quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Bahia. Terra indígena Pataxó já reconhecida sofre reintegração de posse.

Enviado por Leo V
Do Racismo Ambiental
 
Foto - 
Deusuleide Câmara


Ontem à tarde, posto de saúde, casas e a escola do Território Pataxó Comexitibá, no sul da Bahia, foram destruídos numa ação de ‘reintegração de posse’, realizada pela polícia. Cabe destacar que a Terra Indígena já foi oficialmente reconhecida, com Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação publicado pela FUNAI no Diário Oficial da União de 27 de julho de 2015.
Abaixo, a denúncia do ataque em carta de Sandro Tuxá, da Apoinme; no depoimento de Francisco Cancela, professor na Universidade do Estado da Bahia; e em vídeo postado por Joelia Braz.
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Carta de Sandro Hawaty Tuxa
Venho informar para todos os parentes e aliados da luta indígena, que nesse momento nossos irmãos Pataxó do Extremo Sul da Bahia entraram em conflito com a polícia Federal e Militar, pois a Terra que foi Declarada pelo Ministro da Justiça Eduardo Cardos, em meados do ano passado, como Terra Indígena Pataxó Kaí Pequí Comexatiba, está sendo assolada pela ação da Polícia Federal e Militar, com aplicar o mandado de reintegração de posse.
Tudo que estava em pé na aldeia de nossos parentes foi destruído, como: Posto de saúde, escola e casas de moradia…
O nosso companheiros Dário e seu Zé Fragoso Pataxó, estão na linha de Frente do Conflito com a polícia, temo por eles…
Estamos acionado todos os aliados e pedimos a APOINME, CNPI, APIB para nos ajudar contra essa ação brutal contra os direitos de nossos parentes. Veja o que vcs podem fazer para ajudar.
Os professor e as lideranças indígenas que estão em SSA farão uma moção de repúdio e haverá uma campanha nas redes sociais ainda hoje.
Hawaty Tuxá
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Relato do Professor Francisco Cancela, da UNEB
De uma hora para outra, os telefones não pararam de tocar. Um levantava dali, outro cochichava de cá. A notícia se espalhava rapidamente. Os rostos transcendiam de repente: aflição, raiva e perplexidade. Não tinha outra explicação, tratava-se de mais uma notícia de violação dos direitos indígenas na Bahia.
Este foi o cenário que enfrentei hoje no início da tarde. Estava na sala de aula, ministrando a disciplina de História do Brasil. Os estudantes eram todos indígenas, da área de Ciências Humanas da Licenciatura Intercultural em Educação Escolar Indígena da UNEB. O motivo da agitação estava distante: do extremo sul do estado chegava a informação da invasão violenta da polícia no território Pataxó Comexitibá.
Em meio a ligações e mensagens, as notícias ficavam mais tristes. As casas, o posto de saúde e a escola das aldeias Cahy e Tibá foram destruídos. Este constituía o saldo de uma operação de reintegração de posse de um território recentemente reconhecido por meio do Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação, publicado pela FUNAI no Diário Oficial da União no dia 27 de julho de 2015. Com aparato bélico desproporcional e com a truculência habitual, a força armada do Estado atendeu aos interesses de fazendeiros e empresários da hotelaria.
Diante desta vergonhosa violação de direitos, nossa aula ganhou um novo tom. Não foi difícil perceber que a história do Brasil recente reproduz muito da violência, da expropriação e da arrogância do passado de conquista e colonização. Também foi fácil observar que, pelas expressões e falas dos professores indígenas ali presentes, a resistência dos índios continuará forte, tal como nestes mais de 515 anos de luta. E, em meio a incertezas, foi firme o sentimento generalizado de solidariedade aos indígenas de Comexitibá, especialmente ao seu Fragoso, velho e incansável liderança daquelas bandas do sul.
Que a luta escreva novas páginas desta nossa história.
– Destaque: Tania Pacheco - Racismo Ambiental.
Informação enviada para Combate Racismo Ambiental por Leonilton Cagy Silva.

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