É 
uma instituição que representa de modo exemplar o compromisso da França 
com a liberdade intelectual, a dignidade da política e o aperfeiçoamento
 permanente da democracia.
Representa
 essa França consciente de suas conquistas materiais e espirituais, 
ciosa de seus valores civilizatórios, mas nem por isso menos aberta a 
povos e mentalidades diferentes, à compreensão do outro.
Essa
 França insubmissa e libertária que, durante séculos, inspirou – e 
continua, de alguma forma, inspirando – a trajetória de muitos países, 
entre eles o Brasil.
Essa
 França que, desde o século 18  até os dias atuais, é tão relevante para
 o Brasil, seja no terreno das ideias políticas e sociais, seja na 
esfera da educação e da cultura, seja no que se refere às parcerias 
produtivas e tecnológicas.
Minhas amigas e meus amigos,
Mais
 do que um reconhecimento pessoal, acredito que este título de Doutor 
Honoris Causa é uma homenagem ao povo brasileiro que nos últimos anos 
vem realizando, de modo pacífico e democrático, uma verdadeira revolução
 econômica e social, dando um enorme salto histórico rumo à prosperidade
 e à justiça. Depois de prolongada estagnação, o Brasil voltou a crescer
 de modo vigoroso e continuado, gerando empregos, distribuindo renda e 
promovendo inclusão social.
Deixamos
 para trás um passado de frustrações e ceticismo. Os brasileiros e as 
brasileiras voltaram a acreditar em si mesmos e na sua capacidade de 
resolver problemas e superar obstáculos, por mais difíceis que sejam.
Graças
 a um novo projeto de desenvolvimento nacional, com forte envolvimento 
da sociedade e intensa participação popular, conseguimos tirar 28 
milhões de pessoas da miséria e levamos 39 milhões de pessoas para a 
classe média, no maior processo de mobilidade social da nossa história.
Em 
oito anos e meio foram criados 16 milhões de novos empregos formais. O 
salário mínimo teve um aumento real de 62%, e todas as categorias de 
trabalhadores fizeram acordos salariais com ganhos acima da inflação.
Além
 disso, implantamos vários programas de transferência direta de renda, 
dos quais se destaca o Bolsa Família, que é o principal instrumento do 
Fome Zero e, no final do ano passado, beneficiava 52 milhões de pessoas.
Dessa
 forma, a desigualdade entre os brasileiros atingiu o menor patamar em 
50 anos. Nos últimos dez anos, a renda per capita dos 10% mais ricos 
aumentou 10%, enquanto a dos 50% brasileiros mais pobres teve um ganho 
real de 68%.
O consumo se ampliou em todas as classes, mas no segmento popular cresceu sete vezes.
Os 
pobres passaram a ser tratados como cidadãos. Governamos para todos os 
brasileiros e não apenas para um terço da população, como habitualmente 
acontecia.
Acreditamos
 firmemente que o desenvolvimento econômico precisa estar a serviço da 
redução das desigualdades sociais, sem paternalismo, promovendo a 
inclusão das pessoas mais pobres à plena cidadania.
Acreditamos,
 igualmente, que isso pode, deve e será feito sem que se descuide do 
equilíbrio macroeconômico, combatendo com firmeza a inflação.
Minhas amigas e meus amigos,
Ao 
mesmo tempo em que resgatávamos grande parte de nossa dívida social, 
trabalhamos para modernizar o país, preparando-o para os desafios 
produtivos e tecnológicos do século 21.
Investimos
 fortemente em educação, pesquisa e desenvolvimento. Orgulho-me de ter 
criado 14 novas universidades federais e 126 extensões universitárias, 
democratizando e interiorizando o acesso ao ensino público.
Também lançamos o Reuni, um programa para fortalecer o ensino público universitário, com a valorização dos docentes.
Ele contribuiu para que dobrássemos o número de matrículas nas instituições federais.
Mas
 não ficamos restritos a isso e instituímos o Prouni, um sistema 
inovador de bolsas de estudo em universidades particulares. Com ele, 
garantimos que 912 mil jovens de baixa renda pudessem cursar o ensino 
superior.
