Espalhado por mais de mil municípios, movimento social convoca militância a participar das manifestações; principais ações estão reservadas para 11 de julho, dia em que as centrais sindicais prometem parar o país.
Gilmar Mauro, dirigente do MST
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A presença de integralistas e neonazistas na
linha de frente dos atos violentos ocorridos nas manifestações e a
possibilidade de a direita e a oposição se aproveitarem para desencadear
uma campanha “Fora Dilma” acordaram a esquerda e seu mais radical
movimento social.
“Se tiver que apanhar, vai apanhar todo
mundo. Nós vamos para as ruas disputar espaço com a direita”, anuncia
Gilmar Mauro, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST)
Com 28 anos de militância, Mauro lembra que os
camponeses organizados pelas entidades de classe rurais e os
trabalhadores urbanos que gravitam em torno das centrais sindicais
estavam até agora fragmentados e apenas assistiam às manifestações.
Nas sucessivas reuniões realizadas até agora, os
dirigentes das entidades de classe e organizações sociais avaliaram que,
embora pouco expressivos e fracos, os movimentos de direita flertam com
aventuras golpistas e trabalham com três cenários.
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No primeiro deles, o objetivo seria empurrar Dilma para a
direita; no segundo, fazer o governo sangrar até o fim – nesse caso,
com o claro objetivo de influir nas eleições do ano que vem – ; e, por
último, criar clima para pedir o impeachment da presidente Dilma – como
ocorreu no Paraguai – na esteira de uma campanha embalada no slogan
“Fora Dilma”.
Gilmar Mauro faz a ressalva de que não há
motivos para paranoia, mas alerta que, se não devem ser superestimados,
os grupos de direita também não podem se desprezados. Ele revela que há
na esquerda gente que não acredita e nem quer discutir a hipótese de
golpe, outros que acreditam seriamente numa conspiração parecida com as
que derrubaram os governos do Paraguai e da Guatemala e, no meio destes,
os que acham que é necessário a cautela de quem deve ficar com um olho
no peixe e outro no gato.
“Integralistas e neonazistas estão nas ruas e
há um ensaio de grupos militares da direita raivosa, os de pijama. Não
podemos avaliar isso com paranoia e nem com ingenuidade. É só olhar para
os vizinhos e tirar conclusões do que aconteceu”, diz o dirigente.
Ele admite que a esquerda foi apanhada de surpresa pelas
manifestações, mas avisa que ela acordou e agora está unificada para
cobrar ações concretas do governo, garantir o poder a Dilma se for o
caso e forçar o governo a avançar abrindo caminho para “o poder popular”
nas decisões oficiais.
“O Brasil não é o Paraguai. Aqui não deixaremos acontecer o que aconteceu com o Lugo (
Fernando Lugo, ex-presidente do Paraguai que foi alvo de impeachment relâmpago
). O Brasil não dará um passo atrás. Vai progredir. Não entregaremos o
poder para a direita. Esse é o limite. Se houver uma tentativa de
impeachment resistiremos nas ruas”, afirma Gilmar Mauro, um dirigente
conhecido no meio político pelo equilíbrio e capacidade de negociar.
O que ele diz, em outras palavras, é que o
movimento social mais aguerrido do país, amadurecido em 34 anos de
conflito com governos, produtores rurais e jagunços na luta pela reforma
agrária, controlador de um universo estimado em cerca de dois milhões
de camponeses – 400 mil famílias assentadas, 80 mil acampados e 20 mil
militantes preparados – quer empurrar o governo Dilma para a esquerda,
mesmo que isso implique um enfrentamento de consequências imprevisíveis.
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Presente em mais de mil municípios, o MST já
convocou a militância para participar de todas as manifestações
possíveis, mas reservou as ações mais barulhentas para o dia 11 de julho
próximo, data em que as centrais sindicais e os movimentos sociais e
sindicatos vão parar o país no ato que esperam transformar na marca da
aliança entre trabalhadores rurais e urbanos para ajudar nas mudanças
que devem começar pela reforma política.
Gilmar Mauro afirma que o MST tem uma visão crítica do
governo Dilma e de seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, sobre a reforma agrária e as mudanças de fundo de que o país
precisa. Mas também não pode ignorar que seus principais adversários,
entre eles a elite rural representada pelo agronegócio, conspiram para
afastar a esquerda do poder. Ele diz que a elite está se apropriando
indevidamente das insatisfações catalisadas pelo novo movimento
estudantil para impor sua pauta na tentativa de eleger o próximo
presidente da República.
“A maioria da população não sabe o que é a PEC 37
(rejeitada esta semana na Câmara), mas entendeu a mensagem da corrupção.
O objetivo dessa pauta, da elite e da grande mídia, é associá-la ao
mensalão e ao Lula”, diz o dirigente do MST. Ele não tem dúvidas de que
na alça de mira da oposição estão Dilma e Lula.
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