. É a
maior liderança popular do país, pesa muito", diz o ministro da
Educação, Aloizio Mercadante, cotado para disputar o governo de São
Paulo em 2014. Nas especulações internas no PT, outros nomes também
estão colocados, como Alexandre Padilha, que seria o "novo", e Luiz
Marinho, prefeito reeleito de São Bernardo do Campo, que carrega a
condição de petista mais próximo do ex-presidente e não se sabe se,
depois de dois mandatos, pode ser incluído na categoria de novidade.
Mercadante, que disputou o governo do Estado em 2006 e 2010, não se
posiciona hoje como candidato.
"A minha responsabilidade hoje é o Ministério da Educação. Não há e
não haverá 2014 na minha pauta. Já aprendi que essas coisas se definem
na hora certa e de acordo com a conjuntura específica. Em 2010,
pretendia ser candidato a senador e fui a governador. Em 1990 queria
estudar e fui instado a ser candidato a deputado. Em 1994 queria tentar o
Senado e fui candidato a vice-presidente. O nome se define no momento",
afirma.
Ele contesta, contudo, a ideia da "nova onda" que possa ser produzida
por Haddad dentro do PT. "Haddad não era "novo", ele vinha com um
cartão de visitas que era seu trabalho no Ministério da Educação, que é a
área mais bem avaliada do governo. É uma renovação com consistência".
Ele conclui dizendo que "não existe regra ou padrão nas eleições" na
escolha de um candidato. "Eleição não tem regra. Cada eleição é uma
eleição. O importante é ter humildade de ver qual o melhor caminho e não
sobrepor nenhum interesse pessoal ao coletivo."
O secretário-geral do PT, Elói Pietá, avalia que o partido já há
algum tempo usa mecanismos internos de renovação, como cotas para
mulheres e jovens, proibição da segunda reeleição parlamentar e da
reeleição para dirigentes partidários. Nessa linha, há uma tendência de
substituição de poder mas que ainda não está configurada.
Assim, hoje o PT continua sendo comandado pelo grupo fundador, mas, segundo ele, não irá demorar para que um grupo intermediário, representado por Haddad, passe a dominar a legenda.
Assim, hoje o PT continua sendo comandado pelo grupo fundador, mas, segundo ele, não irá demorar para que um grupo intermediário, representado por Haddad, passe a dominar a legenda.
Ele inclusive menciona um efeito colateral disso: "A gente nota que a
geração mais antiga resiste a essa renovação. Tende a ter um enrosco
nesse aspecto e isso é natural, não é privilégio nosso, sempre há um
apego ao poder por parte de quem o exerce."
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