terça-feira, 26 de abril de 2016

Samarco. Carta Política da Caravana Territorial da Bacia do Rio Doce.

CARTA POLÍTICA DA CARAVANA TERRITORIAL DA BACIA DO RIO DOCE.

O Rio? 

É doce. 

A Vale? 

Amarga. 

Ai, antes fosse Mais leve a carga. 

Entre estatais E multinacionais, Quantos ais! 

A dívida interna. 

A dívida externa 

A dívida eterna. 

Quantas toneladas exportamos De ferro? 

Quantas lágrimas disfarçamos Sem berro? 

“Lira Itabirana”, Carlos Drummond de Andrade, 1984.

Movidos pelo sentimento de justiça, indignação, luta, resistência e vontade de transformar o modelo de sociedade e de desenvolvimento de nosso país, pessoas de dezenas de organizações decidimos construir a Caravana Territorial da Bacia do Rio Doce logo após o desastre-crime ocorrido com o rompimento da barragem de Fundão no dia 05 de novembro de 2015, envolvendo as empresas mineradoras Samarco, Vale e BHP Billiton. 

Tratou-se de uma enorme tragédia anunciada que matou 20 pessoas, desalojou centenas de suas casas destruídas pela lama de rejeitos, contaminou, afetou e destruiu a vida da bacia do Rio Doce, uma das mais importantes da região sudeste e do país, afetando milhões de pessoas que vivem e dependem dessa água e dessas terras. 

Estamos diante da maior catástrofe socioambiental do Brasil, e talvez a maior da megamineração de ferro no mundo. 

Como presenciamos na Caravana, os atingidos são muitos e encontram-se em diferentes escalas. 

Afinal de contas, que desenvolvimento é este que mata e destrói? 

Quem é quem neste modelo? 

Que alternativas temos para construir uma sociedade mais soberana, justa, que respeite a natureza, a cultura e o trabalho de homens e mulheres? 

A Caravana Territorial buscou enfrentar essas e outras questões. 

Ela é um instrumento político-pedagógico construído pelo movimento agroecológico no Brasil, junto com diversas entidades, redes e movimentos sociais. 

Ela vem sendo trabalhada desde o Encontro Nacional de Diálogos e Convergências entre Agroecologia, Saúde e Justiça Ambiental, Soberania Alimentar, Economia Solidária e Feminismo, realizado em 2011. 

No processo de preparação do III Encontro Nacional de Agroecologia, ocorrido em 2014, quinze (15) Caravanas foram realizadas em diferentes territórios do país, reunindo diversos/as agricultores/as, professores/as, movimentos sociais, pesquisadores/as, estudantes, coletivos e gestores públicos. 

As Caravanas são viagens de aprendizados, intercâmbios e construção de laços de solidariedade e luta política, que exercitam um olhar conjunto e popular a respeito do território, situando contradições, potencialidades e desafios na construção de uma nova sociedade pautada na agroecologia, na reforma agrária, na saúde coletiva, na economia solidária, na luta das mulheres, no respeito ao conhecimento dos povos e comunidades tradicionais. 

Buscamos dar visibilidade às denúncias e aos anúncios, aos conflitos sociais e ambientais, às experiências de resistência e de autonomia, de valorização da cultura regional e popular, de organização que marcam os locais por onde as rotas passam e ao final se encontram num local de culminância. 

Ao longo de cada rota fizemos visitas, intercâmbios de experiências, observações, aulas e atos públicos, rodas de conversa entre caravaneiros/as e famílias/grupos/coletivos/ moradores/as que participaram das atividades. 

Também celebramos a vida, vivenciamos a cultura, a alimentação solidária e a culinária, a hospitalidade da hospedagem solidária. Nossa Caravana Territorial ao longo da Bacia do Rio Doce teve a finalidade de produzir leituras compartilhadas sobre a tragédia-crime, analisar seus impactos, mobilizar ações de denúncias e reivindicações, e apontar saídas de desenvolvimento territorial mais justas e sustentáveis na região. Isso inclui experiências da agricultura familiar camponesa e agroecológica, iniciativas de recuperação dos agroecossistemas da região, da Bacia Rio Doce e suas nascentes. 

Enfim, discutir tantas perguntas em aberto quanto ao futuro das pessoas e comunidades, ao futuro das águas, dos peixes, dos solos, dos mangues, lagoas e praias; quanto ao futuro dos trabalhadores e trabalhadoras filhos e netos da pesca e da agricultura, dos povos Krenak, Guarani, Tupinikim, Pataxó, Botocudo e de tantas pessoas que tiveram suas vidas e direitos violentados. 



Nossa Caravana colocou o pé na estrada em quatro rotas entre os dias 11 e 14 de abril de 2016 chegando neste dia em Governador Valadares (MG), onde ficamos até o dia 16 com a realização de instalações pedagógicas para o intercâmbio de experiências entre as rotas, uma mesa redonda de debates, rodas culturais e um ato político. 

Nossa Caravana envolveu dezenas de organizações nacionais, regionais e locais, com a participação de cerca de 150 caravaneiros/as e mais de mil pessoas nas inúmeras atividades realizadas. Percorremos a bacia do Rio Doce em sua enorme diversidade, descendo desde as nascentes do Alto Rio Doce à sua foz, na Vila de Regência, município de Linhares (ES), revelando a enorme diversidade da região. 

Cruzamos vales, montanhas, serras, planícies, riachos, nascentes, matas, trilhas, estradas, distritos, comunidades ribeirinhas, pequenas cidades, cidades portuárias, cidades turísticas, grandes cidades, cidades históricas. 

Andamos pelas roças, comunidades tradicionais, escolas do campo e da família agrícola, sindicatos de trabalhadores/as, mercados solidários, feiras da agricultura camponesa. Presenciamos a tragédia-crime da lama de rejeitos, das terras devastadas, do rio contaminado, nos solidarizamos com comunidades, agricultores e agricultoras, indígenas e quilombolas que sofrem as enormes consequências do crime ambiental e social. 

Vimos a força das mulheres na resistência cotidiana contra os impactos da mineração e pela construção de alternativas. 

A Rota 1 no Alto da Bacia foi iniciada na segunda feira dia 11/04/2016, na cidade de Mariana (MG). A Rota teve a participação de cerca de 40 integrantes, que representavam 21 organizações e movimentos sociais, e contou com mais de 80 visitantes de diferentes instituições e movimentos. 

Essa rota percorreu o trajeto inicial da lama de rejeitos da barragem de Fundão, pertencente à mineradora Samarco (Vale e BHP), vivenciando, conhecendo e levantando as experiências de resistências e lutas, bem como os conflitos, impactos e violações causadas pelo modo capitalista de produção nas atividades da mineração industrial. 



A Rota teve três finalidades principais: 

 Vivenciar e conhecer o contexto histórico e atual da atividade mineral no Vale do Rio Doce, base do processo de exploração e destruição capitalista sobre a vida, a natureza, as pessoas e os bens comuns, que resultou da tragédia-crime provocada pelo rompimento da barragem de Fundão; 

 Percorrer o caminho da lama de rejeitos, identificando os impactos sociais e ambientais, ouvindo os relatos de vida e de perdas; as demandas e violações provocadas pelas empresas Samarco/ Vale/ BHP; assim como a atuação e as omissões das instituições públicas na defesa dos sujeitos que tiveram seus direitos violados; 

 Conhecer as experiências de alternativas ao modelo de desenvolvimento pautado na mineração industrial para exportação e as formas de resistência aos empreendimentos mineradores e seus impactos. 

Os participantes da Caravana foram acolhidos por atingidas/os de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo em suas residências provisórias, proporcionando um momento de diálogos e trocas diretas e solidárias. 

A rota partiu simbolicamente da Praça Minas Gerais ou Praça das Duas Igrejas, em Mariana, marco do contraste entre a riqueza do ciclo do ouro e a exploração do trabalho escravo no período colonial. Na Comunidade do Morro da Água Quente, observamos os impactos da mineração ativa e a ameaça de uma mina abandonada, assim como ouvimos relatos de luta e resistência das mulheres frente à mineração da Vale e seus projetos em operação e expansão. 

No segundo dia, a rota esteve em Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, locais devastados pela lama de rejeitos da barragem de Fundão, onde dialogamos com moradoras atingidas a respeito do território; dos impactos e traumas na vida; das inúmeras perdas, violações e os sofrimentos; da relação com a empresa e o Estado; e dos processos de luta por direitos. 

Em contraponto, experiências de produção orgânica e de pequenos pecuaristas foram elucidadas, demonstrando outras formas de desenvolvimento local, geração de renda e de economia. Vimos o papel das mulheres na construção das resistências e alternativas. 

