domingo, 12 de outubro de 2014

São Paulo: Onde os tucanos não têm vez: em Hortolândia, política na rua muda a eleição.

Único município onde Alckmin não venceu, chamada de 'cidade-dormitório' no passado, Hortolândia melhora índices sem depender do governo do estado.
por Redação RBA publicado 10/10/2014 14:29, última modificação 10/10/2014 18:49
São Paulo – Em ato com a militância paulista do PT na noite de ontem (9), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva listou os nomes das cidades que já foram ou são governadas pelo partido no estado para enfatizar que, apesar da reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) no primeiro turno, com 57% dos votos, em São Paulo "tem muito petista, sim". Hortolândia é a prova: a cidade, a 110 quilômetros da capital, foi a única a dar vitória ao petista Alexandre Padilha, que ficou à frente de Paulo Skaf (PMDB) e Alckmin. O fato deu ao prefeito Antonio Meira lugar de destaque nos palanques, desde que saíram os resultados do primeiro turno das eleições, realizado no último domingo (5).
Enquanto cientistas políticos tentam decifrar como Alckmin mantém-se firme como primeira opção do eleitorado paulista apesar dos problemas graves de gestão, a explicação para o sucesso petista em Hortolândia é simples para as lideranças locais. "É rua, rua e rua", resume a deputada estadual Ana Perugini (PT), eleita deputada federal com a preferência de 50 mil dos 140 mil eleitores da cidade. "Faço reuniões todos os dias. Não gosto de cavalete, de campanha no meio da rua, carro de som. Prefiro campanha nas casas, com muitas reuniões, com um período maior de diálogo com as pessoas", afirma.
Segundo Ana Perugini, a tradição de montar rodas de diálogo com a população remonta à história da própria cidade, construída paralelamente ao PT e a movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) – que, em 1985, fundou ali um dos primeiros assentamentos, o Assentamento 2.
Hortolândia é um município jovem, que surgiu como distrito da cidade vizinha Sumaré, onde, a partir dos anos 1970, diversas famílias de operários, muitos vindos de outros estados ou de outras cidades paulistas, chegaram com o objetivo de buscar emprego nas indústrias da região de Campinas. A emancipação veio em 1991, quando a cidade ainda era vista como "dormitório" e a estrutura para os moradores era pouca. "Naquele período, tínhamos muita 'fartura': 'fartava' tudo. Faltava água, luz, transporte público, escola, e, por isso, nos organizamos em torno das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) para mudar isso", conta Ana.
Formada quase inteiramente por trabalhadores, sem uma classe média tradicional, e uma elite local pequena, a cidade foi construída coletivamente, uma conquista por vez. "Foi uma trajetória de lutas da cidade em que nunca nada foi dado de presente. Eu acredito que isso seja muito importante nesse processo de construção, porque, de lá para cá, não mudamos nossa prática", avalia a deputada, para quem o "grande crime" da mídia tradicional é criar ojeriza à política.
"As transformações acontecem pela política e não pela negação da política. Existe uma campanha permanente contra a política, e, durante a campanha, nós tivemos um período muito curto para defender os processos democráticos. Deveríamos ter mais tempo de campanha para poder fazer o diálogo", reclama a deputada.
RBA
Ana
Deputada Ana Perugini durante reunião com comunidade de Hortolândia

Educação política

O diálogo político permanente com a população é uma das diretrizes elencadas pelo prefeito Antonio Meira como diferencial da gestão municipal de Hortolândia: quando o PT assumiu o governo pela primeira vez, em 2004, com Ângelo Perugini, deu início à aplicação do Orçamento Participativo, programa de consulta popular que colhe sugestões da população para a definição do orçamento anual da prefeitura. A partir da eleição de Meira, a administração municipal buscou um novo modelo e substituiu o OP pelo Prefeitura na Comunidade, caravana do primeiro escalão do governo municipal que vai aos bairros da cidade quinzenalmente coletar sugestões e reclamações. Eventualmente, ajuda a explicar o funcionamento do poder público.
"Duas vezes por mês, toda a equipe de secretariado vai aos bairros para atender às demandas da população. Preferimos esse modelo porque o Orçamento Participativo tradicional é apenas anual, envolvia menos as pessoas", conta Meira. "E então, enquanto você discute os serviços da prefeitura, explica também o que é responsabilidade do governo federal e do governo estadual. Mães vêm reclamar quando seus filhos chegam ao ensino médio e eu tenho de dizer que, apesar do apoio que a prefeitura dá, esse serviço é do governo estadual", avalia Meira, sobre os motivos pelos quais a população de Hortolândia é mais inclinada a reprovar o governo do PSDB.
"O governo do estado tem sido inerte em nossa cidade. Na questão da segurança pública, por exemplo. Se o município parar de pagar o aluguel das delegacias, vamos perder quatro postos, entre civis e militares. A prefeitura paga aluguel, água, luz, telefone e fornece funcionários. Tenho de fazer, inclusive, uma homenagem a esses homens que se expõem e arriscam suas vidas para salvar as nossas, com uma estrutura totalmente inadequada, uma viatura sem condições", lamenta o prefeito.
Contam a favor da administração na cidade, ainda, os resultados da última década: redução do desemprego de 17% para 2% com atração de empresas de alta tecnologia, elevação da coleta de esgoto de zero para 85%, além de parcerias importantes com o governo federal, como a construção de 3 mil moradias populares pelo Minha Casa, Minha Vida, obras visíveis na entrada da cidade. "Se a população sabe as responsabilidades dos governos, pode comparar gestões", pontua o prefeito.
O investimento mais visível do governo do PSDB na cidade, embora este seja parceiro do projeto do Minha Casa, Minha Vida, é o complexo que soma uma penitenciária e três Centros de Detenção Provisória (CDPs), com capacidade para 5,3 mil detentos. A cadeia foi inaugurada em 1986, quando a cidade ainda era distrito de Sumaré, mas os três CDPs foram entregues em 2003, já na gestão de Alckmin.

