Falta uma explicação razoável sobre a morte de Raimundo Matias Dantas Neto, o Samambaia, estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Amigos e familiares do estudante de Ciências Sociais da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE) Raimundo Matias Dantas Neto, realizarão um
protesto às 16 horas deste domingo para cobrar o esclarecimento sobre a
morte dele. O rapaz saiu de casa na quarta-feira passada, dizendo que
iria comprar um notebook no Centro do Recife para poder lecionar
História e desapareceu.
Seu corpo foi encontrado na manhã da sexta-feira, na praia de Boa
Viagem, em frente ao edifício Brigadeiro Eduardo Gomes, trajando apenas
uma bermuda com a Carteira de Reservista no bolso. O caso está cercado
de mistério.
Raimundo Matias Dantas, o Samambaia, foi encontrado morto na praia. |
A família questiona a falta de acesso para a identificação do corpo
no Instituto de Medicina Legal (IML) e a liberação muito rápida. A
Declaração de Óbito foi assinado pela médica legista Ana Dolores do
Nascimento que identificou “asfixia por afogamento”.
Irmã do estudante,
Martinha Matias Dantas disse que o acesso foi proibido em duas visitas
sob o argumento de que a Carteira de Reservista encontrada no bolso dele
já o identificava.
Segundo familiares, a perita falou que o corpo não apresentava
ferimentos ou escoriações e estava com roupa. Mas na segunda tentativa
foram mostradas fotos nas quais o estudante estava sem blusa, parte dos
seus dreads foram arrancados, existiam escoriações pelo corpo, a bermuda
estava rasgada e seu pescoço parecia deslocado.
Abaixo, o relato de Bruna Machado Simões, amiga do estudante, sobre o
ocorrido. Em seguida, a nota do departamento de Ciências Sociais da
UFPE.
“Samambaia” – Raimundo Matias Dantas Neto, aluno do curso de Ciências Sociais da UFPE
Nosso querido amigo Samambaia saiu de casa na quarta-feira, dia 02/01
por volta das 19 h, informando a família que iria comprar um notebook.
Nesse mesmo horário, um amigo dele entrou em contato para confirmar sua
participação na “pelada” da quinta-feira, ele confirmou. Depois disso
não se teve mais notícias dele. A família começou a procurar em
hospitais, delegacias e nada. Na quinta-feira, a notícia do
desaparecimento foi divulgada pelo programa “Ronda Geral”.
Na madrugada da quinta para sexta, o corpo dele foi encontrado na praia de Boa Viagem, na altura do posto 57. A família compareceu ao IML na sexta feira pela manhã, mas só tomamos
conhecimento do desaparecimento dele depois da matéria exibida na TV,
mais ou menos às 13:30 da tarde.
A partir disso houve uma mobilização
pelas redes sociais, até que de fato foi confirmado que o corpo dele já
estava no IML. Quando conseguimos o telefone da família dele, entramos
em contato e em seguida fomos ao IML.
Chegando lá, conversamos com os
parentes, e no atestado de óbito continha ‘ASFIXIA POR AFOGAMENTO’.
Durante a conversa perguntamos se os parentes haviam visto o corpo, e
eles disseram que foram PROIBIDOS, pois como a carteira reservista dele
se encontrava no bolso, o corpo já estava “identificado”.
Questionamos e duas pessoas acompanharam o irmão dele em um nova
tentativa de reconhecer o corpo, e mais uma vez lhe foi negado o direito
de reconhecer o corpo do irmão.
“O por quê dessa agonia para vermos o corpo”? perguntou a perita que
falou com a família de manhã. Segundo ela, havia relato que o corpo
estava liso, sem nenhum ferimento ou escoriação, e estava de roupa.
Achamos estranho pois, se foi por asfixia, haveria marcas no corpo.
Nessa nova ida houve uma pressão para reconhecer o corpo estava notório o
desconforto da pessoa que nos atendeu e sua constante tentativa de
negar aos familiares o corpo de Samambaia.
Depois de muita insistência, foi mostrado um documento que contém
fotos no momento em que o corpo chegou ao IML, nessas fotos foi
visualizado que: ELE ESTAVA SEM BLUSA (a perita havia dito que ele
estava vestido), PARTE DOS SEUS DREADS FORAM ARRANCADOS, HAVIA SIM
ESCORIAÇÕES PELO CORPO, A BERMUDA DELE ESTAVA TOTALMENTE RASGADA, E O
PESCOÇO ESTAVA APARENTEMENTE DESLOCADO.
Conseguimos uma advogada (mãe de uma aluna de pedagogia), ao
relatarmos o caso para ela, ela começou a nos dar diretrizes. O IML
queria se livrar do corpo sem ao menos esclarecer a morte. Na delegacia
consta “morte a esclarecer”, no IML “asfixia por afogamento” e nada
mais)… Quando se trata de uma asfixia se trata de um homicídio. Ao saber
do caso a advogada nos orientou que o corpo não poderia sair do IML
pois perderíamos as provas.