No terceiro dia, aprofundamos o diálogo com moradoras/es atingidas/os na cidade e na zona rural de Barra Longa. Em audiência pública sob a coordenação do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) e a presença dos Ministérios Públicos Estadual e Federal, ouvimos relatos de denúncias, violações e sofrimentos. Também visitamos a comunidade de Gesteira devastada pelo rejeito, onde uma moradora retratou a difícil condição dos atingidos e suas demandas. 

Finalmente, no quarto dia, visitamos experiências das Escolas Família Agrícola (EFAs) Acaiaca e Sem Peixe, onde debatemos a importância e influência de uma Educação do Campo para a transformação das vidas e das práticas agrícolas, como de outras formas de desenvolvimento socioterritorial rural. 

Nos encontramos também com a Rota 2 na barragem da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, mais conhecida como Usina de Candonga. Lá, ouvimos os relatos de companheiros do MAB e do movimento negro que participaram da luta da comunidade atingida de Soberbo, compulsoriamente deslocada pela construção da barragem entre 2001 e 2004, e que luta por direitos até hoje. 

A Rota 2 da Caravana visitou as regiões do Alto Rio Doce – vales dos rios Piranga e Casca – que não foram atingidas pelo rejeito da barragem, muito embora a tragédia-crime também tenha influenciado a região. Por exemplo, os peixes que sobem o rio na piracema para se reproduzir não estão sobrevivendo ao rio com rejeito, o que compromete os ciclos reprodutivos do rio e a produção alimentar como um todo. 

Diferentemente das outras rotas, a Rota 2 teve como objetivo central ressaltar os principais anúncios nesse trajeto da bacia do Rio Doce, como as diversas experiências de recuperação de nascentes e rios; de agricultura agroecológica; de saneamento rural com fossas sépticas construídas pelas comunidades; da potência das Escolas Família Agrícola (EFA) e dos projetos de extensão. 

Fomos cerca de 40 caravaneiros, homens, mulheres e jovens percorrendo as cidades de Desterro de Melo, Paula Cândido, Araponga, Viçosa, Ponte Nova e culminando em Governador Valadares. Iniciamos a caravana em uma reunião na no salão Paroquial de Desterro de Melo, a convite do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. 

Nesta reunião fomos informados da luta dos agricultores/as familiares do município contra a Brasilflowers, uma empresa alemã que produzia, no município, rosas para exportar com muito uso de agrotóxicos e contaminavam os trabalhadores e, em especial, as trabalhadoras. O preparo das flores era responsabilidade principalmente das mulheres, estas se machucavam nos espinhos e a contaminação era maior. Em uma luta em cooperação com o SUS (Sistema único de Saúde) e profissionais da saúde do trabalhador, a empresa deixou de operar no município. Durante esta luta os agricultores iniciaram os trabalhos de homeopatia que marcaria a região. 

No segundo dia visitamos a nascente do Rio Xopotó, uma das nascentes mais distantes da foz do Rio Doce. Na nascente fizemos uma bela mística, homeopatizamos e energizamos a água do Rio com a intenção de cura e revitalização. Lá observamos que a nascente é parcialmente cercada, que há ainda muitos problemas no manejo do pasto com braquiária e alguns topos de morros ainda precisam ser revegetados. Em seguida visitamos a propriedade de Sr. Joaquim e Dona Ereni que percebem a partir da Homeopatia e da Agroecologia a possibilidade de um novo modelo de desenvolvimento que abrange valores e saberes que respeitam o meio em que vivem. Ainda no segundo dia fomos recebidos à noite no salão paroquial em Paula Cândido pelo grupo de Congado da comunidade Quilombola Córrego do Meio e por pastorais e grupos religiosos. 

No terceiro dia, nos dividimos em três grupos e visitamos Córrego do Meio, onde pudemos ver a luta de resistência e titulação da terras da comunidade quilombola, resistência esta fortalecida pelo grupo de congado da comunidade; a experiência de auto-organização da comunidade de São Mateus para a construção de fossas sépticas; e a comunidade do Morro do Jacá, com uma experiência de resistência às violências decorrentes do projeto do mineroduto da empresa Ferrous. 

A luta foi apoiada por uma coalisão mais ampla, a Campanha pelas Águas e Contra o Mineroduto, que luta para impedir a construção do mineroduto articulando inúmeras comunidades, cidades, organizações e movimentos sociais. Graças à luta de comunidades como Paula Cândido e Viçosa, em ação conjunta com grupos da Universidade Federal de Viçosa (UFV), o mineroduto não foi construído até o momento. No dizer de um dos participantes, em Paula Cândido e Viçosa “o mineroduto dobrou”. Em Araponga o grupo se dividiu novamente em dois para conhecer as experiências agroecológicas da EFA Puris e da família do Sr. Paulinho e Dona Fia. 

Vimos o engajamento e aprendizado de jovens na recuperação de nascentes, na produção agroecológica de alimentos; e na construção de fossas que viabilizam o saneamento rural, mostrando a importância e efetividade das EFAs e dos projetos de extensão. Com seu Paulinho tivemos uma aula de sabedoria e técnicas agroecológicas de um camponês que participa do projeto "Plantadores de Água" na recuperação das nascentes. Há mais de 20 anos ele constrói a agroecologia na região e fez parte da Conquista em Conjunto de Terras, uma “reforma agrária” desenvolvida pelos próprios agricultores. 

A família recuperou uma nascente através da recomposição dos agroecossistemas locais, com a diversidade de plantios, incluindo sistemas agroflorestais com café e pastagem sombreada, o fim das braquiárias e o plantio de capim gordura, que permite uma pastagem menos agressiva e mais adequada à infiltração de água nos solos. Como nos disse Paulinho, “uma esperança num mundo consumista” que desconsidera e destrói a natureza. 

Em Viçosa, o grupo se reuniu no Seminário “Mineração na Bacia do Rio Doce: Impactos, Conflitos e Resistências”, na Universidade Federal de Viçosa. Foram debatidos temas como a contaminação da Bacia do Rio Doce; as origens da tragédia-crime da mineração na lógica destrutiva de aumentar a produção em busca de lucros, mesmo em tempos de queda dos preços do minério de ferro; e dos impactos sobre a vida do Rio Doce e espécies ameaçadas de extinção. 

Aprendemos que a degradação e contaminação por metais pesados como o arsênio no rio Doce é anterior ao desastre crime, e que provavelmente já estava relacionada à atividade mineradora na região. Novos estudos estão sendo feitos após o crime para averiguar seus impactos. Dormimos no CTA (Centro de Tecnologias Alternativas) que há aproximadamente 30 anos constrói a agroecologia na região. 

Em Ponte Nova a caravana visitou o encontro do Rio Piranga com o Rio Carmo formando o rio Doce. Sofremos então o impacto de ver pela primeira vez na rota o rio marrom poluído pelo rejeito da tragédia. Junto com as pessoas da rota 1 vimos a represa de Candonga - de propriedade de um consórcio com a participação da Vale para produzir energia elétrica para o setor mínero-siderurgico, represa esta assoreada pelo rejeito. 

Como a violação de direitos é um padrão comum dos empreendimentos, ouvimos também o relato da luta da comunidade de Soberbo, contra medidas tecnocráticas que impuseram o deslocamento forçado em 2004, e que se arrasta até hoje. A tarde houve um seminário no salão paroquial para discutirmos com sindicalistas, trabalhadoras da reciclagem e representantes do saneamento local, dentre outros, iniciativas de recuperação do rio Piranga envolvendo o NECAD e a Prefeitura de Ponte Nova. A partir disso, nos deslocamos para Governador Valadares (MG). 

A Terceira rota da caravana partiu de Governador Valadares no dia 11 e durante quatro dias circulou pela região do Médio Rio Doce. Fomos 30 pessoas participando da rota em todos os momentos: estudantes, professores/as universitários/as, agricultores/as, jovens dos assentamentos de Reforma Agrária, técnicos/as, representantes de movimentos sociais variados, sindicalistas, integrantes de grupos de Economia Solidária, dentre outros. Passamos por seis municípios e oito comunidades visitadas. A cada parada, o número de participantes crescia, com mais de 200 pessoas envolvidas nas atividades promovidas pela caravana, incluindo parceiros locais e militantes de diferentes movimentos sociais que se integravam. Ao longo da rota, visitamos comunidades rurais; uma aldeia indígena Pataxó; experiências de cozinha e padaria comunitárias; escolas; estação de tratamento de água (ETA); acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e assentamentos de Reforma Agrária. A Rota teve foco nos afluentes do Médio Rio Doce, trazendo a perspectiva da interligação entre os acontecimentos relativos à tragédia-crime de Mariana e o modelo de desenvolvimento imposto na região. 

