Por Rodolfo Machado - Dilma e a esperança do su-35
Por Víktor Litóvkin, analista militar, no Gazeta Russa
A presidente Dilma Rousseff chegará à
Rússia no dia 14 de dezembro. Ela irá se encontrar com o presidente
russo Vladímir Pútin e, segundo supõem alguns analistas brasileiros,
além de questões de cooperação no âmbito dos Brics, os dois poderão
tratar da compra de um lote de 36 caças multifuncionais SU-35, da russa
Sukhôi, no valor de US$ 4 bilhões.
Como se sabe, o SU-35 já
participou mais de uma vez da concorrência organizada pelo governo
brasileiro, mas nunca chegou até o final.
Além do SU-35, participaram
desse edital, que teve início ainda em 2007, três aviões: o Rafale, da
francesa Dassault, o americano F/A-18E/F Super Hornet, da Boeing, e o
sueco JAS 39 Gripen, produzido pela Saab.
A licitação tinha em vista o fornecimento de 36 aviões até 2015, além
da produção de mais 84 até 2024 pelos próprios brasileiros, com a
concessão que seria fornecida juntamente com os caças. Os favoritos eram
o Rafale e o Gripen, mais baratos e fáceis de usar. Mas a decisão final
ainda não foi tomada.
A concorrência já foi adiada mais de uma vez. Na primavera de 2011,
por exemplo, ela foi interrompida por falta de recursos. Hipóteses foram
levantadas após uma visita de consulta do ministro da Defesa do Brasil,
Celso Amorim, à Índia, logo depois de o Rafale vencer uma licitação no
país em fevereiro com 126 caças multifuncionais de porte médio. Então,
uma série de jornalistas anunciou que o favorito seria o caça francês.
O avião russo SU-35, um caça da geração 4++ com a vantagem de ser
pouco visível, corresponde totalmente às exigências da quinta geração.
Ele é capaz de desenvolver uma velocidade de 2,5 mil quilômetros por
hora, superando os 3,4 mil quilômetros. O raio de combate do caça
alcança 1,6 mil quilômetros.
O SU-35 está armado com peças de calibre de
30 milímetros. Além disso, o avião possui 12 pontos de suspensão para
foguetes e bombas de diferentes tipos.
Detecção de alvos - Uma característica muito importante da aeronave é que seu sistema de
controle de armamento é a nova estação de radar de grade faseada
“Irbis-E”, que possui características únicas no que diz respeito à
capacidade de detecção de alvos. De acordo com especialistas russos, seu
alcance de detecção de alvos em regime “ar-ar” ultrapassa 400
quilômetros. Esse índice é significativamente mais elevado que o de
caças análogos.
O RLS instalado no avião com radar de grade faseado também tem mais
alcance de detecção de alvos aéreos. Além disso, pode analisar
simultaneamente o espaço em terra e aéreo e descobrir, acompanhar e
bombardear um maior número de alvos (aéreos: acompanhar 30 alvos e
atacar 8; em terra: acompanhar 4 alvos e atacar 2).
Uma ampla gama de armas de longo, médio e curto alcance diferencia o
SU-35 de outras aeronaves. Ele pode transportar 8 toneladas de carga de
combate, incluindo meios aéreos dirigidos para derrotar alvos em terra e
ar de longo alcance, assim como de médio e curto – RLS, antinavio,
bombas corrigíveis e outros. As características potenciais do avião
permitem superar todos os caças táticos da geração 4 e 4+ do tipo
“Rafale” e EF 2000, assim como caças modernizados dos tipos F-15,F-16,
F-18, F-35 e equiparar-se ao F-22A.
Assim, a razão do insucesso da aeronave no edital brasileiro pode ser
a pressão dos países interessados na vitória de suas empresas com o
governo do Brasil, segundo especialistas.
Quando o ex-presidente francês
Nicolas Sarkozy soube que Dilma viajaria a Moscou e poderia discutir
com Pútin a compra do SU-35, voou com urgência a Brasília, diz-se, para
defender os interesses da Dassault.
Seu esforço teria tido frutos quando o edital foi lançado e o SU-35
ainda não fazia parte das forças armadas russas. Então, o Brasil não
iria querer comprar aviões russos que ainda não voavam nem na terra
natal. Agora, porém, o Ministério da Defesa da Rússia assinou contrato
com a Sukhôi para compra de 48 caças SU-35. A primeira esquadrilha já
entrou para o sistema de combate das forças aéreas.
Ainda em março deste ano, o diretor do Serviço Federal de Cooperação
Técnico-Militar, Aleksandr Fomin, já havia comentado a renovação da
participação do caça russo no edital brasileiro. “Se for aberta uma nova
concorrência ou se a última for renovada, estaremos preparados para
cooperar com nossos parceiros brasileiros”, disse Fomin.
A primeira chance de exportação do modelo também já foi divulgada:
uma possível venda de 48 SU-35 para a China por 4 bilhões de dólares.
Mas o Brasil ainda pode tomar a dianteira.
Vantagem à vista - Uma questão continua em aberto: o que o Brasil ganha com a compra dos
caças multifuncionais russos? Diz-se que Moscou poderá comprar aviões
de passageiros da brasileira Embraer em troca.
Principalmente porque o primeiro-ministro Dmítri Medvedev declarou
recentemente que o mercado russo de transporte de passageiros necessita
desse tipo de avião que o Brasil possui. O único problema seria o futuro
do Sukhôi Superjet, para até 100 passageiros. Nesse segmento, existe
ainda o russo-ucraniano An-148.
Há também questões relacionadas às licenças para a produção do SU-35
em fábricas brasileiras. A capacidade local de construção de aeronaves,
assim como a qualificação dos engenheiros e pessoal técnico são bastante
elevadas para que, com a licença, a produção desse caça seja assimilada
muito rapidamente.
Resumindo, ainda há muitas questões em aberto para além do desejo de
fortalecer a cooperação técnico-militar com um dos líderes do Brics, que
é o Brasil. Mas só teremos respostas após a aguardada visita da
presidente Dilma Rousseff.
Víktor Litóvkin é editor-chefe da revista “Nezavissimoie Voiennoie Obozrénie” (do russo, “Observador Militar Independente”).
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