Claudio de Moura Castro
12. Nov. 2012 - VEJA. Nosso ensino médio, após
várias décadas de letargia, começa a ser visto como um pantanal de
problemas e contradições. Aleluia! Trata-se de um ciclo copiado da
França do pós-guerra, quando apenas 5% da faixa etária correspondente
frequentava uma escola média. Lá, era para o topo da elite.
Enquanto o
médio brasileiro permanecia minúsculo e atendia, sobretudo, às ínfimas
elites, mal e mal, os alunos davam conta do currículo enciclopédico. Mas
nas últimas décadas explodiu a matrícula, o ensino ficou cada vez mais
aguado e congestionaram-se os currículos e ementas.
É o pior dos mundos:
a escola ficou pior, os alunos são rapados do fundo do tacho e o
currículo é para gênios. Vejamos as alternativas existentes, antes de
inventar mais jabuticabas.
Copiar a high school americana significa oferecer centenas de disciplinas dentro de uma escola única, para onde acorrem todos os alunos. Diante desse cardápio, cada aluno constrói o seu currículo. A ideia não é economicamente viável no Brasil e anda na contramão da nossa cultura. A solução clássica europeia é oferecer escolas de diferentes modelos, de acordo com o perfil e o gosto do aluno.
Umas mais voltadas para preparar para o trabalho, outras para a
universidade. E mais as soluções híbridas. Nossa esquerda engasga e
protesta contra o elitismo de criar uma "escola de pobres"" e uma "de
ricos" - apesar de a Europa ser a região de menor desigualdade econômica
e social. Independentemente do que possa vir à frente e com mais
ambição, resta uma solução fácil e amplamente testada.
Trata-se de
voltar à ideia de um modelo parecido com o que tínhamos no tempo do
clássico, científico e comércio. É algo similar ao modelo francês,
oferecendo vários "sabores" de baccalauréat: humanidades, ciências
biológicas, matemática, e assim por diante. A Argentina tem algo
parecido.
Isso permite aos alunos estudar mais aquilo de que gostam ou o que querem, além de aliviar a avalanche curricular do presente. É uma solução simples, realista e próxima do que já tivemos. No nosso caso, como o Enem tem quatro disciplinas, seria óbvio pensar em quatro vertentes. Essa solução funciona, sem mudanças de currículo ou legislação. Mas ficaria ainda melhor se fosse possível desvencilhar-se dos currículos excessivos e impositivos.
Se isso acontecer, poderão
aparecer trajetos mais práticos, para quem não se interessa pelo
superior e quer um programa em linha com seus planos de trabalho. As
matérias do ensino técnico também podem substituir as do médio regular,
fazendo com que tenha a mesma carga horária total.
Contudo, os alunos
que cursarem uma escola assim diversificada terão uma surpresa
desagradável no vestibular das universidades públicas, pois estas
consideram apenas as médias das quatro disciplinas testadas no Enem.
Quem estudar em uma alternativa com pouca matemática - ou com pouco
português - será severamente punido no processo de seleção. O vestibular
presente estraçalha os sonhos de diversificação do médio - tal como
existe em todos os países avançados.
Não é de hoje que os vestibulares das universidades públicas determinam o funcionamento das escolas de nível médio. De fato, essa proposta simples e exequível torna-se letra morta diante dos vestibulares que ponderam igualmente as médias das quatro disciplinas.
Faz parte da solução ter vestibulares
dando mais peso às disciplinas correspondentes à área escolhida pelo
aluno. Se assim for, as escolas espontaneamente se bifurcarão segundo os
quatro grandes troncos. Contudo, as instituições de nível superior,
mesmo as federais, têm todo o direito de determinar seus critérios de
acesso.
Em última análise, é uma reforma fácil, conveniente e bem
testada. Só que não depende do ministro ou de secretários, mas das
universidades públicas. São elas que mandam nos vestibulares. Mas, em se
tratando de uma ideia que traz muitos avanços e poucos senões, será que
não poderíamos contar com a ajuda dos reitores? Por outro lado, o MEC
tem meios de persuadir as universidades a andar nessa direção.
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