Vários empreendimentos têm gerado graves problemas de manutenção dos recursos hídricos - como por exemplo, a instalação de barragens para geração de energia elétrica, a construção do mineroduto da mineradora Manabi e a expansão da monocultura de eucalipto. Soma-se a isso a degradação ambiental que vem ocorrendo ao longo de muitos anos nas margens dos rios, topos de morro e nascentes, e que colaboram para o assoreamento dos rios e a redução drástica na oferta do pescado e da água - tanto potável como a utilizada nas atividades agrícolas. Por outro lado, a agricultura familiar e as experiências de agroecologia e de organização comunitária visitadas vêm trazendo propostas e revelando anúncios de outro modelo possível de desenvolvimento. 

Por exemplo, estivemos no assentamento 1º de Junho, com 22 anos de existência, o primeiro da região do vale do Rio Doce. Lá violeiros e cantoras fizeram a recepção com modas que falam da luta pela reforma agrária e a conquista de um pedaço de terra para viver. Os estudantes primários da Escola 1º de Junho realizaram uma emocionante mística de abertura, onde as crianças foram atingidas pela lama, simbolizando o crime e recitaram a canção "Cacimba de Mágoa": "O sertão virar mar, é o mar virando lama/ Gosto amargo do Rio Doce de Regência à Mariana". Mais tarde seguimos para a área do agricultor e guardião de sementes, Roberto Antônio Luz, que demonstrou diversas técnicas de cultivo agroecológico que não matam as bactérias, insetos e pássaros que exercem uma importante função ecológica na polinização, dispersão e preservação, que mantêm o patrimônio genético e a biodiversidade. 

Em Açucena fomos recebidos pelos agricultores familiares, poetas, artesãos e cantores locais que contaram da realidade de ameaças ao território com a construção do mineroduto da Manabi e os impactos nos recursos hídricos pelas barragens no rio Corrente. Em Cachoeira Escura, Belo Oriente, visitamos a Estação de Tratamento de Água (ETA), e pudemos conhecer as etapas do processo de tratamento da água captada do Rio Doce que abastece a cidade. Neste momento foi importante perceber que as opiniões sobre a qualidade da água são bastante distintas. Enquanto os funcionários da Samarco que nos acompanharam reforçavam uma avaliação positiva sobre a qualidade da água, os moradores denunciavam doenças de pele e estômago que começaram a aparecer na população a partir da contaminação da tragédia crime.

Em Ipatinga, a caravana foi acolhida pela Escola Municipal Arthur Bernardes, onde ocorreram rodas de conversa com professores, estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA Rural) e do PROJOVEM, durante a noite. Em Tumiritinga conhecemos a propriedade de Seu Luiz e Dona Eva. O casal vive no Assentamento Cachoeirinha há mais de 20 anos onde cultivam hortaliças, frutas e uma variedade de plantas de maneira agroecológica, e também criam peixes. 

A produção de hortaliças era vendida para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Desde novembro com a tragédia-crime sua produção foi reduzida drasticamente, pois não podem mais usar a água do rio pra irrigação. Segundo D. Eva, as plantações de abacaxi, cana e coco estão morrendo sem água, e conseguiram manter apenas uma, das quatro hortas, com irrigação de água de poço. Os rejeitos alcançaram seus tanques de criação, matando mais de seis mil peixes. O casal tem dificuldade de sobreviver apenas com o cartão oferecido pela Samarco/Vale e teme a sua interrupção. 

Por fim, a Quarta rota da Caravana partiu de Vitória no dia 12 de abril e, durante três dias, circulou pela região do Baixo Rio Doce, percorrendo desde a foz, localizada na Vila de Regência (ES), até Governador Valadares (MG). Começamos a rota com 20 pessoas e à medida que subíamos o rio, mais caravaneiros foram se agregando, como estudantes, professores/as universitários/as, agricultores/as, pescadores (as), lideranças indígenas Tupiniquim, Botocudo e Guarani, lideranças comunitárias, moradores/as dos assentamentos da Reforma Agrária, representantes de movimentos sociais, jornalistas de mídias alternativas, cidadãos indignados com a situação, surfistas e pessoas que vivem do turismo na região, dentre outros. 

Ao longo da Rota, visitamos a Vila de Regência Augusta; as comunidades de pescadores de Maria Ortiz (Colatina-ES) e Mascarenhas (Baixo Guandu-ES); o Assentamento do MST “Sezínio Fernandes” (Linhares-ES); e a Terra Indígena Krenak (Resplendor-MG). Ao todo, percorremos quatro municípios e entramos em contato com centenas de pessoas que se envolveram nas diversas atividades realizadas. Em Regência e Colatina, realizamos atos em praças públicas com a apresentação de um documentário produzido pela equipe da Rota, e microfone aberto para as comunidades exporem suas dificuldades e denúncias acerca do crime. A visita a Maria Ortiz revelou uma comunidade sufocada entre os trilhos do trem de minério da Vale e o rio contaminado pela lama tóxica. 

Na comunidade de Mascarenhas, sentimos o sofrimento dos pescadores/as, que além de ter perdido a principal fonte de existência (o pescado do rio), são submetidos/as à vigilância permanente das câmeras de segurança da Usina Hidroelétrica Mascarenhas e à criminalização no período de defeso da pesca, o que torna evidente a crueldade a que pode chegar tal descaso e abandono. 

No Assentamento do MST “Sezínio Fernandes”, foi-nos relatado como a polícia atuou com violência quando a comunidade buscava proteger as lagoas da contaminação vinda com a lama tóxica e foi duramente reprimida com balas de borracha e bombas de gás. Nossa última passagem nessa rota foi pela Terra Indígena Krenak, onde o rio, além da importância econômica e de subsistência, também tem um profundo sentido ancestral e espiritual para o modo de vida indígena, presente nos rituais de batismo das crianças, por exemplo, que não podem mais ser realizados no rio. 

Revelou-se diante de nós uma grave e inaceitável violação de autodeterminação de um povo, que fere a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) Sobre Povos Indígenas e Tribais (promulgada em 1989 e ratificada pelo Estado Brasileiro em 2002). Segundo Andrea Krenak, “o rio faz parte de nós, da nossa cultura, é como se tivessem tirado um parente nosso”. 

Finalmente no dia 14 à noite chegamos os caravaneiros/as de todas as rotas em Governador Valadares e fomos recebidos com uma plenária no Assentamento Oziel Alves. Graças à hospitalidade dos assentados e assentadas comemos e dormimos no assentamento até o dia 17. 

No dia 16, nos reunimos na Praça dos Pioneiros em Governador Valadares para, junto com a população da cidade, conhecermos as experiências da Caravana através do giro pelas instalações artísticas pedagógicas construídas pelas quatro rotas. Vimos fotos, sapatos e rádios de carro enlameados, cartilhas e cartazes de protesto e convocação, sementes crioulas, alimentos agroecológicos, exemplares da flora nativa, garrafas com águas das nascentes e do rio poluído, redes de pesca amarronzadas pela lama, símbolos da destruição, de denúncias e anúncios, explicados pelos companheiros e companheiras de cada rota. 

Em seguida houve uma mesa com representantes da Comissão de Criação do Fórum Permanente de Entidades em Defesa da Bacia do Rio Doce, do povo Krenak, do Ministério Público Federal e um representante das universidades e grupos de pesquisa envolvidos na Caravana, seguido de microfone aberto com a participação das pessoas que estavam na praça acompanhando o debate. 

Durante a construção da Caravana Territorial uma densa rede de comunicadores/as foi tecida a partir do esforço das organizações e grupos. Essa articulação envolveu instituições de pesquisa, redes nacionais e regionais, movimentos sociais, mídias populares e jornalistas independentes. 

Juntos construíram estratégias e canais de comunicação que buscaram garantir uma comunicação plural, dialógica e horizontal que visibilizasse a diversidade de anúncios e denúncias observados e vividos ao longo da Bacia do Rio Doce. 

Juntou-se ao grupo de comunicadores de Minas e do Espírito Santo, comunicadores do Rio de Janeiro, Recife, São Paulo, Estados Unidos e Canadá. A articulação deste grupo e a oficina preparatória de Comunicação, realizada em Governador Valadares dia 24 de março, potencializou o registro sobre a diversidade de conflitos e resistências à riqueza dos espaços de troca de saberes e práticas ao longo das quatro rotas da caravana. 

Revelar conflitos e violações de direitos e as injustiças socioambientais são compromissos da comunicação popular e, neste processo, é notório o papel da mídia no silenciamento das dores e denúncias do povo. A mais de cinco meses da tragédia-crime são escassos e pontuais os espaços da grande mídia dedicados a registrar que, de lá para cá, pouca coisa mudou. 

Neste processo é imprescindível denunciar o papel criminoso da Samarco/Vale/BHP que, através de campanhas publicitárias e outros volumosos investimentos na contratação de agentes de comunicação social e assessoria de imprensa, mantém uma atmosfera de desinformação e bloqueio desde o rompimento da barragem. 