Investimento em cultura

O atendimento gradual às demandas mais concretas dos moradores de Hortolândia abriu espaço para outro fronte, normalmente negligenciado pelos governos: a cultura. O município é um dos mais ativos em parcerias com o Ministério da Cultura e um dos poucos no estado a contar com um Plano Municipal de Cultura. "A Secretaria de Cultura foi criada em 2011, desmembrada da antiga Secretaria de Esporte, Cultura e Lazer. Essa secretaria havia sido criada em 2008. Antes disso, havia apenas uma diretoria de cultura na Secretaria de Educação", conta Patrícia Banhara, diretora municipal de Cultura.
A partir de consultas populares ao longo de 2012, o município firmou metas para os próximos dez anos na área cultural em lei aprovada na Câmara Municipal, com garantia de orçamento mínimo de 1% destinado à pasta. "São diretrizes que não estão em uma planilha de Excel, mas em lei. Mesmo que houvesse mudança de governo, estaria garantido o investimento. Nós sabemos como a área da cultura é a primeira a receber cortes quando muda uma administração", analisa Patrícia.
RBA
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Jovens de Hortolândia fazem grafiti em biblioteca como parte de oficina cultural




















O orçamento total da Secretaria de Cultura, incluídos salários de funcionários, é de R$ 7,8 milhões anuais, de um total de R$ 68 milhões anuais – pouco mais de 10%. A principal ação municipal são os editais de credenciamento para artistas locais, que apresentam projetos para ministrar oficinas públicas.

Assim, a prefeitura busca remunerar a produção local e multiplicar as oportunidades para novos artistas. O próximo objetivo é conquistar reconhecimento de nível técnico aos diplomas de música oferecidos pela prefeitura.
"Cultura não é pílula contra violência, para o jovem ficar longe das drogas. Você pode capacitar para a produção, gerar renda, estabelecer como profissão. E assim você incentiva a circulação cultural no município", diz Patrícia. Com Pontos de Cultura ativos há três anos, a prefeitura aguarda o redesenho do programa Mais Cultura para apresentar projetos a novas unidades no município.
Com esse portfólio, Meira se diz "indignado" com as declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) sobre os "mais desqualificados" que votam no PT. "Vimos uma reação nas redes sociais lamentável. Naquele momento da apuração dos votos, quando só aqui venceu o PT, chamaram Hortolândia de Nordeste de São Paulo, com viés preconceituoso. Fiquei indignado. Nós somos uma cidade de todos e todas, formada, sim, por pessoas de todos os lugares. Esse é nosso maior valor", afirmou.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

PETROBRAS E PASADENA

http://encontrosp.blogspot.com.br/2014/10/petrobras-e-pasadena.html
1) O que é a Petrobras?
A Petrobras é uma empresa sociedade anônima de capital aberto, cujo acionista majoritário é o governo brasileiro, atua como uma empresa integrada de energia nos seguintes setores: exploração e produção, refino, comercialização, transporte, petroquímica, distribuição de derivados, gás natural, energia elétrica, gás-química e biocombustíveis
Ela nasce dia 3 de outubro de 1953, com a assinatura de Getúlio Vargas promulgando o decreto, com o objetivo de executar as atividades do setor petrolífero nacional.
A estatal é o resultado de uma campanha popular iniciada em 1946, cujo slogan permanece lembrado até os dias de hoje: “O Petróleo é nosso”.
Apesar de ter sido criada em 1953, a petrolífera só iniciaria suas operações no ano seguinte, após herdar do Conselho Nacional de Petróleo duas refinarias, que – juntas – produziam 2663 barris, o equivalente a 1,7% do consumo à época. O petróleo e seus derivados, em 1954, representavam 54% do consumo energético do País. (http://www.petrobras.com.br/pt/quem-somos/trajetoria/)
2) Mas ela não é puramente estatal? Há acionistas?
A Petrobras tem sócios privados desde seu início, apesar de sempre ter sido controlada pelo governo.
Em 1997, por meio da Emenda Constitucional nº 9 aprovada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2005-10-16/quebra-do-mon...), o governo vendeu parte de suas ações.
Isso não só tirou o poder do governo brasileiro sobre a empresa criada por Getúlio Vargas, como abriu o caminho para uma possível privatização (enquanto ela era monopólio estatal não poderia ser vendida).
3) Mas é verdade que o Fernando Henrique quis privatizar a Petrobras?
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse à Folha que o modelo de gestão da empresa no governo tucano (1995-2002) reduzia a exploração petrolífera, desmembrava a área de refino, inibia investimentos e deixava o custo para a empresa e o lucro para o setor privado.
Há inclusive documento no Fundo Monetário Internacional que comprova a tentativa do governo tucano de privatizar a estatal:
“The government intends to accelerate and further broaden the scope of its privatization program–already one of the most ambitious in the world. In 1999 it intends to complete the privatization of federal electricity generation companies, and in 2000 it will begin the privatization of the electricity transmission network. At the state level, most remaining state-owned electricity distribution companies are expected to be privatized in 1999. The government has also announced the intention to sell in 1999 its remaining shares of previously privatized companies (notably Light and CVRD), as well as the remaining portion of the noncontrolling share of Petrobrás. The legislative framework for the privatization or leasing of water and sewage utilities is being prepared. The government also intends to accelerate the privatization of toll roads and the sale of its redundant real estate properties. Total receipts from privatization are projected at around R$27.8 billion (nearly 2.8 percent of GDP) (of which R$24.2 billion at the federal level) in 1999 and at R$22.5 billion over the period 2000-2001.”
O governo também anunciou a intenção de vender em 1999 a parte remanescente nas participações de empresas previamente privatizadas (ressalta-se Light e Vale), assim como a participação remanescente das ações da Petrobras. (Tradução livre do trecho sublinhado:http://www.imf.org/external/np/loi/1999/030899.htm)

