quarta-feira, 2 de abril de 2014

Cultura - Exposição em homenagem a Zuzu Angel.

Foto - Cultura.gov.br
Em uma cerimônia com grande presença de público, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, participou da abertura da Ocupação Zuzu Angel, exposição em homenagem a uma das mais importantes e inovadoras estilistas brasileiras. A exposição aberta ao público neste dia 1º de abril, poderá ser visitada até 11 de maio, no Itaú Cultural, em São Paulo.

Assim que chegou, a ministra da Cultura conheceu parte da Ocupação ao lado Hildegard Angel, filha de Zuzu e curadora da exposição; da presidente do Itaú Cultural Milu Vilela (foto à direita); e de Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.

Em sua fala, a ministra Marta Suplicy exaltou diversos aspectos da trajetória da artista: "Zuzu era uma mulher à frente de seu tempo. Na moda, a reverenciamos por seu gênio criativo. Como mulher, se equivalem sua coragem e sua dimensão criadora", disse a ministra ao relembrar o enfrentamento da artista à ditadura militar. 

Marta lembrou ainda que a estilista via a moda de forma ampla, desde um meio de valorização da cultura brasileira, sempre presente em suas criações, até como um meio de geração de empregos. "Zuzu Angel era empreendedora". 

O legado da artista para a moda brasileira também foi ressaltado pela ministra: "Zuzu ganhou reconhecimento internacional em um momento em que a moda brasileira não tinha projeção no Mundo. Ela abriu portas para as próximas gerações.".
Foto - Cultura.gov.br
Para Milu Vilela, "falar da Zuzu é falar da mulher que conquista sua identidade, amplia seu espaço de liberdade". Marta Suplicy também ressaltou a importância da artista neste aspecto: "Zuzu soube impor seu estilo em um momento da história em que o Mundo olhava somente para estilistas homens".

Moda é cultura

Segundo Eduardo Saron e Hildegard Angel, filha de Zuzu e curadora da exposição, a ideia de realizá-la ganhou impulso no ano de 2013, no momento em que a ministra Marta Suplicy se posicionou a favor de que moda é cultura e estabeleceu critérios para que o setor possa se beneficiar da renúncia fiscal propiciada pela Lei Rouanet. "Após o apelo de Marta para colocar a moda como cultura, nasceu o trabalho que levou a esta exposição", disse Saron.

Ao encerrar sua fala, Milu Vilela também tocou neste tema: "Deixo aqui nossa provocação: Moda também é arte".

Zuzu Angel X Ditadura Militar
Foto - Cultura.gov.br
Não coincidentemente, foi escolhida a data de 1º de abril para a abertura da Ocupação Zuzu Angel. Neste dia em que o Golpe Militar de 1964 completa 50 anos, a exposição homenageia a estilista que foi uma das mais corajosas combatentes da ditadura que se instalou no Brasil por mais de duas décadas.

Para Hildegard Angel, "esta Ocupação vem para afastar uma nebulosa parte de nossa história, pois até hoje há quem diga que Zuzu Angel morreu em um acidente de carro sem causas conhecidas". Em relação à morte de sua mãe, somente 22 anos depois, reconhecida pelo Estado brasileiro como tendo sido causada por um atentado da ditadura militar, Hildegard disse que "além de lhe roubarem a vida, ainda lhe usurparam o reconhecimento de sua morte heróica". A cerimônia foi marcada por muita emoção de todos os que participaram.

Sobre Zuzu Angel: Zuleika de Souza Netto nasce em Curvelo (MG), em 1921. Foi criada em Belo Horizonte, onde conhece o norte-americano Norman Angel Jones, com quem se casa. Depois de viver um tempo na Bahia, local de nascimento de seu primeiro filho, Stuart, a família se estabelece no Rio de Janeiro, onde nasceram Ana Cristina e Hildegard. 

Na cidade Zuzu abre um ateliê em sua própria casa – quando transforma seu quarto em oficina de costura. Nasce a "Zuzu Saias". Mesclando referências locais e cosmopolitas, seu espírito de vanguarda se fortalece com a criação de estampas próprias que valorizam a identidade brasileira. Pássaros, borboletas, flores e frutos. A brasilidade também aparece nos materiais: rendas, bordados, pedrarias, contas de madeira, bambus e conchas.

No auge do sucesso de Zuzu e de sua projeção internacional, seu filho Stuart é preso e morto pela ditadura militar e dado como desaparecido político. 

Em 1971, a estilista realiza, em Nova York, um desfile de protesto e a partir de então o luto passa a ser seu hábito (foto à direita).

Roupa preta, véu, crucifixos, o cinto, o anjo. "Esse desfile foi uma ação entre muitas outras. Ela não fez esse desfile e parou. Até a sua morte ela nunca parou. Atuou o tempo todo. Militou o tempo todo", conta Hildegard Angel, que criou e dirige o Instituto Zuzu Angel, o IZA. 

Por onde fosse, sempre em busca de informações sobre Stuart, também distribuía o santinho que mandou imprimir com a foto do filho, inquiria políticos, militares, artistas, jornalistas, quem pudesse ajudá-la. Zuzu Angel foi morta em 14 de abril de 1976.

A Ocupação: Ao todo, são quatro andares do instituto Itaú Cultural dedicados a documentos, cartas, vestidos e referências que constroem o universo da fashion designer. 

A mostra ocupa diferentes espaços e propõe uma exposição em movimento, com performances dirigidas pela estilista Karlla Girotto. Réplicas dos vestidos criados por Zuzu desfilam em modelos e atrizes, que também dão voz às cartas que ela enviava a amigos e autoridades na busca por Stuart.

(Texto: Thiago Esperandio / ascom MinC – com informações de Itaú Cultural  Fotos: Luiz Murauskas).

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