Entendemos a comunicação como um direito do povo e a informação como condição para participação e luta pelos direitos de todos aqueles que foram atingidos/as, e intervenções para desinformar e silenciar precisam ser denunciadas e combatidas. Na contramão desse processo predatório, muitas iniciativas estão pulsando pela Bacia do Rio Doce buscando garantir o diálogo, o acompanhamento e a comunicação entre as famílias, com as organizações e as redes nacionais e internacionais. 

A Caravana constitui um coletivo de comunicadores que segue comprometido com a sistematização e a visibilização dos registros, das denúncias e anúncios em suas múltiplas linguagens. Seguir na organização dessas informações e na construção de estratégias de diálogo com a sociedade será condição imprescindível para que não se esqueça o crime.

A Caravana apontou inúmeras violações e denúncias, mas também anúncios, reinvindicações e propostas de encaminhamentos. A seguir apresentamos uma sistematização realizada ao longo da Caravana. Violações: 

1. Destruição da natureza: dos rios, contaminação da água, do ar, do mar, das florestas, com a morte de animais silvestres e domésticos; 

2. Destruição e perda do patrimônio cultural material e imaterial; 

3. Destruição de vidas humanas, bens materiais e imateriais, acabando com sonhos, formas de geração de renda, de produção de alimentos e modos de vida; 

4. Violação do Direito à preservação da memória e identidade das comunidades e povos da Bacia do Rio Doce; 

5. Deslocamentos compulsórios e Violação do Direito à manutenção dos vínculos de sociabilidade e laços comunitários e familiares; 

6. Violação do Direito à Moradia;

7. Violação do Direito ao Trabalho; 

8. Violação do Direito à Informação; 

9. Fragmentação de comunidades e Violação do Direito à Organização Popular; 

10. Violação do direito à autodeterminação dos povos e comunidades tradicionais (garantido pela Convenção 169 da OIT Sobre Povos Indígenas e Tribais); 

11. Violação do Direito à Participação das Comunidades e Povos Atingidos na tomada das decisões; 

12. Violação do Direito de acesso à água de qualidade; 

13. Violação do Direito à Saúde; 

14. Violação do Direito à Segurança e Soberania Alimentar (garantido pela Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional, de 2006); 

15. Traumas psicológicos graves como depressão, inclusive com tentativas de suicídio, tristeza e brigas familiares e comunitárias; 

16. Violências físicas, sexual, psicológica e moral sobre as mulheres atingidas. 

Denúncias: 

1. A tragédia-crime do rompimento da barragem de Fundão e todos os crimes que continuam acontecendo no contexto do modelo extrativista capitalista reforçam a prática secular de racismo ambiental, que tem sua expressão mais radical na violência sobre populações negras e povos tradicionais, como é o caso das populações de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Barra Longa. 

2. O caráter sexista da sociedade também reproduz efeitos desiguais no contexto da tragédia crime, afetando em maior grau as mulheres, que inclusive são menos ressarcidas. 

3. Casos de estupro, aumento da violência contra as mulheres e da prostituição foram relatados nos municípios onde se concentram os trabalhadores das obras de contenção da Samarco/ Vale / BHP. 

4. A Samarco/ Vale / BHP está dificultando e não vem cumprindo com os acordos preestabelecidos com os atingidos, e nem todos atingidos estão recebendo os ressarcimentos acordados, com destaque para as mulheres. 

5. A população da Bacia do Rio Doce tem sido cerceada, por parte da Samarco/ Vale / BHP e do poder público, do acesso à informação, à participação e à decisão nos acordos, nas medidas compensatórias, preventivas e emergenciais, e nos destinos das comunidades atingidas. 

6. A Samarco/ Vale / BHP não vem negociando com os movimentos sociais e abandonou diversos espaços de negociação coletiva, visando promover acordos individuais e desiguais. 

7. Os atingidos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo estão sendo tratados com preconceito e discriminação na cidade de Mariana (MG), para onde foram compulsoriamente deslocados. 

8. A população que vive na Bacia do Rio Doce não confia nas informações fornecidas por instituições públicas e privadas a respeito da potabilidade da água do Rio para consumo humano e utilização produtiva. A população que é abastecida com a água captada no Rio relata coceiras na pele e processos alérgicos. 

9. Nas cidades que captam água exclusivamente do Rio Doce – como Belo Oriente (MG), no distrito de Cachoeira Escura, Governador Valadares (MG) e Colatina (ES) – os técnicos afirmam que a água tratada atende a todos os parâmetros de potabilidade da água estabelecidos pelo Ministério da Saúde, mas ignoram a Resolução nº 357/2005 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que dispõe sobre a classificação dos corpos d’água e as diretrizes para seu enquadramento e captação para o abastecimento humano. 

10. Fragmentação das comunidades por parte da Samarco, que utiliza seletividade e cooptação das lideranças para escolher os beneficiários e dificultar a articulação conjunta. 

11. Pescadores que não recebem auxílio estão sem fonte de renda e aqueles que recebem denunciam que o valor é insuficiente e abaixo do que geravam com a pesca. 

12. Alguns pescadores continuam pescando e se alimentando de peixes contaminados. Outros foram obrigados a modificar radicalmente seus hábitos alimentares. 

13. A população em geral se sente insegura em relação à qualidade do pescado, seja no rio ou no mar, tendo em vista a contradição entre laudos técnicos de diferentes instituições e órgãos públicos. 

14. Perda de lavouras e de patrimônio genético da agrobiodiversidade, assim como contaminação de alimentos na região atingida, em decorrência da contaminação da água, dos solos e do lençol freático em toda a Bacia do Rio Doce. 

15. Aumento das tarifas de água, e transmissão do custo do “tratamento” para os atingidos. 

16. Lideranças de toda a Bacia do Rio Doce estão sofrendo retaliações, perseguições e ameaças por participarem das mobilizações contrárias ao crime. Nas quatro rotas da Caravana e na culminância sofremos intimidações da Polícia Militar. As forças de repressão do Estado estão atuando mais em defesa dos interesses da Samarco/Vale/BHP do que em defesa dos direitos das comunidades atingidas e de suas organizações coletivas. 

17. Denunciamos o não cumprimento dos direitos dos povos e comunidades tradicionais garantidos pela Convenção 169 da OIT sobre os Povos Indígenas e Tribais. 

18. Exploração privada de água mineral dentro do Parque Estadual Sete Salões, em Resplendor (MG) – que se encontra dentro do território tradicionalmente ocupado pelo povo indígena Krenak. 

19. Prejuízo ao turismo em Regência, devido a dúvidas em relação a qualidade da água do mar para o surf. As ondas de Regência estão entre as 10 melhores do país para a prática do surf. 

20. Em toda a Bacia do Rio Doce vem aumentando os casos de doenças e epidemias, com destaque para as doenças psicológicas geradas pela tragédia-crime. 

21. A mineração do passado e do presente causa danos irreparáveis à vida, à saúde das pessoas e ao ambiente, e ameaça as condições de vidas futuras, em decorrência dos graves impactos sobre a água. 

Anúncios: 

1. Há uma diversidade de experiências de Educação Popular e Educação do Campo, como as das Escolas Famílias Agrícolas, das Escolas de Assentamento e Educação Indígena que precisam ser fortalecidas e ampliadas. 

2. Há uma grande variedade de experiências de Economia Popular Solidária que promovem a segurança alimentar, a geração de renda e a autonomia das mulheres, respeitando características culturais e hábitos alimentares da região. São experiências de cooperativismo, associativismo e auto-organização de grupos comunitários que apontam novos horizontes de sentido para as economias locais e municipais. 

3. Há uma infinidade de experiências agroecológicas ao longo de toda a Bacia do Rio Doce: manejo e preservação da agrobiodiversidade, práticas populares de cuidado em saúde, proteção e recuperação de nascentes, manejo ecológico dos solos, feiras da agricultura familiar, proteção e conservação das sementes e variedades crioulas, práticas de homeopatia, experiências de saneamento rural, dentre tantas outras iniciativas. Agroecologia é Vida! 

4. As diferentes comunidades, povos, grupos, organizações e coletivos – como povos indígenas, trabalhadores/as rurais, assentados/as da reforma agrária, pescadores/as, quilombolas, atingidos pela mineração, atingidos por barragem, atingidos pela ferrovia, ribeirinhos, igrejas, escolas, surfistas, moradores das cidades – impactados pela tragédia-crime estão em resistência frente às várias violações que continuam acontecendo e não reconhecem o acordo firmado entre os diferentes governos e a Samarco/Vale/BHP. As mulheres têm protagonizado muitas destas experiências de luta e todas as organizações devem garantir a paridade de gênero em todos os espaços.

