O golpe e a ditadura foram a desembocadura natural da direita brasileira – partidos e órgãos da mídia, além de entidades empresariais e religiosas.
A direita brasileira aderiu, em bloco, ao campo norteamericano
durante a guerra fria, adotando a visão de que o conflito central no
mundo se dava entre “democracia”(a liberal, naturalmente) e o comunismo
(sob a categoria geral de “totalitarismo”, para tentar fazer com que
aparecesse como da mesma família do nazismo e do fascismo).
Com esse arsenal, se diabolizava todo o campo popular: as políticas
de desenvolvimento econômico, de distribuição de renda (centradas nos
aumentos do salário mínimo), de reforma agrária, de limitação do envio
dos lucros das grandes empresas transnacionais para o exterior, como
políticas “comunizantes”, que atentavam contra “ a liberdade”, juntando
liberdades individuais com as liberdades das empresas para fazer
circular seus capitais como bem entendessem.
A direita brasileira nunca – até hoje – se refez da derrota sofrida
com a vitória de Getúlio em 1930, com a construção do Estado nacional, o
projeto de desenvolvimento econômico com distribuição de renda, o
fortalecimento do movimento sindical e da ideologia nacional e popular
que acompanhou essas iniciativas. Foi uma direita sempre anti-getulista,
anti-estatal, anti-sindical, anti-nacional e anti-popular.
Getúlio era o seu diabo – assim como agora Lula ocupa esse papel -,
quem representava a derrota da burguesia paulista, da economia
exportadora, das oligarquias que haviam governado o país excluindo o
povo durante décadas. A direita foi golpista desde 1930, começando pelo
movimento – chamado por Lula de golpista, de contrarrevolução – de 1932,
que até hoje norteia a direita paulista, com seu racismo, seu
separatismo, seu sentimento profundamente antipopular.
A direita caracterizou-se pelo chamado aos quarteis quando perdiam
eleições -e perderam sempre, em 1945, em 1950, em 1955, ganharam e
perderam com o Jânio em 1960 – pedindo para “salvar a democracia”,
intervindo militarmente com golpes. Seu ídolo era o golpista Carlos
Lacerda. Esse era o tom da mídia –Globo, Folha, Estadão, etc., etc.
Era normal então que a direita apoiasse, de forma totalmente
unificada, o golpe militar. Vale a pena dar uma olhada no tom dos
editoriais e da cobertura desses órgãos no período prévio ao golpe a
forma como saudaram a vitória dos militares. Cantavam tudo como um
“movimento democrático”, que resgatava a liberdade contra as ameaças do
“comunismo” e da “subversão”.
Aplaudiram as intervenções nos sindicatos, nas entidades estudantis,
no Parlamento, no Judiciário, foram coniventes com as versões mentirosas
da ditadura e seus órgãos repressivos sobre como se davam as mortes dos
militantes da resistência democrática.
Por isso a cada primeiro de abril a mídia não tem coragem de recordar
suas manchetes, seus editoriais, sua participação na campanha que
desembocou no golpe. Porque esse mesmo espírito segue orientando a
direita brasileira – e seus órgãos da mídia -, quando veem que a massa
do povo apoia o governo (O desespero da UDN chegou a levar que ela
propusesse o voto qualitativo, em que o voto de um engenheiro valesse
muito mais do que o voto de um operário.). Desenvolvem a tese de que os
direitos sociais reconhecidos pelo governo são formas de “comprar” a
consciência do povo com “migalhas”.
Prega a ruptura democrática, quando se dá conta que as forças
progressistas têm maioria no país. Não elegem presidentes do Brasil
desde 1998, isto é, há 14 anos e tem pouca esperança de que possam vir a
eleger seus candidatos no futuro. Por isso buscam enfraquecer o Estado,
o governo, as forças do campo popular, a ideologia nacional,
democrática e popular.
É uma direita herdeira e viúva de Washington Luis (e do seu
continuador FHC, ambos cariocas de nascimento adotados pela burguesia
paulista) e inimiga feroz do Getúlio e do Lula. (Como recordou Lula em
São Paulo não ha nenhum espaço público importante com o nome do maior
estadista brasileiro do século passado, o Getúlio, e tantos lugares
importantes com o nome do Washington Luis e do 9 de julho).
É uma direita golpista, elitista, racista, que assume a continuidade
da velha república, de 1932, do golpe de 1964 e do neoliberalismo de
FHC.
Emir Sader é professor e sociólogo.
FONTE:http://www.pt.org.br/noticias/view/artigo_o_golpe_a_ditadura_e_a_direita_brasileira_por_emir_sader
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