sábado, 21 de abril de 2012

UFMA e Rede Globo apresentam. Professora MADIAN e o imaginário patrimônio encantado do Rei Sebastião na fantástica Ilha dos Lençóis.

Neste sábado, 21/04/12, o Programa Globo Universidade irá exibir uma matéria sobre pesquisas e projetos desenvolvidos na Ilha dos Lençóis. 

segue abaixo informações passadas pela Professora Madian ao Centro Acadêmico de Ciências Sociais Florestan Fernandes:

As minhas pesquisas junto à comunidade da Ilha dos Lençóis, desde 1998, que resultaram em minha dissertação de Mestrado (“O imaginário fantástico da Ilha dos Lençóis: um estudo sobre a construção da identidade albina numa ilha maranhense”, UFPA, 2000) e em minha tese de Doutorado (“O patrimônio da ilha encantada do Rei Sebastião: bens simbólicos e naturais da Ilha dos Lençóis no cenário do ecoturismo e das unidades de conservação”, UFPB, 2007), tiveram um considerável destaque na matéria.

Estive com a equipe do Programa Globo Universidade entre os dias 06 e 10 de fevereiro deste ano, gravando a matéria na comunidade (e em todo o trajeto), juntamente com Bruno Gueiros (analista ambiental do ICMBio/CNPT) e Carolina Alvite (analista ambiental do ICMBio/CNPT), coordenadora do projeto “Ecoturismo de Base Comunitária na Ilha dos Lençóis”, que também foi destacado, assim como  o projeto em execução na comunidade de Energia Eólica/Solar, coordenado pelo prof. Osvaldo Saavedra (DEE/NEA/UFMA).

O Programa vai ao ar dia 21/04/12, nas seguintes emissoras: na Globo, às 07:00; no Canal Futura, às 13:30; e na Globo News, às 15:30.

Com informações do Centro Acadêmico de Ciências Sociais Florestan Fernandes - UFMA.
  
Leia mais na materia da Rede Globo, adicionada abaixo:

Na Ilha dos Lençóis, o Rei Sebastião é um pai para os nativos, que o veem;

Conhecido como Sebastianismo, culto ao rei tem sua origem em Portugal.


Rei Sebastião (Foto: Reprodução de TV)
Imagem do Rei Sebastião (Reprodução de TV)
Na Ilha dos Lençóis, localizada no litoral do Maranhão, uma das figuras mais cultuadas não é um político que mudou a realidade do local ou um artista de sucesso que divulgou sua terra natal para o Brasil. 
Jovens e adultos  costumam celebrar a presença abstrata do Rei Sebastião, o protetor das terras, mares e areias de Lençóis.
Lá, o homem que morreu por Portugal na batalha de Alcácer-Quibir, Marrocos, em 1578, é tido como um pai para os nativos e até aparece para eles, montado em um cavalo, na praia ou nas dunas, mostrando que zela pelo local.

Detalhe: na Ilha dos Lençóis, não há equinos. Misturando história com religião e misticismo, os moradores, ou melhor, os Filhos do Rei Sebastião, como se autodenominam, são adeptos do Sebastianismo, mesmo sem saber direito a origem da lenda.
É o que conta a professora de Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão Madian de Jesus Frazão Pereira: “Há diversas hipóteses para o porquê do culto. Em escrituras antigas, falava-se de uma ilha afortunada.
Em seus sermões, Padre Antônio Vieira apontou o Maranhão como sendo o lugar onde estaria essa ilha e que o rei viria para cá para trazer riquezas e instaurar o quinto império. Isso se mistura a crenças religiosas, sob influência do Tambor de Mina, da Pagelância e até do Catolicismo.
A geografia também pode ter influenciado, já que o litoral maranhense está na direção da África e conta com dunas como as de Marrocos, onde o rei teria perdido a batalha e desaparecido. Mas os próprios moradores não fazem essa relação com a história, tanto que não se fala em Dom Sebastião, mas em Rei Sebastião, o protetor que baixa como entidade nos terreiros e que é constantemente visto tomando conta da ilha”.
Mural de homenagens a Rei Sebastião na Ilha dos Lençóis (Foto: Divulgação)
Mural de homenagens a Rei Sebastião na Ilha
dos Lençóis (Foto: Divulgação)
Décimo-sexto rei de Portugal, D. Sebastião I  nasceu em Lisboa, em 1554, e morreu aos 24 anos na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. A derrota representou também a derrocada de seu país, que acabou sob domínio da Espanha com a coroação de seu sucessor, D. Filipe II de Espanha, que virou D. Filipe I em 1580, já que o rei não deixou herdeiros.