Reivindicações/Encaminhamentos:

1. Interromper a captação de água do Rio Doce para o abastecimento dos municípios atingidos e garantir fontes de água alternativa e segura, com a retomada de obras como as adutoras em Colatina. 

2. Produção de laudos confiáveis que comprovem a real situação da água fornecida, sem interferência das empresas responsáveis pela tragédia / crime. 

3. Acesso amplo e irrestrito às informações sobre os impactos da tragédia/crime e os encaminhamentos jurídicos; 

4. Apuração da repressão policial e responsabilização pela violência cometida aos camponeses/as do Assentamento do MST “Sezínio Fernandes”, em Linhares (ES), quando se manifestavam em defesa das suas lagoas contra a contaminação. 

5. Promover estudos e análises, de forma independente e com amplo protagonismo das populações camponesas e ribeirinhas, sobre o potencial do Complexo Lagunar de Linhares como possível berçário reprodutor de espécies do Rio Doce, com o intuito de repovoar suas águas e garantir a permanência da pesca na região; 

6. Demarcação e/ou ampliação das terras indígenas, demandadas pelos povos Krenak (Parque Estadual Sete Salões) e Pataxó (Parque Estadual do Rio Corrente). 

7. Garantir o auxílio emergencial a todos os atingidos da bacia, reconhecendo a pluralidade destes sujeitos: pescadores, agricultores, ribeirinhos, comerciantes, mulheres, etc. 

8. Participação ativa das comunidades atingidas na construção do plano de reparação e recuperação, e na escolha do novo local onde serão realocadas as comunidades. 

9. Responsabilização criminal e punição da Samarco/Vale/BHP e das instituições públicas que têm atuado de acordo com os interesses da empresa e não das populações, comunidades e povos atingidos. 

10. O acordo firmado entre os diferentes governos e a Samarco/Vale/BHP não pode ser homologado e precisa ser revisto com ampla participação da população, comunidades e povos impactados. 

Os criminosos não podem decidir quem são os atingidos e como reparar os danos! 

A Caravana foi uma rica experiência com anúncios e denúncias com vários pontos em comum. Revelou como, mesmo num contexto extremo de vulnerabilidade, as comunidades se organizam na luta por direitos, por justiça socioambiental, contra a violência, por autonomia e pela construção de uma sociedade mais solidária, agroecológica e saudável, que respeita a natureza, a democracia e a autodeterminação dos povos. 

Aprendemos que através da luta e organização popular, as tragédias e as denúncias também permitem o germinar dos anúncios. As lutas que se apresentam não apenas contra a mineração e sua infraestrutura, mas contra a construção de barragens sem a garantia de direitos; contra os monocultivos que agridem os ecossistemas; contra os agrotóxicos que envenenam e matam; contra a falta de saneamento básico no campo e nas cidades que faz adoecer as comunidades e polui os rios. Todos são problemas enfrentados cotidianamente, e dessas lutas, que aliam o conhecimento tradicional, camponês e popular, com o apoio de uma ciência da vida e não da morte e da omissão, florescem inúmeras experiências que constatamos em várias comunidades que visitamos. 

A Caravana também revelou o protagonismo das mulheres nos processos de luta e resistência. Os laços comunitários e a solidariedade como princípio que as organiza são historicamente construídos por elas mesmas e o reconhecimento do seu protagonismo na formulação e construção de alternativas ao modelo de desenvolvimento é essencial para que se fortaleçam as experiências de resistência. Como consequência da divisão sexual do trabalho, que invisibiliza as mulheres e o cuidado que elas exercem em atividades como o cultivo de hortas agroecológicas, o trabalho doméstico e o cuidado com saúde da família, os impactos se expressam de forma mais contundente sobre elas: as mulheres. 

Somos contra o acordo celebrado pelos governos federal e estaduais de Minas Gerais e do Espírito Santo e as empresas responsáveis pela tragédia-crime que, firmado à portas fechadas e sem a participação dos atingidos e da sociedade, querem fugir das responsabilidades civis, criminais e financeiras, e querem controlar os investimentos sociais e de recuperação do Rio Doce, sem ferir os interesses da mineração e desse modelo perverso e assassino de desenvolvimento. 

Nós, da Caravana, nos comprometemos para que os processos e produtos de nossa Caravana permaneçam na memória coletiva da tragédia-crime, nas denúncias das violações cometidas contra direitos fundamentais, na responsabilização das empresas e organizações omissas, e no anúncio das transformações que apontam para a recuperação do rio e de uma sociedade mais justa e solidária, com processos econômicos e produtivos que respeitem as pessoas, comunidades, os povos e a natureza.

Produziremos e circularemos relatórios, fotos, filmes, materiais didáticos, informativos, dossiê de violação de direitos para divulgação internacional, participação e circulação em lutas, tribunais populares. Seguiremos juntos nessa luta, tão importante para as comunidades atingidas de Minas Gerais e Espírito Santo, e também para o país e o planeta que precisam de uma grande transformação, com pequenas e grandes ações. 

Somos todos pela luta da Reforma Agrária e da Agroecologia, somos todos juntos pelas lutas contra a violação dos direitos das inúmeras comunidades atingidas e pelas transformações que trarão dignidade e esperança na recuperação da Bacia do Rio Doce e na construção de outra sociedade e modelo de desenvolvimento. 

Não há recuperação do Rio Doce sem os Povos do Rio Doce! 

O futuro do Rio está com a sua gente! 

Somos todos Rio Doce! 

Somos todos atingidos! 

Governador Valadares, 16 de abril de 2016. 

Construíram e participaram da Caravana: 

ABA – Associação Brasileira de Agroecologia 

ABRASCO – Associação Brasileira de Saúde Coletiva 

AGB – Associação de Geógrafos Brasileiros, seção local Vitória, Niterói, Rio de Janeiro e Viçosa 

AMA – Articulação Mineira de Agroecologia 

AMEFA – Associação Mineira das Escolas Famílias Agrícolas 

ANA – Articulação Nacional de Agroecologia Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo 

ASA – Articulação do Semiárido 

Associação Comunitária das Nascentes e Afluentes da Serra do Caraça 

Associação de moradores de Regência Associação de Pescadores de Anchieta

Associação de Pescadores de Maria Ortiz - 

Colatina Associação dos Pescadores de Barra do Riacho Bem TV Brasil de Fato Brigadas Populares Cáritas Brasileira Cáritas Diocesana de Governador Valadares; CAT – Centro Agroecológico Tamanduá; Coletivo Repentistas do Desenho Comboio Agroecológico do Sudeste Comunidade de Areal (Regência) Comunidade de Entre Rios (Regência) Comunidade de Mascarenhas - Baixo Guandu CPT – Zona da Mata – Comissão Pastoral da Terra – Zona da Mata CTA-ZM – Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mara Diocese de Colatina – ES Diocese Mariana DPES - Defensoria Pública do Espirito Santo ECOA – Núcleo de Educação no Campo e Agroecologia UFV EFA Paulo Freire – Escola Familiar Agrícola Paulo Freire EFA Puris - Escola Familiar Agrícola Puris EFA Serra do Brigadeiro – Escola Familiar Agrícola Serra do Brigadeiro FETAEMG-GV – Federação Dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de Minas Gerais Fórum Capixaba de Entidades em Defesa do Rio Doce Fórum Mineiro de Economia Popular Solidária Fórum Regional de Economia Solidária de Governador Valadares. Gesta-UFMG Grupo de Pesquisa Tramas – UFCE IBASE Igreja Presbiteriana Indígenas Guarani Indígenas Krenak ITCP-UFV – Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares Levante Popular da Juventude LICENA- UFV – Curso de Licenciatura em Educação do Campo MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens MAM - Movimento pela Soberania Popular na Mineração MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra NAGÔ – Núcleo de Agroecologia de Governador Valadares – UFJF/GV NEDET-São Mateus – Núcleo de Desenvolvimento Territorial OCCA/UFES – Observatório de Conflitos no Campo/Universidade Federal do Espirito Santo ORGANON – Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Mobilizações Sociais - UFES POEMAS-UERJ Rádio Brota. Secretaria Estadual de Saúde MG SEMA – Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Agricultura e Abastecimento de Governador Valadares SHIVA – Serviço Humanitário Informação Vida e Arte - Colatina Sindibancários ES – Sindicato dos Bancários do Espirito Santo SINDUTE MG (Subsede Ouro Preto e região) – Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais SISPMC – Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Colatina - ES STR-GV – Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Governador Valadares TV CARAVELAS UFJF-GV – Universidade Federal de Juiz de Fora-Campus Governador Valadares. 

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Enem 2016. MEC divulga as datas de provas e inscrições.