4) E o que aconteceu para que ela não fosse privatizada?
Quando o presidente Lula foi eleito, o projeto de privatizar foi deixado para trás.
Com a entrada do governo do PT, em 2002, o plano foi cancelado. A receita da Petrobras, no ano de 2002, era de R$ 69,2 bilhões. Em 2012, saltou para R$ 281,3 bilhões.
Nos governos do presidente Lula e da presidenta Dilma, a empresa aumentou em 73% a produção de petróleo nacional, ao passo que a produção mundial aumentou apenas 12%.
Segundo a própria Petrobras a companhia teve um crescimento de US$ 192,5 bilhões de valor de mercado, entre dezembro de 2002 e novembro de 2009, passando de US$ 15,4 bi para US$ 207,9 bi. (http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/2009/11/10/em-oito-anos-a-petro...)
Ou seja, durante o governo do presidente Lula, a Petrobras teve crescimento de 1250%.
5) Mas eu li em algum lugar que a Petrobras desvalorizou…
Não é exatamente isso. A Petrobras teve queda no valor de mercado quando comparamos os governos do PT. Passou a valer, em 2013 R$ 214 bilhões aproximadamente.
Ou seja em comparação ao governo tucano a Petrobras continua muito valorizada, mas isso ainda não explica tudo.
Na verdade, quem comprou ações da Petrobras com dinheiro do FGTS (prática incentivada pelo governo em 2000), teve uma valorização de 402%, enquanto os saldos dos que permaneceram com o dinheiro parado valorizou em torno de 90% durante o mesmo período.
Nos últimos meses as ações da petroleira tiveram valorização de mais de 50%.
6) O que faz uma empresa perder valor de mercado? Li que ela aumentou suas dívidas…
O Aumento de suas dívidas se deu por uma série de fatores que não refletem de modo algum, má gestão. O uso da gasolina (e, portanto, da Petrobras) para segurar a inflação e investimento em refinarias
Quando a presidenta Dilma escolhe não subir a inflação ela está fazendo uma opção clara em valorizar o salário dos trabalhadores. Com a inflação mais baixa e o salário mínimo mais alto, o salário da população rende mais, o que implica em maior poder de compra e aquecimento da economia.
A gasolina que nós colocamos em nosso carro não é igual ao petróleo que a Petrobras extrai. Antes ela precisa passar por algo que se chama ‘refino’.
A Petrobras toma dinheiro emprestado para financiar os seus investimentos, para produzir o petróleo do pré-sal, as novas refinarias, as novas fabricas de fertilizantes, os novos gasodutos e oleodutos.
7) E por que isso causa dívidas? Não é o que toda petroleira faz?
Não, nem todas as petroleiras participam de todo o processo, algumas só refinam, outras só extraem, etc.
Mas a questão é que a Petrobras não tinha capacidade de refino do óleo extraído. A última refinaria em solo brasileiro, antes do governo da presidenta Dilma, havia sido inaugurada em 1976 (Refinaria Getúlio Vargas).
Depois de 1976, a Petrobras voltou a construir refinaria em solo nacional somente em 2009, ainda no governo Lula (http://pt.wikipedia.org/wiki/Refinaria_Potiguar_Clara_Camarão).
Depois disso, iniciaram-se as construções das Refinarias: Abreu e Lima (com previsão de entrega para 2014); Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (68% das obras concluídas até janeiro de 2014); Refinaria Premium I e Premium II.
Quando a empresa opta por construir refinarias, ela necessariamente precisa investir dinheiro. Daí ela tira dinheiro de caixa ou pega empréstimo. Pegando empréstimo a dívida bruta aumenta, mas o caixa se mantém.
8) Mas por que é ruim refinar fora do país?
Porque encarece a gasolina. A gasolina é um dos principais fatores para aumento da inflação, sobretudo num país que usa quase exclusivamente as rodovias como modo de distribuir a produção interna.
Então o que fez o governo? Para não subir a inflação, obrigou a Petrobras a segurar o preço da gasolina. Sem repassar os custos aos consumidores finais, a estatal tem prejuízo.
9) Mas isso não é ruim?
É uma escolha, social. A inflação baixa faz render o salário dos trabalhadores, especialmente daqueles que ganham menos.
10)   Então a saúde financeira da Petrobras está em risco?
Não. O caixa da Petrobras, segundo declarou a presidenta Graça Foster aos senadores no dia 15 de abril de 2014, possui 50 Bilhões de reais.
O empréstimo é pago de forma parcelada (e para grandes valores os juros costumam ser proporcionalmente menores, além de ter incentivos, etc.).
11) E essa história de contratar sem licitação?
O regime de contratação sem a necessidade de se licitar vem da DL 2.745 / 98 (Regulamento Procedimento Licitatório Simplificado).
Foi o presidente Fernando Henrique Cardoso, que a assinou.
Ela serve para dar agilidade às grandes contratações. No Brasil existem outras empresas produtoras de petróleo, que funcionam como empresas privadas e competem diretamente com a Petrobras.
O Regime Simplificado de Contratações serve para dar à Petrobras melhores condições de competir com o setor privado.
12) Isso é ruim?
Não necessariamente.
