Faz algum tempo que “Ai, se eu te pego” extrapolou os limites do razoável. O clipe já foi visto mais de cem milhões de vezes e a música ganhou versão até para surdos. O mais impressionante é que o hit não foi lançado por nenhum mega artista pop americano. Não bastasse, a música já existia há três anos, mas só fez sucesso depois que um cantor chamado Michel Teló gravou um vídeo e jogou na internet. Diante da repercussão mundial, pergunto: seria esse cara um gênio?
É prematuro responder à pergunta antes dos próximos dois ou três
sucessos, mas é preciso reconhecer alguma competência na popularização
mundial de uma música. Você dirá que “gênio” é exagero, e eu, acuado,
serei forçado a sacar O Perfume, do Patrick Süskind. Conhece a história de Jean-Baptiste Grenouille?
Nascido em meio a uma feira e expelido pelo corpo da mãe sobre restos
de peixe, Grenouille veio ao mundo fadado a morrer cedo. Mas não morre
e, graças ao olfato apuradíssimo, consegue, mesmo sem instrução formal,
criar o melhor perfume do mundo, capaz de induzir multidões ao amor. A
música do Teló não é tão potente, mas fez seu estrago.
Pode ser delírio, vai ver fui afetado pelo hit, mas esse frenesi todo
em torno de uma música tosca não te leva a considerar que é possível
ser genial mesmo nas esferas mais rasas, como o olfato ou o sertanejo
universitário? Não é que ele seja um Mozart ou um Beethoven – não se
trata de fundar o erudito universitário –, mas captar o que o povo gosta
e conseguir expressá-lo em forma de música ou literatura ou cinema tem
lá os seus méritos, por mais que fira sua sensibilidade esteticamente
privilegiada.
“Ai, se eu te pego” faz sucesso exatamente por ser simplório – e
porque tem dancinha, claro. E umas meninas bonitas no clipe. A música
fala sobre a paquera da maneira mais rasteira, ou melhor, simplesmente
reproduz a paquera. E, por ser tão simples, todo mundo no mundo inteiro
entende. Não engrandece a alma, mas distrai – o que o velho Settembrini
diz, lá nA Montanha Mágica, que é o efeito de qualquer música mesmo.
Talvez o incômodo de alguns diante do sucesso de “Ai, se eu te pego”
resida na percepção de que a maior parte da população mundial não
precisa de mais do que algo do tipo para se satisfazer – hora de baixar
as expectativas em relação à humanidade, galera. A pergunta que vai
ficar sem resposta é: onde Teló e os compositores da música poderiam
chegar se tivessem alguma educação estética? Se te consola, eles não
estão nem aí pra isso.
estou espantado com a repercusão desta música, ela já foi regravada em mais de três linguas, que sucesso, neimar tambem tem participação neste sucesso
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