As provas acontecerão dias 5 e 6 de novembro e as inscrições ocorrem de 9 a 20 de maio

Foto MEC divulga as datas de provas e inscrições do Enem 2016
SÃO LUÍS- O Ministério da Educação divulgou as datas de realização das provas e das inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio 2016.  Segundo o MEC, as provas acontecerão nos dias 5 e 6 de novembro e o período de inscrições será de 9 a 20 de maio.
O exame, neste ano, conta com algumas novidades. Foi criado o aplicativo “Enem 2016”, que reúne conteúdos, simulados, exercícios, plano de estudos personalizado, videoaulas e notícias atualizadas sobre a prova. E possibilita, também, o armazenamento dos dados da inscrição e senha do candidato no próprio aplicativo. O app é gratuito e estará disponível para iOS e Android. Outra novidade, refere-se a segurança na aplicação das provas. Pela primeira vez será realizado o reconhecimento individual, através da biometria, onde a impressão da digital do participante será impressa na sua ficha de identificação por meio de selo gráfico, autoadesivo.
As inscrições irão custar R$ 68 e o pagamento deverá ser efetuado até o dia 25 de maio em qualquer agência bancária, casa lotérica ou agência dos Correios. Estarão isentos do pagamento, estudantes concluintes do ensino médio em 2016 matriculados em escolas da rede pública e pessoas que declarem carência socioeconômica. Os isentos que não comparecerem nos dias de prova, perderão o benefício na próxima edição.
Travestis e transexuais que pretendem ser identificados pelo nome social devem fazer a inscrição normalmente, no período estabelecido no edital, de 9 a 20 de maio. Entretanto, para usar o nome social, precisam encaminhar cópia de documento de identificação, foto recente e formulário disponível on-line, preenchido, entre os dias 1 e 8 de junho, pelo sistema, na página do participante.
O Enem é usado como critério de acesso à educação superior por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e do Programa Universidade para Todos (ProUni). A participação na prova, também, é requisito para receber o benefício do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), participar do programa Ciência sem Fronteiras ou ingressar em vagas gratuitas dos cursos técnicos oferecidos pelo Sistema de Seleção Unificada da Educação Profissional e Tecnológica (Sisutec). Além disso, estudantes maiores de 18 anos podem obter a certificação do ensino médio por meio do exame.
O Ministério da Educação estima que 8 milhões de pessoas se inscrevam para o Enem 2016. No Maranhão, na última edição, foram registradas 270.601 inscrições. A Universidade Federal do Maranhão registrou a maior concorrência do Brasil, com 56,3 candidatos por vaga, na edição 2016 do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
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SURGEM PROVAS CONCRETAS QUE HUGO CHÁVES FOI ASSASSINADO.


HUGO CHÁVEZ E SEU PROVÁVEL ASSASSINO

A revista ''Conterpunch''publicou nesta sexta-feira dia 22 de abril de 2016 uma reveladora entrevista com Eva Golinger, Advogada, Escritora e Investigadora Norte-americana nacionalizada venezuelana, autora de  ''El Codigo Chávez'' de 2005.

Você acha que Hugo Chavez foi assassinado e, em caso afirmativo, quem você acha que pode ter  estar envolvido?

Eva Golinger - Eu acredito que há uma forte possibilidade de que o presidente Chávez foi assassinado. Houveram tentativas de assassinato notórios e documentados contra ele ao longo de sua presidência. O mais notável foi o 11 de abril de 2002 o golpe de Estado, durante o qual ele foi sequestrado e previsto para ser assassinado se não tivesse sido pela a insurreição sem precedentes do povo venezuelano e as forças militares leais que o resgataram e ele voltou  ao poder dentro de 48 horas . Eu era capaz de encontrar provas irrefutáveis ​​utilizando o Freedom of Information Act (FOIA), que a CIA e outras agências dos EUA estavam por trás desse golpe e apoiado, financeira, militar e politicamente, estando  envolvidos. Mais tarde, houve outras tentativas contra Chávez e seu governo, como em 2004, quando dezenas de paramilitares colombianos foram capturados em uma fazenda fora de Caracas onde estavam sendo treinados por um ativista anti-Chávez, Robert Alonso, poucos dias antes de eles estavam indo para atacar o palácio presidencial e matar Chávez.

Houve uma outra tentativa  menos conhecida contra Chávez descoberto em New York   durante sua visita à Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro de 2006. De acordo com informações fornecidas por seus serviços de segurança, durante o reconhecimento de um evento em que Chávez abordaria os EUA sobre a segurança padrão pública  individual, numa conhecida universidade local, altos níveis de radiação foram detectados na cadeira onde ele  iria se sentar. A radiação foi descoberta  por um detector de Geiger, que é um dispositivo de detecção de radiação portátil . As  seguranças presidenciaveis usa   para assegurar  que um Presidente não está em risco de exposição a raios nocivos. Neste caso, a cadeira foi removida e testes posteriores mostraram que emanava quantidades incomuns de radiação que poderia ter resultado em danos significativos para Chávez caso tivesse sentado ali. De acordo com relatos  dasegurança presidencial no evento, um indivíduo  dos EUA que tinha  se envolvido no apoio logístico para o evento e tinha fornecido a cadeira  e acabou-se descobrindo  estar agindo aserviço dos serviços de inteligência dos EUA.

Havia vários outros atentados contra a sua vida que foram frustrados pelas agências de inteligência venezuelanas e, particularmente, a unidade de contra-espionagem da Guarda Presidencial que afirmou descobrir e impedir tais ameaças. Uma outra tentativa bem conhecida foi em julho de 2010, quando Francisco Chávez Abarca (nenhuma relação), em um trabalho criminoso com um terrorista de origem cubana Luis Posada Carriles, responsável pela explosão de uma avião cubano em 1976, matando todos os 73 passageiros a bordo, foi detido de entrar na Venezuela e mais tarde confessou que tinha sido enviado para assassinar Chávez. Apenas cinco meses antes, em fevereiro de 2010, quando o presidente Chávez estava em um evento perto da fronteira com a Colômbia, suas forças de segurança descobriram um atirador de elite  plantado há pouco mais de um quarto de milha de distância de sua localização, que depois foi neutralizado.

Embora esses relatos  possam  parecer ficção, eles são amplamente documentados e muito real. Hugo Chávez desafiou os interesses mais poderosos, e ele se recusou a curvar-se. Como chefe de estado da nação  com  as maiores reservas de petróleo do planeta, e como alguém que direta e abertamente desafiava os EUA e a dominação ocidental, Chávez foi considerado um inimigo de Washington e de seus aliados.

Então, quem poderia estar envolvido no assassinato de Chávez, se ele foi assassinado? Certamente não é  muito difícil imaginar o envolvimento do governo dos EUA em um assassinato político de um inimigo claramente - e abertamente -eue o  queria fora do quadro. Em 2006, o governo dos Estados Unidos formaram uma missão Gestora  especial para a Venezuela e Cuba sob a Direção de Inteligência Nacional. Esta unidade de inteligência de elite foi acusada de expandir as operações secretas contra Chavez e conduziu missões clandestinas fora de um centro de fusão de inteligência (CIA-DEA-DIA) na Colômbia. Algumas das peças que foram se unindo incluem a descoberta de vários assessores próximos a Chávez que tiveram acesso privado, desobstruídos a ele ao longo de períodos prolongados, que fugiram do país após sua morte e estão colaborando com o governo dos Estados Unidos. Se ele fosse assassinado por algum tipo de exposição a altos níveis de radiação, ou de outra forma inoculadas ou infectado por um vírus causador de câncer, que teria sido feito por alguém com acesso próximo a ele, em quem ele confiava.

Quem é Leamsy Salazar e como ele está ligado às agências de inteligência americanas?

Eva Golinger- Leamsy Salazar foi um dos assessores mais próximos de Chávez por quase sete anos. Ele era um tenente-coronel da Marinha venezuelana e tornou-se conhecido por Chávez depois que ele agitou a bandeira venezuelana do telhado do quartel da guarda presidencial no palácio presidencial durante o golpe de 2002, sinalizando que o resgate de Chavez estava em andamento. Ele se tornou um símbolo das forças armadas leais que ajudou a derrotar o golpe e Chavez recompensou-o, como um de seus assistentes. Salazar era tanto um guarda-costas e um assessor de Chávez, que lhe traria café e refeições, estava a seu lado, viajava com ele ao redor do mundo e protegia-o durante eventos públicos. Eu o conhecia e interagi com ele muitas vezes. Ele foi um dos rostos familiares que protegeramm Chavez por muitos anos. Ele era um membro chave do círculo da elite de segurança interna de Chávez, com acesso privado à Chávez e conhecimento privilegiado e altamente confidencial das idas e vindas de Chávez , a rotina diária, agenda e contatos.

