Piratas pedem mais transparência e mais direitos para os cidadãos dentro e fora da internet. Depois de sucessivas vitórias na Europa, o movimento enfrenta dois desafios: ser reeleito e internacionalizar-se.
Rickard Falkvinge está orgulhoso. De
máquina fotográfica na mão e com o pin do Partido Pirata ao peito, o
engenheiro de computação sueco documenta mais uma vitória do movimento
que fundou.
Os piratas estão a crescer mais rapidamente do que ele
esperava. "É como se fosse um bebê", diz. "Quando o
bebê é pequeno, temos uma série de expectativas. Mas à medida que ele
vai ficando mais velho, ele não cresce da forma que tínhamos planejado.
Ainda assim, sentimos amor e orgulho."
O Partido Pirata alemão recebeu no
domingo passado (13/05) 7,8% dos votos nas eleições do estado mais
populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália.
Assim, pode enviar
pela primeira vez deputados para a assembleia legislativa estadual.
Falkvinge diz estar "cheio de orgulho" com o resultado. Os piratas
festejaram a vitória com as bandeiras cor de laranja do partido, espadas
feitas com balões e muito ruído.
É na Alemanha que o movimento tem
alcançado algumas das suas mais importantes vitórias: os piratas alemães
já conquistaram assentos em quatro assembleias estaduais e, de acordo
com as sondagens, deverão entrar
no Bundestag (câmara baixa do Parlamento) em 2013. Desde a criação do
primeiro Partido Pirata, em 2006 na Suécia, os piratas já conseguiram
enviar dois deputados para o Parlamento Europeu. O movimento já está
presente em cerca de 60 países, nos vários continentes.
Próxima parada: América do Sul - "Este é um movimento mundial e estamos somente começando", diz Gregory
Engels, co-presidente do Partido Pirata Internacional, uma organização
que coordena 29 partidos em todo o mundo. Segundo ele, aumentar a
presença na América do Sul, bem como na África e na Ásia, é um dos
próximos objetivos.
No Brasil, o movimento pirata existe
desde o final de 2007. Mas só este mês deverá reunir as assinaturas
necessárias e oficializar-se como partido político, já de olho nas
eleições de 2014. Na sua página online, o movimento diz querer
apresentar ao povo brasileiro uma "nova maneira de se fazer política".
Falkvinge diz que o Partido Pirata tem muito para oferecer na América do Sul, onde o processo
de democratização é relativamente recente. "Muitas das antigas práticas
de corrupção permanecem debaixo da superfície e penso que as nossas
ideias podem trazer alguma coisa para esta e para a próxima geração
quanto à questão da transparência".
Origens do crescimento - Os analistas políticos utilizam a expressão "início fulminante" para descrever a ascensão do movimento pirata.
Os piratas querem ser um movimento de
resposta às alterações trazidas pelo mundo digital. Eles questionam o
atual conceito de propriedade intelectual, defendem mais liberdade na
Internet e transparência absoluta nas decisões políticas. "Respondemos a
questões que os outros partidos nem sequer sabem que têm de ser
colocadas", resume Falkvinge.
Os críticos dizem que o programa do
partido tem falhas: na Alemanha, os piratas têm sido apelidados de
utópicos (o partido defende, por exemplo, transporte público grátis para
todos) e têm sido acusados de não oferecerem respostas para questões
como a presença militar alemã no Afeganistão ou a crise da dívida na
zona do euro.
Ainda assim, os piratas conquistaram os
eleitores. De acordo com o alemão Michael Lühmann, cientista político do
Instituto de Göttingen para a Pesquisa sobre a Democracia, os piratas
vieram "responder às preocupações dos cidadãos" na sequência de um
descontentamento geral com a forma como se faz política. O voto no
Partido Pirata, diz, é principalmente um voto de protesto.
O grande salto na popularidade dos
piratas deu-se em 2011, um ano de vários protestos em todo o mundo.
Milhares de manifestantes do movimento Occupy acamparam em Nova York,
Frankfurt, Londres e em muitas outras cidades mundiais para protestar
contra a injustiça social, a corrupção e a forma como os governos no
mundo responderam à crise financeira.
Na capital espanhola, Madrid, os
"indignados" também foram às ruas pedir uma "democracia real", em que
todos os cidadãos sejam ouvidos e não apenas as grandes empresas ou
bancos. O ano de 2011 foi também o da Primavera Árabe, em que as
revoltas populares destronaram líderes políticos que estavam há décadas
no poder.
A oposição dos piratas a projetos como o
ACTA (Anti-Counterfeiting Trade Act), um tratado internacional que teria
como objetivo uniformizar medidas para o combate à pirataria de filmes e
de música, contribuiu também para que o movimento crescesse
exponencialmente.
Depois do sucesso inicial - Lühmann adverte para os perigos de um
crescimento tão rápido – quanto maior for a ascensão do Partido Pirata,
maior poderá ser a queda, diz.
O fundador Falkvinge diz que o partido
não pode tomar como garantia de sucesso as sucessivas vitórias dos
últimos tempos. Será que o seu bebê está dando um passo maior do que a
perna?
"Estamos sem dúvida a crescer mais rápido
do que a nossa estrutura consegue suportar neste momento", reconhece.
"Isso poderá ser um problema, mas, simultaneamente, há bastante
entusiasmo e muita vontade de mudar o mundo para melhor."
Falkvinge diz que depois da eleição surge
também o problema da reeleição, um dos desafios do movimento: "Ser
reeleito é um jogo completamente diferente".
E nisso os piratas poderão estar em
vantagem relativamente a outros grupos políticos. Numa entrevista em
abril deste ano, Falkvinge associou a estratégia política à estratégia
nos jogos e disse em tom meio descontraído: "Nós, piratas, jogamos
muitos videogames".
Revisão: Alexandre Schossler
FONTE: http://www.defesanet.com.br/geopolitica/noticia/6076/Partido-Pirata-busca-expansao-mundial-apos-sucesso-na-Europa
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