Por Izaías Almada
Acabo de escrever a coluna agora, ainda no dia dois de fevereiro.
Dia dois de fevereiro, dia de festa no mar; eu quero ser o primeiro a saldar Iemanjá…
Apesar do carnaval que se aproxima, aquela data em que o Brasil já se
acostumou a dizer que é partir dela, ou melhor, depois dela que o ano
começa, nunca é demais lembrar que estamos em ano eleitoral. E política é
coisa de gente grande. Política é guerra, embora os cínicos queiram
provar o contrário. Sim, porque é comum se ouvir que a política deve ser
feita com ética e civilidade, mas os exemplos do cotidiano nos remetem
exatamente ao oposto disso.
Mas deixemos de lado essas reflexões que não levam a lugar nenhum e
passemos aos fatos concretos. Fatos que, em princípio, estão na ordem do
dia de um ano particularmente crítico. Tanto nacional como
internacionalmente.
Dizem alguns estudiosos, supersticiosos ou não, que a civilização
maia definiu em seu calendário o ano de 2012 como sendo um ano de
grandes transformações.
Ao colocar a corda no pescoço da política, o capital financeiro
internacional no seu estágio mais avançado em que buscou a
desregulamentação da economia e, em particular, ao enfraquecimento do
estado como agente conciliador entre os vários segmentos econômicos e
sociais, provocou não só uma crise econômica em escala mundial, mas
também uma crise política de proporções ainda não de todo avaliada.
Países como Estados Unidos e França enfrentarão eleições majoritárias
em meio a uma turbulência social. Espanha, Portugal, Itália e Grécia,
solapados pelas tão decantadas benesses do neoliberalismo, voltaram-se
(não sei se exatamente por vontade da maioria dos seus cidadãos, mesmo
considerando as recentes eleições espanholas) para a direita ou para a
extrema direita, fazendo pressupor dias sombrios em algumas regiões
européias.
Os nossos vizinhos do norte, sempre que se encontram em situações
internas delicadas, costumam ter uma bala na agulha. Gostam de uma
violenciazinha e o Irã continua como alvo.
O motivo não importa: basta
plantar a notícia através de suas agências noticiosas e milhares de
jornais, revistas e televisões ao redor do mundo repetirão como
papagaios mais uma mentira que justifique a invasão.
Na America do Sul, dois países terão eleições importantes: na
Venezuela eleições presidenciais e no Brasil as eleições para prefeitos e
vereadores. Em ambas estarão em jogo duas visões distintas para
enfrentar não só a presente crise econômica, mas para definições de uma
política que encontre alternativas humanistas para a mesma desfaçatez
capitalista. Nos dois países o filme irá se repetir e as oposições mais
uma vez botarão as suas garras de fora, cada vez mais afiadas nos velhos
e bons ensinamentos dos vovôs Adolfo e Benito.
Anotem aí: e a esquerda democrática brasileira, dentro dessa
complexidade, como se comportará? Seus candidatos e alianças surgirão
naturalmente. Como se comportarão diante de problemas como a Comissão da
Verdade? Da limpeza étnica em São Paulo e não só? Dos vários
Pinheirinhos espalhados pelo país? Da CPI da privataria? Da moralização
do Judiciário? Da exigência de nova regulamentação da mídia? Silêncio?
Blá, blá eleitoral?
Mas esses são problemas nacionais e não municipais, dirão alguns. Mas
o país não é também o conjunto dos seus municípios? Isolar os problemas
e torná-los estanques é a velha técnica da direita, o velho
individualismo superando a solidariedade. E aí, como é que fica?
Izaías Almada é escritor, dramaturgo e roteirista cinematográfico, É autor, entre outros, dos livros TEATRO DE ARENA, UMA ESTÉTICA DE RESISTÊNCIA, da Boitempo Editorial e VENEZUELA POVO E FORÇAS ARMADAS, Editora Caros Amigos.
E aí, como é que fica?
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