Programa de combate à estiagem é mais uma ação para capitalizar a popularidade da presidente na região que negou votos ao PT
PAULO DE TARSO LYRA JULIANA COLARES - Jornal Correio Braziliense.
14. Nov. 2012 - Ao
lançar ontem o Programa Mais Irrigação, que garante recursos novos para
combater a seca no Nordeste, a presidente Dilma Rousseff completou nove
dias de uma agenda voltada para a região mais carente do país e que,
paradoxalmente, tem crescido mais que a média do PIB nacional nos
últimos anos.
Além disso, é um tradicional reduto lulista e petista do
país que, nas últimas eleições municipais, distribuiu votos para o PSB
de Eduardo Campos e para a oposição, deixando o PT de fora das três
principais capitais nordestinas: Salvador, Fortaleza e Recife.
Na
segunda-feira retrasada, Dilma gravou um programa Café com a presidenta
abordando a questão da seca nordestina, considerada a mais dura dos
últimos 40 anos. No mesmo dia, embalada pelo sucesso do filme Gonzaga,
de pai para filho e pelo centenário de nascimento do rei do baião, Dilma
entregou, no Palácio do Planalto, a Medalha da Ordem do Mérito Cultural
em uma solenidade repleta de artistas do Nordeste, como Alceu Valença e
Elba Ramalho. E, na sexta-feira passada, ainda esteve em Salvador para
participar do Fórum dos Governadores do Nordeste.
No
discurso de ontem, Dilma fez questão de ressaltar os avanços na região
após os 10 anos de governo PT no plano federal. "Diferentemente de
outros momentos, essa seca encontra o nordestino mais bem preparado para
reverter a fome por conta de programas como o Bolsa-Família e o Brasil
Carinhoso", declarou a presidente. "Vamos usar de todos os recursos e de
toda a tecnologia necessária para a irrigação, que o sertão se torne o
produtor de alimentos que o Brasil e o mundo precisam", completou ela.
PIB Chinês - Vice-líder do governo na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE) lembrou que o Nordeste tem sido responsável por manter o nível de crescimento do país nos últimos anos, sobretudo depois do acirramento da crise financeira internacional.
Segundo o IBGE, enquanto o PIB do Brasil cresce a uma média anual de 2%, o Nordeste desenvolve-se a espantosos 8% — um ritmo praticamente chinês. "Dilma mostrou que o governo federal tem compromisso com a região. E afirmou que o problema não são os recursos, e sim, a pouca agilidade dos governadores para liberar as verbas federais", destacou o petista.
Segundo
apurou o Correio com aliados do governo na região, Dilma começou a
intensificar a atenção porque percebeu que tem popularidade, mas não tem
votos nos estados nordestinos. E que seu partido, o PT, vem perdendo
espaço para outras forças políticas, como o PSB de Eduardo Campos e a
oposição.
Um parlamentar pernambucano lembra que muito da força política
do PT no Nordeste decorria do ex-presidente Lula. "Dilma tem prestígio,
mas não tem voto no Nordeste. Lula tinha os dois. Com a saída de cena
do ex-presidente, ela precisava agir mais efetivamente", completou.
Ele
lembrou que Dilma conseguiu reverter a geografia política em relação ao
seu antecessor. Ela é bem avaliada no Sul, no Sudeste e nas classes
média e alta. Mas percebeu, após as disputas municipais, que precisa ter
mais atenção ao Nordeste, sobretudo se Eduardo Campos resolver
candidatar-se à Presidência, de fato, em 2014.
Esse
mesmo interlocutor lembrou que o cenário provoca até uma briga pelo
prestígio político na região. Isso ficou evidente na semana passada,
quando Dilma jantou com o governador Eduardo Campos e almoçou no dia
seguinte com o governador do Ceará, Cid Gomes (CE). "Os irmãos Gomes
(Ciro e Cid) querem disputar quem tem mais poder e quem pode ser o
interlocutor preferencial do Nordeste no Palácio do Planalto", declarou
um deputado pernambucano.
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