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- iG São Paulo
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Ex-presidente Lula afirma que mobilizações pegaram todos de surpresa e que PT age de forma antiga na política
Em janeiro deste ano um grupo de assessores e
dirigentes petistas se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva na sede do Instituto Lula e sugeriu um forte investimento na
profissionalização da gestão das redes sociais pelo PT e pelo governo.
Eles teriam mostrado a Lula um gráfico sobre a
presença dos grupos políticos nas redes. A direita era um enorme círculo
azul. A esquerda um pequeno círculo vermelho e o PT um ponto,
representado apenas pelo perfil Dilma Bolada no Facebook.
Segundo relatos, Lula teria ignorado a sugestão.
"Isso aí não resolve nada. O que importa é a TV", teria
dito o ex-presidente, adepto até então da máxima do marqueteiro Duda
Mendonça segundo a qual "TV é benzetacil, o resto é homeopatia".
Seis meses depois, na última sexta-feira (2), o próprio
Lula fez uma espécie de mea culpa na abertura do XIX Encontro do Foro de
São Paulo.
"Estes movimentos que aconteceram aqui no Brasil pegaram
de surpresa todos os partidos de esquerda, de direita, o movimento
sindical e o movimento social porque nós ainda agimos da forma antiga
para fazer política", disse Lula. "Nós na verdade, fomos ficando velhos e
perguntamos: cadê a juventude do nosso partido? Como estamos nos
comunicando com eles?", admitiu o ex-presidente.
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Nas últimas semanas movimentos da juventude
como os coletivos digitais ganharam espaço nas concorridas agendas de
Lula e Falcão. O presidente do PT fez uma reunião com toda a executiva
da Juventude Petista e intermediou encontros do ex-presidente com o a
Juventude do PT, blogueiros progressistas e o coletivo Fora do Eixo, do
qual faz parte a mídia NINJA.
Segundo relatos, Lula está fascinado com as novas formas de atuação política online.
Além de melhorar a estratégia de
comunicação, o PT decidiu incorporar vários pontos da pauta de
reivindicação da juventude. Temas como novas oportunidades de acesso à
educação, melhoria do transporte nas grandes cidades, abertura de mais
espaços públicos para atividades culturais, aumento na qualidade dos
empregos para os jovens, criação de novos canais de participação
política, descriminalização das drogas leves e também o direitos das
mulheres entraram na pauta do partido e, segundo Falcão, devem ser o
eixo da modernização programática. O palco para a inclusão desta nova
agenda deve ser o 5º Congresso Nacional do PT, em fevereiro de 2014.
"O legado destes 10 anos de governo petista
deve ser divulgado e protegido, mas não é suficiente. Temos que pensar
no futuro. E o futuro não é o presente com um upgrade", disse Rui
Falcão.
Depois do impacto negativo no primeiro momento
(queda da aprovação do governo e reação negativa à presença de partidos
políticos), o PT passou a encarar as mobilizações populares de forma
mais otimista, como uma oportunidade de guinada à esquerda. Daí as
críticas aos aliados "conservadores" e à dependência excessiva de
marqueteiros eleitorais incluídas em documentos do partido.
Depois de muita discussão e dúvidas a direção
petista elaborou um discurso segundo o qual os governos dos partidos
criaram uma base de direitos sociais que permitiu à juventude ir às ruas
impor uma nova agenda ao país e cobrar um salto de qualidade baseado na
melhoria dos serviços públicos. Além disso, o partido identificou
pontos em comum como a reforma política e o combate aos monopólios da
mídia.
Diante dos protestos de junho, o PT assumiu,
dentro da coalizão de 22 partidos que integra o governo Dilma Rousseff, o
papel de pressionar o governo pela inclusão das novas pautas e por
mudanças na política econômica. "Cabe tudo isso no Orçamento da União?",
questiona Rui Falcão. "Não cabe. Então uma saída é rever o modelo
fiscal e a escala das prioridades de gastos do governo", disse ele.
Tudo isso para aproximar o PT das novas formas
de mobilização política e tentar trazer os novos ativistas para a
política partidária. "A utilização das redes sociais, a possibilidade de
cada um dizer para todo mundo o que pensa de forma individual no
Facebook é, de certa forma, um movimento antiassociativo e, portanto,
antipartidário também já que os partidos pressupõem associação e ação
coletiva", disse Falcão. "A última grande formulação programática do PT
foi no final dos anos 80.
Desde então temos nos dedicado a outras
tarefas como o governo ou os embates eleitorais que acontecem a cada
dois anos. Temos que nos perguntar o que a gente representa hoje e a
quem estamos nos dirigindo. No 5º Congresso vamos ter que refletir sobre
tudo isso", completou.
Para o PT, mais do que pegar carona na onda de
manifestações, é fundamental renovar os vínculos naturais e históricos
do partido com os movimentos sociais.
"Houve um refluxo dessa relação,
seja porque alguns movimentos se sentiram contemplados pelo governo,
seja porque muitas pessoas foram beneficiadas nestes 10 anos", admitiu
Falcão. "Precisamos reforçar este vínculo. Os movimentos são ao mesmo
tempo a linha de frente das mudanças sociais e a retaguarda estratégica
para nos defender em caso de ataques", disse o presidente do PT.
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