Foi uma boa medida do presidente FHC para agilizar os processos e com isso diminuir prejuízos.
Isso não significa que não há regras para a contratação, a estatal precisa apresentar 3 orçamentos, entre outras seguranças.
E tudo é fiscalizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), pela Controladoria Geral da União, além do Ministério Público Federal, já que a Petrobras ainda é uma estatal.
13) E quanto à corrupção? A Petrobras é corrupta?
Nenhuma empresa do porte da Petrobras está totalmente livre de ações corruptas. Mas a Petrobras é uma das empresas mais transparentes do mundo.
Em 2013 ela foi selecionada pelo oitavo ano consecutivo para integrar o Dow Jones Sustainability Index World (DJSI World) da Bolsa de Nova York, nos Estados Unidos.
No período, a empresa recebeu sete vezes nota máxima no critério transparência e agora também na categoria liberações ao meio ambiente. Houve destaque ainda nos critérios impacto social nas comunidades, políticas e sistemas de gestão ambiental e gerenciamento de risco e crise. O mais importante índice mundial de sustentabilidade, avalia as melhores práticas de gestão social, ambiental e econômica no mundo (http://www.enfpt.org.br/node/938).
A Petrobrás recebeu sete vezes nota máxima no critério transparência e agora também na categoria liberações ao meio ambiente.
14) E a Petrobras dá lucro?
Hoje, a Petrobras é líder mundial em exploração de águas profundas (http://www.enfpt.org.br/node/933).
A produção nacional de barris de petróleo também tem batido recordes, em 2011, estatal brasileira aumentou a produção diária de petróleo e gás em 1,6%, para 2,376 milhões de barris.
As reservas comprovadas subiram 2,7% e atingem 16,4 bilhões de barris. Exploração continua concentrada no Rio de Janeiro, que responde por 68% do total.
No exterior, empresa extrai 10% dos barris (http://www.enfpt.org.br/node/939).
A empresa conquistou a confiança do mercado internacional, e tem sido de fundamental importância para o desenvolvimento econômico e cultural de nosso País.
Foi eleita em 2012 pelo segundo ano consecutivo, a Petrobras é a única empresa latino-americana incluída no ranking das 100 corporações globais de melhor reputação, segundo pesquisa divulgada nesta quinta-feira (07/06) pelo Reputation Institute, instituto privado de assessoria e pesquisa com sede em Nova York e escritórios em dez países (http://www.enfpt.org.br/node/940).
O lucro da Petrobras foi de quase R$ 5,5 bilhões de reais no primeiro semestre de 2014.
Poderia ter sido de mais de R$7 bilhões se não tivesse reservado uma parte para pagamento de um programa de aposentadorias estimuladas que vão reduzir as despesas no futuro.
Esse programa de aposentadorias não ocorrerá nos próximos semestres indicando o crescimento dos lucros da empresa.
15) E o Pré-Sal, o que é?
O petróleo em camadas de pré-sal no Brasil foi descoberto pela Petrobras no fim de 2006. Pré-sal é, na realidade, a camada de petróleo que fica entre 5 e 7 mil metrôs abaixo da linha do mar, anterior à camada de sal – daí o nome – depositado no fundo dos oceanos. A camada de sal pode ter até 2 mil metros de espessura.
Além do petróleo, o Pré-Sal também produzirá gás natural. Isso porque ele também é um combustível fóssil, e é encontrado nos reservatórios de petróleo e pode estar associado ou não ao óleo.
A Petrobras já está, sete anos depois da descoberta, produzindo quase meio milhão de barris de petróleo por dia no pré-sal, o que é um extraordinário feito considerando que esse volume de produção demorou muito mais tempo para ser alcançado depois das descobertas no Golfo do México e no Mar do Norte.
O pré-sal também motivou uma mudança na lei de distribuição dos royalties do petróleo. Os royalties são os valores em dinheiro pagos pelas empresas produtoras aos governos para ter direito à exploração.
No caso do pré-sal, a União terá sua fatia nos royalties reduzida de 30% para 20%. Os estados produtores também tiveram uma diminuição em sua fatia, em prol dos estados não produtores.
16) E qual a importância do Pré-Sal para o Brasil?
A fatia da União (os 20% que citamos acima) teve sua destinação fixada em 75% para a educação e 25% para a saúde referentes aos royalties.
Além dos royalties, os novos campos geram riquezas através do Fundo Social do Pré-Sal.
O Fundo é composto pela parcela referente à União, das riquezas produzidas no Pré-Sal (15%). Deste fundo, 50% será destinado à educação enquanto a outra metade pode ser utilizada pelo Estado para que seja investido em outras áreas sociais.
A camada do pré-sal representa um acréscimo significativo na produção nacional de barris de petróleo. A exploração do pré-sal já produziu 250 milhões de barris e, claro, esse número só crescerá nos próximos anos, conforme a exploração de novos campos.
17) Mas e essa história de Pasadena?
A refinaria de Pasadena foi alvo de recentes denúncias relacionadas ao preço que a Petrobras pagou para adquiri-la. Achamos por bem, esclarecer alguns pontos.
