247 – Nas eleições presidenciais de 2010, foi
inesquecível a entrevista do dono do Ibope, Carlos Augusto Montenegro,
às páginas amarelas da revista Veja: “Lula não fará seu sucessor”. Ele
afirmava que o teto de Dilma seria de 15% a 20% e, como se sabe, ela é
hoje presidente da República.
Institutos de pesquisa têm hoje um bom álibi para seus erros nas
fases iniciais do processo eleitoral. Como não se trata de uma ciência
exata – e é possível “operar” as margens de erro, em geral de três
pontos percentuais – muitas vezes são feitos ajustes para favorecer os
candidatos aos quais os institutos são ligados, nem sempre de forma
transparente.
Nas eleições atuais, dois casos chamam atenção. Em São Paulo, o
ex-governador e ex-prefeito José Serra apareceu no Datafolha, com 21%
contra 15% de Fernando Haddad, numa surpreendente arrancada, após várias
semanas de queda.
Ocorre que outros dois institutos, o Vox Populi e o
Ibope apontaram resultados divergentes e praticamente iguais – em ambos,
Fernando Haddad, do PT, tem 18% e o tucano José Serra vem em seguida
com 17%.
Em Curitiba, a situação parece ser ainda mais grave. O prefeito
Luciano Ducci, do PSB, que tem ainda o apoio do governo estadual, mas
vinha sendo mal avaliado, de repente dispara e começa a polarizar a
eleição com o candidato Ratinho Júnior – uma espécie de Celso Russomano
paranaense, que atrai os votos da nova classe média e do lumpesinato.
No entanto, diversas denúncias que começaram a circular nas redes
sociais, partindo até de entrevistadores, apontam que o nome do
ex-prefeito Rafael Greca, que concorre pelo PMDB e tem vencido todos os
debates, vinha sendo até ignorado nos questionários. Ou seja: tentava-se
consolidar o cenário de polarização entre o prefeito e o filho do
apresentador Carlos Massa. Houve até um flagrante com uma foto de um
pesquisador da Vox Populi entrevistando um cabo eleitoral de Ducci.
Para combater esse tipo de distorção, um pedido de investigação foi
protocolado ontem na Polícia Federal, em São Paulo, pelo Movimento dos
Sem-Mídia.
Leia, abaixo, o texto de Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania:
Exatamente às 14:44 hs. de terça-feira, 25 de setembro de 2012, a
Organização Não Governamental Movimento dos Sem Mídia enviou emissário à
sede da Polícia Federal em São Paulo para protocolar Representação
contra pesquisas eleitorais no âmbito de inquérito policial aberto em
2010 por determinação da Procuradoria Geral Eleitoral.
Alguns breves comentários.
Antes de tudo, há que comemorar o fato de que juntamente a essa
queixa à Polícia Federal foi entregue um calhamaço contendo
manifestações de apoio de 1016 cidadãos brasileiros que, nesta página,
aderiram ao chamamento de seu signatário e da ONG Movimento dos Sem
Mídia e, assim, endossaram a denúncia àquela instituição.
Se formos pensar em termos de abaixo-assinado, não é um número tão
expressivo. Todavia, se pensarmos que se trata de uma denúncia à
Polícia, é uma enormidade. São cidadãos dos quatro cantos do país que,
além de endossarem a tese da peça em questão, relatam que manipulações
de pesquisas estão ocorrendo em todo o país.
O que se pode dizer? Como cidadãos, fizemos a nossa parte. Inclusive,
de uma forma que nos coloca acima de acusações de partidarismo, pois
entre um instituto acusado de favorecer o candidato José Serra e outro
acusado de favorecer o candidato Fernando Haddad, pedimos que os dois
institutos sejam investigados.
Diante de tal exemplo de exercício de cidadania, podemos nos
orgulhar. Com o apoio decidido dos leitores a essa iniciativa
inquestionavelmente republicana, tenho a mais plena confiança em que,
juntos, inscrevemos nossos nomes em um cantinho de página da história
política deste país.
Parabéns a você que apoiou a iniciativa.
Fonte:
http://www.brasil247.com/pt/247/poder/81453/Distorções-em-pesquisas-eleitorais-nas-mãos-da-PF.htm
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