BRASÍLIA - Centros de excelência em formação profissional e pesquisa
científica, universidades federais têm construído, paralelamente, uma
escola de impropriedades na gestão de recursos públicos. Reitores,
pró-reitores e ex-dirigentes de, pelo menos, 16 instituições, em 13
estados, são alvos de processos administrativos, auditorias, inquéritos e
ações na Justiça por deslizes que vão do favorecimento a parentes e
amigos ao desvio de verbas. Só o Ministério da Educação (MEC) apura 23
casos, envolvendo gestores de oito federais, que, se forem considerados
culpados, podem perder seus cargos ou, se já afastados, ficar proibidos
de voltar ao serviço público e ter as aposentadorias cassadas.
Na lista constam catedráticos que ganharam notoriedade recentemente,
como o ex-reitor José Januário Amaral, que renunciou em meio a suspeitas
de integrar um esquema de corrupção na federal de Rondônia (Unir). E
outros que caíram em desgraça pública bem antes, casos de Timothy
Mulholland, da Universidade de Brasília (UnB), envolvido em denúncias de
irregularidades em fundações vinculadas à universidade; e de Ulysses
Fagundes Neto, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cujos
gastos em viagens ao exterior foram o estopim de sua queda. Ambos saíram
em 2008, mas ainda não receberam o veredicto do MEC, cujos processos
disciplinares (PADs), não raro, são tão lentos que só acabam após os
delitos prescreverem.
No Piauí, o reitor da UFPI, Luiz de Sousa
Santos Júnior - campeão de PADs no MEC, com oito - acumula ações na
Justiça por improbidade administrativa, além de inquéritos no Ministério
Público Federal (MPF) e na Polícia Federal que apuram seu envolvimento
numa coleção de irregularidades. Numa das ações, ele é acusado pelo MPF
de favorecer com 16 contratos, firmados sem licitação, o empresário
Cândido Gomes Neto, apontado como controlador de três empresas de
publicidade. Em outra, é responsabilizado por gastos abusivos com cartão
corporativo, cuja soma alcança R$ 405 mil.
Lei de licitação pública é burlada
A
Procuradoria da República no Piauí quer multar o reitor por,
supostamente, descumprir ordem judicial que o proíbe de firmar convênios
com a Fundação Cultural e de Fomento a Pesquisa, Ensino e Extensão
(Fadex), ligada à universidade, para obras e serviços sem previsão
legal. E sustenta que a entidade tem sido usada por ele para driblar a
exigência de contratar mediante concorrência pública. Empresas
mantenedoras da Fadex, como a Construtora F. Ramalho, e que constam em
seu estatuto, aparecem no Diário Oficial da União (DOU) também como
beneficiárias de contratos da fundação e da UFPI.
O MEC apura a
participação da D&P, empresa que pertenceu ao professor Iônio Alves
da Silva, ex-coordenador de Comunicação da universidade e ligado ao
reitor, em licitação para serviços de publicidade - o processo parou na
Justiça. Também está sob investigação o suposto dano ao erário em obras
do campus de Bom Jesus. E o uso da Comissão Permanente de Seleção
(Copese) para favorecer parentes e pessoas ligadas aos seus integrantes.
Por esse motivo, o pró-reitor de Pesquisa, Saulo Brandão, responde a
ação de improbidade do MPF.
Na UFPI, foi necessária a intervenção
de procuradores da República até para que o nome de uma colega do reitor
no Departamento de Química, posto como homenagem num prédio da
universidade, fosse retirado. Em representação, o Diretório Central dos
Estudantes (DCE) e a Associação de Docentes (ADUFPI) pedem que o MEC
apure a suposta concessão de bolsas, pela Fadex, a Santos Júnior e a uma
de suas filhas. Ele nega.
País afora, também estão sob
investigação casos de irregularidade em licitações e malversação de
verbas na federais de Rio, Amazonas, Pará, Minas, Sergipe, Acre e
Pernambuco. No Rio Grande do Sul, o ex-reitor da Universidade de Santa
Maria (UFSM) é réu da Operação Rodin, da Polícia Federal, que apurou o
suposto desvio de R$ 44 milhões do Detran-RS, por meio de fundações
ligadas à universidade. Ele também é um dos investigados no controle
interno do MEC. Em Pernambuco (UFPE), um dos alvos são contratações
reiteradas das mesmas empresas para fornecer materiais de construção.
Em
23 de novembro, o Tribunal de Contas da União (TCU) mandou suspender
licitação da federal de Juiz de Fora (UFJF) para ampliar o hospital
universitário. A obra está orçada em R$ 136,8 milhões. Os motivos são um
sobrepreço de R$ 15,7 milhões, apontado na auditoria, restrições à
competitividade e indícios de conluio entre as únicas três construtoras
que participaram da concorrência. Os preços apresentados por elas foram
tão parecidos que a primeira classificada, com o maior desconto, tinha
uma diferença de apenas 0,38% em relação ao valor de referência.
Na
decisão, relatada pelo ministro José Múcio, o tribunal pede à PF e ao
MPF que apurem o caso. E afirma que, embora tenha pedido correções no
edital em ocasião anterior, a universidade não o fez.
No Rio, o
TCU aplicou este ano multas de R$ 20 mil ao ex-reitor da UFRJ Aluísio
Teixeira, e de R$ 5 mil à vice-reitora de sua gestão, Sylvia da Silveira
Mello Vargas, por impropriedades em parceria com o Sindicato Nacional
dos Oficiais de Marinha Mercante (Sindmar) para a instalação de um
simulador aquaviário. Os recursos do projeto foram destinados por emenda
da deputada Jandira Feghali (PCdoB). O equipamento foi instalado na
entidade, presidida na época pelo marido da parlamentar, Severino
Almeida Filho.
Segundo o relatório que embasou a decisão, a
aquisição feriu a Lei de Licitações e foi direcionada ao Sindmar. Além
disso, permitiu-se "o envolvimento da universidade em benefício de uma
organização sindical". O equipamento, sustenta o tribunal, sequer era
necessário à UFRJ. A reitoria nega irregularidades. Houve recursos ao
acórdão, mas o tribunal manteve as multas e deu prazo para o pagamento.
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