O primeiro deles é que a decisão de adquirir Pasadena foi tomada antes do pré-sal existir como realidade, ainda em 2006. Como a principal polêmica sobre Pasadena refere-se ao valor da refinaria, é preciso entender melhor como este preço é formado.
De 1º de janeiro de 2005 a 1º de janeiro de 2007 o preço do barril de óleo (este preço é utilizado para ajudar a definir o valor de uma refinaria) fechava numa média de U$61.96 o barril. Foi nesta época que a compra de Pasadena se deu.
Já no período de 1º de janeiro de 2007 a 1º de janeiro de 2009 (depois do pré-sal e da crise de 2008), o petróleo fechou ao custo de U$84.96. (Investing.com).
Isso é justamente a importância do petróleo frente aos derivados.
Resumidamente há dois “tipos de petróleo”: o pesado e o leve. O pesado é serve somente para óleo combustível. Já o óleo leve, serve para que se produzam os derivados: gasolina, gás, nafta, etc.
Com a alta do barril de petróleo e a baixa do preço dos derivados a margem de lucro do refino de óleo pesado cai e a refinaria passa a valer menos.
18) Quanto, afinal, a Petrobras pagou por Pasadena?
Para responder essa pergunta também é preciso desmontar o total pago e entender de onde vem o valor. A compra de Pasadena se deu em 2 partes: metade em 2006 e a outra metade, com preço arbitrado pela justiça, em 2012.
O valor total, dito tanto por Cerveró (ex-diretor da Área Internacional da Petrobras e principal articulador das negociações envolvendo Pasadena), quanto por Foster (atual presidenta da Petrobras), é de cerca de 1,2 Bilhão.
Na primeira compra, ou seja, quando a Petrobras adquiriu 50% da refinaria (2006), foi pago (link), segundo o ex-presidente da estatal, José Sergio Gabrielli ao congresso:
    U$ 190 milhões pela refinaria
    U$ 170 milhões pela reserva de estoque da refinaria
Uma confusão comum é ignorar a diferença entre custo da refinaria e custo do estoque dela.
Os outros 50% foram frutos de um acordo extrajudicial.
19) E por que um acordo extrajudicial?
A Astra quando vendeu 50% do patrimônio de Pasadena perdeu o poder de decisão. A Petrobras junto com os 50% também ficou com o poder de decidir quando, quanto e em quê investir.
Daí começaram as divergências. A Petrobras que é uma gigante do setor, resolveu investir pesado em Pasadena, porque, como vimos, em 2006 isso era lucrativo.
Foi lucrativo até meados de 2008 (antes da crise). A Astra não tinha interesse em investir pesado ali. Só que com a Petrobras investindo a sócia ficaria obrigada a investir valor igual.
A Astra então teria tentado comprar de volta metade da empresa. A Petrobras que estava olhando para Pasadena como fonte de lucro futuro e pensando em investir pesado não aceita e entra na justiça para comprar a parte da ASTRA segundo a cláusula Put Option.
20) E por que pagou tanto por 50% em 2012?
    US$ 554 milhões com a compra de 100% das ações da PRSI-Refinaria
    US$ 341 milhões por 100% das quotas da companhia de trading (comercializadora de petróleo e derivados)
    US$ 354 milhões com juros, empréstimos e garantias, despesas legais e complemento do acordo com a Astra.
Ou seja, nada. Absolutamente nada de anormal nos valores pagos pela refinaria. Até a diferença entre os valores ditos pelo ex-presidente Gabrielli e pela presidenta Graça Foster, por exemplo, são simples. Foster disse que custou 1,2 Bilhões enquanto Gabrielli disse 940 milhões. A diferença se explica pelos juros pagos por conta de 4 anos de litígio mais o valor pago aos advogados pelo mesmo litígio.
21) Se a Petrobras pagou um preço justo, porque a Astra pagou tão pouco?
Em primeiro lugar é preciso esclarecer quanto a Astra Oil pagou por Pasadena. O custo não foi de 42,5 milhões de dólares como tem sido divulgado.
O custo da refinaria foi:
    U$ 42 milhões (valor dela)
    U$ 84 milhões (valor do investimento necessário para fazer a empresa funcionar, referentes a licenças ambientais)
    U$ 200 milhões (dívidas).
As informações foram passadas por Gabrielli, ex-presidente da Petrobras. A presidenta Graça Foster e o diretor Cerveró, ambos disseram que o custo foi no mínimo 360 milhões de dólares.
A presidenta Graça Foster e o diretor Cerveró, ambos disseram que o custo foi no mínimo 360 milhões de dólares.
Como a refinaria e a Astra não estavam à época, junto da Petrobras, só é possível ter acesso a parte dos documentos referentes à compra. Mas é sabido que mesmo o valor de 360 milhões de dólares, não leva em consideração a dívida que existia na empresa Crown, antiga detentora de Pasadena.
Ora, se a Astra pagou, no mínimo U$ 360 milhões de dólares com ela sem produzir absolutamente nada, é natural que o valor da empresa suba, especialmente no que se refere a sua reserva. Assim, em relação a operação realizada em 2012 deve ser considerado o valor de mercado da empresa mais o seu estoque.
Assim, em relação a operação realizada em 2012 deve ser considerado o valor de mercado da empresa mais o seu estoque.