E a
 oportunidade não foi desperdiçada: os jovens com bolsas do Prouni 
têm-se destacado em todas as áreas, liderando em muitos casos os exames 
nacionais de avaliação feitos pelo Ministério da Educação. Ou seja, 
bastou uma chance e a juventude brasileira deu firme resposta ao mito 
elitista segundo o qual a qualidade é incompatível com a ampliação das 
oportunidades.
Também
 me orgulho muito de termos inaugurado 214 novas escolas técnicas 
federais, que criaram possibilidades inéditas de formação profissional 
para a juventude.
A 
boa qualidade do ensino na rede de escolas técnicas federais também abre
 as portas para as universidades, mesmo para quem trabalha durante o dia
 inteiro, porque durante o meu governo aumentamos o número de vagas nos 
cursos universitários noturnos.
Esses
 jovens têm que continuar sonhando, têm que lutar para conquistar o 
doutoramento, para trabalhar nos diversos centros de pesquisa e 
desenvolvimento tecnológico que existem no Brasil.
Deixamos
 de considerar a educação como um gasto para tratá-la como investimento 
que muda a vida das pessoas e do país. Por isso, em meus dois mandatos, 
triplicamos o orçamento do Ministério da Educação, que saltou de 17 
bilhões de reais para 65 bilhões de reais em 2010.
Essas
 mudanças eram imprescindíveis, pois a garantia de acesso à educação de 
qualidade, da pré-escola aos cursos de pós-graduação, é um dos 
principais instrumentos para promover a igualdade social, combater a 
pobreza e assegurar um desenvolvimento econômico, científico e 
tecnológico sustentável em longo prazo.
A 
educação foi colocada como prioridade estratégica para o país. O 
investimento público direto em educação passou de 3,9% do Produto 
Interno Bruto em 2000  para 5% em 2009. E, agora, a presidenta Dilma 
Rousseff assumiu o compromisso de ampliar o investimento em educação 
progressivamente até atingir 7% do Produto Interno Bruto.
Minhas amigas e meus amigos,
O 
Brasil já tem muito a mostrar no segmento de pesquisa e desenvolvimento.
 A Lei da Inovação, aprovada em dezembro de 2004, incentivou as 
universidades a compartilhar seus projetos de pesquisa e desenvolvimento
 com as empresas públicas e privadas, para alavancar a inovação 
tecnológica no ambiente produtivo.
O 
número de cientistas envolvidos em pesquisa e desenvolvimento passou de 
126 mil em 2000 para 211 mil em 2008. E o número de patentes depositadas
 no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) cresceu de 21 
mil em 2000 para 280 mil em 2009.
Além disso, o governo federal destinou 41 bilhões de reais ao setor de pesquisa e inovação no período de 2007 a 2010, através do Programa de Aceleração do Crescimento.
Minhas amigas e meus amigos,
Uma
 das preocupações do meu governo – e que continua a ser um firme 
compromisso da presidenta Dilma – foi garantir que o crescimento 
econômico e os investimentos estruturantes fossem sustentáveis do ponto 
de vista ambiental.
Nos
 últimos anos, o Brasil superou a falsa contradição que opunha o 
desenvolvimento à sustentabilidade ambiental.  Nesse período, a taxa de 
desmatamento caiu 75%.
Em 
nosso governo, fixamos como meta reduzir as emissões de CO2 entre 36% e 
39% até 2020. Esse compromisso foi incorporado à Política Nacional de 
Mudanças Climáticas, apresentada em Copenhague, em dezembro de 2009, e 
posteriormente transformada em lei pelo Congresso Nacional.
O 
Brasil é uma referência no enfrentamento dos desafios ambientais do 
século 21, pois é responsável por 74% das unidades de conservação 
criadas no mundo desde 2003. Também alcançamos recentemente o menor 
nível de desmatamento dos últimos 22 anos.
Minhas
 amigas e meus amigos, os avanços que conquistamos nos últimos anos 
foram possíveis porque praticamos intensamente a democracia. Não nos 
limitamos a respeitá-la – o que é um dever –, mas levamos suas 
possibilidades ao limite, promovendo um amplo processo de participação 
social na definição das políticas públicas.
