Lisandra Paraguassu - Brasília .
Enquanto a presidente Dilma Rousseff
espera que os Estados Unidos esclareçam "tudo" sobre a suspeita de
espionagem de autoridades do País, o governo brasileiro tem prontos
equipamentos que podem aumentar a proteção das comunicações da
mandatária e de seus ministros. Há pouco mais de um mês, técnicos da
Agência Brasileira de Inteligência (Abin) apresentaram ao Palácio do
Planalto dois novos produtos que permitem criar áreas seguras,
criptografadas, dentro de computadores e tablets.
Feitos para proteger dados de espiões e
sistemas de monitoramento, o CriptoGOV e o cGOV devem estar prontos para
uso nos próximos dias. Os novos equipamentos foram apresentados no
Planalto em 14 de agosto a representantes de mais de 30 ministérios.
O sistema, muito mais simples que os
existentes hoje, é uma espécie de pen drive chamado de Plataforma
Criptográfica Portátil (PCP), que pode ser conectado em qualquer porta
USB, acompanhado de um aplicativo. O sistema cria áreas seguras no
computador, em outro pen drive ou na própria plataforma. Ali, os
documentos que forem criados são automaticamente criptografados. Com o
cGOV, esses documentos podem ser transmitidos pela internet também sob
segurança.
Os técnicos da Abin acreditam que a
facilidade de operação do sistema permitirá que a presidente, ministros e
outros servidores com acesso à informações sensíveis passem a usar com
mais frequência os sistema de criptografia. Até o escândalo que revelou a
espionagem americana no Brasil, ministérios, a Presidência e empresas
com informações sensíveis tinham dificuldade de encarar o uso da
proteção de dados como necessidade primária.
Hábito - A Abin criou há alguns anos telefones -
fixos e móveis - com transmissão criptografada que dificultam a
decodificação de conversas sigilosas. Dilma tem telefones fixos em suas
salas, no Planalto e no Alvorada, e também um dos celulares,
criptografados. Outros ministros, como Gleisi Hoffmann (Casa Civil),
Luiz Alberto Figueiredo (Relações Exteriores) e Celso Amorim (Defesa)
também possuem aparelhos fixos e móveis protegidos. Mas a maioria revela
certa dificuldade de usá-los.
O ministro das Comunicações, Paulo
Bernardo, revelou que, apesar de ter o celular seguro, a presidente
quase nunca o usa. O ex-chanceler Antonio Patriota usava o fixo mais
para receber chamadas. Tinha o cuidado de, ao falar de assuntos
sensíveis, evitar seu próprio celular - variava entre os dos assessores
-, mas raramente carregava o seguro.
Amorim parece ser um dos únicos que têm o
hábito de usar o aparelho protegido. Mas conversas mais sensíveis com
os Comandantes das Forças são feitas pessoalmente.
Depois da denúncia de que os EUA
monitoravam as comunicações de Dilma e assessores próximos, aumentou o
interesse pelos equipamentos da Abin. Eles devem começar a ser
distribuídos nos próximos dias. Quase todos devem receber tanto os
telefones quanto os novos sistemas de codificação. Com a criptografia,
espiões podem até acessar e-mails ou telefonemas, mas conseguirão ver e
ouvir apenas ruídos e códigos.
Considerada de primeira linha, a
criptografia brasileira é a chance mais palpável de proteger dados
sigilosos. Hoje, o País não tem estrutura para ter uma internet
independente, cujos dados não passem pelos EUA - todos os cabos de
transmissão e os 13 hubs existentes são americanos.
Enquanto a
criptografia fornecida por empresas privadas tem "portas dos fundos"
deixadas pelas empresas para que a Agência de Segurança Nacional (NSA)
possa quebrar seus códigos, como revelou o jornal The New York Times, o
projeto nacional não teria esse problema. Se implementado, ministros
como José Eduardo Cardozo, da Justiça, poderão voltar a usar seus
tablets, recentemente trocados por caderninhos de papel por medo da
espionagem.
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