domingo, 5 de outubro de 2014

Eleições 2014: The Guardian comenta o favoritismo de Dilma Roussef.

Matéria copiada do site Pragmatismo Político.

The Guardian: por que Dilma Rousseff ainda é a favorita para vencer as eleições, mesmo com a oposição dos ricos e da aliança de desinformação das grandes mídias nacional e internacional?

dilma the guardian eleições 2014
De acordo com artigo do The Guardian, os 12 anos de avanços sociais e econômicos no Brasil podem garantir a reeleição de Dilma Rousseff (divulgação)
Vinícius Gomes, Revista Fórum
“Quando a candidata Marina Silva ultrapassou a postulante à reeleição Dilma Rousseff algumas semanas atrás, houve enorme empolgação dentro da imprensa de negócios e no mercado financeiro brasileiro”.
Assim Mark Weisbrot, diretor do Center for Economic and Policy Research em Washington DC, iniciou seu texto para o The Guardian sobre a possível reeleição de Dilma nas próximas semanas. Como continua Weisbrot, a sorte parecia favorecer os ricos e poderosos, que estavam prontos para uma mudança após 12 anos de PT, principalmente pela desaceleração econômica do Brasil, muito por conta da recessão mundial desde a crise financeira. “Ainda assim, Rouseff resistiu a cada pancada e agora aparece no topo das intenções de voto tanto no primeiro, como no segundo turno das eleições. Como isso aconteceu?”, ele questiona retoricamente.
Weisbrot argumenta que a vasta maioria dos brasileiros olha para os últimos doze anos e percebem as incríveis mudanças no país. No texto, o britânico cita algumas delas: redução da taxa de pobreza e extrema pobreza em 55% e 65%, respectivamente, por conta do aumento nos gastos sociais – principalmente pelo Bolsa-Família, programa que Weisbrot salienta ser reconhecido internacionalmente; o aumento no salário em 84% desde 2011; a queda no desemprego, que hoje é de 4,9% (em 2003, era 12,3%) e a diminuição na taxa de trabalhadores presos no setor informal da economia: de 22% para 13%.
O número mais significativo, no entanto, é que o PIB per capita no Brasil cresceu em uma média de 2,5% ao ano, desde 2003 até 2014 – três vezes mais do que os oito anos anteriores de presidência tucana com Fernando Henrique Cardoso, “que implementou as políticas do Consenso de Washington”, permanecendo assim “um estadista muito mais preferível [do que Lula e Dilma] na capital dos EUA”. Outro número impressionante apresentado por Weisbrot é que, apesar de possuir uma das sociedades mais desiguais do mundo, 40% da população abaixo da classe média praticamente dobraram sua renda, entre 2003 e 2012.
Por apontar que os pobres foram os que mais se beneficiaram com as transformações na economia brasileira (com aumento salarial, diminuição do desemprego e mais benefícios sociais do que na década passada), Weisbrot explica que a ideia de que o Brasil sob o PT está “no caminho para a ruína” foi alimentada pela mídia nacional – que é em sua maioria contra o governo – e a imprensa internacional. Os argumentos utilizados por ambos é que a economia diminuiu “porque o governo não é suficientemente amigável dos negócios” e por um tema recorrente nas eleições, “de que o Brasil deveria ser mais amigável aos EUA e sua altamente impopular política externa na região”.
Paradoxalmente, Weisbrot argumenta que “a realidade é que a política econômica brasileira, desde o final de 2010, passou a ouvir um pouco demais o mercado financeiro: aumentando as taxas de juros e cortando gastos, quando a economia estava muito fraca”. Para ele, se Dilma vencer será porque a maioria dos brasileiros recebeu muito pelo que votou em 2010 e os brasileiros querem mais. “E eles deveriam, mas provavelmente não optarão por um retorno ao passado”, conclui corretamente o britânico.

domingo, 28 de setembro de 2014

Eleições 2014 - ‘Os motivos por trás da guerra de Veja contra o PT’.

‘Você está vendo estas capas aqui? Esta é a única oposição de verdade que ainda existe ao PT no Brasil. O resto é bobagem. Só nós podemos acabar com esta gente e vamos até o fim.’ A declaração foi feita por Roberto Civita a Eduardo Campos, em meados de 2012