Depois que Chávez faleceu em março de 2013, por causa de seu serviço prolongado e lealdade, Leamsy foi transferido para o  escritório de Diosdado Cabello, que era então presidente da Assembléia Nacional da Venezuela e considerado uma das figuras políticas e militares mais poderosas do país . Cabello foi um dos aliados mais próximos de Chávez. Deve-se notar que Leamsy  esteve com Chávez durante a maior parte de sua doença até à sua morte e tinha acesso privilegiado a ele que poucos tinham, até mesmo de sua equipe de segurança.

Surpreendentemente, em Dezembro de 2014, reportagens revelaram que Leamsy secretamente tinha sido levado para os EUA a partir de Espanha, onde teria saido em férias com sua família. O avião que o levou foi dito ser da DEA. Ele foi colocado em proteção a testemunhas e reportagens afirmaram que ele está fornecendo informações para o governo dos EUA sobre as autoridades venezuelanas envolvidas em um anel de alto nível de tráfico de drogas. A mídia de propriedade de oposição na Venezuela afirmava que ele deu detalhes acusando Diosdado Cabello de ser uma chefão de drogas, mas nenhuma dessas informações foi verificada de forma independente, nem temos registos judiciais ou alegações foram libertados, se existirem.

Outra explicação para sua ida para o programa de proteção a testemunhas nos EUA poderia incluir seu envolvimento no assassinato de Chávez, possivelmente feito como parte de um  projeto ultra-secreto da CIA, ou talvez até mesmo feito sob os auspícios da CIA, mas realizado por elementos corruptos dentro do governo venezuelano. Antes da liberação dos Panamá Papers, eu tinha descoberto acidentalmente e estava investigando um indivíduo perigoso corrupto, de alto nível dentro do governo, que Chávez tinha demitido anteriormente, mas que voltou depois de sua morte e foi colocado em uma posição ainda mais influente e poderosa. Este indivíduo também parece estar colaborando com o governo dos Estados Unidos. Pessoas assim, que permitem a ganância obscurecer sua consciência, e que estão envolvidos em atividades criminosas lucrativas, também poderia ter desempenhado um papel em sua morte.

Por exemplo, os Documentos do Panama expuseram  outro ex-assessor de Chávez, o capitão do Exército Adrian Velasquez, que era responsável pela segurança da filha de Chavez  e a esposa do capitão Velasquez, uma ex-oficial da Marinha, Claudia Patricia Diaz Guillen, que era enfermeira de Chávez durante vários anos e tinha acesso privado, sem supervisão para ele. Além disso, Claudia administrava medicamentos, alimentação  junto a outros profissionais de saúde e de materiais relacionados com os alimentos a Chávez durante um período de anos. Apenas um mês antes de sua doença mortal  descoberta em 2011, Chávez nomeou Claudia como Tesoureira da Venezuela, colocando-a no comando de dinheiro do país. Ainda não está claro por que motivo ela foi nomeada a esta posição importante, considerando que ela já tinha sido sua enfermeira e não tinha experiência semelhante. Ela foi destituída do cargo logo após o falecimento de Chávez. 

Ambos Capitão Velasquez e Claudia apareceram  nos documentos de Panamá como proprietários de uma empresa de fachada com milhões de dólares. Eles também possuem uma  propriedade em uma área da alta elite na República Dominicana, Punta Cana, onde as propriedades custam na casa dos milhões, e eles tenham residido pelo menos desde Junho de 2015. 

Os documentos mostram que logo após Chávez falecer e Nicolas Maduro foi eleito presidente em Abril de 2013, o capitão Velasquez abriu uma empresa off-shore em 18 de abril de 2013 através da empresa panamenha Mossack Fonesca, chamado Bleckner Associates Limited. A empresa de investimento financeiro suíço, V3 Capital Partners LLC, afirmou que gere os fundos do capitão Velasquez, cujo número é na casa dos milhões. É impossível para um capitão do exército ter ganhado essa quantidade de dinheiro através de meios legítimos. Nem ele nem a sua esposa, Claudia, voltaram a Venezuela desde 2015.

O Capitão Velasquez esteve especialmente ligado  com Leamsy Salazar.

- Você pode explicar as circunstâncias suspeitas em que Salazar foi levado para fora da Espanha para a segurança dos Estados Unidos em um avião pertencente ao Drug Enforcement Administration (DEA)? Isso não lhe parece um pouco estranho? No mínimo, isso sugere que Salazar estava agindo como um agente para um país que é abertamente hostil para Venezuela? Isso faz com que ele seja um colaborador ou um traidor. Você concorda?

Eva Golinger - Claro que era altamente suspeito que Salazar foi levado para fora da Espanha, onde teria  estado em férias com sua família, e levado para os Estados Unidos em um avião da DEA. Não há dúvida de que ele estava colaborando com o governo dos EUA e traiu seu país. O que continua a ser visto é o qual o seu papel exato era. Será que ele administrou o veneno que assassinou  a Chávez, ou foi um dos seus parceiros, como o capitão Velasquez ou a enfermeira / tesoureira Claudia?



Enquanto tudo isso pode soar muito da teoria de conspiração estes são fatos que podem ser verificados de forma independente. Também é verdade, de acordo com documentos secretos norte-americanos desclassificados, que o Exército dos EUA estava desenvolvendo uma arma de radiação injetável a ser usado para assassinatos políticos  inimigos, já em 1948. audiências da Comissão da Igreja sobre o assassinato de Kennedy também descobriu a existência de um arma de morte desenvolvida pela CIA para induzir ataques cardíacos e câncer de tecidos moles. 

Chavez morreu de um câncer dos tecidos moles agressivo. No momento em que foi detectado já era tarde demais. Há outras informações lá fora a documentar o desenvolvimento de um "vírus do câncer" que seria usado como arma e supostamente usada para matar Fidel Castro nos anos 1960. Sei que a maioria pode achar  ser ficção científica, mas é só fazer sua pesquisa e ver o que realmente existe. 

Eu não acredito que tudo o que li como qualquer um. Como uma advogada e jornalista de investigação, eu preciso de provas concretas, e múltiplas, fontes verificáveis. Mesmo que apenas  tenha ido no documento oficial do Exército dos EUA de 1948, é um fato que o governo dos EUA estava em processo de desenvolvimento de uma arma de radiação para assassinatos políticos. Mais de 60 anos depois, só posso imaginar que já existem capacidades tecnológicas .

- Você pode explicar por que o DEA esteve envolvido nesta operação e não a CIA como muitos esperariam?

Eva Golinger- Acho que A CIA esta envolvida. Eles trabalham juntos em casos políticos de alto nível, e eles estavam operando fora do Centro de Fusão de Inteligência na Colômbia em conjunto. Por que e DEA e não A CIA que trouxe Leamsy Salazar para os EUA ainda não foi revelado, mas eu não acho que isso significa que a CIA não estava envolvidA em toda a operação.

-. Você poderia por favor nos dizer o que sua perda significou para você, pessoalmente, e como sua morte afetou o povo da Venezuela?

Eva Golinger- A perda de Hugo Chavez foi esmagadora. Ele era meu amigo e eu passei  quase dez anos, como sua assessora. O vazio que ele deixou é impossível substituir. Apesar de suas falhas humanas, ele tinha um coração enorme e realmente se dedicou a construir um país melhor para o seu povo, e um mundo melhor para a humanidade. Ele se importava profundamente sobre todas as pessoas, mas especialmente os pobres, abandonados e marginalizados.

Há uma foto tirada de Chavez por um espectador, depois de ter estado em um evento no centro de Caracas e estava andando através de uma grande praça que tinha sido afastada pela segurança. De repente, ele viu um jovem, desgrenhado e aparentemente drogado, mal conseguia se manter de pé, vestindo roupas esfarrapadas. Para o horror de seus seguranças, Chávez foi até ele e amorosamente colocou o braço em torno dele e ofereceu-lhe uma xícara de café. Ele não julga o pobre rapaz ou o repreende, ou mostra desgosto. Ele tratou-o como um ser humano sujeito que merecia ser visto com dignidade. Ele ficou lá com ele por um tempo, apenas contando histórias e conversando como velhos amigos. Quando ele tinha que ir, ele disse a um de seus guardas para oferecer ao homem toda a ajuda que precisava.

Não havia câmeras lá,  nem TV,  nem público. Não foi um golpe publicitário. Ele era genuíno, cuidava sinceramente  e tinha muita preocupação para um ser humano em necessidade. Apesar de ser presidente e um poderoso chefe de Estado, Chávez sempre se viu como um igual para todas as pessoas.

Sua morte inesperada teve um trágico saldo na Venezuela. Infelizmente, aqueles que ele deixou no comando têm sido incapazes de gerir o país através deste tempos difíceis. Uma combinação de corrupção e sabotagem externa por forças de oposição (com apoio estrangeiro) paralisou a economia. 

