Texto de Ed Wilson Ferreira Araújo.
Em meados dos anos 1980, o
movimento estudantil no campus do Bacanga bradava uma palavra de ordem
certeira: “fora Cabral, reitor de general”. O canto de guerra contestava o
reitor José Maria Cabral Marques naquele momento político pulsante, quando o
Brasil vivia a transição da ditadura para a democracia.
Cabral incorporava o
sentimento autoritário e conduzia a UFMA com mão de ferro, ao estilo dos
generais. Mas, embora tivesse um reitor adequado aos princípios da ditadura, a
UFMA nunca tentou impor, no papel, um regime disciplinar aos estudantes.
Estranhamente, essa ideia
veio à tona no século 21, depois de vários movimentos políticos que
reconquistaram a democracia no Brasil: as Diretas Já, a Assembleia Nacional
Constituinte e quatro eleições presidenciais seguidas.
A democracia é uma
conquista e patrimônio de todos os brasileiros, incluída a Universidade,
ambiente de produção de conhecimento (ensino, pesquisa e extensão)
criatividade, desenvolvimento de saberes e práticas, lugar de pulsação da
estética e da política.
Esses sentidos da
Universidade são incompatíveis com um regimento disciplinar retrógrado, preso a
questiúnculas irrisórias, como as regras de vestimenta dos estudantes.
O regimento peca não só
pelo conteúdo, mas sobretudo pela forma como foi aprovado, sem um amplo debate
com os seus principais interessados – os estudantes.
Tem sido uma prática a
ausência de diálogo na tomada de decisões na UFMA, como se a Universidade fosse
uma empresa gerenciada por uma cúpula administrativa apartada de sua
comunidade: professores, técnicos e estudantes.
A UFMA também apartou-se
das outras comunidades, erguendo uma suntuosa muralha para delimitar a
fronteira entre o campus e os bairros periféricos de São Luís.
Em vez de ter uma política
ousada de pesquisa e extensão, dialogando com seus vizinhos da área
Itaqui-Bacanga, a UFMA isolou-se das comunidades pobres, separadas da cidade
universitária pela muralha de concreto.
O campus, transformado em
cidade, precisava de um regimento para disciplinar os corpos, os espaços, os
hábitos e as mentes.
Nesse sentido, o regime
disciplinar proposto visa transformar o ambiente universitário em um cemitério
político, cerceando a liberdade e a democracia no lugar onde essas práticas
brotaram com tanta fertilidade na resistência à ditadura militar.
Mas, esta prática
autoritária na UFMA teve estranhas exceções, quando as instalações da cidade
universitária foram cedidas ao lançamento da candidatura do então candidato a
governador Edinho Lobão (PMDB), em 2014.
Eis aí um fato marcante da
volta ao passado. Quando o Maranhão inteiro caminhava para virar uma página,
eis que a UFMA abriu suas muralhas para o povo entrar e aplaudir um dos mais
legítimos representantes do atraso.
Esta mesma cidade que
abriu as portas para Edinho Lobão, colocou dificuldades para entregar a residência
estudantil aos alunos carentes, provocando o protesto dos acorrentados, seguido
da conquista da moradia dentro da UFMA.
Por fim, a ideia de
transformar a UFMA em um cemitério político teve repúdio até do Diretório
Central dos Estudantes (DCE), controlado pela administração superior.
Estranhamente, o DCE ocupou a reitoria para contestar o regime disciplinar.
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