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Outdoor da Editora Abril veiculado entre o primeiro e o segundo turno das eleições de 2006, com a capa de ‘Veja’, uma foto de Geraldo Alckmin (PSDB), então candidato à Presidência da República, e a manchete positiva: ‘O desafiante’. A campanha publicitária foi proibida, na ocasião, pela Justiça Eleitoral
Neste final de semana, o jornalista Ricardo Kotscho em sua coluna critica a última capa da revista Veja com a chamada ” EXCLUSIVO – O NÚCLEO ATÔMICO DA DELAÇÃO – Paulo Roberto Costa diz à Polícia Federal que em 2010 a campanha de Dilma Rousseff pediu dinheiro ao esquema de corrupção da Petrobras”.
“Parece coisa de boletim de grêmio estudantil”, ironizou Kotcho que lembrou de uma história que ouviu de Eduardo Campos, em 2012. Disse-lhe o ex-presidenciável que ficou perplexo ao ouvir de Roberto Civita: “Você está vendo estas capas aqui? Esta é a única oposição de verdade que ainda existe ao PT no Brasil. O resto é bobagem. Só nós podemos acabar com esta gente e vamos até o fim”.
Segundo Kotscho, a causa da “bronca” da Veja contra o PT ocorreu no início do primeiro governo Lula, quando o governo resolveu redistribuir verbas publicitárias, reservadas antes apenas à grande mídia.
A seguir, o texto publicado no Balaio do Kotscho.
Melancólico fim da revista “Veja”, de Mino a Barbosa
Por Ricardo Kotscho
Uma das histórias mais tristes e patéticas da história da imprensa brasileira está sendo protagonizada neste momento pela revista semanal “Veja”, carro-chefe da Editora Abril, que já foi uma das maiores publicações semanais do mundo.
Criada e comandada nos primeiros dos seus 47 anos de vida, pelo grande jornalista Mino Carta, hoje ela agoniza nas mãos de dois herdeiros de Victor Civita, que não são do ramo, e de um banqueiro incompetente, que vão acabar quebrando a “Veja” e a Editora Abril inteira do alto de sua onipotência, que é do tamanho de sua incompetência.
Para se ter uma ideia da política editorial que levou a esta derrocada, vou contar uma história que ouvi de Eduardo Campos, em 2012, quando ele foi convidado por Roberto Civita, então dono da Abril, para conhecer a editora.
Os dois nunca tinham se visto. Ao entrar no monumental gabinete de Civita no prédio idem da Marginal Pinheiros, Eduardo ficou perplexo com o que ouviu dele. “Você está vendo estas capas aqui? Esta é a única oposição de verdade que ainda existe ao PT no Brasil. O resto é bobagem. Só nós podemos acabar com esta gente e vamos até o fim”.
É bem provável que a Abril acabe antes de se realizar a profecia de Roberto Civita. O certo é que a editora, que já foi a maior e mais importante do país, conseguiu produzir uma “Veja” muito pior e mais irresponsável depois da morte dele, o que parecia impossível.
A edição 2.393 da revista, que foi às bancas neste sábado, é uma prova do que estou dizendo. Sem coragem de dedicar a capa inteira à “bala de prata” que vinham preparando para acabar com a candidatura de Dilma Rousseff, a uma semana das eleições presidenciais, os herdeiros Civita, que não têm nome nem história próprios, e o banqueiro Barbosa, deram no alto apenas uma chamada: ” EXCLUSIVO – O NÚCLEO ATÔMICO DA DELAÇÃO _ Paulo Roberto Costa diz à Polícia Federal que em 2010 a campanha de Dilma Rousseff pediu dinheiro ao esquema de corrupção da Petrobras”. Parece coisa de boletim de grêmio estudantil.
O pedido teria sido feito pelo ex-ministro Antonio Palocci, um dos coordenadores da campanha da então candidata Dilma Rousseff, ao ex-diretor da Petrobras, para negociar uma ajuda de R$ 2 milhões junto a um doleiro que intermediaria negócios de empreiteiras fornecedoras da empresa.
A reportagem não informa se há provas deste pedido e se a verba foi ou não entregue à campanha de Dilma, mas isso não tem a menor importância para a revista, como se o ex-todo poderoso ministro de Lula e de Dilma precisasse de intermediários para pedir contribuições de grandes empresas. Faz tempo que o negócio da “Veja” não é informar, mas apenas jogar suspeitas contra os líderes e os governos do PT, os grandes inimigos da família.
E se os leitores quiserem saber a causa desta bronca, posso contar, porque fui testemunha: no início do primeiro governo Lula, o presidente resolveu redistribuir verbas de publicidade, antes apenas reservadas a meia dúzia de famílias da grande mídia, e a compra de livros didáticos comprados pelo governo federal para destinar a esc0las públicas.
Ambas as medidas abalaram os cofres da Editora Abril, de tal forma que Roberto Civita saiu dos seus cuidados de grande homem da imprensa para pedir uma audiência ao presidente Lula. Por razões que desconheço, o presidente se recusava a recebe-lo.
Depois do dono da Abril percorrer os mais altos escalões do poder, em busca de ajuda, certa vez, quando era Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República, encontrei Roberto Civita e outros donos da mídia na ante-sala do gabinete de Lula, no terceiro andar do Palácio do Planalto.”
“Agora vem até você me encher o saco por causa deste cara?”, reagiu o presidente, quando lhe transmiti o pedido de Civita para um encontro, que acabou acontecendo, num jantar privado dos dois no Palácio da Alvorada, mesmo contra a vontade de Lula.
No dia seguinte, na reunião das nove, o presidente queria me matar, junto com os outros ministros que tinham lhe feito o mesmo pedido para conversar com Civita. “Pô, o cara ficou o tempo todo me falando que o Brasil estava melhorando. Quando perguntei pra ele porque a “Veja” sempre dizia exatamente o contrário, esculhambando com tudo, ele me falou: `Não sei, presidente, vou ver com os meninos da redação o que está acontecendo´. É muita cara de pau. Nunca mais me peçam pra falar com este cara”.
A partir deste momento, como Roberto Civita contou a Eduardo Campos, a Abril passou a liderar a oposição midiática reunida no Instituto Millenium, que ele ajudou a criar junto com outros donos da imprensa familiar que controla os meios de comunicação do país.
Resolvi escrever este texto, no meio da minha folga de final de semana, sem consultar ninguém, nem a minha mulher, depois de ler um texto absolutamente asqueroso publicado na página 38 da revista que recebi neste final de semana, sob o título “Em busca do templo perdido”. Insatisfeitos com o trabalho dos seus pistoleiros de aluguel, os herdeiros e o banqueiro da “Veja” resolveram entregar a encomenda a um pseudônimo nominado “Agamenon Mendes Pedreira”.
Como os caros leitores sabem, trabalho faz mais de três anos aqui no portal R7 e no canal de notícias Record News, empresas do grupo Record. Nunca me pediram para escrever nem me proibiram de escrever nada. Tenho aqui plena autonomia editorial, garantida em contrato, e respeitada pelos acionistas da empresa.
Escrevi hoje apenas porque acho que os leitores, internautas e telespectadores, que formam o eleitorado brasileiro, têm o direito de saber neste momento com quem estão lidando quando acessam nossos meios de comunicação.

Povos Tradicionais: GRUPOS ARMADOS RONDAM FAMÍLIAS KAIOWÁ DA ALDEIA KURUSSU AMBÁ, INDÍGENAS TEMEM NOVOS ATAQUES - 26.09.2014.