Má gestão tem sido generalizada e destrutiva. agências dos EUA e seus aliados na Venezuela têm aproveitado a oportunidade para desestabilizar ainda mais e destruir todos os vestígios remanescentes do chavismo. Agora eles estão tentando manchar e apagar o legado de Chávez, mas eu acredito que esta é uma tarefa impossível. 

Mesmo que o governo atual não sobreviva aos ataques cruéis contra ele, a memória de Chavez na casa dos milhões de pessoas que ele impactou e melhorou a vida , irá enfrentar a tempestade. O"Chavismo" tornou-se uma ideologia fundada em princípios de justiça social e dignidade humana. Mas as pessoas sentem falta dele terrivelmente? Sim.

Uma versão desta entrevista está disponível  na Telesur em: http://www.telesurtv.net/english/opinion/Golinger-Chavez-Assassination-Attempts-Documented-Very-Real-20160413-0025.html

Ministério da Justiça declara Terra Indígena Riozinho no Amazonas, como de posse permanente dos povos Kokama e Tikuna.


Mônica Carneiro, Funai.
Foi publicada, hoje (25), a Portaria nº 485, de 22/04/2016, assinada pelo Ministro da Justiça, que declara a Terra Indígena Riozinho, localizada nos municípios Juruá e Jutaí – AM, como de posse permanente dos povos indígenas Kokama e Tikuna.
A terra indígena, com superfície aproximada de 362.495 hectares e perímetro aproximado de 461 km, foi identificada na forma com que preconiza a Constituição Federal. Em termos ambientais, os limites identificados abrangem as áreas necessárias ao bem-estar dos povos Kokama e Tikúna do Riozinho, à prática de suas atividades produtivas e à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições, correspondendo, portanto, ao disposto no artigo 231 da Constituição Federal brasileira. Assim, estão asseguradas as condições de sustentabilidade dos recursos naturais imprescindíveis para as atuais e futuras gerações de indígenas que habitam a TI Riozinho.
Durante os estudos do Grupo Técnico responsável pela identificação e delimitação do território tradicional indígena, foram percorridos os limites da terra sem que tenham sido encontrados quaisquer sinais de ocupação não-indígena na área. Todavia, as lideranças relataram a ocorrência de invasões sazonais para pesca e caça e, ainda, invasões ocasionais para a retirada de madeira. De forma semelhante, não foram encontrados títulos ou matrículas de glebas no interior da TI nos levantamentos cartoriais realizados nas Comarcas dos municípios de Jutaí, Fonte Boa, Tefé e Juruá.
Após declarada pelo MJ, haverá ainda o trabalho de demarcação física da área, a cargo da Funai. A fase seguinte do procedimento administrativo de regularização fundiária corresponde à homologação pela Presidência da República.
Imagem: Família de Índios katukinas da aldeia Janela  viajam de barco feito de casca de árvore, encontrados  no rio Biá , durante expedição da FUNAI ao Vale do Rio Javari. FOTO: J.F.DIORIO/AE.

Fotógrafo brasileiro ganha Pulitzer 2016 e é contra o golpe.

(Foto: Mauricio Lima/The New York Times/The Pulitzer Prize)
O Fotógrafo brasileiro Maurício Lima ganhou nesta segunda-feira (18), juntamente com os colegas do jornal The New York Times, Sergey Ponomarev, Tyler Hicks, Daniel Etter,  oPrêmio Pulitzer 2016, um dos mais prestigiados do fotojornalismo mundial, na categoriaBreaking News Photography. O trabalho premiado retrata a jornada dos refugiados na Europa.
Lima concedeu entrevista para a Mídia Ninja, onde se posicionou contra o golpe e a favor da democracia. Defendeu, ainda, a democratização da mídia e criticou a cobertura dos grandes jornais.
Veja a entrevista completa e confira biografia e trabalho dos fotógrafos vencedores napágina oficial do Prêmio Pulitzer 2016.
(Foto: Mauricio Lima/The New York Times/The Pulitzer Prize)
(Foto: Mauricio Lima/The New York Times/The Pulitzer Prize)
(Foto: Mauricio Lima/The New York Times/The Pulitzer Prize)
(Foto: Mauricio Lima/The New York Times/The Pulitzer Prize)
(Foto: Mauricio Lima/The New York Times/The Pulitzer Prize)
(Foto: Mauricio Lima/The New York Times/The Pulitzer Prize)
(Foto: Mauricio Lima/The New York Times/The Pulitzer Prize)
(Foto: Mauricio Lima/The New York Times/The Pulitzer Prize)
(Foto: Mauricio Lima/The New York Times/The Pulitzer Prize)
Link original:http://f21.sul21.com.br/2016/04/20/fotografo-brasileiro-ganha-pulitzer-2016-e-e-contra-o-golpe/
(Foto: Mauricio Lima/The New York Times/The Pulitzer Prize)


Escalada nuclear na Europa.

Foto - Voltaire.org
A Casa Branca está «preocupada» porque caças russos sobrevoaram de perto um navio estadunidense no Mar Báltico. Assim informam as agências noticiosas. Sem dizer, entretanto, de que navio se trata e por que estava no Mar Báltico.
Trata-se do USS Donald Cook, um dos navios dentre as quatro unidades lança-míseis deslocados pela Marinha dos EUA para a «defesa de mísseis da Otan à Europa». Essas unidades, que serão aumentadas, são dotadas de radar Aegis e de mísseis interceptadores SM-3, mas ao mesmo tempo de mísseis de cruzeiro Tomahawk de dupla capacidade convencional e nuclear. Em outros termos, são unidades de ataque nuclear, dotadas de um « escudo » destinado a neutralizar a resposta inimiga.
Donald Cook, partindo em 11 de abril do porto polonês de Gdynia, cruzou por dois dias a apenas 70 quilômetros da base naval russa de Kaliningrado, e por essa razão foi sobrevoado pelos caças e helicópteros russos. Além dos navios lança-mísseis, o «escudo» EUA/Otan na Europa inclui, na sua conformação atual, um radar «na base avançada» da Turquia, uma bateria de mísseis terrestres estadunidenses na Romênia, composta de 24 mísseis SM-3, e uma outra análoga que será instalada na Polônia.
Moscou adverte: essas baterias terrestres, tendo capacidade de lançar também mísseis nucleares Tomahawk, constituem uma evidente violação do Tratado INF, que proíbe o deslocamento para a Europa de mísseis nucleares de médio porte.
Que fariam os Estados Unidos – que acusam a Rússia de provocar com os sobrevoos «uma escalada inútil de tensões» – se a Rússia enviasse unidades lança-mísseis ao longo das costas estadunidenses e instalasse baterias de mísseis em Cuba e no México?
Ninguém pergunta sobre isso na grande mídia, que continua a mistificar a realidade. Última novidade escondida: a transferência de F-22 Raptors, os mais avançados dos caças bombardeiros estadunidenses de ataque nuclear, da base de Tyndall na Flórida à de Lakenheath na Inglaterra, anunciada em 11 de abril pelo Comando europeu dos Estados Unidos. Da Inglaterra os F-22 Raptors serão «deslocados para outras bases da Otan, em posição avançada para maximizar as possibilidades de treinamento e exercer uma dissuasão em face de qualquer ação que desestabilize a segurança europeia».
Trata-se da preparação para o iminente deslocamento para a Europa, incluindo a Itália, das novas bombas nucleares estadunidenses B61-12 que, lançadas a cerca de 100 quilômetros de distância, atingem o objetivo com uma ogiva «de quatro opções de potência selecionáveis».
Esta nova arma entra no programa de potencialização das forças nucleares, lançado pela administração Obama, que prevê entre outras coisas a construção de 12 submarinos de ataque suplementares (7 bilhões de dólares a unidade, estando o primeiro já em canteiro de obras), cada um armado com 200 ogivas nucleares.

O New York Times informa [1] que está em curso o desenvolvimento de um novo tipo de ogiva nuclear, o «veículo flutuante hipersônico» que, ao retornar à atmosfera, manobra para evitar os mísseis interceptadores, dirigindo-se para o objetivo a mais de 27 mil quilômetros por hora. A Rússia e a China seguem, desenvolvendo armas análogas.
Durante esse tempo, Washington colhe os frutos. Transformando a Europa em primeira linha do confronto nuclear, sabota (com a ajuda dos próprios governos europeus) as relações econômicas entre a União Europeia (UE) e a Rússia, com o objetivo de ligar indissoluvelmente a UE aos EUA por intermédio do TIP. Impulsiona ao mesmo tempo os aliados europeus a aumentar a despesa militar, para lucro das indústrias bélicas estadunidenses cujas exportações aumentaram 60% nos últimos cinco anos, tornando-se o mais forte setor das exportações estadunidenses.
Quem disse que a guerra não paga?

Tradução - José Reinaldo Carvalho 
Editor do site Resistência
Manlio Dinucci
Manlio DinucciGeógrafo e geopolítico. publicações :Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014