Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil.
Rio de Janeiro – Meio século depois da primeira edição, ocorre na
capital fluminense o 2º Congresso Nacional do Samba, que termina hoje
(2), quando é comemorado o Dia Nacional do Samba.
Os debates reuniram sambistas, estudantes e acadêmicos. Nos dias de
hoje a discussão sobre o que é ou não samba, as várias maneiras de
tocá-lo e o caráter comercial do Carnaval ainda incendeiam debates.
Vivendo há mais de 50 anos no mundo do samba, Manoel Dionísio,
conhecido como Mestre Dionísio, é um dos que critica a comercialização
do ritmo, principalmente para os desfiles oficiais, que acabaram
engessando o samba-enredo. “Eu sou um eterno saudosista, mas não sou
contra a modernidade. Só que estão modernizando tanto, que hoje você
canta o samba deste ano e no ano que vem, ninguém mais sabe cantar.
Os
sambas que ficaram antológicos todos conhecem. Atualmente, o samba é
estritamente comercializado, engessado com o tempo de desfile que a
escola tem e que a TV impõe. Este modelo financeiro já matou o samba
verdadeiro, mas estão fazendo que não vêem”, criticou Dionísio, que há
53 anos está na Escola Acadêmicos do Salgueiro, responsável pela
formação de várias gerações de mestres-salas e porta-bandeiras.
O carnaval paulista foi representado no encontro pelo sambista
Gilson Nunes Vitório, integrante da Escola de Samba Leandro de Itaquera,
e mais conhecido como Gilson Negão. “É uma experiência muito rica. Nós
viemos acompanhando a história desde o primeiro congresso, que é o nosso
documento de referência. Esta segunda edição é uma revisitação à Carta
do Samba, aliada às novas visões e projetos, teses importantes trazidas
pela juventude, e que estamos debatendo para levar aos demais”, contou
Gilson Negão.
Promovido pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(Unirio), o congresso terá um documento final. “Vamos construir um
documento único, juntando todas as participações, que vai balizar a
discussão em torno da Carta do Samba, que foi o primeiro documento de
política pública para o samba e o Carnaval. Ela ainda hoje se constitui
em um texto para pensar o samba, sua preservação e diretrizes”, explicou
o coordenador dos trabalhos, o professor Jair Martins de Miranda, do
Centro de Ciências Humanas e Sociais.
Embora
escrita há 50 anos, a Carta do Samba continua atual, trazendo aspectos
até hoje discutidos, conforme se constata na introdução do pesquisador e
folclorista, Edison Carneiro, relator do documento em 1962, quando foi
instituído o Dia Nacional do Samba, comemorado hoje.
“Esta Carta, que
tive a incumbência de redigir, representa um esforço por coordenar
medidas práticas e de fácil execução para preservar as características
tradicionais do samba sem, entretanto, lhe negar ou tirar espontaneidade
e perspectiva de progresso”.
Nascido em 1912, Edison Carneiro foi um dos principais intelectuais que
se preocuparam em sistematizar o conhecimento da cultura popular
brasileira, emprestando seu nome ao Museu do Folclore, que funciona ao
lado do Museu da República.
O congresso irá lançar também o Portal do Carnaval, um espaço na
internet com objetivo de reunir notícias, debates e oportunidades de
trabalho para quem atua no Carnaval, mas que só é contratada nos meses
que antecedem à festa. A iniciativa é estruturada pela Unirio, com
financiamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (Sebrae), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
“O Portal do Carnaval visa a produzir um banco de empregos e
oportunidades para as pessoas e valorizar quem trabalha com isso, além
dos quatro dias de Carnaval. Temos outros grandes eventos chegando, como
a Copa do Mundo e as Olimpíadas, e a cidade precisa cada vez mais de
profissionais especializados”, explicou Jair Miranda.
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-12-02/no-dia-nacional-do-samba-sambistas-e-academicos-debatem-rumos-do-ritmo
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