Por Carlos Castilho em 23/05/2013.
Não sabe ou não quer saber. Esta é a dúvida, porque
informação não é o que deveria estar faltando na mesa de um repórter ou
editor. A internet é um dos assuntos onipresentes na agenda de uma
redação, mas por incrível que pareça uma das mais rentáveis áreas do
jornalismo está sendo explorada, com muito sucesso, por não jornalistas.
A matéria-prima do jornalismo são os dados, fatos, eventos e processos
que depois de contextualizados e publicados se transformam em
informação, um bem que está sendo disputada a tapa por
algumas das mais poderosas empresas do mundo financeiro, industrial,
agrícola e comercial.
E é justamente essa matéria-prima informativa que
jaz inerte nos arquivos digitais ou físicos de empresas jornalísticas
cuja sobrevivência está ameaçada por conta da crise no seu modelo de
negócios.
O imenso volume de informações acumuladas pelas empresas jornalísticas é tratado como arquivo morto e não como insumo para sistemas de processamento baseados na teoria dos Grandes Dados (tradução literal do jargão Big Data), um dos mais revolucionários subprodutos da inovação tecnológica contemporânea.
Grandes Dados é um conceito genérico para conjuntos de
dados em volumes tão grandes que os números já não são mais capazes de
representá-los de forma significativa. Trata-se de uma realidade nova
criada pela avalanche informativa e que inexistia até o surgimento da
internet e da digitalização. Uma realidade que está mudando nossos conceitos tradicionais de medição e avaliação.
Foi movido pela ideia dos Grandes Dados que um jovem empreendedor
norte-americano, Bradford Cross, e o PhD linguagem computacional Aria
Haghighi criaram o projeto Prismatic para
garimpar informações jornalísticas, que já está no terceiro ano de
funcionamento.
Os dois chegaram ao Prismatic, acredite quem quiser, a
partir do sucesso de um programa gratuito que prevê atrasos de voos comerciais
nos Estados Unidos e que foi vendido, em 2011, por várias dezenas de
milhões de dólares. Todo o desenvolvimento do programa custou 800 mil
dólares.
Cross e Haghighi simplesmente pegaram dados públicos de vários milhões
de voos domésticos e internacionais de companhias aéreas americanas
durante os últimos 40 anos, e misturaram com outros milhões de
informações meteorológicas e registros de centenas de aeroportos para
criar uma megabase de dados de onde saíram previsões que deixaram
boquiabertas as autoridades aeronáuticas, companhias de aviação, agentes
de turismo e, principalmente, os passageiros. Foi um sucesso instantâneo de acessos pelo público.
Trata-se de uma questão cultural,
porque os donos de grandes arquivos geralmente os acumularam com outros
objetivos, aos quais se agarraram sem perceber que o entorno de seus
negócios mudou.
É o caso, por exemplo, das empresas de cartões de crédito, que acumularam durante anos dados valiosíssimos sobre os hábitos de consumo
de seus usuários mas estavam apenas preocupadas em administrar rápida e
eficientemente o pagamento das contas.
Há dois anos elas se deram
conta da mina de ouro que haviam acumulado e hoje ganham tanto dinheiro
comercializando as informações que já poderiam deixar de cobrar
anuidades dos usuários, sem que seus orçamentos sofressem o mínimo
baque.
As empresas jornalísticas possuem um registro de fatos, dados, eventos e
processos nos mais variados campos da atividade social, econômica,
política, cultural e esportiva em nível internacional, nacional,
regional e local. Algo que ninguém tem e cujo valor é incomensurável.
Só para citar um exemplo: caso um investidor desejasse iniciar um
mega empreendimento no entorno de uma grande cidade ele poderia comprar de um jornal um informe com dados
processados sobre a região escolhida num lapso de tempo de várias
décadas, com um grau de certeza infinitamente maior do que um
levantamento pontual.
O investidor pagaria algumas centenas de milhares
de reais pelo estudo e ainda sairia no lucro porque estaria evitando
prejuízos de milhões caso o investimento esbarrasse em questões
ambientais de longo prazo, por exemplo.
O problema está na cultura empresarial predominante entre os nossos executivos de empresas jornalísticas, em sua maioria herdeiros de tradições analógicas.
Na luta pela manutenção de seu negócio acabaram inteiramente absorvidos
pela dinâmica financeira, perdendo oportunidades óbvias que acabam
sendo detectadas, em geral, por quem não tem nada a ver com o
jornalismo.