Com o sumiço do corpo de Dom Sebastião na batalha, o povo começou a aventar a possibilidade de um retorno, mesmo que por um milagre. Chamado de Sebastianismo, esse sentimento assolou o país em outros momentos históricos. Quando Napoleão invadiu Portugal, no século 19, por exemplo, parte da população se fez sebastianista. E já houve também a identificação de personagens como o político Antônio de Oliveira Salazar e o rei Dom João IV como outras formas de Dom Sebastião.
“Nas aulas de literatura portuguesa, eu falo sobre esse assunto quando abordo Padre Antônio Vieira, Fernando Pessoa e Luís de Camões, que dedica ‘Os Lusíadas’ a Dom Sebastião. Mas quem plantou isso foi um sujeito bem anterior chamado Gonçalo Annes Bandarra, um sapateiro que nasceu em 1500 na cidade de Trancoso e foi um profeta que escrevia trovas misturando elementos bíblicos com messianismo judaico e cultura popular. Ele foi investigado pelo Santo Ofício e proibido de escrever. Quando Dom Sebastião morre, os portugueses conseguem fazer uma relação entre o episódio e as profecias de Bandarra”, conta a professora doutora da Universidade Federal Fluminense Maria Lúcia Wiltshire de Oliveira.
Bandarra previu a morte do rei. No final de “Os Lusíadas”, Camões fez uma exortação ao soberano. Mais ou menos um século depois, Padre Antônio Vieira retomou a propaganda das trovas de Bandarra e aviltou a possibilidade de um retorno do rei. Em seu livro “Mensagem”, Fernando Pessoa faz uma interpretação sebastianista da história de Portugal.

“O sebastianismo é complexo, mas ao mesmo tempo fácil de ser assimilado, porque é um fenômeno popular. Está na alma do povo que alguma coisa vai acontecer. No Brasil, o sebastianismo chegou através da imigração de portugueses e encontrou no nordeste terreno fértil. Quando houve a guerra de Canudos, por exemplo, isso voltou com a imagem do Antônio Conselheiro”, explica Maria Lúcia.

Formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão, Madian de Jesus Frazão Pereira estudou essa “encantaria” em seu mestrado, concluído pela Universidade Federal do Pará. Com a dissertação “O imaginário fantástico da Ilha dos Lençóis: Estudo da construção da identidade albina numa ilha maranhense”, aprofundou-se especificamente no imaginário dos albinos e na relação desse albinismo com a chamada encantaria. 

No doutorado, analisou a intervenção política no local com a instalação de um polo turístico e a criação da Reserva Extrativista de Cururupu, para tentar descobrir se a “encantaria” era um dos atrativos. Aprovada pela Universidade Federal da Paraíba, a tese “Patrimônio da ilha encantada do Rei Sebastião: Bens naturais e simbólicos no cenário do ecoturismo e das unidades de conservação” mostrou que há uma relação.

“Além das belezas naturais, o pássaro guará, os manguezais, as lagoas, as dunas, as pessoas que viajam para Lençóis querem conhecer também o albinismo e a encantaria, considerados exóticos. Também quis saber como os moradores estavam lidando com isso e descobri que eles passaram a ver as filhas de Rei Sebastião como usuárias da reserva, ditando as regras e tomando conta. Dom Sebastião não teve filhos, mas, na ilha, elas viraram entidades que baixam nos terreiros dos pais de santo. Jarina, Rosalina e Mariana, filha de um rei da Turquia que foi adotada por Sebastião, vivem por lá”, explica Madian.

FONTE: http://redeglobo.globo.com/globouniversidade/noticia/2012/04/na-ilha-dos-lencois-o-rei-sebastiao-e-um-pai-para-os-nativos-que-o-veem.html

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