Raimundo Matias Dantas Neto, estudante universitário encontrado morto. |
Hoje de manhã voltamos ao IML para falar com diretor, porém ele não
trabalha nos finais de semana. Fomos pedir esclarecimento da causa
morte, e ninguém soube dar explicação.
Daí fomos com a família e a
advogada, ao DHPP. Chegando lá depois de muita conversa, a delegada
orientou que o corpo não fosse retirado do IML, pois como o caso não
havia sido registrado como homicídio o DHPP não poderia instaurar o
inquérito.
A delegada fez um ofício com pedido de URGÊNCIA que fosse feito um
exame TOXICOLÓGICO. Voltamos com esse ofício para o IML, e mais uma vez
houve um total descaso: primeiro não quiseram receber o ofício enviado
pelo DHPP. Disseram que teríamos que esperar a perita que havia feito a
perícia anterior. Isso era por volta das 11h, e essa perita chegaria às
13h.
Ficamos a sua espera, deu a hora e nada dela chegar e ninguém mais
sabia onde encontrá-la. O perito que estava de plantão recebeu o ofício
solicitando o exame e falou que haveria uma nova perícia.
É isso galera.
Estão tratando o caso como mais um preto e pobre assassinado. Lá, eles
chamam ‘ZÉMICIDIO’, apenas mais um na estatística. Queremos o apoio de
todos. Quem tiver contato com a mídia, seja ela televisiva ou jornal
impresso, por favor, que entrem em contato.
Tentaremos obter apoio da UFPE e do reitor para que haja um
posicionamento da Secretaria de Defesa Social, não podemos deixar de
cogitar a hipótese de crime racial.
Queremos justiça!
Nota do Departamento de Ciências Sociais e do Curso de Ciências Sociais da UFPE
Morte de Raimundo Matias Dantas Neto
SEGUNDA-FEIRA, 7 DE JANEIRO DE 2013
SEGUNDA-FEIRA, 7 DE JANEIRO DE 2013
O Departamento de Ciências Sociais e o Curso de Ciências Sociais da
UFPE, apoiados por vários Programas de Pós-Graduação e Cursos que
compõem o Centro de Filosofia e Ciências Humanas desta Universidade,
tentaram publicar nos principais Jornais do Estado de Pernambuco a nota
abaixo.
Um destes jornais chegou a cobrar de nossa Chefe de Departamento
a soma de R$ 6.000,00 pela oportunidade de publicar o pequeno texto em
sua íntegra…
Pedimos, encarecidamente, aos leitores deste blog que
divulguem a nota em suas redes, já que se trata de um fato e uma questão
que nos dizem respeito como cidadãos.
O Departamento de Sociologia e a Coordenação do Curso de Ciências
Sociais da UFPE, diante da trágica morte do estudante do Curso de
Ciências Sociais Raimundo Matias Dantas Neto, encontrado morto na
madrugada do último dia 04, em circunstâncias ainda não esclarecidas e
que dão margem à suspeita de que não teria sido uma morte acidental por
afogamento, vêm de público reivindicar das autoridades responsáveis pela
investigação em curso uma apuração rigorosa das condições que
provocaram seu trágico desaparecimento.
Esta nota vem juntar-se às
manifestações do corpo discente no sentido de um esclarecimento cabal
dessas condições, de modo que à dor de sua perda tão sentida por seus
colegas e familiares, a quem prestamos solidariedade, não venha somar-se
o sofrimento, para o qual não há luto, de qualquer dúvida sobre as
circunstâncias de sua morte.
Recife, 07 de janeiro de 2013.
Maria da Conceição Lafayette de Almeida – Chefe do Departamento de Sociologia
Eliane Maria Monteiro da Fonte – Coordenadora do Curso de Ciências Sociais
Também Subscrevem essa nota:
José Luiz Ratton – Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia
Lady Selma Albernaz – Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia
Patrícia Pinheiro de Melo – Chefe do Departamento de História
Maria do Socorro Abreu de Andrade Lima – Coordenadora do Curso de História
Gabriela Tarouco – Vice-Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política
Daniel Rodrigues – Diretor do Centro de Educação
Ana Cristina Fernandes – Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Geografia
Cláudio Ubiratan Gonçalves – Chefe do Departamento de Geografia
Fernanda Torres – Coordenadora da Graduação em Geografia
(Acerto de Contas, Diário Pernambucano e Que Cazzo é Esse)
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Esta matéria foi publicada originalmente em: Morte de estudante da UFPE cercada de mistério.
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/01/morte-estudante-ufpe-samambaia.html
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