sexta-feira, 5 de março de 2010

Herzer - Feliz dia das Mulheres


No próximo dia 08 de março, comemoraremos o dia internacional da mulher, resolvi homenagear a memória de uma personagem que marcou minha juventude, me refiro a Sandra Mara Herzer ou Anderson Bigode Herzer, como ela mesmo se autodenominava. Mulher guerreira, órfã de pai e mãe desde criança, cresceu perambulando pelas ruas, homossexual assumida, pobre, drogada e como ex-interna da FEBEM de São Paulo, aos vinte anos de idade, ela encontrou na morte os fins de seus dramas.


Era mulher sensível, porém rebelde e incompreendida. No livro testamento que deixou ela dizia, quem conheceu a FEBEM – Conheceu o lado mais cruel da vida, valendo citarmos uma de suas frases... “Senhor me ilumine nesta estrada, pois minha visão é embaçada pelos prantos que ainda trago de outrora” (Herzer).


Vale o relato de como era difícil, na época da abertura política alguém querer se assumir e se impor como “diferente”, ou seja como mulher e pobre demonstrar perante toda a sociedade sua condição de homossexual assumida. Na década de 1980, quando esta obra foi lançada pelo circulo do livro foi um sucesso de venda um assombro pra muita gente, e por mim nunca esquecida.


Este livro elaborado com o coração além do depoimento da vida, trás os poemas, versos de uma alma sonhadora, poética, e termina por relatar a destruição de uma vida, servindo como um grito de liberdade de alguém que teimava e só queria viver.




“Minha Vida, meu aplauso”.

Fiz de minha vida um enorme palco

Sem atores para a peça em cartaz

Sem ninguém para aplaudir este meu pranto

Que vai pingando e uma poça se faz.


Palco triste é meu mundo desabitado

Solitário me apresenta como astro

Astro que chora, rí e se curva à derrota

E derrotado muito mais astro me faço.


Todo mundo reparou no meu olhar triste

Mas todo mundo estava cansado de ver isso

E todo mundo se esqueceu de minha estréia

Pois todo mundo tinha um outro compromisso.


Mas um dia meu palco, escuro, continuou

E muita gente curiosa veio me ver

Viram no palco um corpo já estendido

Eram meus fãs que vieram para me ver morrer.


Esta foi a noite que virei astro

A multidão estava lá, atenta como eu queria

Suspirei eterna e vitoriosamente

Pois ali o personagem nascia

E eu, ator do mundo, com minha solidão....

Morria!


(Autoria – Anderson Bigode Herzer).

A Gota de Sangue

Eu decaí, eu persistí

Tentei por todos os meios ser forte.

Lutei contra o tempo,

Chorei em silêncio

Gritei seu nome ao vento

Sou filho da gota

Fui templo da miséria

Meu pai, um perdido

Minha mãe, a megera.


Cresci vendo prantos,

Dormi em meio à mata

Chorei gotas sangüíneas

Sou o pecado, sou a traça.

Eu ouvi um grito de desespero,

Vi a lenta corrupção,

Vi o olhar do corruptor,

Vi uma vida na destruição

Eu vi o assassinato do amor.


Tentei, venci a vitória conquistei

Porém um dia faleci.

Hoje estou em sua lembrança

Eu sou sua alma oculta

E serei sua esperança.


(Autoria – Anderson Bigode Herzer).

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