Confronto de manifestante que ataca a prefeitura e guarda municipal de SP - foto via Folhapress

O Sociólogo espanhol, Manuel Castells esteve no Fronteiras do Pensamento 2013 para a conferência Redes de indignação e esperança. No preciso momento de sua fala no Teatro Geo (11/06), a Avenida Paulista era espaço de tensão entre a polícia militar e os manifestantes contra o aumento das passagens de ônibus. Questionado pelo público sobre o que estava acontecendo na cidade, Manuel Castells respondeu:

Todos estes movimentos, como todos os movimentos sociais na história, são principalmente emocionais, não são pontualmente indicativos. Em São Paulo, não é sobre o transporte. Em algum momento, há um fato que traz à tona uma indignação maior. O fato provoca a indignação e, então, ao sentirem a possibilidade de estarem juntos, ao sentirem que muitos que pensam o mesmo fora do quadro institucional, surge a esperança de fazer algo diferente. O quê? Não se sabe, mas seguramente não é o que está aí.

Porque, fundamentalmente, os cidadãos do mundo não se sentem representados pelas instituições democráticas. Não é a velha história da democracia real, não. Eles são contra esta precisa prática democrática em que a classe política se apropria da representação, não presta contas em nenhum momento e justifica qualquer coisa em função dos interesses que servem ao Estado e à classe política, ou seja, os interesses econômicos, tecnológicos e culturais. Eles não respeitam os cidadãos. É esta a manifestação. É isso que os cidadãos sentem e pensam: que eles não são respeitados.

Então, quando há qualquer pretexto que possa unir uma reação coletiva, concentram-se todos os demais. É daí que surge a indicação de todos os motivos – o que cada pessoa sente a respeito da forma com que a sociedade em geral, sobretudo representada pelas instituições políticas, trata os cidadãos. Junto a isso, há algo a mais. Quando falo do espaço público, é o espaço em que se reúne o público, claro. Mas, atualmente, esse espaço é o físico, o urbano, e também o da internet, o ciberespaço. É a conjunção de ambos que cria o espaço autônomo. Porém, o espaço físico é extremamente importante, porque a capacidade do contato pessoal na grande metrópole está sendo negada constantemente. Há uma destituição sistemática do espaço público da cidade, que está sendo convertido em espaço privado.

Manifestação pacífica na Av Paulista - foto via Uol

O que muda atualmente é que os cidadãos têm um instrumento próprio de informação, auto-organização e automobilização que não existia. Antes, se estavam descontentes, a única coisa que podiam fazer era ir diretamente para uma manifestação de massa organizada por partidos e sindicatos, que logo negociavam em nome das pessoas. Mas, agora, a capacidade de auto-organização é espontânea. Isso é novo e isso são as redes sociais. E o virtual sempre acaba no espaço público. Essa é a novidade. Sem depender das organizações, a sociedade tem a capacidade de se organizar, debater e intervir no espaço público.

FONTE: Ex-Blog do Cesar Maia.

NOTA DO EDITOR: as fotos acima, via Folhapress e Uol, mostram duas situações distintas de uma indignação que certamente deve ser, a princípio, vista num contexto conjunto. São cenas de ontem em São Paulo: a face violenta, com vandalismo à prefeitura da cidade e que depois se estendeu a outras ruas do centro, com depredações e saques (ou seja, crimes), e a face pacífica, de passeata na avenida Paulista, em momentos praticamente simultâneos. 

Ontem, a separação se apresentou bastante nítida em vários momentos, o que inclui o aspecto geográfico da separação, mas nem sempre ela é assim e, como a própria dinâmica das redes sociais, as realidades se sobrepõem e se interconectam, e papéis aparentes também mudam no dinamismo de cada momento e contexto, em questão de segundos e minutos.

As diferenciações entre “manifestantes pacíficos” e “vândalos”, e que estão em voga na mídia e nas declarações diversas, são coisas bem mais complexas daquilo que virou moda dizer nos últimos dias, assim como os elogios a uns e reprovações a outros, acompanhando essas declarações. Não são questões estanques. Nesse sentido, a distinção entre o organizado e planejado frente ao desorganizado e espontâneo não pode ser simplista.

O texto acima, das declarações do sociólogo espanhol, ajuda a tentar entender alguns aspectos dessas questões, mas é necessário também se atentar a agendas de lutas pelo poder que há muito existem: não é porque um fato novo acontece na história que essa mesma história dos conflitos de grupos organizados, pré-existentes, e que têm suas próprias agendas, deve ser descartada numa análise. “Mocinhos” e “bandidos” não nascem do dia para a noite, nem mudam suas agendas reais com essa rapidez.