A greve de fome
deflagrada por Josemiro Oliveira, seguida por dois estudantes, recolocou a UFMA
no palco dos debates para além do rio Bacanga.
Universidade sem
conflito de ideias e posições é um cemitério político que só interessa às
ditaduras, onde o primeiro defunto é a liberdade.
É bom lembrar que o
movimento estudantil e dos docentes, nos anos 1960/70, foi fundamental na
resistência ao regime militar. Posteriormente, nos anos 1980, a luta dos
estudantes, professores, operários e lavradores contribuiu para a retomada da
democracia no Brasil.
Esse é um ponto
essencial para entender a natureza do ambiente universitário: conflituoso,
contraditório e, portanto, fértil.
É nesse terreno,
adubado pela guerra de propósitos, que foi semeada uma solução para o litígio
entre os estudantes e a administração da UFMA.
A IMAGEM DA UFMA
Até a deflagração da
greve de fome do aluno Josemiro, a UFMA era tida fora da muralha do campus como
uma instituição próspera, minada de obras por todos os lados, resultando até na
mudança da designação de campus para cidade universitária.
Para fazer jus à
palavra cidade, que é o lugar onde se mora e/ou reside, os estudantes decidiram
retomar a pauta da moradia estudantil.
É inadmissível que a
cidade universitária não seja o lugar onde possam residir os estudantes,
principalmente os mais pobres, já penalizados pela falta de outros direitos tão
importantes quanto a moradia.
Ao não tratar a
reivindicação dos estudantes com a devida atenção, a administração da UFMA
gerou uma rede de solidariedade a Josemiro, simbolizado no drama da fome, da
falta de teto e das correntes.
Josemiro transformou-se
em um movimento que pôs em questão a imagem da UFMA próspera e com tantas
obras, portais e prédios, sem que haja um lugar de moradia estudantil dentro da
cidade universitária.
A segunda palavra,
portanto, é a desconstrução. O que parecia pujante - a cidade universitária -
revelou-se pequeno. A UFMA nunca mais será vista como antes.
MOVIMENTO POLÍTICO
A terceira palavra é
política, que deve ser colocada no deu devido e elegante lugar, mas nunca
reduzida ao sentido proclamado pela direção da UFMA, que qualificou o movimento
dos estudantes como algo forjado às vésperas das eleições para o DCE (Diretório
Central dos Estudantes) e Associação dos Professores (Apruma).
Nas duas entidades
sequer existe oposição. Como estariam preocupados com eleições?
Nos simples manuais até
os grandes tratados, está escrito que todo movimento humano em torno de ideias
e projetos individuais ou coletivos é político.
É impossível imaginar a
vida fora desse horizonte, se os corriqueiros atos de apertar um interruptor
para acender a luz e ligar a torneira são frutos das políticas energética e de
recursos hídricos, respectivamente.
Óbvio que a luta por
moradia estudantil é política, porque se traduz em ação, poder, direito,
disputa, movimento, escolhas e decisões.
SOLIDARIEDADE
Por fim, e talvez mais
importante, a palavra solidariedade expressa todo o sentimento que envolveu a
luta pela moradia estudantil.
Na onda de protestos
que varre o mundo, a hastag #somostodosjosemiro# espalhou-se pela cidade,
construindo uma rede imensa de pessoas afetadas com a falta de sensibilidade da
administração da UFMA para abrir a negociação.
Dos moradores da área
Itaqui-Bacanga ao arcebispo de São Luís, todos pediam uma solução negociada
para o impasse.
A greve de fome, a
princípio um ato de desespero, transformou-se em um movimento que ganhou adesão
dos mais diversos setores, provando à administração da UFMA que a melhor saída
foi a negociação política para implantar a moradia na cidade universitária,
porque a imagem da administração começava a ficar muito desconstruída.
Estão de parabéns todos
e todas que lutaram e acreditaram que vale a pena enxergar além do horizonte.
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