sábado, 11 de julho de 2015

A UFMA DE VOLTA AO PASSADO.

Em meados dos anos 1980, o movimento estudantil no campus do Bacanga bradava uma palavra de ordem certeira: “fora Cabral, reitor de general”. O canto de guerra contestava o reitor José Maria Cabral Marques naquele momento político pulsante, quando o Brasil vivia a transição da ditadura para a democracia.

Cabral incorporava o sentimento autoritário e conduzia a UFMA com mão de ferro, ao estilo dos generais. Mas, embora tivesse um reitor adequado aos princípios da ditadura, a UFMA nunca tentou impor, no papel, um regime disciplinar aos estudantes.

Estranhamente, essa ideia veio à tona no século 21, depois de vários movimentos políticos que reconquistaram a democracia no Brasil: as Diretas Já, a Assembleia Nacional Constituinte e quatro eleições presidenciais seguidas.

A democracia é uma conquista e patrimônio de todos os brasileiros, incluída a Universidade, ambiente de produção de conhecimento (ensino, pesquisa e extensão) criatividade, desenvolvimento de saberes e práticas, lugar de pulsação da estética e da política.

Esses sentidos da Universidade são incompatíveis com um regimento disciplinar retrógrado, preso a questiúnculas irrisórias, como as regras de vestimenta dos estudantes.

O regimento peca não só pelo conteúdo, mas sobretudo pela forma como foi aprovado, sem um amplo debate com os seus principais interessados – os estudantes.

Tem sido uma prática a ausência de diálogo na tomada de decisões na UFMA, como se a Universidade fosse uma empresa gerenciada por uma cúpula administrativa apartada de sua comunidade: professores, técnicos e estudantes.

A UFMA também apartou-se das outras comunidades, erguendo uma suntuosa muralha para delimitar a fronteira entre o campus e os bairros periféricos de São Luís.

Em vez de ter uma política ousada de pesquisa e extensão, dialogando com seus vizinhos da área Itaqui-Bacanga, a UFMA isolou-se das comunidades pobres, separadas da cidade universitária pela muralha de concreto.

O campus, transformado em cidade, precisava de um regimento para disciplinar os corpos, os espaços, os hábitos e as mentes.

Nesse sentido, o regime disciplinar proposto visa transformar o ambiente universitário em um cemitério político, cerceando a liberdade e a democracia no lugar onde essas práticas brotaram com tanta fertilidade na resistência à ditadura militar.

Mas, esta prática autoritária na UFMA teve estranhas exceções, quando as instalações da cidade universitária foram cedidas ao lançamento da candidatura do então candidato a governador Edinho Lobão (PMDB), em 2014.

Eis aí um fato marcante da volta ao passado. Quando o Maranhão inteiro caminhava para virar uma página, eis que a UFMA abriu suas muralhas para o povo entrar e aplaudir um dos mais legítimos representantes do atraso.

Esta mesma cidade que abriu as portas para Edinho Lobão, colocou dificuldades para entregar a residência estudantil aos alunos carentes, provocando o protesto dos acorrentados, seguido da conquista da moradia dentro da UFMA.

Por fim, a ideia de transformar a UFMA em um cemitério político teve repúdio até do Diretório Central dos Estudantes (DCE), controlado pela administração superior. Estranhamente, o DCE ocupou a reitoria para contestar o regime disciplinar.

Um dia desses, conversando com um astuto observador da cena política do Maranhão, ele saiu-se com essa: “o regime disciplinar foi inspirado em Silas Malafaia e teve revisão de Marcos Feliciano, mas a palavra final foi de Eduardo Cunha.”


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