Agência de notícias do governo federal admite erro e nega mortes no Pinheirinho
Do UOL, em São Paulo.
A Agência Brasil, pertencente a EBC (Empresa Brasileira de Comunicação)
–rede pública do governo federal– divulgou nota nesta segunda-feira (6)
reconhecendo erro em uma reportagem que afirmava haver mortos no
processo de reintegração de posse ocorrida na região do Pinheirinho, em
São José dos Campos.
A reportagem da Agência Brasil foi ao ar no dia 23 de janeiro e chegou a ser destacado na manchete do UOL. O texto foi também citado ou republicado por diferentes veículos de imprensa nacionais e internacionais.
Na ocasião, a Agência Brasil afirmou, baseada em declarações de Aristeu
César Pinto Neto, que é presidente da Comissão de Direitos Humanos da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e também advogado dos moradores
desalojados, que havia mortos na ação policial. As autoridades dos
governos estadual e municipal negaram a informação. “Não houve a devida
checagem da veracidade da informação sobre supostos mortos na operação
de reintegração de posse da área conhecida como Pinheirinho”, afirma a
rede pública.
Leia a íntegra da nota:
Agência Brasil reconhece erro em notícia sobre mortes no Pinheirinho.
A Agência Brasil errou no processo de apuração, edição e publicação
da notícia OAB de São José dos Campos diz que houve mortos em operação
no Pinheirinho, no dia 23 de janeiro. A notícia foi publicada com base
em entrevista concedida à TV Brasil pelo presidente da Comissão de
Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São José dos
Campos, Aristeu César Pinto Neto. No entanto, não houve a devida
checagem da veracidade da informação sobre supostos mortos na operação
de reintegração de posse da área conhecida como Pinheirinho.
A entrevista foi gravada por uma equipe da TV Brasil que se
deslocou para São José dos Campos, mas a parte que denunciava a morte
não foi utilizada no noticiário televisivo por falta de confirmação ou
comprovação. No entanto, a reportagem da Agência Brasil em São Paulo
teve acesso à íntegra da gravação e considerou a informação relevante e
suficiente para ser publicada, tendo em vista o advogado ter se
apresentado como representante de uma instituição respeitável.
A Agência Brasil, embora tenha atendido a exigência de
identificação da fonte da informação, não seguiu os demais procedimentos
da boa prática de apuração, como recomenda o Manual de Jornalismo da
Radiobrás, que ainda está em vigência.
“O jornalismo deve procurar o equilíbrio. O equilíbrio é o cuidado
de ouvir os principais envolvidos e de apurar os aspectos mais
importantes da notícia, para reportar os acontecimentos com
objetividade. Ao apurar um fato, o jornalista deve analisar o interesse
de cada pessoa ou grupo a ele relacionado. Tem que se perguntar quem é o
afetado pela notícia e ir além da velha agenda de fontes, trazendo
novos interlocutores para comentar o tema.
Ouvir sempre dois ou mais lados distintos de uma questão é
fundamental para a equidade e para o desenvolvimento do trabalho de
qualidade que a Radiobrás se propõe a fazer. Fontes da sociedade civil
organizada devem ser consultadas e cidadãos não organizados devem ser
considerados. A edição tem que se estruturar de maneira igualitária e
seguir o bom senso. Cada personagem deve ocupar um tempo proporcional a
sua importância relativa dentro da notícia. Quem foi criticado deve ter
chance de responder”, diz o texto.
O Manual de Jornalismo da EBC, que está em fase de revisão, é claro
ao exigir rigor nesse tipo de apuração. “Toda denúncia deve ser
confirmada antes de ser publicada. A apuração de uma denúncia deve
manter o seu caráter jornalístico, ou seja, a intenção de buscar
informação para o cidadão não se confundir com a atuação da polícia, do
Ministério Público ou de qualquer outro ente oficial de investigação. Se
a denúncia tiver origem no trabalho do Jornalismo da EBC e não estiver
publicizada por qualquer outro meio, deve-se conceder ao denunciado um
prazo até 24 horas para sua manifestação”, diz o texto.
Neste caso, a denúncia estava publicizada, não apenas em redes
sociais, mas até na imprensa internacional, que, antes mesmo da Agência
Brasil, já mencionava a suposição de mortes. No entanto, a gravidade da
denúncia requeria ao menos outra fonte fidedigna que a corroborasse.
Faz-se necessário assegurar aos nossos leitores que não houve má-fé
da Agência Brasil ao publicar a matéria. Tampouco houve submissão desta
agência a qualquer interesse de natureza política. O que ocorreu foi um
erro jornalístico diante de uma situação de poucas e controversas
informações em uma situação tumultuada.
A gravidade dos fatos e a urgência em noticiar informações sobre o
assunto também levaram outros veículos a noticiar a possível ocorrência
de mortes no conflito de Pinheirinho. É o caso do jornal britânico The
Guardian, que informou ter recebido informações da mídia social que
tratavam o despejo como um “massacre” e sobre a ocorrência de mortes não
confirmadas.
“Ao longo do domingo [22], sites de mídia social estavam cheios de
relatórios apocalípticos de um suposto "massacre" na comunidade. Um
e-mail, enviado aos meios de comunicação internacionais, afirmou que
havia relatos de que pessoas haviam sido mortas. A maior rede de TV do
Brasil, a TV Globo, descreveu o despejo como "uma operação de guerra",
publicou o jornal britânico, na segunda-feira (23), às 15h27.
A matéria da Agência Brasil foi publicada às 17h30.
As informações controversas, no entanto, não justificam a falta de
rigor nos procedimentos de apuração da notícia. No mesmo dia, às 22h15, a
Agência Brasil publicou a matéria Terreno do Pinheirinho deve R$ 16
milhões em impostos, diz prefeitura de São José dos Campos, na qual o
prefeito do município, Eduardo Cury, negava a ocorrência de mortes.
No dia seguinte, a Agência Brasil publicou uma reportagem com a
negação da existência de mortes. A matéria Autoridades negam que tenha
havido morte durante desocupação em São José dos Campos foi publicada às
14h01 de terça-feira, dia 24.
Para evitar o mau entendimento do leitor, a Agência Brasil ainda
anexou à primeira matéria, que tratava da possibilidade de mortes, o
link da segunda, que desmentia a informação. Além disso, cuidou de
acrescer à primeira matéria uma explicação sobre o ocorrido.
A Agência Brasil reconhece, no entanto, que uma vez publicada uma
informação, mesmo de uma fonte supostamente crível, sem a devida
checagem, foi cometido um erro de difícil reparação. Ampliado pelo fato
de o título da notícia não ter deixado claro que a informação era do
presidente da Comissão de Direitos Humanos, e não da OAB.
Reconhece também que a tentativa de correção do erro no noticiário
seguinte foi insuficiente. Deveria ter sido enfatizada para alcançar a
mesma amplitude da denúncia incomprovada.
Por isso, a Agência Brasil está reorientando seus profissionais e
revendo seus procedimentos internos para evitar que erros como esse
ocorram novamente em seu noticiário.
Fonte: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/02/06/agencia-brasil-divulga-nota-afirmando-que-houve-erro-em-reportagem-sobre-pinheirinho.htm
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