Em novo artigo, a
jornalista Tereza Cruvinel, colunista do 247, informa que a inspiração para o
projeto de regulação dos meios de comunicação, no Brasil, poderá vir da
Entidade Reguladora para Comunicação Social, de Portugal, agência que, em 2010,
participou de um seminário sobre o tema organizado pelo ex-ministro Franklin
Martins; antes disso, porém, o ministro Ricardo Berzoini deve começar esta
batalha pela regulamentação dos artigos da Constituição (220 a 223) que tratam
de comunicação; "no conjunto, eles proíbem monopólios e oligopólios,
obrigam a produção de conteúdos regionais (hoje no Brasil concentrados no eixo
Rio-SP), garantem a liberdade de expressão e os direitos do cidadão", diz
ela; leia a íntegra e saiba como foi a posse de Berzoini.
Foto - Brasil 247. |
2 DE JANEIRO DE 2015 - Por Tereza
Cruvinel.
Sem fazer uso uma só vez da expressão anatemizada “regulação da
mídia”, o novo ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, tomou posse
hoje no cargo reiterando a disposição de abrir um amplo debate com a sociedade
brasileira sobre os melhores caminhos para tornar mais efetiva e mais
democrática a atividade de comunicação no Brasil. “A liberdade de
expressão deve ser um valor assimilado por cada cidadão, e sob esta premissa
podemos avançar na consolidação da democracia,. que não deve reduzir-se ao direito
de votar. A democracia deve assegurar também, entre outros direitos, o de
consumir e difundir informação e, principalmente, o de participar livremente
da construção de um conjunto de ideias e valores pelo nosso próprio
povo”.
Em
entrevista coletiva a seguir, ele evitou fixar cronograma para o início desta
ou de qualquer outra ação do ministério mas, respondendo à pergunta
desta colunista do 247, admitiu que pode tomar a iniciativa de propor a
regulamentação dos artigos 221, 222 e 223 da Constituição, que nunca foram
regulamentados. “A regulamentação é tarefa do Congresso mas nós podemos
propor e estimular a tramitação desta matéria; A regulamentação seria uma boa
oportunidade para ampliar o debate e fazer com que toda a população saiba do
que estamos falando.
De garantir o direito
à comunicação, dentro do marco intocável da liberdade de expressão”... Estes
artigos vedam o monopólio e o oligopólio no setor, exigem diversidade regional
na produção de conteúdos, pluralidade e equilíbrio entre os sistemas estatal,
público e privado de radiodifusão. Com base no artigo 223, foi criada a EBC
para implantar o sistema público.
Berzoini
quer reler o projeto de regulação deixado pelo ex-ministro Franklin Martins e
conhecer outra experiências regulatórias, como a de Portugal, que segundo a
coluna Painel, da Folha, poderia ser o modelo adotado. Nenhum modelo será
copiado, diz ele, mas todos serão examinados. Nenhuma proposta,
acrescenta, será apresentada antes da ocorrência do diálogo e do debate com a
sociedade e os setores envolvidos. Por isso vale conhecer mais a experiência da
agência portuguesa, a ERP.
Agência reguladora da mídia em Portugal, defende os interesses do
cidadão diante dos meios.
A
ERC – Entidade Reguladora para Comunicação Social, de Portugal, foi uma das
agências internacionais de regulação da mídia que participaram, no final de
2010, do seminário sobre o tema organizado pelo então ministro-chefe da SECM,
Franklin Martins. O seminário recolheu subsídios para o projeto que, acolhido
por Lula, foi entregue à sucessora Dilma Rousseff, e esta o repassou ao
ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.
A
ERP foi criada em 2005, como agência pública dotada de autonomia administrativa
e financeira, nos moldes de nossas agencias reguladoras de serviços públicos,
como ANP, Anatel e Aneel. Ela dispõe de um Conselho Regulador, composto por
quarto membros indicados pelo Congresso e um escolhido pelos pares. Este
conselho traça as diretrizes de ação, que são implementadas por uma diretoria
executiva.
Há também um conselho
fiscalizador da própria gestão da ERP. Compete à agência regular e
supervisionar todos os meios de comunicação, privados e públicos (estes últimos
são muito fortes em Portugal, ao contrário do Brasil, onde a EBC ainda é um
projeto nascente) buscando assegurar a observância dos direitos e deveres
constitucionais.
A liberdade de
imprensa, o direito à informação, a independência dos “media”, como eles dizem,
em relação aos poderes político e economico. Seu regimento diz também que a
mídia deve expresser o confronto entre as diversas correntes de opinião,
evitando a prevalência de “pensamento único” sobre qualquer tema. Garante ainda
o direito de resposta e ao contráditório em casos de veiculação de informação
mentirosa, caluniosa, falsa ou distorcida. O leitor que diga honestamente: tudo
isso não está fazendo falta aqui no Brasil? Não para censurar ninguém, mas para
garantir ao cidadão uma boa informação. Não se faz democracia sem cidadãos bem
informados.
Atualmente
a ERC decide questões (levadas a ela por pessoas físicas ou jurídicas) sobre
garantias da liberdade imprensa, direito de resposta, programação televisiva,
direitos dos jornalistas, concessões de canais de radiodifusão, pluralismo,
entre outros. Quase todos os países da Europa têm uma regra legal que exige o
pluralismo (de opinião, de programação, de expressão da diversidade cultural,
política e étnica) na programação dos veiculos de radiodifusão.
Afinal, eles são
concessão do Estado a exploradores privados. Em 2014, a ERC determinou que não
apenas o sistema público (encabeçado pela TV Pública RTP) estava obrigada a
observar estes princípios mas também as emissoras privadas SIC e
TVI. Aqui no Brasil, a pluralidade está prevista na Constituição
mas apenas a EBC e seus canais públicos (TV Brasil, rádios e Agência Brasil)
têm obrigação legal de observância deste quesito, sob a fiscalização do
Conselho Curador.
As
concessões de canais são examinadas pelo órgão do Poder Executivo (o Ministério
das Comunicações no caso do Brasil) mas precisam de um parecer favorável da
ERP.
Neste
momento em que o debate está apenas começando, a publicação do resumo do
seminário de 2010 seria uma grande contribuição. Veriam os críticos e os
temerosos que não há bicho de sete cabeças nesta questão, apenas um aprimoramento
da democracia. Ou, o que seria melhor ainda, a reedição do seminário. A TV
Brasil tem em seu site uma boa entrevista com o presidente da ERP, Carlos Magno
Castanheira.
Link desta matéria: http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/165345/Berzoini-mant%C3%A9m-promessa-de-democratizar-a-m%C3%ADdia.htm
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