Em seu romance “Memórias do Subsolo”, Fiódor Dostoiévski fala de um homem atormentado por sua consciência, corrompido por si mesmo. O personagem se vê tão fechado em si mesmo que mal consegue se encontrar.
Pois esta é a sensação que tenho ao analisar a decisão do Diretório Nacional do PT, nesta última sexta, o qual autorizou suas bancadas parlamentares na Câmara dos Deputados e no Senado Federal a constituir acordos e apoios a candidaturas golpistas, como as que se apresentam como favoritas nestas escolhas interpares,
O PT, tal como o personagem de Dostoiévski, é incapaz de sair do subsolo onde se enclausurou.
Mergulhou tão profundo no modelo da democracia liberal brasileira que não consegue mais distinguir-se dela. Confunde o jogo parlamentar com a luta democrática. Encarcerou a segunda na primeira. Reduziu o conceito substantivo de democracia ao modelo realmente existente de democracia no Brasil. Considera que ficar fora das ‘mesas” do Congresso é excluir-se da política.
O PT abdicou de dirigir-se à sociedade, campo real da luta política, para buscar a sobrevivência. Grave equívoco, a sobrevivência do PT como partido de esquerda e antiliberal só será possível se reconstituir-se do ponto de vista programático e simbólico. Contrário a isto, o símbolo que emerge desta decisão é o de partido subalterno à ordem neoliberal, expressão de quem não quer sair do escuro de seu subsolo.
O PT, ao contrário, deve dirigir-se aos setores que resistem às reformas ultraliberais e ao golpe e dizer que há alternativa política para a resistência. Precisa demostrar que é um pólo alternativo ao neoliberalismo. Neste momento extraordinário da luta política, onde ela se radicalizou ao ponto de um golpe que derrubou uma presidenta eleita, o PT precisa dizer que defende a democracia e não colabora com a estabilização do golpe.
As bancadas do PT devem construir anticandidaturas de resistência no Congresso e falar para a sociedade: “neste país, há um partido que luta pela democracia e pelos direitos dos trabalhadores”.
Nenhum apoio a golpistas.
Jorge Branco é sociólogo, mestrando em Ciência Política.
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