12.04.2014
A ministra da Cultura, Marta Suplicy, vai criar os Canganceiros da Cultura. "Vou colocar jovens para ir às comunidades. Olhar projetos e ações e selecionar o que é bom e precisa ganhar musculatura. Adorei essa ideia!", disse a ministra, na manhã deste sábado (12), segundo dia do Curto Circuito da Juventude, que acontece até amanhã em Brasília.
A ideia surgiu do comentário de Jean Batista Campos, o Mc Jean B, que é rapper, MC, beat-box man, jogador de basquete e educador social em São Paulo. No primeiro dia do encontro ele empolgou a juventude com seu estilo vocal no beat-box (leia mais aqui).
Marta pensou em chamar o projeto de Volantes da Cultura. Lembraram a ela que volantes também eram policiais que perseguiam cangaceiros. Ela virou o jogo: "Tá bom! Então, vamos ser os cangaceiros."
Os Canganceiros da Cultura serão servidores do Ministério da Cultura e agentes de cultura indo às periferias para identificar ações e para ajudar os jovens a descobrirem oportunidades de acesso à cultura, de formação à produção artística, participação e protagonismo. Também para apoiar que se inscrevam em editais.
Vários relatos feitos à ministra lembraram a complexidade de se inscrever em editais. Segundo os jovens, os editais são impossíveis e não se enquadram no acesso deles a recursos e oportunidades.
A ministra ponderou: "Não vamos demonizar os editais." Ela lembrou que antes da política de editais, a distribuição de recursos não era democrática. "Não chegava às pessoas."
Debate – O encontro com os jovens trouxe à ministra e aos secretários e equipes do MinC que participaram do encontro neste sábado diversas reflexões como a necessidade de aumento de recursos, descentralização de editais, identidade racial e mais valorização dos povos que têm culturas tradicionais, como os ciganos e indígenas. Educação para a diversidade também permeou os debates.
"Somos um povo poliancestral, não sou branca, negra, nem índia e ao mesmo tempo sou todas elas. Tenho identificação com todos que estão aqui e acima de tudo somos brasileiros e temos que lutar pela inclusão da juventude independentemente de cada manifestação e linguagem cultural", defendeu a atriz Ana Paula Jones, representante da Associação Raízes da Tradição que trabalha com povos tradicionais em todo o país.
A cultura como arma para enfrentar a violência foi outro ponto da pauta da conversa, como explicou o representante do passinho do Rio de Janeiro, Jefferson de Oliveira, conhecido como Cebolinha, que contou diversas situações em que o engajamento cultural fez a diferença na comunidade. "Os morros tem uma realidade. Antes, não dava para o garoto de uma comunidade passar pela outra. A rivalidade não deixava. O Passinho tem quebrado isso, contribuindo para a cultura da paz", explicou.
Francisco Alves Júnior, representante da juventude da Federação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar, do Ceará, defendeu a integração da ações culturais com políticas de educação e também o acesso às tecnologias no campo.
Ideias – Esse debate rendeu mais algumas boas ideias que serão melhor estudadas pelas secretarias e vinculadas do MinC. Por exemplo, formação de professores da rede pública para criar cineclubes em escolas.
Também um prêmio específico para manifestações culturais da periferia, para atender as questões levantadas pelo representante do Passinho.
A fala de Francisco Alves Júnior finalizou com uma proposta: "Vamos encurtar as distâncias e fazer a cultura chegar ao campo, além dos centros das capitais. É preciso potencializar os Pontos de Cultura para fortalecer as manifestações locais", disse, lembrando do Programa Cultura Viva, realizado pelo MinC.
Mais uma ação proposta foi de o MinC atuar junto a municípios para pensar e garantir a ocupação de praças para manifestações artísticas.
Conclusões - No encerramento das atividades da manhã, a ministra Marta Suplicy avaliou: "Estamos no caminho certo. Em duas horas deu para eu ouvir e ver a seriedade do que estamos falando. Tenho de abrir um espaço dez vezes maior para a juventude. Vocês são a raiz da cultura brasileira, a identidade. A gente vê que o que precisamos fazer é abrir portas."
Marta também citou que a questão da Agricultura Familiar é ponto de relevância para se pensar projeto específico para atingir esse público. Ponderou que a questão dos ciganos, por exemplo, é mais complexa. "Vamos nas comunidades. Precisamos ouvir mais: os velhos, os jovens, dar prioridade. Cuidado especial."
Para a ministra, foi um privilégio escutar os 70 jovens que vieram de todas as regiões do pais, com suas experiências e reivindicações a respeito da produção cultural do segmento.
"Estamos gravando, faremos relatório e vocês terão respostas. Vamos devolver o resultado deste encontro. É certo que faremos mais reuniões no ministério. Gosto do que é concreto. E penso que podemos ir aos estados, ouvir mais. E creio que dá tempo de a gente elaborar mais uma discussão como esta na Teia que vamos realizar em maio, em Natal (RN).
Ainda antes de sair da atividade, a ministra falou que estão abertas as inscrições para intercâmbio Brasil-Espanha, parceria do MinC com o Museu Matadero Madrid - um antigo matadouro que se transformou numa cidade cultural.
A convocatória lançada abrange residências artísticas de quatro brasileiros, no período de 6 de outubro a 16 de novembro de 2014. Poderão participar da convocatória artistas e agentes locais, de nacionalidade brasileira, pessoa física e que residam ou atuem no Brasil. O resultado do trabalho desenvolvido será apresentado ao público de 12 de novembro a 06 de janeiro de 2015.
Os selecionados receberão 2 mil euros, dentre outros benefícios como passagem para Espanha, alojamento e verba para produção artística. Os interessados podem enviar proposta até 23 de maio através do site (leia mais aqui).
Tarde - Depois da roda de conversa com a ministra Marta Suplicy, à tarde, os jovens se reuniram em quatro grupos de trabalho.
A coordenação do encontro, sob a provocação da ministra para que refletissem sobre as palavras de Gilberto Gil: "O povo sabe o que quer. Mas o povo também quer o que não sabe", discutiu os quatro eixos de atenção: acesso à cultura, formação, fomento à produção artística, participação e protagonismo juvenil.
Programação – Na programação do dia, os jovens ainda visitarão o projeto Sarau Cultural, de São Sebastião (cidade do entorno de Brasília), à noite. Poetas, músicos, atores, artistas plásticos e produtores culturais do grupo Radicais Livres S/A resgatam a autoestima dos moradores da periferia por meio de Saraus Radicais de poesia na comunidade. O grupo é uma das referências na região e desenvolve a ação de democratização do acesso à cultura há 11 anos.
Amanhã, o Curto Circuito da Juventude, volta a acontecer no Teatro Plínio Marcos - Complexo Cultural Funarte, em Brasília. Encerramento com as respostas dos grupos de trabalho a esses eixos de discussão e sistematização de propostas.
O encontro foi organizado pelo Ministério da Cultura e pela Secretaria Geral da Presidência da República
Texto: Montserrat Bevilaqua e Lara Aliano - Fotos: Elisabete Alves - Edição: Ascom / MinC.
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