Foto: Facebook de Fernando Morais. |
Sobre a perseguição de que está sendo vítima o físico argelino adlène hicheur – perseguição encabeçada pelas organizações globo – pedi ao físico ronald shellard, diretor do centro brasileiro de pesquisas físicas, um depoimento sobre o caso. meu amigo há cinquenta anos, shellard foi um dos responsáveis pela vinda de hicheur para o brasil. a seguir o depoimento dele, exclusivo para o foicebook:
Caro Fernando,
Estou acompanhando o caso do Adlène Hicheur desde o início pois estive envolvido na sua vinda ao Brasil. Não quero entrar na questão da sua prisão, na França, e na sua condenação por supostamente trocar e-mails que visavam "formar quadrilha para planejar ações contrárias à legislação francesa”.
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Foi a primeira condenação baseada exclusivamente em troca de e-mails e por ter em seu computador pensamentos “perigosos”. Acho que isso per si já é um tema fascinante para um historiador. E, leva a uma reflexão, sobre a natureza da chamada guerra ao terror e suas consequências... Depois da prisão e seu julgamento e condenação (o perigo representado por cientistas “nucleares”! A propósito ele não é “nuclear” é um físico de partículas trabalhando no CERN, numa colaboração com mais de quinhentos cientistas) colegas nossos do CERN, cientistas de renome e, em quem tenho confiança, consultaram sobre a possibilidade dele trabalhar no Brasil, fora do foco das pressões europeias.
Todos elogiando sua excelência científica. Colegas brasileiros que trabalham no mesmo projeto insistiram que seria muito boa a presença dele aqui. Para que recebesse uma bolsa deveria receber um visto, o que foi concedido, tendo o Itamaraty ciência do seu histórico.
Ele passou mais de uma ano ocupando um escritório duas portas adiante da minha. Nesse período conversei muito com ele, sobre o que passou na prisão, discussões sobre a política do Oriente Médio e temas gerais. Ele é um intelectual e aprendi muito com ele, tendo uma perspectiva diferente do que está ocorrendo naquela região.
Seu trabalho científico é excelente, de altíssima qualidade. Foi para o Fundão, pois passou num concurso para visitantes, com um salário muito melhor.
Acompanhei seu trabalho lá, onde, além do trabalho anterior, organizou cursos e palestras sobre temas diversos, ou seja um scholar de excelente qualidade. A qualidade do seu trabalho só é possível com uma enorme dedicação e tempo. Aí na sexta feira, uma revista semanal veio com a matéria que prefiro nem usar adjetivo, pois será ainda generoso quanto sua natureza! E ele viu seu tremendo esforço para reconstruir sua vida científica desabar!
Ele é muçulmano bastante fiel, com um senso muito agudo de honra, respeito e dignidade. E diz explicitamente:
- Fui violentado!
A isso adiciona-se as declarações de um ministro e ele entra em pânico e ameaçado e, diz explicitamente:
- Não quero ser espancado, humilhado e ser expulso desse país. Entrei pela porta da frente e quero sair pela porta da frente.
Posso testemunhar sobre a qualidade e dedicação a seu trabalho. Na minha percepção, se o Adlène, for embora, ou pior, se for expulso, isto significa a derrota definitiva de tudo por que nossa geração lutou durante a ditadura e todos os princípios de respeito humano, que defendemos nesse país. O que está em questão nesse caso são princípios básicos do direito do ser humano à dignidade. O Adlène Hicheur é um cientista de grande competência e assim deve ser visto e tratado.
Ronald Cintra Shellard.
Matéria originalmente publicada em: www.facebook.com/fernando.morais.1612/ posts/1213307352019866
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