Quando, tempos atrás, Lula reclamou publicamente de que o então
presidente da Vale, Roger Agnelli, o queridinho da mídia conservadora
tinha mandado construir 12 megacargueiros no exterior e não no Brasil,
houve um imenso alvoroço nos jornais.
“Intromissão estatal”, “abuso”, “interesse dos acionistas” (como se os órgãos estatais não fossem os maiores acionistas do grupo controlador da Vale!), e outras coisas do gênero.
D. Roger I (e único), o imperador da Vale nunca errava. Tudo o que fazia era genial, lucrativo, inconteste.
Hoje, por dicas de nossos comentaristas, cheguei ao site de Bloomberg, e está lá a notícia:
“China rejeita meganavios de minério e mostra erro de US$ 2,3 bi da Vale” A história, resumindo, é a seguinte. As empresas de navegação
chinesas não querem que a vale, com seus supernavios, esvazie o mercado
de frete no país, que já terá problemas com a crise européia. Já as
siderúrgicas querem que a Vale repasse ao preço do minério a redução de
custo de frete que consegue com o transporte de quantidades gigantescas,
o dobro dos grandes navios de minério que hoje fazem esse trabalho. E
não querem ver a Vale controlando o comércio da mina à porta da fábrica.
Os chineses, que ao contrário de certos grupos da elite brasileira,
defendem os interesses de seu país, por isso, não permitiram a atracação
do primeiro navio da Vale que rumava a seus portos e, segundo a matéria
publicada ontem no final da noite pelo Estadão,
“foi desviado para o porto de Taranto, na Itália, porque não tinha
autorização para atracar na cidade chinesa de Dalian. O navio chegou até
o Cabo da Boa Esperança, deu meia volta e retornou ao Atlântico. ”Isso é o resultado de uma ação empresarial auto-suficiente, que não
encara seu país e seus clientes como parceiros, que não consulta seus
interesses e coloca, acima de tudo, um apetite “goela grande” e se acha o
maior “esperto” .
Que, felizmente, parece ter acabado, para a viuvez de parte de nossa mídia, com a mudança de direção da Vale. Agora, o bom e velho Estado vai, certamente, entrar em negociações
diplomáticas para resolver o impasse junto ao governo chinês, que
certamente exigirá concessões de parte do Brasil para dar um desfecho
aceitável ao caso. E os acionistas da Vale vão ter de “segurar” os
prejuízos contratuais da interrupção de contratos bilhonários para a
contrução da enorme frota de meganavios “fantasmas”, que nunca chegarão
aos portos a que se destinavam.
Compreende-se que a Vale esteja silenciosa ainda sobre o assunto. A
esta hora, estão lidando com uma dúzias de batatas quentes navais, cada
uma do tamanho do Pão de Açúcar. É ver o que pode ser feito com a
carteira de contratos, inclusive com a negociação de sua modificação
para a instalação dos estaleiros contratados no Brasil, com acordos para
a Vale fornecer-lhes aço a preço de custo, evitando as multas, e
diminuindo o porte das embarcações.
Vamos ver agora a claque de Agnelli, diante do “mico” mundial que
está fazendo nossa – porque a Vale é uma ferramenta estratégica do
Brasil – grande mineradora.
Quando Getúlio aproveitou a 2ª Guerra para, com o apoio de Franklin
Roosevelt nacionalizar a Itabira Iron e transformá-la na Vale do Rio
Doce, ninguém esperava que, 70 anos depois, fosse aparecer outro
espertalhão a la Percival Farquhar na história da empresa.
Farquhar, como se sabe, não queria saber de siderurgia, só de exportar minério bruto.
Demorou mas, um dia, foi ele o exportado.
ttp://economia.estadao.com.br/noticias/economa,china-recusa-supercargueiros-da-vale,93434,0.htm
http://http://www.tijolaco.com/
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