No próximo dia 08 de março, comemoraremos o dia internacional da mulher, resolvi homenagear a memória de uma personagem que marcou minha juventude, me refiro a Sandra Mara Herzer ou Anderson Bigode Herzer, como ela mesmo se autodenominava. Mulher guerreira, órfã de pai e mãe desde criança, cresceu perambulando pelas ruas, homossexual assumida, pobre, drogada e como ex-interna da FEBEM de São Paulo, aos vinte anos de idade, ela encontrou na morte os fins de seus dramas.
Era mulher sensível, porém rebelde e incompreendida. No livro testamento que deixou ela dizia, quem conheceu a FEBEM – Conheceu o lado mais cruel da vida, valendo citarmos uma de suas frases... “Senhor me ilumine nesta estrada, pois minha visão é embaçada pelos prantos que ainda trago de outrora” (Herzer).
Vale o relato de como era difícil, na época da abertura política alguém querer se assumir e se impor como “diferente”, ou seja como mulher e pobre demonstrar perante toda a sociedade sua condição de homossexual assumida. Na década de 1980, quando esta obra foi lançada pelo circulo do livro foi um sucesso de venda um assombro pra muita gente, e por mim nunca esquecida.
Este livro elaborado com o coração além do depoimento da vida, trás os poemas, versos de uma alma sonhadora, poética, e termina por relatar a destruição de uma vida, servindo como um grito de liberdade de alguém que teimava e só queria viver.
“Minha Vida, meu aplauso”.
Fiz de minha vida um enorme palco
Sem atores para a peça em cartaz
Sem ninguém para aplaudir este meu pranto
Que vai pingando e uma poça se faz.
Palco triste é meu mundo desabitado
Solitário me apresenta como astro
Astro que chora, rí e se curva à derrota
E derrotado muito mais astro me faço.
Todo mundo reparou no meu olhar triste
Mas todo mundo estava cansado de ver isso
E todo mundo se esqueceu de minha estréia
Pois todo mundo tinha um outro compromisso.
Mas um dia meu palco, escuro, continuou
E muita gente curiosa veio me ver
Viram no palco um corpo já estendido
Eram meus fãs que vieram para me ver morrer.
Esta foi a noite que virei astro
A multidão estava lá, atenta como eu queria
Suspirei eterna e vitoriosamente
Pois ali o personagem nascia
E eu, ator do mundo, com minha solidão....
Morria!
(Autoria – Anderson Bigode Herzer).
A Gota de Sangue
Eu decaí, eu persistí
Tentei por todos os meios ser forte.
Lutei contra o tempo,
Chorei em silêncio
Gritei seu nome ao vento
Sou filho da gota
Fui templo da miséria
Meu pai, um perdido
Minha mãe, a megera.
Cresci vendo prantos,
Dormi em meio à mata
Chorei gotas sangüíneas
Sou o pecado, sou a traça.
Eu ouvi um grito de desespero,
Vi a lenta corrupção,
Vi o olhar do corruptor,
Vi uma vida na destruição
Eu vi o assassinato do amor.
Tentei, venci a vitória conquistei
Porém um dia faleci.
Hoje estou em sua lembrança
Eu sou sua alma oculta
E serei sua esperança.
(Autoria – Anderson Bigode Herzer).
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