Foto - Cimi.
Os cantos e rezas de um grupo de indígenas Kaiowá ainda eram entoadas em frente ao prédio da Justiça Federal de Ponta Porã-MS, durante o andamento de audiência referente ao assassinato da liderança Nísio Gomes da aldeia Guaiviry, quando no cair da tarde de ontem, dia 25 de setembro, correu a notícia de que grupos armados foram vistos rondando as imediações de uma pequena sede de fazenda, retomada por algumas famílias de Kaiowá no território de Kurussu Ambá, em Coronel Sapucaia-MS, a não mais que 160 km dali.
A notícia fez surtir entre os indígenas que acompanhavam a audiência, efeitos de aguda preocupação e dor como se os mesmos se deparassem novamente com o fantasma da morte de Nísio. Com a dor ainda latente pelo ataque desleal que tirou a vida de sua liderança em 2011 e conhecendo de maneira orgânica o poder e os danos da articulação dos fazendeiros da região, os indígenas puseram-se a orar também por Kurussu Ambá, para que não aconteçam mais mortes na terra indígena que tem o maior índice de violência direta contra o povo Guarani e Kaiowá no MS por parte de ações deliberadas pelos fazendeiros.
Na tarde de segunda feira, dia 22, cerca de 50 famílias indígenas retomaram uma pequena parte do território ancestral de Kurussu Ambá, território tradicional do povo Kaiowá que com a paralisação dos procedimentos demarcatórios por parte do Governo Federal manteve-se na mão de fazendeiros enquanto os indígenas encontram-se confinados desde 2009 a uma pequena extensão de mato que faz divisa com uma fazenda denominada de Auxiliadora. Os Kaiowá reivindicam espaço para plantar e melhorar minimamente sua condição de vida já que encontram-se em estado de extrema vulnerabilidade amplamente divulgada e de conhecimento público, onde a fome atinge constantemente proporções desumanas denunciadas sobretudo por organizações internacionais de direitos humanos.
Durante a retomada de alguns espaços de lavoura por parte dos indígenas, houveram problemas com um arrendatário local, que ao descumprir um acordo pactuado junto a Funai e os indígenas, adentrou espaço onde se encontravam as famílias Kaiowá pressionando-as. A partir deste momento os indígenas decidiram ocupar uma pequena sede de fazenda que se vizinha das áreas de plantio e estava ocupada pelo arrendatário.
Em resposta a busca dos indígenas pelos seus direitos fundamentais, fazendeiros locais e alguns grupos de pessoas externas, provavelmente “seguranças” contratados pelos fazendeiros, começaram a ser vistos pelos indígenas rondando a área e concentrando-se em grande número, trazidos por veículos que iam e vinham pelas estradas, para uma fazenda, que segundo informação dos indígenas fica a aproximadamente 1000 metros a frente da sede ocupada pelas famílias Kaiowá. Logo, o medo mais profundo dos indígenas se confirmou, quando os mesmos passaram a avistar ainda em plena luz do dia, que da fazenda, onde estão concentradas as pessoas que foram transportadas pelas caminhonetes, começaram a sair grupos visivelmente armados que passaram a realizar diversas movimentações no local.
Os Kaiowá, ainda no dia de ontem, estabeleceram contato com o Ministério Publico Federal de Ponta Porã, cujo procurador encontrava-se presente na audiência referente ao caso de Nísio Gomes. De lá mesmo a Juíza Federal que acompanhava as oitivas concedeu autorização para que os destacamentos da Polícia Federal que se encontravam fazendo a segurança da audiência pudessem se deslocar ainda naquela mesma noite até Kurussu Ambá. Desde então não foi possível estabelecer novo contato com os indígenas para ter retorno do que ocorreu entre a noite de ontem e a manhã de hoje devido a dificuldade de comunicação existente na região
Por estarem em uma área de fronteira com poucas possibilidades de comunicação, a situação de monitoramento por parte da Policia Federal ou Força Nacional se faz emergencial e imediata.
A violência organizada e anti-indígena voltou a bater na porta de Kurussu Ambá dando indícios claros de que se nenhuma providencia for tomada urgentemente pelos órgãos responsáveis ocorrerá mais uma de tantas tragédias anunciadas que tem assolado a vida dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul. Desde 2007, já foram mais de dez assassinatos durante processos anteriores de tentativa de retomada desta mesma terra tradicional. Nos mais relevantes, três lideranças foram executadas deliberadamente, inclusive Xurite Lopes, importante rezadora com mais de 70 anos.
Durante o ano passado, ficaram escancarados os bastidores de uma pesada e profunda articulação dos ruralistas para acabar na marra com os procedimentos demarcatórios, os direitos constitucionais dos povos originários e promover uma onde de extermínio físico a lideranças e comunidades indígenas no Mato Grosso do Sul. O ápice desta organização criminosa se deu com a realização dos denominados “leilões da resistência”, onde abertamente fazendeiros realizaram leiloes de venda de gado para arrecadar fundos para articulação e armamento de milícias anti-indígenas.
Em outros casos, como o da liderança Nísio Gomes fica explícita a participação de empresas de segurança contratada pelos ruralistas na sua execução.
A história se repete sistematicamente e enquanto as demarcações seguem paralisadas. No caso de Kurussu Ambá, os indígenas estão entre duas espécies de mortes anunciadas. De um lado a violência direta dos fazendeiros, de outro, abdicar de seu direito a terra e a vida digna e retornar para a situação que vem causando a mortalidade de muitas de suas crianças e velhos.
O Cimi, contatado na noite de ontem por membros das famílias que se encontram em Kurussu Ambá reafirma sua solidariedade com os povos indígenas repudiando e denunciando as práticas de extermínio e genocídio realizadas abertamente contra o povo Guarani e Kaiowá. Os povos indígenas exigem que providências sejam tomadas imediatamente e os direitos das famílias que se encontram em Kurussu Ambá à vida digna e as mínimas condições humanas sejam garantidos. Caso contrário, o histórico recente de violência contra os povos indígenas no estado do Mato Grosso do Sul faz crer que estamos novamente frente a uma nova e drástica situação de assassinatos anunciados.