Estabelecemos
 uma nova relação do Estado com a sociedade, na qual todos os setores 
sociais foram ouvidos, mobilizados, e puderam discutir não somente com o
 governo, mas também entre eles próprios. Multiplicaram-se os canais de 
interlocução da sociedade com o Estado, o que contribuiu de modo 
decisivo para que crescimento econômico e desenvolvimento social 
caminhassem juntos.
Para
 tanto, realizamos 74 conferências nacionais entre 2003 e 2010, 
precedidas por reuniões em níveis municipal e estadual, que contaram com
 a presença de cerca de 5 milhões de pessoas.
Discutimos
 e aprofundamos nessas conferências temas importantes: do meio ambiente à
 segurança pública; dos transportes à diversidade sexual; dos direitos 
dos indígenas às políticas de telecomunicações; da igualdade racial à 
política nacional de saúde, dentre muitos outros.
Conselhos de políticas públicas, com ampla representação popular, foram criados junto a todos os ministérios.
Em 
outras palavras, apostamos decididamente na política. Porque sempre 
acreditamos na força da política como promotora da emancipação 
individual e coletiva.
A participação política é o melhor antídoto contra a alienação e as tentações autoritárias.
Eu 
próprio sou produto da política. A luta sindical me deu a convicção de 
que era necessário incorporar os trabalhadores às decisões políticas.
Foi
 por isso que, em 1980, criamos o Partido dos Trabalhadores, que em 
menos de 20 anos tornou-se o maior partido de esquerda da América Latina
 e chegou à Presidência da República. Também construímos a maior a 
central sindical da América Latina, a Confederação Única dos 
Trabalhadores.
Tenho
 a plena convicção de que os problemas da sociedade só podem ser 
resolvidos com mais democracia e mais envolvimento da sociedade no 
exercício do poder.
Minhas amigas e meus amigos,
O Brasil não está sozinho nessa trajetória virtuosa, que reuniu democracia, desenvolvimento econômico e justiça social.
A esperança progressista do mundo, hoje, navega no vento que sopra do Sul.
A 
América do Sul não é mais o estuário dos problemas do mundo, e sim a 
mais promissora fronteira da luta pela justiça social em nosso tempo.
Sem
 os países em desenvolvimento, não será possível abrir um novo ciclo de 
expansão que combine crescimento, combate à fome e à pobreza, redução 
das desigualdades sociais e preservação ambiental.
No 
momento em que se está constituindo um mundo multipolar, a América do 
Sul afirma a sua presença no plano internacional, renovando a confiança 
em si e na capacidade de seus povos de construir um destino comum de 
democracia e crescimento econômico com inclusão social.
Vivemos
 numa região de paz. Não há ódio religioso entre nós. Os governantes de 
todos  os nossos países foram eleitos em pleitos democráticos e com 
ampla participação popular. A democracia é o nosso idioma comum.
Minhas amigas e meus amigos,
Avançamos
 muito no Brasil nos últimos anos. Ampliamos a inclusão social e a 
democracia se fortalece cada vez mais. Elegemos, pela primeira vez na 
nossa história, uma mulher para a Presidência da República.
Fizemos muito, mas ainda há muito por ser feito. E o governo da presidenta Dilma Rousseff assume esta responsabilidade.
Lançou o programa Brasil sem Miséria para erradicar totalmente a extrema pobreza.
Fortaleceu a área da educação, ao ampliar o programa e ensino técnico e aumentar o número de bolsas de estudos no exterior.
O lançamento de uma nova política industrial, com o programa Brasil Maior, fortalecerá a inovação e a competitividade.
Por
 último, quero enfatizar que o conhecimento e a informação são cada vez 
mais importantes para o aprimoramento espiritual da Humanidade e também 
para viabilizar o progresso econômico e o bem-estar dos povos.
O 
governante que não enxerga isso, não está preparado para governar uma 
Nação. Governante que não sonha não transmite esperança. Agradeço 
novamente à Science Po por ter sido agraciado o título de Doutor Honoris
 Causa e estou honrado por fazer parte do seleto grupo de pessoas que 
mereceram esta honra.
Muito obrigado.