sábado, 12 de maio de 2012

Para que os intelectuais?


Iván Carvajal.

Suspeita-se dos intelectuais, de suas indagações. Sus­peita-se mais dos filósofos, imersos em abstrações que supostamente pouco ou nada têm a ver com as realidades mundanas. Suspeitam científicos, técnicos, artistas e, sobretudo, os políticos.

Aqueles que se consideram intelectuais não deixam de se perguntar por sua função social.


Que é um intelectual? O uso ambíguo da palavra faz que se refira a um feixe heterogêneo de ações que têm a ver com o entendimento, o conhecimento, a formação de valores ou a crítica.


As atuais condições tecnológicas da comunicação, as formas que adquire a cultura do espetáculo, a consequente perda de densidade cultural e o enfraquecimento da reflexão exigem uma indagação sobre o papel dos intelectuais nas sociedades contemporâneas.


No entanto, há uma atitude que vem da Ilustração e à que o intelectual não renuncia ainda na nossa época: a atitude crítica, que introduz na opinião pública o debate sobre valores, expectativas e formas de convívio social. O intelectual não se pode eximir da dúvida, da incerteza, do necessário ceticismo que chama a examinar crenças, convenções, ordenamentos jurídicos, éticos, estéticos.


A crítica contribui a desvelar as configurações do poder em sua articulação com os saberes e crenças. Se a ala “liberal” da crítica destaca a liberdade (do pensamento, da expressão, da opinião) como condição para potencializar a individualidade, a ala “esquerda” indaga, além disso, pela igualdade (não no sentido de simples “igualdade de oportunidades”, mas de uma efetiva igualdade política e social dos indivíduos).


Todos temos “momentos intelectuais” quando duvidamos de nossas certezas e de modo razoável pomos em questão convicções, valores ou saberes. Mas o intelectual o faz de forma pública. Frente ao intelectual haveria de se contrapor o “ideólogo” (do Estado, do partido, da igreja) que fala em nome das instituições, a Nação, a Pátria, o “projeto” ou “os mercados”. Fala em nome de verdades inquestionáveis, de certezas de salvação. O ideólogo não duvida, assim como o funcionário não pode exercer a crítica de modo público.


À diferença de uns e outros, os técnicos resolvem problemas concretos, circunscritos. Viram tecnocratas quando tratam de impor seus esquemas unilaterais sobre a complexidade do real, quase sempre a serviço de algum autoritarismo (seja político ou econômico).


No Equador vivemos numa espécie de deserto intelectual. Pri­mam os ideólogos sobre os críticos. Hoje, como nunca, se requer um “tsunami” que arrase com estereótipos (de “esquerda” e de “direita”) e que nos confronte com os novos problemas éticos, culturais, políticos, técnico-científicos de hoje.
 
Iván Carvajal é filósofo equatoriano. O artigo foi publicado na página Opinião do “El Comercio”, de Quito, no domingo, 22. Tradução de Gonçalo Armijos Palácios.

FONTE:http://www.jornalopcao.com.br/colunas/ideias

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