Em Davos, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, teve a oportunidade de citar o Brasil, combalido por uma crise econômico-política e a ruptura democrática, há quase um ano, mas abriu mão.


Por Redação, com agências internacionais – de Davos.
O Brasil passou em branco na nevada estação de esqui suíça de Davos. No encerramento da reunião anual dos bilionários, denominada Panorama Econômico Mundial, o maior país da América Latina não mereceu uma referência sequer, ao longo dos 62 minutos em que seis convidados debateram as perspectivas para o futuro imediato.

Diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde teve a oportunidade de citar o Brasil. Combalido por uma crise econômico-política e a ruptura democrática, há quase um ano, a nação de língua portuguesa permaneceu no silêncio de Lagarde. Um convidado nigeriano perguntou aos debatedores o que tinham a dizer sobre África e os países latino-americanos e Lagarde citou, en passant, a América Latina.
Falou, ligeiramente, sobre a África. Mas deixou claro que as duas regiões estão aquém dos interesses dos donos do capital mundial. Eles, sempre em janeiro, reúnem-se em Davos.

Populismo

Lagarde lamentou não terem “prestado muito a atenção” quando ela alertou para os riscos relacionados com o aumento das desigualdades no mundo. O fato, disse, acabou por alimentar o surgimento e crescimento de forças populistas.
— Espero que agora as pessoas prestem atenção — disse Lagarde, no debate de encerramento do Fórum. Seu objetivo, acrescentou, foi discutir a crise das classes médias.  
Lagarde sublinhou a indisponibilidade da opinião pública, e dos economistas em particular, inclusive do FMI, para reconhecer, a partir de 2013, a “importância das desigualdades”. Também, “providenciar políticas que pudessem responder” ao problema. O resultado foi um aumento das dificuldades para as classes médias e o fortalecimento do populismo.

Classe média

Reconhecendo que as classes médias das economias avançadas vivem uma grave crise, Lagarde notou o paradoxo que consiste no fato de a classe média “cresce e se encolhe” ao mesmo tempo. Isto porque, enquanto em termos globais aumentou de 7% para 13%. Nos Estados Unidos, por exemplo, encolheu de 60% para 50% da população. Ao mesmo tempo, os mais ricos estão cada vez mais ricos, acrescentou.
— Menores crescimentos, maior desigualdade e muito maior transparência são ingredientes para uma crise das classes médias nas economias avançadas — explicou a dirigente francesa. Estes, acrescentou, são fatores aliados à falta de confiança, esperança e desânimo em relação ao futuro.
Desta forma, Lagarde disse que não se espanta com o crescimento de forças populistas. Ela avisa que é necessário encontrar respostas para o descontentamento generalizado das populações. No entender da líder da instituição sediada em Washington, são necessárias mais reformas estruturais, orçamentais e políticas monetárias efetivas.
Incluir, assim, uma melhor redistribuição da riqueza. Recordando a este propósito o relatório produzido pela Oxfam que mostra que as oito pessoas mais ricas do planeta detêm uma riqueza equivalente à detida pela metade mais pobre da população mundial.